À primeira vista Tony Stark pareceu irritante, mas Bruce Banner logo mudaria de ideia.

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            Os olhos de Stark estavam sempre pairando sobre Bruce, e isso o incomodava. Na cabeça de Banner era como se ele estivesse se prevenindo caso o "outro cara", mais conhecido como Hulk, aparecesse. Ele tentava não se incomodar com os olhares, mas sua cabeça não parava um segundo de pensar neles. A raiva só aumentava, mesmo que por fora Banner continuasse fingindo ser calmo e compreensivo, caso contrário todos naquela sala teriam um amável encontro com o gigante esmeralda.

            Depois de toda confusão causada por Loki, Bruce pensava em voltar para a Índia, precisavam dele lá (era o que ele vinha pensando naquele tempo todo). É claro que algo o impediu: Tony. Mesmo que quase detestasse o moreno, não conseguiu dizer não quando Tony pediu para comparecer na Torre Stark a fim de compartilharem conhecimentos sobre ciência. Era tentador conhecer melhor a tecnologia daquele lugar. E assim fez.

            "Tony?" pergunta Bruce adentrando a gigantesca Torre Stark ainda um tanto receoso.

            "Olha quem apareceu", foi o que Tony disse em resposta.

            "Não acreditou quando eu disse que viria?"

            "Sinceramente?", ele fez uma pausa revirando os olhos como se tentasse se lembrar. "Eu tinha um pouco de esperança."

            Bruce se permitiu um sorriso, pequeno, mas ainda era um sorriso.

            "Quando começamos?", perguntou Bruce olhando em volta. Até a sala de estar era ridiculamente grande e esplêndida.

            "Calma, Dr." e riu Tony enquanto saía da Sala deixando Bruce sozinho no local por alguns instantes. Voltou brevemente trazendo uma garrafa de champanhe. Bruce estranhou, e muito.

            "Champanhe a essa hora?", olhou o relógio de pulso para ter certeza das 8am. "Estamos comemorando e eu não sabia?" Bruce riu, Tony trabalhava para abrir manualmente a garrafa.

            "Pode ter certeza, meu amigo."

            "Sabe que não vou beber, qualquer bebida é uma desculpa para deixar o 'outro cara' aparecer." Bruce atacou.

            "Não é pra você" e fechou a cara, zombando. Ambos gargalharam logo após.

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            As visitas ocorriam de duas a três vezes por semana, mas por algum motivo iam diminuindo até que Bruce nunca mais pôs os pés lá. Tony fingia não ligar, mas por dentro sentia falta dele. Pepper era esperta, mas como vamos dizer... Bom, Bruce era um atrativo melhor. E não era por ter um monstro verde dentro de si, realmente se divertia com a presença dele.

            Longe dali, em uma floresta que Bruce acreditava não ser habitada, o pequeno homem encontrava-se em crise. As pessoas doentes na Índia, o Hulk querendo aparecer a qualquer momento, os olhares de Tony... Os olhares de Tony eram o que mais o incomodava. Bruce os via como um olhar de desprezo, de dó e de precaução....

            "Como pode?" perguntava a si mesmo enquanto ajoelhava e segurava a cabeça com as duas mãos. "Se tem medo que o 'outro cara' apareça, por que permite que eu fique tão perto?!"

            Ele sabia, esse não era o motivo de estar tão furioso. O real motivo era de ter se apegado a Tony, e não saber se ele pediu sua companhia por diversão ou para estudar o recipiente do Hulk. Foi com esse pensamento que ele perdeu o controle.

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            Bruce abriu seus olhos e foi como se tivesse acordado de um sono que durou anos. O simples movimento de suas pálpebras desencadeou uma intensa dor em todo seu corpo, e de longe daquela sala branca ouviram seus berros. Mesmo com a dor incessante pôde perceber duas pessoas entrando na sala onde estava, mas só conseguiu distingui-las vários minutos depois. Um era um médico, o outro Tony Stark. O médico saiu da sala, mas por algum motivo Tony permaneceu ali, ao lado da cama em que Bruce estava deitado e, agora, sem conseguir se mexer. Os berros anteriores já haviam levado sua voz.

            Bruce ouvia e via tudo, mas seus outros sentidos estavam adormecidos, até a dor já havia cessado. Sua cabeça não conseguia pensar num motivo para estar todo enfaixado naquela maca, ou ele pelo menos estava com medo das opções. Observou o amigo Stark abrir um livro, folhea-lo, mas logo o deixou de lado. Sua face demonstrava preocupação.

            Duas horas e Bruce estava totalmente curado, levantou da maca assustando o amigo que cochilava.

            "Droga, que susto!" Reclamou Tony, mas logo se recompôs e viu a face do amigo.

            "Por que estou assim?"

            "..."

            Bruce já sabia a resposta, Tony não iria dizer o desnecessário.

            "Eu fiz de novo, não é?"

            "Não foi você, foi Hulk."

            O simples nome fez o cientista estremecer e arrepiar-se por inteiro. Suas mãos começaram a tremer, ele encostou na maca e tomou assento novamente. Afundou os olhos com as mãos e forçou suas lágrimas a não saírem, mas elas eram mais fortes. Estava devastado. Tony não sabia o que fazer já que nunca havia visto um adulto chorar daquele jeito em sua frente, ele não tinha jeito com sentimentos. Sua mão instantaneamente foi até o amigo para consolá-lo, mas ele mesmo parou antes que sua mão o alcançasse.

            "O lugar não era habitado por sorte. Você escolheu bem o loca-"

            "Pode ir." Bruce o interrompeu. "Não tem obrigação de me ver nesse estado e nem de estar me ajudando, eu-"

            "Cala a boca." As três palavras foram seguidas de vários minutos de silêncio. "Aliás, você está na minha casa."

            A chuva começou a cair quando a escuridão tomou os céus. O silêncio na cidade trouxe a calmaria que Bruce tanto amava. Tony agradeceu por Bruce ter parado de chorar, vendo um homem daquele tamanho chorar era de partir até mesmo o coração do Homem de Ferro.

            "Posso passar a noite?", pergunta um Bruce envergonhado.

            "Não vou te deixar sair por um bom tempo." E com isso Tony prepara-se para sair da sala. "É melhor dormir. Tenha bons sonhos, verdão".

            Os lábios de Bruce moldam-se em um sorriso inevitável

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            Aquela extensa noite finalmente passou e, como a S.H.I.E.L.D cobria seus atos (desde que permanecesse na iniciativa Vingadores), Bruce estava isento de culpa judicial por destruir uma área verde. Em sua mente ele se culpava a cada segundo, havia destruído mais um lugar, mais vidas (mesmo que não humanas). Tony levou um chá até o quarto onde Banner havia passado a noite.

            "O que aconteceu com o champanhe, Sr. Stark?" Brinca Bruce.

            "Engraçadinho," responde Tony soltando uma despreocupada risada. 

            "Já posso sair dessa sala? As quatro paredes brancas me fazem sentir num hospital..."

            Tony assente e assim que Bruce termina o chá e faz sua higiene matinal eles vão para a sala de TV (que mais parecia um cinema). Sentam lado a lado mesmo o sofá sendo incrivelmente grande. O filme começa, mas nenhum deles parece interessado.

            "Não tem mesmo problema eu estar aqui? E Pepper?"

            "Não aparece há um bom tempo." Responde Tony indiferente. Bruce fica boquiaberto com tamanha tranquilidade do outro ao falar. "Pare de inventar assunto e assista o filme." Tony sugere, ou obriga... Mas Bruce não obedece, muitas coisas passam por sua cabeça. Aquele momento, o modo gentil que Tony o vem tratando, Bruce precisa saber que não é mais uma vez um experimento.

            "Tony..." ele começa. "O que eu estou fazendo aqui?"

            O outro responde sem tirar os olhos da TV. "Você eu não sei, mas eu estou assistindo um filme."

            "Tony!"

            "Okay, okay." Tony volta seu olhar para Bruce e encontra seus olhos. "Digamos que eu, érm..." Ele revira os olhos para esconder o constrangimento. "Eu gosto da sua companhia."

            "Da minha ou-"

            "Eu adoro sua companhia, não do 'outro cara'. Ele também é legal, mas é meio burro."

            Bruce afoga uma risada.

            Um curto silêncio se faz na sala. Tony o quebra com um pigarro e em seguida complementa: "Não suma de novo."

            "Não vou." Bruce agarrou-se às palavras de Stark. Ele não estava sendo mais uma vez um objeto de estudo, eram realmente amigos. Lembrou-se dos olhares que tanto o irritavam, porém agora os via como algo protetor. E mesmo tentando esconder, Tony sofria por dentro só de pensar na possibilidade de Banner sumir outra vez.

            O coração de ambos pulsava intensamente, eles sabiam o que significava. As batidas eram quase audíveis, o que fez o rosto de Bruce corar. Tony apenas riu, e virou-se logo após. Barrou todos seus pensamentos por um instante e inclinou-se para encaixar seus lábios nos de Bruce, que por sua vez arregalou os olhos.

            "O que você-"

            Tony o interrompeu tornando o beijo mais intenso. Bruce entregou-se esperando que aquilo não fosse uma piada. Depois de alguns segundos o beijo cessou, ou alguém ia morrer asfixiado.

            "E então?" Pergunta Stark tranquilamente.

            "E-Então que-" Bruce respira. "O que diabos?!"

            "Ainda estou vivo, significa que não ficou com raiva." Tony observa o rosto do amigo corar.

            Após um breve momento para respirar, Bruce revida:

            "Me pegou desprevenido, significa que confia em mim."

            Ambos deixaram-se levar por uma gargalhada tranquilizadora.

            "Por gentileza, posso beijá-lo novamente?" Tony pergunta, agora com um sorriso irônico no rosto, mas mesmo assim perfeito. O sorriso que acalmava Bruce de forma inigualável.

            Bruce inclina-se e a permissão estava dada.

            "Tony," diz Bruce sem desfazer o beijo. "O que estou fazendo aqui?"

            "Sendo meu parceiro de ciência e melhor companhia."

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