Frank andava de um lado para o outro dentro de sua cabine no Argo II.

– O que eu vou fazer?

Essa era a pergunta que ele se fazia havia dias. Antes, tudo estava ótimo. Eles haviam completado a missão, Hazel o havia beijado e eles estavam juntos.

Agora, estava tudo desmoronando. Desde que haviam partido no navio, as coisas só iam de mal a pior, pelo menos para ele. Leo não era um garoto que media esforços para conquistar uma garota, e ele com certeza sentia algo por Hazel. Eles passavam cada vez mais tempo juntos. Valdez contava piadas bobas e ela apenas ria. Estava estampado em seu rosto que ela estava mais que feliz com aquilo. Frank se sentia muito feliz quando ela estava bem, afinal, seu sorriso era a melhor coisa que ela podia lhe oferecer. Mas ele definitivamente não gostava que ela sorrisse ao lado de outro.

Ele sabia que aquilo tudo era só porque ele se parecia com Sammy. Havia a grande possibilidade de ele ser Sammy. Isso só deixava Frank pior. Ele não podia competir com aquilo. Mesmo Hazel tendo passado muito tempo nos Campos de Asfódelos, ela não deixou de amá-lo. E agora ele estava de volta, tudo estava perfeito para que eles ficassem juntos. Isso era o que mais deixava o filho de Marte triste e com medo. Como poderia ficar sem ela? Desde que a havia conhecido, havia se apaixonado por aqueles olhos, aquela voz, aqueles lábios. Tudo o que fora dele por um segundo seria provavelmente de Leo para sempre.

Frank subiu as escadas para a “área comum” do navio e pode ver um pouco mais a frente duas pessoas. Nem precisava ter chegado mais perto para saber quem era. Valdez ensinava Hazel a pilotar o navio, as mãos dele estavam na cintura dela. Ela não parava de sorrir, como se tivesse sonhado com aquilo durante muito tempo. De fato, devia. Frank pensou diversas vezes em conversar com ela sobre isso, mas nunca teve coragem. Sempre que chegava perto, as pernas dele ficavam moles, sua língua travava e tudo o que ele conseguia fazer era dar meia volta e sair dali o mais rápido possível.

Ele ia sair dali, pois não aguentava ver aquela cena, quando escutou um choro. Isso chamou sua atenção, pois o choro era tão sofrido que era de cortar o coração. Seguiu o som até algumas caixas que estavam por lá, então a viu. Era Piper, a filha de Afrodite. Seus olhos estavam vermelhos e ela respirava com dificuldade, pois soluçava demais. Ele se abaixou até poder encará-la.

– Piper, o que aconteceu?

– Frank – ela rapidamente enxugou o rosto, tentando esconder seu estado – Nada. Por que acha que tem alguma coisa acontecendo?

– Eu vi você chorando, não precisa tentar disfarçar. Me diz, o que houve?

– É ele... – ela começou a chorar novamente, mas menos desesperada do que antes – Ele passa tanto tempo com ela. Não sei mais o que fazer.

Por um segundo, Frank pensou que ela se referisse a Leo. Mas aí se tocou de quem ela realmente falava.

– Jason?

– É... o que eu faço? Isso machuca.

– Eu sei, é que... ele pode estar confuso. Se bem que, honestamente, não estou em uma posição melhor que você para poder julgar.

– Hazel?

– Sei que ela sentiu falta de Sammy, e que Leo é o máximo que ela vai conseguir dele de volta, mas isso machuca. Eu a amo Piper. Eu confiei minha vida a ela e, mesmo que ela não esteja percebendo, está acabando comigo aos poucos. Não sei o que fazer. – colocou a cabeça entre as mãos, como se ali fosse achar uma resposta.

Após alguns segundos de silêncio, ele sentiu uma mão em seu ombro.

– Acho... acho que temos que nos unir.

– O que? - Frank estava confuso – Não tá falando de vingança, não é? Porque eu não sou bom...

– Não! Não to falando de vingança. To falando de nos unir pra acabar com isso de uma vez por todas. Estamos em guerra, precisamos ser fortes. Não adianta ficarmos aqui nos lamentando e fazendo drama. Para se curar uma ferida, é preciso de carinho e cuidado. Podíamos fazer isso um com o outro, para ver se funciona. O que me diz, Zhang?

Ele nunca havia visto tanta determinação no olhar de Piper desde que ele a havia conhecido. Quem sabe não funcionava?

– Temos um acordo, Mclean.

Dias se passaram, as coisas mudaram. Frank e Piper começaram a ficar mais próximos. Passavam os dias juntos. Frank a ensinava arco e flecha, Piper o ensinava a ter mais coordenação quando fosse utilizar adagas ou espadas em uma luta. Ele era completamente desajeitado, mas foi pegando o jeito. Eles tinham até golpes combinados, que foram muito úteis no dia em que um manticore atacou o navio. As pessoas notaram mudanças. Alguns comentavam, nunca imaginaram a filha de Afrodite amiga do filho de Marte.

Algumas vezes, Piper ainda chorava por Jason. Ela tentava se manter forte a maior parte do tempo, mas era difícil. Frank apenas afagava seus cabelos e dizia que tudo ia ficar bem.

– Somos um time, Mclean. Eu vou sempre estar aqui, vamos resolver isso, está bem?

Uma noite, Leo anunciou que estavam bem próximos da Grécia e que logo desembarcariam. Frank estava em sua cabine, olhando pela janela, quando alguém entrou. Ele se virou bruscamente. Era Hazel. Isso o deixou feliz mas com medo ao mesmo tempo. Fazia tempo que eles não se falavam. Ela estava linda. Usava a camiseta do Acampamento Júpiter, um short jeans claro e tênis. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo desajeitado, alguns fios fora do lugar.

– Oi. – ela disse, tímida.

– Oi. – ele tentou soar mais confiante do que estava.

– Ouviu o aviso de Leo? Logo vamos chegar.

– Ouvi sim.

Hazel fechou a porta e sentou na cama ao lado de Frank, suas mãos quase se tocando.

– Então, está tudo bem?

Não está nada bem! Você fica aí com o Valdez, toda feliz, enquanto eu fico aqui, sofrendo por você. Não está claro? EU TE AMO, HAZEL LEVESQUE! E isso só me faz mal porque pelo visto você está apaixonada por outro. E eu nem posso falar essas coisas em voz alta, porque sou covarde demais para isso!

– Tudo. E com você?

– Não. Na verdade, foi por isso que eu vim aqui. Você e a Piper estão bastante... próximos, não é?

– Sim, estamos. Ela me faz bem.

– “Bem” de que maneira? Vocês estão só treinando técnicas ou estão com “outros planos depois do treino”?

– O que? - ele estava incrédulo com o que havia acabado de escutar.

– Isso mesmo que você ouviu.

– Eu e a Piper não temos nada. Ela é apenas minha amiga, ela está me ajudando com uma coisa e eu a estou ajudando também.

– Com o que exatamente? - havia dor em sua voz.

– Eu a estou ajudando a esquecer do Jason e ela... – Frank sabia que as próximas palavras doeriam tanto nele quanto nela – está me ajudando a te esquecer.

O quarto ficou em silêncio. Só dava para ouvir o barulho do vento lá fora.

– Me esquecer? Mas por que?

– Porque eu não aguento mais te ver por aí com o Valdez.

– Mas...

– Espera, me deixa terminar. Sabia que teríamos que ter essa conversa mais cedo ou mais tarde. Eu te amo Hazel. Te amo tanto que confiei minha vida a você. Sei que você está confusa por causa do Leo, ele é o mais próximo que você vai conseguir do Sammy. Mas a questão é que isso me machuca. Bem aqui – ele pegou a mão dela e a colocou em seu coração – Não estou exigindo uma decisão imediata. Só acho que é melhor... que a gente desse um tempo nessa... coisa que nós temos. Não posso chamar de namoro, apesar de querer, porque nós nos beijamos uma vez. Uma vez que significou muito para mim, mas há muita coisa em sua cabeça agora. Acho que o melhor para nós dois é dar um tempo.

– Frank... – lágrimas insistiam em sair dos olhos de Hazel, cortando o coração dele.

– Eu te amo.

Ele beijou a testa dela e depois lhe deu um pequeno beijo nos lábios. Ela só conseguiu sair correndo, chorando. Frank também desabou em lágrimas. Ele não sabia se algum dia eles teriam aquele sentimento de novo.

Ela apareceu correndo no meio do navio, espantando a todos. Leo foi atrás dela, preocupado e fazendo perguntas. Piper sabia exatamente o que era aquilo. Correu até a cabine e abraçou seu amigo, que estava desesperado.

– Vai ficar tudo bem. Somos um time, Zhang. Eu vou sempre estar aqui, vamos resolver isso, está bem?

~/~

Frank acertou o alvo novamente. Ele quase nunca errava, tinha praticado nas batalhas. A guerra havia acabado. Eles haviam vencido Gaia. No acampamento, um sentimento misto de vitória e alívio estava instalado. Era fim de tarde, o sol estava perto de se por. Ele havia passado o dia inteiro praticando. Era o que fazia para pensar.

– Não se cansa disso, não é Zhang?

– Não mesmo, Mclean.

Piper chegou por trás e o abraçou. A amizade deles estava mais forte. Eles haviam passado por uma guerra juntos. Não importava o quanto as pessoas achavam esquisito a cherokee filha de Afrodite ser amiga do chinês filho de Marte. Eles estavam felizes e nada os abalaria.

– Passou a tarde aí, não tá a fim de descansar? Vamos, a gente pode jogar pedras no lago.

– Pode ser. E como você está com relação a... você sabe.

Não era nem preciso dizer sobre o que ele estava falando. Jason, no final das contas, havia escolhido Reyna. Todos pensaram que Piper fosse desabar com isso, ela amava muito aquele garoto. Antes, aquilo realmente teria acontecido. Mas ela havia mudado. Estava mais forte. Uma lição que tanto ela quanto Frank haviam aprendido era que não adianta ficar se remoendo por feridas passadas. O que tiver que ser, será. Enquanto isso, bola pra frente.

– Estou melhor. Um passo de cada vez.

– Ainda bem. – ele deu um beijo em sua cabeça – Então, vamos?

Piper olhava para um ponto fixo, perto de onde estavam.

– Quer saber, depois nós fazemos isso. Te vejo no jantar. Tchau Zhang. – ela virou de costas e saiu correndo.

Frank virou para ver o que ela estava olhando. Era Hazel. Desde a noite em que eles terminaram, não haviam se falado mais. Como ela fazia para ficar mais linda cada vez que aparecia? Usava uma camiseta branca, uma bermuda preta e sandálias rasteiras. Seu cabelo estava solto e sua pele reluzia com a luz do fim da tarde.

– Oi. – ela disse, quando se aproximou.

– Oi.

– Tudo bem?

– Tudo. E com você?

– Também.

Um silêncio constrangedor se instalou entre eles. Frank passou a mão pela nuca, gesto que sempre fazia quando se sentia desconfortável.

– Então, como a Piper está? Você sabe, com o Jason. As notícias correm por aqui.

– Eu sei. Ela está melhor, vai ficar bem. É forte.

– Espero que ela fique bem mesmo.

A próxima pergunta era a mais difícil, mas ele tinha que fazer.

– E com você e o Leo? Deu certo?

Ela mordeu os lábios, talvez não fosse fácil para ela falar sobre isso. Frank se arrependeu imediatamente depois de fazer a pergunta, mas ele precisava saber.

– Na verdade, não deu. Não era para ser.

– Ah. Sinto muito.

– Não sinta. Eu fui injusta. Estava com ele por se parecer com o Sammy e... foi uma das piores coisas que já fiz. Sammy é passado, e o Leo não é ele. Até porque, quando eu estava com ele só conseguia pensar em outra pessoa.

– Quem? - seu olhar era cheio de esperança.

– Em você. – ela segurou o rosto do garoto com as duas mãos, de modo que não pudesse desviar o olhar. – Frank, eu sinto muito. Fui estúpida, infantil e não vi o que estava bem na minha frente. Leo não é Sammy e, mesmo que fosse, ele é passado. Quem importa agora é Frank Zhang. Eu te amo, e sei que você provavelmente não se importa mais, mas...

Ele não deixou Hazel terminar. Ele a levantou e selou seus lábios com um beijo. Foi mais apaixonado, intenso e profundo que o outro. Eles precisavam um do outro. Nada mais importava, eles iam ficar juntos.

– Eu nunca deixei de te amar, Hazel.