Distância escrita por Ushio chan


Capítulo 12
Sumido, achado e perdido.


Notas iniciais do capítulo

Quero dedicar este capítulo (na verdade a fanfiction inteira) à minha avó, que faleceu na madrugada de ontem. Ela foi alguém muito especial para mim, que me ensinou muito e me fez rir muitas vezes por causa de suas histórias de vida, as quais ela contava uma infinidade de vezes cada uma.
Vó, você foi uma das pessoas mais especiais para mim nesses meus 14 anos e meio de vida. Gostaria de ter te visto mais uma vez, mas você sempre terá um quartinho especial no meu coração, onde você sempre foi e sempre será V.I.P. Eu te amo para sempre e prometo que, se conseguir publicar um livro algum dia, ele será dedicado a você.
- Beijos da sua netinha que te ama muito.



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A dúvida não permite que eu durma novamente. Shinigami. O que um shinigami foi fazer no meu sonho? E eu não sei nada sobre shinigamis e não entendi muito do que ele falou, então… Será que foi real? Yuki-kun… Ele está morto? Droga, preciso sair. Preciso andar um pouco.

Tiro o pijama e coloco uma calça jeans e uma velha blusa rosa de mangas compridas. Pego o celular sobre a escrivaninha e a agenda eletrônica. Sobre o local onde se encontrava o celular, eu deixo um bilhete para que Kyou e Tomoya não se preocupem comigo e saio pela janela, descendo por uma cerejeira quase colada a casa.

Chego ao chão e começo a andar.

Caminho sem rumo, pois não quero chegar a lugar nenhum. Caminho só por caminhar, para afastar os pensamentos ruins e, com alguma sorte, atraír o sono. Creio que deveria ter vindo de casaco, pois o vento gélido da noite de outono penetra facilmente a blusa fina de malha e a calça. Não importa. Isso não afetará o passeio na sombria companhia da noite.

Gostaria que Íris estivesse aqui para conversar. Ou Near, que sempre foi uma ótima companhia em noites frias como esta. Lembro-me daquela noite no orfanato. A noite em que Mello se declarou para mim. Mas não penso neste ponto. Penso no que aconteceu minutos antes. Near adormeceu no meu colo depois de uma conversa curta, mas mesmo assim um das conversas mais importantes da minha vida.

Prossigo com o passeio durante, no mínimo, uma hora. A essa altura eu já estou bem longe de casa, mas ainda não consigo pensar claramente. No entanto, se prosseguir, nunca mais conseguirei voltar. Ao menos não esta noite.

Faço a volta e começo a seguir pelo caminho que eu fiz para chegar até aqui. Com minha memoria fotográfica, não me perco durante o longo percurso que tenho de fazer para chegar a rua de casa.

 Vejo, então, um contorno conhecido e, mesmo no escuro, uma sugestão de cor. Um vermelho sangue que quase se confunde com o azul da calça, que se tornou preta sob a iluminação precária.

-    Yuki? – Chamo. O vulto se vira para mim. – Fujibayashi Yukiteru, não se atreva a dar um passo sequer para longe. – Ameaço. Ele vai voltar para casa comigo.

-    Tudo bem, Ki-chan. Eu vou voltar com você. – Ele se aproxima de mim. O alívio profundo que me toma chega à alma. Yuki-kun está bem!

Abraço-o com força e sinto seus braços ao meu redor também.

-    Desculpe por ser idiota e só me preocupar com a minha dor. – Digo à ele, sentindo um conhecido calor no coração. Um calor que só sinto perto de… Ne-Ne.

-    Desculpe por ficar jogando na cara. E por implicar com o Mello.

-    Sem problemas… Nii-san. – Ele olha para baixo, os olhos fixos nos meus. Está surpreso. Há meses eu não o chamo assim. E é a primeira vez que uso o termo com sinceridade na voz e no rosto.

-    A-Arigatou, Ki-chan.

Apenas sorrio para ele.

Andamos lado a lado pelo curto percurso até a casa. O sonho do shinigami começa a desaparecer em minha mente, tornando-se apenas uma memoria apagada de um momento ruim. Há entre mim e o sonho uma distância ainda maior do que a que existe entre mim e o meu amado Wammy’s.

Meu celular toca. É Mello. Não posso simplesmente não atender, mesmo com toda uma história por escutar. Pego o aparelho no bolso e atendo a ligação, parando e fazendo com que Yuki me espere.

-    Mello?

-    Kim, eu não cheguei a falar com você. Eu sei que não deveria estar ligando agora, porque é muito tarde, mas eu simplesmente precisei. – Começa. – Queria dizer que sinto muito pelo Yukiteru, mesmo eu não me dando bem com ele. Estou torcendo muito para que fique tudo bem, Kim.

-    Eu… Eu estava acordada. Eu o encontrei, Mello. Yuki-kun está aqui do meu lado.

-    O quê? Jura?! Então diga a ele que nunca mais te assuste desse jeito! – Mello deixou a suavidade da voz, trocando-a por uma certa raiva. Meu louro.

-    Eu passo o recado. – Sorrio para um Mello que está distante demais para poder ver minha reação.

Então, de um instante para o outro, minha vida perde o rumo. Se fosse um filme, esta cena seria em camera lenta e, sob os meus olhos, é mesmo. Yuki leva as mãos ao peito e a fecha com força. O olhar continua fixo em mim, mostrando-me sua dor. Yukiteru… Está tendo um ataque cardíaco. E minhas pernas… Não consigo move-las. Não consigo ir até ele.

- YUKI!!! – Berro antes que ele atinja o chão. Calafrios percorrem meu corpo enquanto deixo cair o telefone ainda com Mello na linha. Ouço-o gritar do outro lado, mas meu cérebro parece estar processando uma série de informações que o ocupam por inteiro. Não consigo compreender o que Mello está gritando.

Finalmente consigo me impulsionar para frente com as pernas, chegando até Yuki e segurando sua cabeça longe do chão. Yuki não pode morrer... Não agora. Não logo depois de ficar tudo bem.

-        Ki... Chan... Gomen.

-        Yuki-kun, não. Não faça isso comigo. Pense na Kyou, no Tomoya... Em mim. Agüente firme, nii-san. – Digo com meus olhos se enchendo de água e a voz embargada. Yuki está menos assustado do que eu, por incrível que pareça.

-        Não há nada... Que nenhum de nós possa fazer. Eu te amo, imouto-chan. – Diz ele com a voz mais suave que já escutei. Meu lábio inferior treme com os soluços que estão por vir. – Diga isso aos meus pais também.

-        Eu te amo, onii-chan. – Digo, mas não sei se ele escutou. Agora seus olhos abertos, frios e tomados por um abismo eterno e vazio não têm mais luz. Me encaram com a morte estampada sobre si. O sonho volta a minha mente. Estava certo. Era tarde demais para Yuki-kun. Agora seu corpo jaz em meus braços gélidos e incapazes de se mexerem. – ONII-SAN! – Chamo em desespero. – NII-SAN! ACORDE, NII-SAN!

Mas ele não vai acordar. Ele já foi. É tarde demais para Fukibayashi Yukiteru.

Acordados pelo som agudo e choroso de meus gritos desesperados, Kyou e Tomoya saem de casa correndo. Não me viro, sem querer tirar o olhar do rosto inexpressivo de meu irmão mais velho, mas ainda posso ver suas expressões cheias de dor. Posso ver aquele brilho distante de esperança abandonar os olhos de Kyou. Posso ver o horror nos olhos de Tomoya. O mesmo horror que deve ter tomado meu olhar quando meus pais morreram. Ainda assim, a morte de Yuki-kun desafia o ciclo da vida. Cedo ou tarde, eu e Near perderíamos nossos protetores. Mas nenhum pai deve ser obrigado a enterrar seus filhos. Nunca. E este deve ser o olhar que Kyou e Tomoya dividem nesse momento. O olhar de pais que perderam seu único filho biológico.

Sinto uma força maior que a minha puxar Yuki de meus braços.

-        Yuki...- Sussurra Kyou para o filho. – Meu filho... Meu único filho. – Soluça em prantos. Ela não tem esperanças. Não tem nada em seus olhos além de dor. Agora que soltei Yuki meus braços não param de tremer. Meu corpo inteiro, na verdade, sofre com pequenas convulsões.

-        Kim? – Ouço um grito que não vem de Tomoya, nem de Kyou. Mello.

-        Kim, fale que precisa desligar e chame uma ambulância! – Grita Tomoya. Faço o que ele diz.

A ambulância chega, assim como os paramédicos. Ele tentam reussucitar Yuki, mas seu coração já parou há tempo demais. No final das contas, mesmo que pudessem trazê-lo de volta, ele não seria feliz em vida tendo que conviver com todas as seqüelas desta tragédia.

Agora nós teremos que nos acostumar com a perda. Como disse o shinigami de meu sonho, não há nada que possamos fazer.


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Notas finais do capítulo

gostaram? Eu estava em dúvida se mataria ou não o Yuki-kun, mas acabei fazendo isso. Lamento por quem gostava dele (acho que só eu, né?)
Deixem reviews.
Beijos da Ushio.