A Cura escrita por Crica


Capítulo 3
Capítulo 3




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Parte 3: Alquimia

N/A:   Antes  de começarem a leitura deste último capítulo, busquem, se tiverem a gravação ou baixem “The Boys Are Back in Town” do Bad Company, mas não ouçam agora. Aguardem o momento. Vai valer a pena, eu garanto.

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          O dia amanheceu especialmente ensolarado.

          Ou eles é que não estavam acostumados a reparar na luminosidade do sol da manhã?

          Bem, tanto faz. O fato é que um belo dia sempre ajuda a continuar na caminhada. Mesmo que a caminhada seja na direção de um confronto que ninguém sabia ao certo onde ia se dar, nem como acabaria.

          Dean estava ao telefone, ainda tentando localizar mais alguns caçadores que pudessem colaborar no plano de contenção demoníaca, como o havia ‘batizado’, quando Sam desceu as escadas, seguido por Bobby, ruidosamente.

_ Onde é o incêndio?

_ Vou com o Bobby até a cidade. Acho que talvez possamos rastrear os passos de Lilith, finalmente.

_ Certo... – Dean desligou o telefone e elevou a vista _ E os gênios podem dividir com este mero mortal ignorante a sua tão espetacular descoberta?

_ Não enche, Dean.

_ Vamos, Sam, estamos sem tempo. Na volta a gente explica tudo, garoto. Se cuida.

_ Eu vou me cuidar. E tratem de trazer o almoço. Não trabalho de graça! – gritou para os outros dois que já atravessavam o pátio, apressados.

          Dean odiava ser deixado para trás.

          Odiava ficar no vácuo. E jamais admitiria, nem em pensamento, que estava com uma ponta de ciúmes de todo aquele segredo entre seu irmão e o amigo.

           Por um momento, sentiu-se envergonhado pelo sentimento tão infantil.

         Voltou sua atenção para o aparelho telefônico sobre a mesinha, à sua frente. Sentou-se no chão, sobre o tapete e continuou a folhear a agenda, riscando os nomes com os quais tinha feito contato.

          Duas horas sentado naquele chão duro estavam deixando o seu traseiro quadrado. Como Sam conseguia ficar horas metido nas pesquisas? Tinha que admitir que o garoto tinha fibra – e bunda – porque não era nada fácil – sem dizer, tremendamente frustrante – passar tanto tempo sentado, em buscas que, muitas vezes não davam em nada. Mas era aquele trabalho chato e nada emocionante que os tirava de muitas encrencas. É. Tinha mesmo que dar o braço a torcer.

_ Muito trabalho? – A voz suave não evitou o susto do caçador.

_ Essas entradas fazem parte do contrato ou são só um traço marcante da personalidade de vocês? -  um pouco de ironia para dar tempo ao coração de voltar ao ritmo normal.

_ Vejo que está mais animado – Anna aproximou-se e sentou-se ao lado do caçador, no chão.

_ Pensei que tivesse voltado...sabe... – indicou o céu com o olhar _ Pra casa.

_ Infelizmente, ou não, sei lá... Colocaram uma placa com letras garrafais na minha nuvem: Persona non grata. Então...Creio que posso me considerar mais uma sem-teto.

_ Eu sinto muito.

_ Oh, não sinta. Na realidade, não queria mesmo voltar pra lá.  Aqui é muito mais divertido, eu garanto. – O anjo sorriu, depositou a mão sobre o joelho dobrado do rapaz e buscou os olhos dele com os seus _ Como você está?

_ Estou bem... – um olhar furtivo se escondeu atrás de um sorriso sem jeito _ Um passo de cada vez, eu diria – Continuou antes que ela pudesse perguntar algo mais sério _ Eu queria agradecer pelo que você fez lá no hospital. O Sam me contou.

_ Não me agradeça por isso.

_ Sam disse que Castiel esteve lá e não fez nada pra me ajudar. Não moveu uma palha e, só pra variar, os médicos diziam que a coisa estava feia. Então você apareceu e eu comecei a melhorar. Ou vai dizer que não tem nada a ver com isso?

_ Mea culpa. – levou a mão ao peito _ Mas não me agradeça. Dei um empurrãozinho na sua recuperação por motivos puramente egoístas.

              E lá estava de novo aquele sentimento de aconchego e cumplicidade que sempre se apresentava na presença de Anna. 

            A relação entre Dean Winchester e anjos não era das mais saudáveis. Apesar de ter sido retirado do inferno por um deles, nada que dissesse respeito àquelas criaturas celestiais inspirava-lhe confiança. Às vezes, tinha vontade de socar a cara de Castiel por sua intransigência e obediência cega, mas é difícil atingir, impunemente, seu próprio reflexo. Mas com Anna era diferente. Ela o entendia, o reconhecia, o aceitava e a recíproca era mais do que verdadeira. Podia olhar dentro dos olhos dela e permitir que  visse sua alma, sem medo.

_ Você não deveria se arriscar por minha causa – fugiu do toque daquela mão delicada em seu rosto _ Eu não mereço.

_ Não diga bobagens.

_ Quando você usa seus poderes não é como se acionasse um GPS celestial ? Pelo menos foi o que o Sam me explicou...Os anjos poderiam te encontrar e ...

_ Não posso negar que, ao usar habilidades divinas, fico meio exposta, mas o que é a vida sem os riscos?

_ Não brinque com isso, garota – Dean a encarou com um tom severo _ Você não deveria se arriscar à toa.

_ Por que você insiste em acreditar que não vale a pena, Dean? – Anna segurou o rosto dele antes que pudesse fugir do contato visual novamente _ Por que você prefere acreditar que não merece ser feliz ou ser amado?

          Silêncio.

          “O que é isso, meu Deus? O que está acontecendo? Eu não quero. Não quero nada disso... E não vou chorar... Mas que merda! Eu não vou chorar!” Que  poder aquela mulher... ou...anjo... ou criatura... exercia sobre ele? Que sentimento era aquele que tomava seu coração e seu sossego ?

_ Se você pudesse acreditar, se pudesse perceber como é fácil te amar, Dean...  – a jovem ergueu o rosto e tocou-lhe os lábios  com os seus: Leve, suave e ternamente.

          Os olhos de Dean se fecharam, derrubando a parede de lágrimas contidas que embaçavam sua visão. Havia uma dormência percorrendo todo o seu corpo. Uma coisa boa – é óbvio que seus hormônios tocaram as trombetas, afinal, estamos falando de Dean Winchester. Porém, esse era apenas um detalhe menor, no momento – Uma sensação que poderia até chamar de felicidade se soubesse realmente o que isso significava.

_ Eu tenho que ir agora – ela se afastou um pouco e sorriu mais uma vez, com candura.

_ Agora?

_ Não é seguro para mim ou para vocês que eu esteja tão perto. Como você disse, podem ligar o GPS celestial e... Já sabe como os rapazes lá de cima podem ser desagradáveis, quando querem.

_ E para onde você vai?

_ Não se preocupe. E, Dean... Cuide do Sam. Ele precisa da sua ajuda, mais do que você possa imaginar. Você precisa mantê-lo a salvo.

_ Há muito tempo o Sam não precisa mais de mim, Anna.

_ Não se engane. Ele não precisa que você se sacrifique por ele, mas nunca precisou tanto do seu amor quanto neste momento e daqui pra frente. E quanto a mim...Vou ficar de olho em vocês.

_ Tenha cuidado. Os anjos ainda querem a sua cabeça numa bandeja e não creio que a sua disposição em lutar nessa guerra vá mudar isso.

_ Eu não estou aqui pelo apocalipse ou pelos anjos. Eu vou lutar, Dean, mas do seu lado. Estou aqui para lutar com você.

_ Anna? – Ela fez outra vez. Desapareceu bem diante dos seus olhos .

         O mais velho dos irmãos ainda estava atordoado. Muitas emoções de uma só vez e nenhuma habilidade para administrá-las. 

          Um anjo caído tinha acabado de afirmar, com todas as letras, que não estava entrando na batalha pelo paraíso ou pelas Milícias Celestes, mas por ele.

“Puta merda...” Esfregou os ralos fios de cabelo energicamente e expirou com vontade.

          O ronco do motor do Impala trouxe Dean de volta à Terra.

          Muito antes do que pudesse se recompor, Sam e Bobby já estavam entrando  pela porta da sala, trazendo um saco de lona com algo grande dentro.

          Os caçadores recém-chegados reparam na expressão desconcertada do outro, ainda largado no chão.

_ Dean? – Samuel deu a volta no sofá e ajoelhou-se ao pé do irmão _ Você está bem, cara? Está esquisito.

_ Estou legal, Sammy.

_ Andou cochilando no serviço, rapaz?

_ É, acho que sim. Esse negócio de bancar a secretária enquanto vocês se divertem por aí é um saco. Devo ter caído no sono de tanto tédio.

_ Então levanta daí, mano – Sam estendeu a mão que serviu de alavanca para o irmão levantar-se _ Que a farra vai começar.

_ O que vocês dois foram buscar? A Gisele Bündchen ?

_ Não, melhor do que isso – os olhos do caçula brilhavam _ Venha.

          Dean seguiu o irmão e o amigo até a mesa da cozinha. Não deu pra disfarçar a expressão de desapontamento quando os caçadores retiraram a tal da bússola mágica do Bobby de dentro do saco. Já tinham usado aquilo antes e, por que diabos, ninguém tinha pensado em fazê-lo novamente até agora? Estava frustrado. Não acreditava que aquela agulha-tamanho-família pudesse levá-los aos selos antes de Lilith.

          Bobby montou a engenhoca sobre o mapa que haviam preparado nos dias anteriores e recitou os versos do encantamento. A coisa girou e apontou uma pequena cidade no interior do Missouri.

          Sam anotava os nomes das localidades conforme Bobby repetia as palavras em latim e a agulha se movia, mostrando uma nova direção.

          Passaram os dados aos demais caçadores e distribuíram os selos de acordo com a localização de cada um. Tempo era um fator imprescindível.

         Os três estavam cansados.

          Não tinham percebido a tarde passar em meio a tantos afazeres.

         Dean aproximou-se da bancada e ligou a cafeteira. Seus olhos avistaram, em meio aos carros empilhados uma silhueta muito familiar. Uma familiaridade que lhe dava arrepios.

_ Sam. – chamou pelo irmão, que se aproximou _ Acho que você tem visitas.

_ Não demoro. – o rapaz saiu como um relâmpago e deu a volta na casa.

          Através da janela, Dean e Bobby observaram a aproximação do jovem Samuel e um sorriso se desenhar no rosto de Ruby. Um sorriso muito íntimo, se querem saber.

         Dali, de onde estavam, não podiam ouvi-los. Mas podiam ver que algo não estava bem – e o que poderia estar bem com relação a um demônio? – Sam gesticulava e a mulher não parecia nada satisfeita com o que estava ouvindo. O rapaz parecia irritado e ela, mais ainda.

          Dean estava a ponto de pegar uma garrafa de água benta e enterrar pela garganta daquela vagabunda diabólica, mas tinha prometido a si mesmo não interferir. Tinha prometido a si mesmo respeitar as escolhas de Sam. Então, conteve-se.

          Depois de alguns minutos de um intenso bate-boca lá fora, Ruby desapareceu, como havia surgido, do nada.

          Os dois caçadores voltaram-se para a porta da frente, ansiosos por uma explicação, mas quando Sam entrou, batendo a porta atrás de si, não o questionaram. Cruzaram os braços, encostados na bancada e ali permaneceram, aguardando que o mais jovem tivesse a iniciativa de falar.

_ Pronto – o peito de Sam subia e descia com a respiração descompassada _ Acho que é isso.

_ Isso? – Dean se aproximou um pouco e levantou a sobrancelha, esperando por uma resposta _ Posso perguntar o que é ‘isso’?

_ Ruby queria que eu fosse com ela – sentou-se num banco junto à parede e passou as mãos por dentro dos fios desalinhados do cabelo _ Ela disse que tem uma pista quente.

_ E... – Dean não queria realmente saber, mas precisava _ E o que você respondeu?

_ Que não, é claro. – Sam encarou seu irmão como se tivesse ouvido a pergunta mais absurda do planeta.

_ Oh, estou aliviado... – Bobby empurrou o boné para trás, se permitindo respirar outra vez.

_ Quem vocês pensam que eu sou ? Não vou a lugar nenhum com ela, está bem? Não mais. Meu lugar é aqui, com vocês.

_ Esse é o meu garoto – Dean sorriu de lado. Um sorriso genuíno, como nos velhos tempos. Um daqueles sorrisos orgulhosos que Sam reconheceu imediatamente.

_ Vocês são a minha família. Não importa o que Ruby possa me oferecer. Não importa mais o poder ou a força que ela possa me dar porque a minha força está aqui, com vocês.

          Acho que foi neste exato momento que as cascas das feridas desses dois irmãos começaram a ser soltar, mostrando o tecido cicatrizado. Fino, rosado e ainda muito delicado, mas curado.

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N/A(2): Pára tudo agora! Lembram da música??? Pois é chegada a hora: corram lá e ponham pra tocar. Pronto? Já está ? Então vamos em frente!

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           No dia seguinte, mal o sol saiu, os três caçadores preparavam-se para partir.

_ Vocês estão com o mapa, garotos? – Bobby sabia que sim, mas desde que havia se auto-intitulado pai-substituto desses dois, estava no seu papel conferir _ Não deixem de ligar. Fiquem em contato e não vão se arriscar sem necessidade. Dessa vez, ou vai ou racha!

          A  família se despediu e os rapazes observaram o mais velho deixar o ferro-velho naquela lataria que ele insistia em chamar de carro.

          Os corações estavam apertados. Cheios de dúvidas e receio quanto ao futuro, mas o futuro não poderia ser mais doloroso que o passado e o passado, bem... o passado agora era só o passado.

-Ei, Dean... – Sam respirou fundo _ Você está com medo?

_ Não – o mais velho laminou os olhos _ O termo mais adequado seria apavorado.

_ Eu também – deixou cair a mochila dentro do porta-malas.

_ Mas o que pode dar errado, Sammy? Temos um exército de anjos do nosso lado dessa vez .

_ É... moleza... Nada como um pelotão celeste pra combater as hordas do inferno, guiado por dois malucos mortais, não é?

_ É isso aí, garoto. Você está pegando o espírito da coisa.

 _ Dean... Eu queria que você soubesse que, não importa o que aconteça, eu tenho muito orgulho de ser seu irmão.

_ Eu também, Sammy. Eu também. – hora da saída estratégica pela direita _ Podemos ir ou você quer gravar as nossas iniciais numa árvore primeiro?

_ Vamos. Temos muito trabalho a fazer.

          Os Winchester estavam outra vez na estrada.

          Seu destino, quem saberá?  O importante é saber que não havia mais espaços em branco entre eles. Todas as decisões tinham sido tomadas. Tudo o que precisava ser dito, foi dito e o desnecessário, apenas perdoado.

          Seus caminhos seriam traçados por eles,dali por diante, juntos.

FIM

 

- ou apenas o recomeço, quem sabe?-

 

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  Notas finais: Estou parecendo contador com tantas notas... Deve ser efeito dos analgésicos para o bendito nervo ciático.

             Não sei se correspondeu à expectativa, mas espero que tenham aproveitado a leitura tanto quanto eu curti escrever esse texto.

            Desde já, agradeço a todos que gastaram seu precioso tempo com a minha insanidade e, principalmente aos que deixaram um comentariozinho.  Como não poderia deixar de ser, um especial agradecimento à minha fiel amiga, beta, parceira literária e pitaqueira de plantão: Det Rood.

           Até a próxima, se Deus quiser e os neurônios permitirem!


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