The Black Dragon escrita por Manuki Tsukishiro


Capítulo 1
The Black Dragon


Notas iniciais do capítulo

O começo pode parecer longo, já que acabei me empolgando com alguns detalhes da história, mas espero que gostem do desenrolar da história!



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Em um castelo totalmente isolado do mundo, em uma alta montanha onde os raios de sol pouco penetravam devido às nuvens que giravam em torno do local, uma delicada princesa vivia a espera de seu milagre para que a pudesse libertar de sua prisão, de seu sofrimento sem fim. O coração da linda princesa nunca havia sentido a sensação de ser aquecida pelo sol, nunca havia sentido o calor do amor. Sua vida sempre foi aquele castelo. Não havia conhecido sua mãe, nem tampouco seu pai. Não sabia o que era uma família ou o que era ser amada. A única pessoa que realmente havia visto em toda a sua existência era a bruxa que a amaldiçoou, que a odiava.

Vivia uma vida solitária fazendo tudo o que a bruxa ordenava. Em momento algum, poderia desobedece-la ou acabaria morta da pior forma possível. Por mais que as ordens fossem as piores possíveis, a princesa deveria fazer tudo perfeitamente, sem nenhum erro sequer. Ela era somente uma escrava de seu destino, mesmo sem saber o motivo de tal maldição. Seu dia a dia era apenas sobreviver à dor de ser sempre sozinha, mesmo que sua solidão seja a sua companhia desde sempre. E a única maneira de conseguir se livrar disso era que o príncipe encantado pudesse tirá-la daquele pesadelo em que sempre viveu.

Seu coração sempre batia mais forte quando ouvia algum ruído vindo do exterior do castelo. Sempre pensava que talvez fosse o seu milagre ali, chegando cada vez mais perto. Porém, suas esperanças sempre eram quebradas e sua dor retornava com o dobro da intensidade. A malvada senhora sempre lhe dizia que um príncipe viria para salvá-la, que ele a amaria para sempre, que cuidaria dela como nunca havia sido cuidada. Ao mesmo tempo, essa mesma senhora arrancava suas esperanças sempre que a dócil moça ouvia algum barulho que poderia ser um príncipe. “Tu nunca sairás daqui, pequena. Tenha isso em mente. Tu morrerás para me servir. Serás sempre minha. Tua vida me pertence.”. Eram as amargas palavras da bruxa.

Sem saber no que acreditar, vivia apenas em seu mundo de fantasias, realizando tudo o que era possível. E eram exatamente os seus sonhos que a faziam viver naquele lugar asqueroso. Era dai que ela tirava a sua força. Por mais que nunca tivesse amado alguém, por mais que tenha sofrido tanto ao longo de seus anos, enfim, por mais que nunca tenha vivido de forma plena, seus sonhos eram únicos, ninguém poderia roubá-los dela. Ao menos desse pequeno tesouro ela poderia desfrutar. Poderia viver um mundo de fantasias, imaginando como seria o tal do amor, a tal da família, a tal da vida.

Por mais que a doce menina pudesse desfrutar disso, ela não poderia sorrir. Ela não podia saber o que era alegria. Apenas a tristeza, a amargura. Se conseguisse abrir um pequeno sorriso, a feiticeira sempre lhe pregava um castigo que a fazia sofrer por dias. Uma dor tão insuportável que conseguia perder quilos, perder, principalmente, os seus sonhos por alguns momentos, fazendo com que o seu coração se tornasse ainda mais vazio, ainda mais afastado de todo o mundo lá fora. O mundo o qual nunca havia visto, porém, o imaginava como o paraíso.

Sua noção de mundo era a menor possível. Nunca havia saído dali, a única visão que tinha era das nuvens e do enorme dragão que habitava o jardim do castelo. Esse dragão servia para proteger o lugar, ao mesmo tempo, era como uma companhia para a pequena sonhadora. Os dois estão totalmente ligados, por mais que nunca houvessem conversado ou tido contato físico. Era uma verdadeira amizade sem nem ao menos se falarem. Em alguns momentos, eles estavam juntos, como enquanto a menina ia para a janela de sua torre. Obviamente a cruel vilã dessa história controlava esses encontros. Propositalmente, fazia o dragão fazer algumas tarefas no exterior do castelo, tal como a princesa. Suas vidas eram as piores que se podia imaginar.

Ao mesmo tempo em que esse gigantesco ser místico era amigo da donzela, servia também como proteção para ela e para a grande fortaleza. Muitos príncipes já haviam passado por aquele local, porém os seus grandes olhos infernais sempre amedrontavam qualquer um que se aproximasse, fazendo-os fugir como se salvar uma vida não fosse tão importante assim. O que transformava os pensamentos da princesa em algo ruim e, na maioria das vezes, em uma má impressão dos outros seres humanos. Como se todos fossem covardes o suficiente para deixar uma pessoa apodrecer em um canto qualquer, sofrer eternamente por um mal que elas poderiam impedir a qualquer momento. Mas ela não culpava o pobre dragão, mas sim aos humanos. O que aumentava ainda mais a alegria da feiticeira.

Além dessa pequena visão, o tempo da princesa havia parado faz um bom tempo devido a tantos problemas. Seu psicológico era instável e não possuía esperanças para o seu futuro. Por mais que sonhasse, por mais que ainda lhe restasse esperanças, em muitos momentos ela já desistia de tudo, queria que tudo mudasse, mas não poderia fazer nada para melhorar a sua situação. Tudo o que poderia fazer era esperar para que seu mundo pudesse mudar, para que alguém pudesse salvá-la de si mesma. Para ela, sua vida poderia nunca mais mudar, poderia permanecer a mesma até que sua vida chegasse ao fim e a bruxa finalmente pudesse rir dessa situação de escravidão. Ela era uma escrava de seu destino.

Até que um dia, um jovem príncipe chegou a entrar no castelo. Tanto a bruxa quanto a princesa ficaram perplexas com tal cena. Ninguém havia adentrado assim. Nunca haviam chegado tão próximos do dragão. A menina finalmente encheu seu coração com esperanças. Agora ela tentava acreditar que tudo daria certo e que seu amigo seria vencido para que ela pudesse finalmente ser feliz e saber o que era viver. Poder esquecer os seus dias ruins e poder viver em plena paz com o amor de sua vida. Porém, nem tudo ocorreu como o planejado.

Assim que o dragão começou a ataca-lo freneticamente, o jovem príncipe abandonou o castelo como um rato fugindo de um feroz gato que procura um abrigo o mais longe possível para que não vire alimento de tal felino. Todavia, com um ar de tristeza em seu semblante. O que chamou a atenção da jovem donzela foi que o seu possível príncipe, ao sair do castelo, olhou para o alto da torre, em direção a ela. Decerto, ela não saberia responder se o jovem conseguia vê-la, contudo, uma coisa era certa: ela sabia que o nobre rapaz poderia sentir que ali habitava um coração solitário que só queria um amor para o resto de sua vida.

“Tu achas que esse príncipe retornará? Ele não é tolo, querida. Logo, logo será o seu fim e ninguém mais poderá salvá-la. O pêndulo do tempo nunca retorna. Muito menos os das decisões. Uma vez que você toma uma decisão, ela nunca mais poderá ser mudada. Ele escolheu o destino dele, agora eu escolho o seu! Vá terminar os seus afazeres!”. Disse a desprezível mulher cuspindo no chão e entregando a doce menina um esfregão e um balde, deixando-a totalmente desapontada. Ela não queria mais isso, então porque a sua dor continuava? Porque ela mesma não poderia acabar com essa maldição que a prendia naquele castelo? Então, uma ideia cruel rondou a sua mente durante dias. Ela já não tinha mais esperanças de nada, logo não adiantava ficar presa a isso, não deveria se arrepender do que fizesse daqui para frente.

Seus olhos se tornaram chamas sedentas por liberdade. Seu coração batia acelerado na manhã de mais um dia ruim de sua vida, conquanto, dessa vez parecia que ia ser diferente, que algo realmente iria mudar em sua vida. Se tudo desse certo, estaria finalmente livre de seu destino, já poderia saber de tudo o que nunca soube. Seu coração realmente batia esperançoso, queria fazer aquilo a todo custo. Talvez pudesse dar certo. Não custava tentar, por mais cruel que isso pudesse ser.

Então, sorrateiramente, foi até o seu quarto no alto da torre e trancou-se. Ficou ali parada em frente a sua penteadeira por um bom tempo. E se algo pudesse dar errado? Se tudo aquilo fosse em vão? Agora o medo tomou conta de sua mente. As consequências poderiam ser as piores possíveis, sua vida poderia se tornar um inferno eternamente, sem chances de salvação, sua maldição poderia ser mais terrível ainda. Com isso, o seu lado covarde gritava em seu interior, gritava a ponto de quase deixa-la louca de tanto medo que estava sentindo naquele momento. Porém, se a possibilidade fosse esquecida, qual seria a outra escolha? Ser dependente de um destino incerto realmente valia tanto a pena assim? Viver somente para esperar um príncipe que talvez nunca viesse para amá-la era o melhor?

Pensando por este lado, a donzela com seus olhos em brasas, pegou a tesoura que costumava cortar o seu cabelo quando estava muito grande e saiu em disparada pelo castelo como uma louca. Seus cabelos estavam desarrumados por ter praticamente acabado de acordar e suas enormes olheiras por ter dormido mal na noite passada, fez com que seu semblante ficasse ainda pior. Ela estava completamente fora de si agora. Seus pés tocavam o chão frio do castelo sem medo algum. Parecia que a cada passo que tomava, ficava mais convencida de que essa era a sua única chance, que esta poderia ser a solução para tudo.

Quando finalmente pôde avistar o que tanto procurava, seu sorriso tornou-se o mais sádico possível. Seus punhos se fecharam e logo sua corrida recomeçou, mas, dessa vez, em direção à bruxa. Ela correu furiosamente para cima da velha. O ódio havia tomado totalmente o seu coração. Seus olhos não enxergavam mais nada a não ser esse fim trágico: sujar suas próprias mãos com o sangue de uma feiticeira para que finalmente pudesse ficar livre de sua maldição, para que pudesse matar o monstro que a aprisionou durante toda a sua vida. Ela poderia se tornar impura, uma pecadora por ter matado uma pessoa, mas sua liberdade era maior do que isso. Não estava mais se importando com isso, muito menos em nunca encontrar o seu príncipe.

O que a jovem princesa não esperava era que a bruxa tivesse os movimentos mais rápidos que os dela. Assim que se deu conta, a velha estava atrás dela com uma faca em seu pescoço pronta para mata-la. Seus lábios ficaram secos e de repente toda a sua coragem se foi. Suas pernas começaram a tremer, bem como o resto de seu corpo. Não queria que tudo aquilo tivesse sido em vão. Não queria morrer justo ali, nas mãos de quem mais odiava. Por mais que a morte fosse melhor do que aquele lugar, preferia viver para que pudesse se libertar, queria viver de qualquer forma. “Estás satisfeita agora que tentou me matar? Sabes que nunca conseguirás fazer isso. Sabes que conheço os teus pensamentos. Você é minha, princesa!”. Disse a bruxa próxima ao ouvido da menina enquanto ficava lambendo seus lábios já enrugados.

E assim que foi solta, a pobre princesa correu em direção ao seu quarto sem nem ao menos olhar para trás. Estava se sentindo a pior pessoa do mundo por nem ao menos conseguir ser independente de outra pessoa para sair daquele castelo. Não gostava da ideia de não conseguir se livrar desse seu destino sozinha, de não ter forças para seguir em frente e enfrentar os seus problemas. No final, era apenas uma tola que não sabia que caminho tomar em sua vida. Era uma criança que nunca soube enfrentar a vida como ela realmente era, querendo fugir de sua realidade a qualquer custo. Era assim que se sentia. Contudo, não era assim que queria as coisas. E foi inevitável não deixar suas lágrimas rolarem ao sentir que a morte estava bem próxima de si.

Ela pensou, tentou bolar várias estratégias. Fugir pela torre? Impossível. O dragão logo a veria e a colocaria de volta em seu quarto, já havia tentado isso antes. Tentar matar a bruxa não daria certo, bastava ver o que aconteceu dessa vez. Então qual seria o jeito de se livrar do sofrimento?

Enquanto pensava em outras soluções, a princesa acabou deitou-se em sua cama velha, em um quarto que nunca foi bonito enquanto estivera ali. Parecia ruínas do que antes fora um sonho. Apesar disso, ali era como sua fortaleza para se proteger de todo o mal que rondava o resto do lugar. E, assim, no seu pequeno abrigo, acabou caindo em um sono profundo e relaxante. Parecia que não havia dormido há muito tempo, que durante a sua existência só havia ficado acordada fingindo que estava dormindo. Um sorriso abriu em sua face de tão relaxada que estava. Por mais que ainda fosse dia, o seu repouso se tornara o melhor de todos. E até mesmo a bruxa, que estava observando-a de longe, achou aquilo estranho. Será que poderia ser uma parte da maldição que fora esquecida em algum momento por ela? Mas a velha deu de ombros e voltou para a cozinha para preparar alguma coisa em seu caldeirão.

Já a princesa ficou ali adormecida. Seu coração já batia mais tranquilamente. Ela já não tremia mais de raiva ou de medo. Seu corpo e sua mente agora estavam totalmente descansados. Talvez não houvesse mais nada que a tirasse daquele sono tão profundo. O príncipe tão esperado iria despertá-la? Quem poderia saber? Porém isso poderia ser apenas um modo dela esquecer-se de tudo, de curar-se da situação que acabara de passar. Se a bruxa não se importou, realmente poderia não ser algo para que se preocupar. Se ela estava finalmente descansando, porque incomodá-la? Nem mesmo a feiticeira o fez. Deixou-a descansando. Por mais maligna que ela fosse, sabia que sua maldade deveria ter seus limites ou tudo daria errado, seus planos não poderiam se concretizar. E deixar a princesa aproveitar pelo menos um pouco do gostinho de liberdade não seria ruim, pois essa situação poderia servir como um tipo de tortura. Uma vez que as pessoas experimentam algo bom, sempre querem mais.

Se aproveitando disso, a bruxa pensou um pouco e resolveu criar um mundo de ilusões para a pobre donzela para que a tortura começasse desde este momento. Ela a jogou no mundo dos sonhos, onde tudo poderia se tornar real. O que iria mudar era somente um pesadelo no fim de tudo. Ela não poderia deixar a sua prisioneira ser feliz. Sua crueldade teria um limite, mas o limite que a feiticeira achasse adequado para a ocasião. E o seu limite era que a mente da jovem entrasse em colapso para que ela temesse até mesmo os seus sonhos, as suas esperanças, para que assim, pudesse finalmente criar alguém sem autoconfiança, completamente vazia. Apenas uma pessoa que vegetasse eternamente em sua cama, que não criasse problemas ou até mesmo, alguém que ficasse presa aos seus sonhos para sempre. Presa a uma ilusão que nunca fosse se concretizar.

Em seus sonhos, a doce menina estava vendo o mundo lá fora, apreciando cada centímetro do novo mundo que havia se aberto para ela. Podia sentir a grama roçando em seus pés, podia avistar o sol de um novo ângulo, ver as nuvens acima de sua cabeça, não mais abaixo. O perfume das rosas podiam ser sentidos ao longe e seu sorriso mais sincero podia ser visto. Era como o paraíso poder sair de seu castelo amaldiçoado, abandonar o seu passado tão tenebroso. De repente, pôde sentir mãos em seus ombros. Elas a acariciavam lenta e carinhosamente, o que fez com que ela fechasse seus olhos e pudesse ter a certeza de que o seu tão esperado príncipe encantado havia chegado. Ele a abraçou carinhosamente e disse ao pé de seu ouvido palavras tão doces quanto o mais raro doce do mundo.

Não podia acreditar que aquilo finalmente havia acontecido. Realmente não podia. Mas simplesmente se entregou a esta sensação boa, se acomodando nos braços de seu amado enquanto segurava suas mãos carinhosamente. Os dois ficaram assim por um longo tempo até que o rapaz a virou delicadamente para ele e a beijou com todo o amor do mundo. Essa era a primeira vez que sentia o seu coração acelerar por amar alguém, por estar feliz de ter um amor para a sua vida toda. Por ter alguém para protegê-la de todos os males possíveis. Era uma união que só a morte poderia separar. Eram os sentimentos mais puros e sinceros que eles tiveram em toda a sua vida. O beijou durou pouco tempo, mas fora o suficiente para que pudesse selar a união eterna do casal.

Agora os dois sorriam um para o outro e o nobre jovem acariciou lentamente o rosto de sua amada, pegando em sua mão e a levando até a sombra de uma árvore. Ele sentou-se e a fez deitar sua cabeça em seu colo. Ela o fez e recebeu carinho em seus longos cabelos cor de mel. A donzela não sabia o que fazer, apenas chorou de alegria por estar vivendo esses momentos tão maravilhosos, por nunca ter perdido totalmente as esperanças, mesmo tendo sofrido com essa espera, mesmo que sua vida inteira tenha sido perdida. Vendo tal cena, o príncipe a beijou próximo aos olhos da menina para que pudesse limpar as suas lágrimas, deixando-a ainda mais feliz. Seu coração parecia que ia explodir de tanta alegria. Não podia mais conter o choro, então logo estava escondendo seu rosto com as suas mãos delicadas. O príncipe apenas sorriu e a abraçou carinhosamente.

Esse abraço o fez sentir em uma grande fortaleza onde nada poderia dar errado, onde finalmente poderia abrir as suas asas e voar para onde quisesse. Suas forças estavam totalmente centradas no seu jovem salvador. Nada poderia impedi-la de ser feliz.

“Continue presa em seus próprios sonhos, princesa. Sejas minha para sempre enquanto teu príncipe desiste de lutar por você. Viva a ilusão, pois isso é tudo o que te restas. Viva como bem entender em teu próprio mundo. Esqueças-te de acordar. Adormeças para sempre.”. Disse a bruxa admirando a princesa em pé, de frente para a cama da menina. “Viva em seus sonhos até que a morte tire tudo de ti. Não serei eu quem será maligna. Serás tu mesma. Acabe contigo mesma. Morra com tua felicidade efêmera.”

Assim que a velha disse isso, a pobre princesa pôde sentir uma grande pontada em seu coração. O príncipe a olhou com preocupação e apertou um pouco o abraço, para que pudesse protegê-la de tudo, até mesmo dessa dor física. A princesa, então, sorriu e retribuiu o abraço demoradamente, permanecendo assim por um longo tempo. Os dois voltaram a trocar carinhos. Agora a princesa podia ver claramente o seu mundo tornar-se colorido, podia finalmente encontrar a verdadeira felicidade, mesmo que tudo aquilo, segundo a bruxa fosse apenas uma ilusão criada por si mesma. Mas como poderia ser uma ilusão se ela nunca tinha visto o mundo lá fora e nem imaginava como as coisas eram? Poderia ser isso um engano da feiticeira? Ou seria uma ilusão manipulada por ela? Talvez fosse a realidade... Por que não?

Depois de algum tempo, o casal resolveu se levantar e ir até um enorme campo de rosas brancas ali perto. A jovem ficou com os olhos brilhando como um diamante de tamanha felicidade. Tudo o que mais queria era caminhar pelo campo, queria, desde criança, sentir esse perfume no ar, poder estar com quem ama em um local tão bonito quanto esse. E, para sua felicidade maior, o forasteiro colheu várias daquelas rosas e a entregou carinhosamente, beijando as costas de suas mãos. Ele ajoelhou-se e com um sorriso no rosto, disse as três palavras mais esperadas por ela. Seu coração realmente parecia incontrolável, que ia explodir a qualquer momento por aquele sentimento bom que crescia cada vez mais dentro de si.

A pequena menina ajoelhou-se também e o beijou delicadamente, aproveitando cada segundo do beijo. Queria poder ficar assim com ele para sempre. Amá-lo eternamente. Sentir algo que nem mesmo a morte poderia apartar. Algo que nem mesmo a mais poderosa das feiticeiras pudesse estragar. Logo após o mais demorado dos beijos, o príncipe a puxou para o enorme campo e a conduziu cuidadosamente para que nenhum espinho a atingisse. Ela então o seguiu com um sorriso no rosto para um ponto distante do lugar. Os dois, sem perceberem, começaram a dançar lentamente por entre as rosas, fazendo com que a delicada dama ficasse levemente corada. Seu corpo não estava esperando por isso. Ambos pareciam que já estavam casados. O pequeno ramalhete que havia recebido de seu amado parecia agora um buquê de rosas brancas. Poderia isso ser o seu casamento?

Estava tão feliz que agora não pensava mais em nada. Estava tão feliz que parecia estar completamente acima das nuvens, dessa vez, de uma forma livre. A alegria estava totalmente estampada na face dos dois amantes. O que assustou um pouco a pequena dama foram alguns espinhos terem furado os seus pequenos pés, porém nada iria abala-la agora. Nada poderia estragar a sua felicidade, nem mesmo esses pequenos espinhos.

Com o passar do tempo, a dança foi se tornando mais veloz. Seus pés ainda acompanhavam a dança, o cavalheiro a conduzia ainda com todo o cuidado que poderia ter. A dança era a mais bela de todas, pois vinha de dentro do coração de cada um, vinha de uma música que somente eles conheciam e ninguém mais poderia reproduzi-la com tamanha perfeição. A suavidade dos movimentos, a perfeita sincronia entre eles só demonstrava o quanto o amor deles era grande, o quanto eles formavam um casal perfeito. A linha do destino que os unia já poderia ser vista a olho nu. Realmente foram feitos um para o outro.

Com o passar do tempo, os passos iam se tornando mais rápidos, mais selvagens, mais bruscos. Ainda existia a delicadeza, mas os dois pareciam estar em um profundo êxtase. Parecia que os dois amantes estavam no ápice de seu amor. Ambos já estavam ofegantes demais para trocar qualquer palavra. E, assim, a dança continuou, até que foi finalizada com outro longo beijo. A princesa já cansada deitou-se na terra, admirando o seu príncipe. Porém, pôde sentir uma enorme dor em seus pés. O que poderia ser isso? Tentou olhar, mas o seu amado a impediu de ver os seus próprios pés, acariciando levemente o seu rosto, fazendo com que sua dor fosse totalmente esquecida.

A amante sentou-se na terra e abraçou com carinho o seu verdadeiro amor, deixando uma lágrima escorrer pelo seu rosto delicado. O forasteiro o retribuiu com a mesma intensidade. Agora, a jovem podia sentir uma sensação quente tomando conta de seu corpo. Sensação essa que a fez feliz por alguns segundos, mas depois de um tempo, foi deixando-a sem reação, como se seu corpo fosse ficando cada vez mais fraco. Não sabia o que era. Desde que estivesse com a sua alma gêmea, nada poderia dar errado.

Quando a princesa soltou-se delicadamente do abraço, pôde ver que seu amado estava com o rosto sujo com alguma coisa. Tinha a consistência um pouco pastosa, porém, bem mais líquida. Era de uma cor viva que já havia visto antes, mas o que poderia ser? E porque o príncipe estava com esse sorriso no rosto? Um sorriso sádico, frio e cruel. O que estava acontecendo? Assim que se deu conta, a pobre donzela estava com a sua vista turva. Nesse momento, ela decidiu olhar para baixo e notou que o seu longo vestido branco estava manchado de sangue e em seu peito havia um pequeno punhal. Por que isso estava acontecendo? Por que havia sangue ali?

Então, o príncipe se levantou e ela finalmente pôde ver os seus pés: estavam totalmente em carne viva. As rosas brancas a sua volta estavam pintadas de vermelho, era o seu sangue ali. Mas como isso havia acontecido se não sentiu nada? Como o príncipe pudera fazer isso com a pessoa que mais o amara? Como aquela dança e aquela música poderiam tê-la ferido tanto se estava finalmente encontrando a felicidade?

Suas lágrimas começaram a rolar sem controle. A sua tristeza agora era o maior de todos os seus sentimentos. Sentia-se totalmente traída por quem mais amou, por quem mais esperou durante toda a sua vida. Por que isso tinha que acontecer? Seriam os restos da maldição da bruxa? O que ela poderia fazer agora que todos os seus sonhos foram completamente destruídos? Que suas últimas esperanças e suas últimas gotas de felicidade tingiram totalmente as rosas brancas? O que ela faria dali para frente? E se esse fosse o seu fim?

Sua dor parecia não ter mais fim. Parecia que essa era realmente o seu fim, a sua morte. Não queria que isso acontecesse, mas fora inescrupulosamente traída. A única coisa que esperava era a morte, pois o desgosto pela vida havia tomado conta de seu pequeno e infeliz coração. Realmente foi uma sensação que nunca irá esquecer. Uma sensação que durou pouco, contudo, marcou profundamente a sua existência. E ela foi se perdendo pouco a pouco em seus pensamentos. Sentindo cada parte de seu corpo perder o seu calor e a sua vontade de sobreviver, não notou que seu príncipe havia se aproximado novamente com um sorriso ainda mais sádico em seu rosto. Carregava um pequeno punhal de prata em suas mãos dessa vez. Com um movimento rápido e delicado, o amado assassino cravou o punhal no olho esquerdo da pequena princesa para logo em seguida, retirá-lo com força e tornar a cravá-lo no olho direito de sua amada, fazendo com que ela ficasse completamente cega.

O sangue não parava de borrar as rosas que estavam ao seu redor, que agora choravam junto com a princesa. O que ela havia feito de ruim para merecer uma morte dessas? Porque tinha que sentir esta dor tão grande de ser traída pelo seu amado? Porque ele fizera tudo isso com ela?

Suas lágrimas brotavam em seus olhos como nunca, por mais que eles estivessem completamente mutilados. Ela já não sabia o que fazer, apenas deu um sorriso bem fraco com suas últimas forças e disse com os mais puros dos sentimentos: “Obrigado por ter me amado... Pelo menos por pouco tempo pude ser feliz ao teu lado, pude sentir o que é o amor... Obrigado, meu príncipe. Mesmo que tenhas me matado, me torturado, tu és e sempre serás que eu verdadeiramente amei. Nunca te esqueça disso, meu amado. Nunca.”

E dentro de alguns segundos, seu corpo perdeu totalmente as forças, fazendo com que a pequena donzela deixasse suas mãos caírem no chão. Sua tentativa era de sentir, pela última vez, o rosto de seu amado, o toque de suas mãos, o calor de seu beijo. Mas a única coisa que recebeu, fui um chute no meio de sua barriga para que seu corpo pudesse ser jogado longe. A única coisa que recebeu, foi o ódio de seu amado príncipe que agora, sorria satisfeito ao ver o corpo da pequena dama padecendo em um lugar manchado por suas lágrimas, esperanças vãs de encontrar o seu amor de verdade e o seu próprio sangue.

Para ele, vê-la ali, era como ter ganhado o mais nobre dos títulos da corte. Era como um prêmio. E foi através deste pensamento que ele se aproximou novamente, levantando seu rosto com toda a calma do mundo. Em sua face, podia-se notar certo arrependimento em ter feito o que fez, porém, ele sacou sua espada e arrancou a cabeça da menina com um único golpe, o mais violento possível, para depois jogar a sua cabeça o mais longe possível, como se estivesse brincando de arremessar um objeto sem valor à uma longa distância. O que fez com que o seu sorriso aumentasse cada vez mais até sentir que estava tudo realmente acabado...

***

Enquanto a princesa caia em um sono profundo, a malvada senhora pôde notar uma movimentação diferente do lado de fora da fortaleza. Achou que fosse impressão sua, então logo voltou a caminhar de volta para a cozinha onde estava preparando alguma de suas poções mágicas. A senhora realmente não queria acreditar que havia algo diferente acontecendo ao seu redor. Não queria aceitar que outro príncipe adentrasse no castelo. Não queria que sua vida mudasse assim. Não queria que sua grande proteção fosse rompida. Não queria perder a mordomia que havia adquirido com o passar dos anos. Tudo o que menos queria era perder isso.

O que aconteceu, foi o contrário do que havia planejado: um dos príncipes que já haviam aparecido naquele local, havia retornado para tomar a princesa para si. Salvá-la daquela horrível prisão em que se encontrava. Um príncipe que não via a hora de se casar com sua jovem prometida. Iria salvá-la de qualquer forma e os seus olhos diziam isso. Estavam mais brilhantes do que qualquer joia que poderia se encontrar no mundo, talvez, mais brilhantes do que o ouro e as chamas que queimavam com todo o seu calor. Ele parecia ser uma pessoa destemida. Uma pessoa que faria de tudo para salvar o que lhe era mais precioso. “Não posso perder agora. Não agora que finalmente sei como derrotar este dragão”, pensou o jovem enquanto entrava pela porta principal do castelo empunhando uma espada de dois gumes com a bainha dourada. Ele vestia uma armadura pesada que pudesse acabar atrapalhando-o nessa luta até a morte. Mas novamente o seus olhos se mostravam fortes, mostravam que nada o impediria de fazer isso agora. Era a sua segunda vez naquele local, ele não poderia correr de medo novamente.

“Como é possível que alguém realmente tenha voltado aqui? O medo deveria ser o que essas pessoas mais deveriam sentir e não a coragem.”, pensou a bruxa consigo mesma por alguns instantes. A velha não tomou nenhuma atitude com relação a isso, ficou apenas observando o que aconteceria a seguir de uma das janelas da escadaria para a torre da jovem donzela. Ela realmente queria fazer algo, mas infelizmente não poderia interferir na decisão que fora tomada por outra pessoa. Não podia tentar mudar isso agora. Quando chegasse o momento adequado, poderia revelar o que lhe foi confiado, mas seria necessário esperar que ele chegasse, ou tudo poderia ser completamente arruinado.

O jovem cavalheiro tentou avançar pelo jardim do castelo enquanto a bruxa o observava, mas quando menos esperava, o dragão negro bateu a sua cauda cheia de espinhos bem na sua frente, impedindo-o de seguir adiante. Então, com sua espada já empunhada, tentou ferir o monstro com todas as suas forças. Teve a certeza de que o golpe de sua espada o havia ferido. Estava errado. Por mais que tivesse atingido a cauda, o dragão não ficou machucado. A espada não havia nem arranhado a resistente pele do monstro que logo depois do ataque, sacudiu fortemente a parte atingida de seu corpo e fez com que o cavalheiro voasse de encontro às muralhas do castelo, trincando sua armadura que parecia ser tão resistente quanto qualquer material já visto naquela época.

O jovem, um pouco atordoado, tentou se levantar, porém, suas costas estavam feridas demais. Não conseguia se mover direito e sua vista já estava embaçada demais com apenas um golpe daquele monstro. “Não posso me entregar. Prometi a mim mesmo que iria lutar por esse amor até o fim. Prometi que daria o melhor de mim para salvá-la. Preciso conseguir.”. Esses eram os seus pensamentos naquele momento. Pensamentos que lhe deu força para se levantar e reerguer a espada que estava caída ao seu lado.

Mesmo com toda a dor que estava sentindo, mesmo que estivesse ferido, ergueu a espada novamente e correu para fazer mais um ataque ao seu inimigo muitas vezes maior do que ele. Estava correndo com todas as suas forças, mais do que podia imaginar que poderia fazer. Seu coração estava ardendo como uma chama que nunca poderia se apagar, uma chama que não iria queimar nunca a sua amada, mas que iria aquecê-la sempre que ela quisesse. Uma chama que o deu forças para golpear o dragão mais uma vez, porém, seu objetivo não era mais atingir a sua cauda; era atacar os pés dele.

Seu ataque foi voltado para seus pés, pois o jovem príncipe havia notado que o dragão raramente andava, utilizava mais as suas asas e sua cauda, então havia alguma coisa errada com seus pés. Talvez esse fosse o seu ponto fraco que ninguém havia percebido por medo de que nada pudesse afetá-lo, por medo da morte sem nem ao menos pensarem que o dragão também poderia temer a ela mais do que tudo. Parecia que seu ataque daria certo, seu plano era infalível, mas novamente a pele do animal o protegeu da espada do jovem, fazendo com que fagulhas de fogo saíssem quando a espada se chocou em seus pés. O que mudou nesse ataque foi que pequenos arranhões surgiram pouco a pouco no dragão negro, fazendo com que o ataque não tenha sido em vão.

Com um enorme grito de dor, o dragão cuspiu suas chamas no bravo guerreiro. Sua armadura foi pouco a pouco sendo derretida com o calor das chamas. Seu corpo foi sentindo o calor penetrando por cada camada de seu traje de luta, e, assim, ele esperou até que o ataque cessasse para que pudesse sair dali. Mas parecia que aquilo duraria por toda a eternidade. Ele sentia como se já tivesse morrido e ido para o inferno, pois ao mesmo tempo em que as chamas derretiam seu traje, elas lhe traziam péssimas memórias, memórias que queria esquecer pra sempre, mas que vieram à tona. Quando percebeu, já estava com o rosto cheio de lágrimas. Não sabia o que poderia fazer dali em diante. O fogo em seu coração já estava perdendo o seu resplendor quase que por completo.

Depois de algum tempo, o monstro parou de rugir. Contudo, o ataque não parou. Ele se moveu lentamente em direção aos restos da armadura do rapaz e a agarrou com suas grandes garras. Segurou-a com tanta força que parecia que ia quebra-la, mas ao invés disso, simplesmente a colocou próxima ao seu coração e abraçou com todo o carinho do mundo enquanto o guerreiro, ainda vivo, ficava cada vez mais confuso com o que estava acontecendo. Porque a criatura que queria mata-lo há alguns instantes estava fazendo isso? Porque estava dando um abraço em quem queria mata-lo a qualquer custo? Seria esse um meio de tirá-lo dali de sua proteção achando que o monstro finalmente havia se rendido? Não poderia isso ser verdade... O dragão estaria sendo ingênuo demais para achar que um príncipe cairia naquilo.

Quando teve uma chance, o jovem puxou de volta a espada que estava em sua armadura e cravou no coração do dragão. Exatamente ali, a sua pele era macia, fácil de ser atingida, o seu ponto fraco. Realmente difícil de ser atingido, mas ele realmente conseguiu aquilo o que queria: ferir mortalmente a enorme criatura. Após alguns momentos, pode-se ouvir o choro de uma menina vindo do ferimento. Talvez fosse mais uma armadilha para que ele não pudesse ser morto, pensava o príncipe novamente enquanto tomava outra decisão que poderia ser a sua vitória: saiu de sua armadura, caindo no chão de joelhos.

O dragão realmente havia sido ferido. Seu sangue pingava no chão enquanto ele se contorcia no chão, colocando uma de suas garras em seu rosto e a outra no ferimento, fazendo um grande estrondo ao deixar a pesada armadura cair. O choro de uma menina ainda poderia ser ouvido. Ele realmente saia do ferimento? Ou seria o dragão tentando se livrar de seu trágico fim? Não importava mais agora. O jovem rapaz se levantou e rapidamente feriu os dois olhos da criatura para que ela não tivesse mais nenhuma chance de ataca-lo, para que o combate pudesse terminar de forma mais rápida e fácil.

O que ele não esperava era que o combate pudesse acabar tão rápido: assim que retirou a sua espada do segundo olho do dragão, este ficara completamente fraco. As batidas de seu coração pouco a pouco iam se tornando fracas, lentas, e o choro que antes era ouvido, pouco a pouco ia se extinguindo. Ia se tornando apenas um sussurro no frio vento que soprava no local, avisando que uma tempestade se aproximava. O príncipe olhava com repugnância para a nobre criatura, como se ela fosse a pior de todas que existissem, porém, dando um sorriso sádico a ela, como se sua vitória, no caso, a morte do dragão, fosse um grande prêmio.

Para que pudesse acreditar que aquilo realmente era o fim de toda aquela guerra, o nobre cavalheiro segurou o enorme rosto da criatura, observando-a com cautela. Ele ficou surpreso com o que estava vendo: o seu inimigo realmente era quem estava chorando. Não era simplesmente um truque para engana-lo. As lágrimas em seu rosto ainda rolavam, mesmo que estivesse com os olhos totalmente mutilados. E novamente, o sorriso sádico reaparecera no rosto do príncipe que cortou a cabeça da criatura sem piedade, jogando-a para o mais longe que poderia, mesmo que a enorme cabeça pesasse mais do que ele poderia aguentar.

Vendo que sua situação com a criatura estava completamente resolvida, colocou sua espada de volta na bainha e caminhou calmamente para o interior do castelo. Seu coração estava acelerado. Finalmente havia chegado o momento para se encontrar com a princesa que tanto sonhara em encontrar, que tanto queria conhecer. Nunca a vira antes, mas sabia que este encontro poderia marcar a sua vida para sempre, que este encontro seria o mais doce e terno de todos. Poderia finalmente conhecer a pessoa que amaria para o resto da vida, a pessoa que lhe daria amor e carinho sempre que possível. Uma pessoa que só teria o coração para ele.

Sem ao menos notar, seus passos aceleraram como nunca. Seu coração parecia que ia mata-lo a qualquer momento. Seus sentimentos aumentavam conforme a distância para a torre diminuía. Sempre quis ter esse amor consigo. E agora estavam a poucos metros acima de si. Se houvessem mais obstáculos a sua frente, não iria se importar de enfrenta-los só para que pudesse estar ao lado de quem realmente amava, só para ter a sua amada em seus braços. O sorriso em seu rosto agora se tornava dócil, amável, como o de alguém realmente apaixonado, o de alguém que iria proteger quem ama a qualquer custo, nem que o preço a pagar fosse a sua felicidade.

“Porque ele conseguiu vencer o dragão? Porque a barreira foi quebrada tão facilmente? Será que esse realmente é o fim dessa história? Não pode ser...”. Pensou a bruxa sem saber como reagir àquela situação enquanto via que o tão sonhado príncipe de sua prisioneira caminhando pelo interior de sua fortaleza. Assim que notou que os passos já estavam se aproximando, a velha simplesmente desapareceu com algumas palavras mágicas que proferiu rapidamente.

E assim, ele conseguiu subir toda a escadaria para o quarto da jovem donzela. Houve uma pequena pausa e um longo suspiro até que a porta se abrisse totalmente. O quarto ainda continuava em ruínas, mas o príncipe não se atentou a isso. Ficara deslumbrado com a beleza da jovem donzela, chegando a ficar um pouco ruborizado ao se aproximar de sua cama. Ele não sabia exatamente como reagir àquilo. Ela era realmente linda, provavelmente tudo o que sonhara em ter.

Sendo movido pelo sentimento que tinha pela menina, aproximou lentamente o seu rosto ao rosto dela, dando-lhe um beijo longo e carinhoso que, segundo as várias histórias que havia ouvido, a despertaria de seu sono profundo, salvando-a de todos os males que poderiam haver. Seus lábios tocaram os dela com todo o carinho do mundo, como se tentassem protege-lo de alguma forma, como se o príncipe entregasse totalmente a sua vida a sua amada. Nada mais importava naquele momento, apenas o seu futuro a partir daquele momento. Ele poderia sentir que sua felicidade seria certa com aquela pessoa que estava ali bem a sua frente, que nada seria maior do que o amor dos dois, que nada poderia separá-los.

Assim que afastou seus lábios, pôde sentir o medo tomou conta de seu coração. Não podia acreditar que a respiração da princesa havia parado. “Mas porque? Será que o meu beijo realmente não era o verdadeiro? Será que fiz algo errado? Não era para despertá-la desta forma? O que está acontecendo?”. Ele estava completamente sem reação. A princesa que tanto amou realmente estava morta. Seu corpo já estava completamente gelado. Não havia mais nada o que ser feito agora. Era tarde demais para que se pudesse tentar qualquer coisa. Nem mesmo o mais poderoso mago poderia trazer a vida daquela jovem de volta para o seu corpo.

Mesmo assim, o príncipe a beijou desesperadamente enquanto se ajoelhava ao pé de sua cama. As lágrimas rolavam de seu rosto e caiam sob o corpo frio de sua amada. O que ele poderia fazer para consertar o seu erro? O que ele havia feito de errado?
– Que bela cena... Meus parabéns, jovem. – disse a velha bruxa aparecendo ao seu lado.

Era inevitável que o beijo fosse interrompido e o príncipe se assustasse tanto.
– Quem és tu? – perguntou ele já com a espada fora da bainha.
– Não se preocupe! Não te farei mal algum. – disse a bruxa rindo. – A pequena tragédia já acabou. Não esperava realmente que esse fosse o seu fim, mas finalmente acabou. O senhor não tens mais nada o que fazer aqui. A princesa está morta. O senhor a mataste.
– Como isso é possível?! Eu nem toquei nela antes! – perguntou o jovem rapaz incrédulo.
– Tu tocaste esta jovem sim. Porém, não nesta forma... – um pequeno silêncio tomou conta do local por alguns segundos. A bruxa retomou o seu discurso. – Ela era aquele dragão que pudeste enfrentar e matar do lado de fora desta fortaleza. Não fui eu quem o colocou para proteger esta jovem. Ela o criou.

Novamente o príncipe ficara sem reação alguma. Será que ela estava falando a verdade?
– Esta jovem possuía um pequeno poder dentro de si que acabou se desenvolvendo graças a sua tristeza, à sua solidão. Estes eram os únicos sentimentos que ela possuía e para se manter neste mundo em que vivia, acabou criando esta nobre criatura para fazer companhia a ela. Era a única chance que tinha para suportar tanta dor.
– Mas porque ele me atacou se era uma criação dela?
– Pois ele era a proteção dela. Eram as suas garras para rasgar qualquer maldade. Eram as suas muralhas para que se sentisse protegida de pessoas ruins, de pessoas que viriam aqui somente para satisfazerem os seus desejos egoístas e carnais. Era um meio para mostrar quem realmente a amava.
– Se ele era como uma proteção... Porque tentou me matar?
– Para que tu provaste a tua coragem, a tua determinação pelo amor dessa nobre princesa. Ela apenas queria que os rapazes a mostrassem isso. Nenhum foi capaz disto, somente tu, nobre cavalheiro. Porém, tu a mataste como se estivesse ferindo a pior das criaturas. Como se o seu choro não significasse nada perante o seu amor, perante a realização de seus objetivos e seus sonhos. Tu provaste, da pior maneira possível, que iria abandoná-la e que seu amor se acabaria a qualquer momento. Por mais que a amasse, algo a faria esquecê-la.
– Porém eu realmente a amei! Ela me atacou, apenas me defendi de seus ataques.
– O dragão negro também simbolizava os seus erros. Simbolizava as barreiras que teriam que enfrentar dali para sempre devido aos seus defeitos. E quanto a esses ataques, ela realmente não queria fazê-lo. Isso foi algo contra a sua própria vontade, pois ela também queria se defender deste futuro sombrio que tu a darias. Ela apenas retribuiu às feridas que você a fez no começo da luta entre vocês, foi somente uma defesa própria que o senhor não aguentaste e simplesmente a retribuiu com uma intensidade maior do que a dela.
– Como eu poderia saber que o dragão era ela?!
– Bastava olhar no fundo de seus olhos... Bastava ouvir o choro de tristeza, o carinho que o dragão te deu. Se desconfiaste dele, quer dizer que não confiaria nesta nobre donzela.
– Porém, desconfiei da criatura e não dela!
– Tu não pudeste ver através do monstro que ela se tornou. Não foste capaz de protege-la deste mal, mas foste capaz de matá-la. Tu não foste merecedor de tal amor...

Tomado pela raiva, o jovem tentou matar a bruxa com sua espada. Porém, seu golpe foi em vão. A imagem da velha havia desaparecido de sua frente. Sua fúria era incontrolável agora. Sendo quebrada apenas por um momento ao ver o corpo da princesa sendo totalmente tomado pelo sangue. Suas feridas da outra parte de sua alma haviam finalmente sido abertas. O príncipe deixou que algumas lágrimas a mais caíssem e saiu do quarto sem nem ao menos se despedir de sua amada. Passara pelo dragão sem vida ignorando totalmente a sua presença, abaixando sua cabeça enquanto aumentava o passo para sair daquele castelo amaldiçoado o mais rápido que pudesse. Simplesmente não queria mais se lembrar do ocorrido. Não queria mais amar ninguém. Não depois dessa tragédia. Não depois de ter perdido o amor de sua vida.

Porém, o peso da perda de seu verdadeiro amor permaneceu em seu coração durante vários meses, não o deixando amar a mais ninguém além daquela princesa. As estações foram passando, o inverno no coração do jovem parecia nunca ter fim. Contudo, em uma tarde de primavera, o jovem acabou se apaixonando por uma jovem donzela, princesa do reino vizinho ao seu, fazendo-o esquecer completamente de seu antigo amor, do que haviam passado juntos e da tristeza que havia enfrentado ao perde-la para sempre.

Talvez a bruxa estivesse certa. Talvez aquele amor realmente não era tão verdadeiro quanto parecia. Talvez nenhuma palavra poderia durar para sempre e que o “feliz para sempre” nunca realmente fosse existir para aquela pequena menina que nunca soube o que era realmente a felicidade, mas principalmente, o amor de verdade.

Queria que pelo menos metade do que aconteceu fosse verdade. Queria o teu sentimento mais puro somente para mim, a tua alegria, o teu sorriso. Queria estar sempre ao teu lado fazendo com que nossa felicidade fosse uma só. Nossos corações tocariam a mesma melodia, se completando. Nosso destino poderia ser o mais belo de todos. Nossos sentimentos poderiam durar eternamente...Mas nunca existiu um “feliz para sempre”. Nunca existirá...

Pensou a jovem princesa pela última vez em sua infeliz existência.



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Notas finais do capítulo

Obrigado por terem lido e espero que compreendam a mensagem descrita nessa fic. Reviews serão bem aceitas ^^



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