Querida Filha,

Escrevo para saber que ainda estou vivo, sinto muito a sua falta. A casa aqui onde moro esta muito mudada, reboquei as paredes que fatava e fiz mais um quarto no fundo pra quando você vier nois pudê te receber com todo o amor e carinho.

Teu tio Amarildo, morreu totalmente nesta hora do dia da semana passada, pois este avera de mecher com muié casada e tomasse uma tora na fussa. A muié dele sua tia Cacilda ficou numa tristeza de fazer dó.

As coisas aqui vão muito bem, estou de carro novo, aquele que você ficara horas olhando pela janela, o Fiat 157, acho até que passaei o dono para tras, comprei por uma mixaria que só.Ainda não pode andar nele porque veio sem o motor, mas estou feliz que só vendo.

Bão se você ver a Vó Tereza, dá nela um abração ai por mim, mas se por um acaso ela morreu nuum precisa dar não. Espero ansioso a sua vinda para minhas terras.

Jamais abandone o pássaro!

De teu pai que lhe ama muito

Josué.

– Eliiiizaa!! Apague logo esta luz menina e vá logo dormir, não são horas de olhar as estrelas!

– Já vou vó! - Nem estou com sono, mas começar uma discussão no meio da noite esta fora de cogitação - Sei que não vou dormir, não quero parar de olhar esta carta, é a letra do papai.

Eliza vira-se para a janela e fica a observar as estrelas.

– Não entendo porque " jamais abandone o pássaro!" O que será que papai quiz dizer sobre isso, ele está tão distante que mal posso perguntar o que significa...

Eliza fecha os olhos, relembra então os momentos em que seus pais se davam bem, as conversas, as brincadeiras, o beijo antes de dormir, era tudo perfeito. A voz de Dona Tereza é que encomodava o seu sono " seu pai nunca prestou", feria por dentro de alguma forma o coração de Eliza.

Mamãe, uma moça fina, criada em berço de ouro, casou-se logo com um turrão tosco, metido a boiadeiro. Se venceram todos os preconceitos de vovó e principalmente de tia Malvina, irmã de mamãe, se o amor era tão grande porque se acabou? - Eliza cisma.- E assim as horas vão se passando e os pensamentos cada vez mais curiosos em descobrir o motivo da tal separação. Me abandonaram sobre os cuidados de vó Tereza, isso nunca se discute.

Meia noite, hora de pregar no sono antes que o grito estridente de minha vó invada o meu quarto novamente. Tudo obecendo as regras até quando isso vai durar? Até quando ficarei sem noticias da minha mãe e longe de tudo e de todos?

– Elizaaaaaaaaaaaaaa!

As luzes da casa se ascendem, todos acordam assustados. Dona Tereza parecendo um king kong de camisola, o andar torto e o rosco dominado pelo cansaço invade o quarto: - Qual o motivo desta janela aberta a essa hora garota? É o Carlos? Pensou tantro nele que precisou se refrescar com a brisa do vento ou está esperando a invasão dele como se fosse a rapunzel? Moça que se esfrega em namorado a altas horas sempre termina mal, acaba logo com este namoro antes que se torne falada pela vizinhança inteira. Olhe para mim enquanto eu falo garota! - Dona Tereza estava quase em cima da cama, olhando fixamente sem piscar para a menina que nem se mexia de tanto susto.

– Estava apenas admirando as estrelas, me perdoe, me esqueci de fechar. - O coração de Eliza está acelerado por ter atrapalhado o sono de sua queria e amável vovó.

– 2 ave marias é suficiente para pagar este pecado, reze e durma!

– Vou dormir que nem um bebê, vó! ( Porra, sempre quiz ter um pouco de privacidade em minha vida!) Amassei a carta por inteira de tanto susto, amanha resolvo isso. Vou dormir antes que tia Malvina chegue e aumente ainda mais o escandalo. " Jamais abandone o pássaro!"