Minha cabeça ainda doía e minha visão estava um pouco embaçada... M-mas com toda certeza eu não estava menos confusa nessa sala cheia de crianças estranhas do que quando estive presa naquela sela de metal dura... Fria... E só. De pensar, já me surgiam calafrios. Estava com vontade de chorar, mas para quê? Queria apenas estar com a minha família, e não ali onde estava. Parecia ser um navio, certamente era europeu, pois não existiam navios com aquele no Japão.
Eu estava com medo e fui me encolhendo no canto da sala tentando estudar todas aquelas crianças. Todas, assim como eu, pareciam extremamente assustadas. Isso me deixava insegura. O que fazer? Olhava para os lados procurando alguma coisa que pudesse me tirar daquele pesadelo. Nada vinha... Nada me socorria. E em meio daquele terror estava prestes a me desesperar até... Uma garota mais velha tentava se comunicar com as outras como se estivesse querendo acalmar a situação, mas aparentemente sem sucesso, pois as crianças ficavam só caladas, porém de algum modo parecia confortá-las. Um garoto, que provavelmente era o mais velho de lá, ficava um tempo a estudar as demais crianças e depois se perdia em pensamentos, ele parecia indeciso. Segurava uma espécie de bola, e em um ritmo constante a jogava para cima e pegava novamente, e por fim guardou-a em seu bolso. Não posso negar o meu medo, mas era algo maior que isso. Eu não sei o motivo, mas de algum modo me senti atraída por essas pessoas. Eles emitiam segurança ao local frio e desesperador que era aquele grande monstro europeu que chamavam de navio.
Fiquei quieta e encolhida no meu canto apenas observando atenta, meu medo ainda não se dissipava. Depois de um tempo a garota mais velha, que aparentemente se chamava Liezel, conseguiu juntar as crianças. Eu queria ir lá e me juntar a eles, mas não conseguia. Eu sentia minhas pernas fracas já que fazia tempo que eu não comia direito desde que aqueles homens estranhos me levaram com eles. Por mais que eu tentasse me esquecer de tudo se repetia, repetia e repetia em minha mente. Chicoteando a minha cabeça até não mais poder. Uma saudade de casa, de minha avó... Meu pai... Quando percebi, lágrimas já escorriam em minha face fria e pálida. Esfregava o rosto com as mãos tremulas e finas. Até que o garoto alto e loiro se aproximou de mim. Encolhi-me com medo e desconfiada, mas não parava de fitá-lo, assim como ele também me fitava. Ele estendeu a mão rapidamente e eu fechei meus olhos temendo o pior... Nada aconteceu. Voltei a abrir os meus olhos e vi que em sua mão jazia aquela bolinha amarela que ele estava jogando antes. Um sorriso gentil surgiu em sua face, fazendo outro se abrir na minha. Naquela bolinha eu vi o meu desconforto ir embora. Eu sabia que podia confiar nele de certo modo. Eu não tinha ninguém naquele navio, ninguém! Só ele veio até mim, apenas nele eu poderia confiar. Tentei falar com ele e dizer-lhe meu nome, mas ele não me entendia. Ele definitivamente não era japonês como eu. Apontei pra mim e falei: “Mayu”. Em seguida apontei pra ele, quem sabe ele talvez não compreendesse, mas já que estávamos envoltos na mesma situação eu sei que ele entenderia. E apenas com um sorriso e uma palavra eu já me senti segura: “Ned”.