– Ah, é tão bom estar em casa! – exclamei enquanto entrava no meu apartamento e tirava meus sapatos, assim como Baekhyun. – Quer ajuda? – perguntei depois de perceber a mão ferida de Baekhyun.

– Não precisa, eu estou bem. Mas obrigado de qualquer forma – Baekhyun sorriu.

Eu assenti ainda tentada a ajudá-lo e calcei minhas pantufas, antes de falar:

– Você pode tomar banho primeiro, se quiser.

– Não, você é a dona da casa, você vai primeiro – insistiu ele.

Havíamos acabado de voltar da lanchonete. Eram mais ou menos 22h30 da noite. Depois de terminarmos a pintura, aconteceu de nós continuarmos ali, conversando e comendo frango frito que nós havíamos pedido de delivery, já que estávamos todos cobertos de tinta azul e não tínhamos condições de sair na rua naquele estado.

Foi bastante complicado convencer Lay a me deixar voltar para casa com Baekhyun. E no final, nem conseguimos o convencer, mas os meninos se encarregaram em arrastá-lo até o carro e levá-lo para casa. Por que será que tenho a sensação de que alguém dormiu acorrentado naquela noite?

– Tem certeza? Eu não me importo de esperar mais alguns minutos. Já me acostumei, acho até que azul combina comigo – brinquei dando uma voltinha e fazendo Baekhyun rir encantadoramente, o que me causou uma aceleração cardíaca um tanto anormal.

– Tenho sim, pode ir primeiro. Eu acho que também estou começando achar que essa cor combina comigo. Não acha que realça meus olhos? – Baekhyun entrou na brincadeira também piscando os dois olhos sem parar.

Eu não pude evitar a risada. Depois de concordar sarcasticamente e lhe dar um leve soco no braço, fui até o quarto para pegar minhas roupas. Após isso, fui direto para o banheiro, mas parei quando cheguei à porta e me virei na direção de Baekhyun.

– Fique a vontade para fazer o que quiser, afinal, agora a casa é sua também – sorri e entrei no banheiro, quando ele assentiu e me agradeceu.

Assim que fechei a porta e a tranquei, me apoiei na pia e me encarei no espelho. Não me assustei ao ver que meus cabelos estavam uma bagunça e cobertos de tinta azul, assim como uma boa parte do meu rosto. Um riso escapou de meus lábios quando comecei a lembrar de tudo o que acontecera naquele dia, desde a surpresa de encontrar Baekhyun nu no meu sofá, até alguns instantes atrás.

Tomando a consciência de que Baekhyun estava esperando lá fora para tomar seu banho também, me despi rapidamente e entrei no chuveiro, louca para me livrar de toda aquela tinta. Enquanto sentia a água quente escorrer por todo o meu corpo, me perguntava se, por causa da chegada de Baekhyun, meus dias se passariam a ser assim, mais divertidos e agitados. Não estou dizendo que antes não era, aqueles seis garotos conseguiam alegrar meu dia como ninguém, mas agora com Baekhyun... Não sei, era diferente. Não seria nada ruim se passasse a ser assim de agora em diante. Bem, é claro que só se ele parasse de se colocar em perigo a todo instante.

Após tomar meu banho, me troquei e sequei meu cabelo com o secador, antes de sair do banheiro. Assim que passei pela porta, avistei Baekhyun apoiado na janela, observando a rua. Sim, dessa vez seu corpo todo estava dentro do apartamento. Fui até a janela e me coloquei ao seu lado.

– Eu gosto de ficar aqui – comentei observando a rua. – Não por conta da vista, mas por conta das pessoas que passam por aqui. Sabe, houve um tempo que eu esqueci o que era um sorriso ou uma risada verdadeira. Então eu vinha aqui, observar as pessoas passarem. Elas sempre me parecem tão felizes e isso, de alguma forma, me deixava feliz também.

– É por isso que você é assim, tão boa para as pessoas? Por que gosta de vê-las felizes?

– Eu sou? – perguntei dando uma risadinha.

– E não é? Você, por acaso, já percebeu quantas vezes você já salvou minha vida, hoje? Nem parece que eu era o anjo aqui, e sim você – Baekhyun brincou, me fazendo rir.

– Na verdade percebi sim. Aliás, isso me lembra duma coisa – me virei em sua direção. – Quero que seja mais cuidadoso, okay? Talvez nem sempre eu esteja ao seu lado para te ajudar.

– Eu tomarei – afirmou ele com uma voz decidida.

– Promete? – perguntei estendendo meu dedo mindinho.

– Prometo – Baekhyun também estendeu o dele e entrelaçou com o meu, antes de juntarmos nossos dedões, tornando sua promessa oficial.

– Acho que devemos cobrir sua mão direita com algum plástico ou alguma coisa, antes de você tomar banho. Ou vai acabar molhando o curativo – comentei quando notei sua mão enfaixada.

– Você tem razão – disse ele seguindo o meu olhar.

– Sempre tenho – sorri brincalhona. – Vem aqui.

Assim que cobri a mão de Baekhyun com plástico, ele foi tomar banho e eu fui me jogar no sofá, começando a sentir um esperado cansaço tomar conta de mim. Depois de um tempo, eu podia sentir minhas pálpebras começarem a ficar mais pesadas, mas eu não queria dormir, não agora. Nós lutamos por um tempo, porém no fim, eu fui vencida pelo cansaço e logo eu caí no sono.

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– Hyera – uma voz aveludada sussurrava meu nome, perto do meu ouvido, me fazendo despertar. – Hyera-sshi.

Murmurei algumas coisas sem sentido e me remexi na cama, ainda tomada pelo sono. Mas eu não iria voltar a dormir, eu queria ouvir aquela voz dizer meu nome novamente, porque gostava do jeito que ele soava.

– Hyera, acorda – o dono da voz agora balançava meu braço devagar. – Eu fiz café da manhã.

Suas ultimas cinco palavras fizeram meu estomago vibrar de felicidade. Abri meus olhos rapidamente, mas logo tive que fechá-los por conta da claridade. Depois de me acostumar com a luz, olhei para cima e encontrei Baekhyun sentado na cama com um sorriso no rosto.

– Você disse café da manhã? – perguntei antes de sentar e me espreguiçar.

– Sim, eu disse. Vou te contar uma coisa – ele sorriu docemente e se aproximou mais de mim, como se fosse me contar um segredo. – Eu não sou o melhor cozinheiro do mundo, mas acho que você vai gostar. E então, que tal irmos até lá comer?

Meus olhos estavam pedindo para mais algumas horas de sono, mas logo uma imagem do café da manhã de Baekhyun tomou conta dos meus pensamentos novamente e eu assenti para ele, um pouco animada demais. Ele riu e nós dois nos levantamos, mas assim que passamos pela porta do meu quarto, Baekhyun virou-se e pediu:

– Feche os olhos.

– O quê? Mas por quê? – eu perguntei tentando, sem sucesso, olhar por cima de seus ombros a mesa de café da manhã.

– Quero que seja surpresa, já que eu nunca fiz uma coisa assim antes. Quem cozinhava para o EXO-K lá no céu, era o D.O, aquele dos olhos gigantes que eu te contei.

Desistindo de olhar por cima de seus ombros, eu olhei para o rapaz a minha frente e eu percebi que eu não conseguiria negar nada a ele mais. Suspirei e fechei meus olhos. Logo senti suas mãos em cada um de meus ombros começarem a me guiar até a área da cozinha.

– Você não está olhando, não é? – perguntou Baekhyun.

– Não – eu afirmei ainda de olhos fechados.

– Tem certeza? Você não mentiria para mim, mentiria? – insistiu ele, desconfiado.

– Não, Baekhyun. Agora vamos logo antes que eu acabe comendo você de tanta fome que eu estou sentindo.

Andamos por alguns segundos e então paramos, finalmente chegamos à cozinha.

– Quando eu contar até três, quero que você abra os olhos, tudo bem? – a voz de Baekhyun perguntou atrás de mim e eu logo assenti, lutando contra a vontade de lamber os lábios. – Um, dois, três!

Meus olhos saltaram assim que eu os abri. A mesa estava repleta das mais variadas coisas que eu mal sabia que tinha no meu armário ou geladeira. Tudo estava completamente organizado. Frutas cortadas perfeitamente, torradas com geleia, bolo, biscoitos, suco, leite e mais outras diversas coisas, enfeitavam minha simples mesa de jantar.

– Você fez isso tudo? – perguntei com os lábios abertos, completamente surpresa.

– Fiz – ele sorriu encarando a mesa com um olhar orgulhoso. – Sente-se – Baekhyun disse afastando uma das cadeiras para eu me sentar.

– Gomawo – eu agradeci informalmente um pouco constrangida, enquanto me sentava. Achei que seria mais correto usar esse tipo de linguagem com ele, já que estávamos um tanto próximos já e a partir de agora começaríamos a dividir um apartamento.

Observei Baekhyun sentar-se também e eu fiquei o encarando encantada. Eu tinha certeza que estava parecendo uma idiota, mas eu tinha coisas mais importantes para pensar no momento.

– O que foi? – perguntou Baekhyun com as bochechas um pouco rosadas, assim que percebeu meu olhar.

– Nada, eu só... Estou um tanto surpresa com tudo isso – respondi com sinceridade.

– Acha que está muito exagerado? Eu sabia que não deveria ter feito tanta coisa – Baekhyun resmungou para si mesmo, encarando a mesa.

– Não, é claro que não! Está tudo perfeito, não se preocupe – tratei logo de dizer antes que ele continuasse a pensar coisas erradas.

Ele me olhou nos olhos e eu pude ver seu habitual sorriso começar a se formar em seus lábios novamente.

– Sério? Fico feliz que tenha gostado. Quero que aceite esse café da manhã em forma de agradecimento. Eu sei que isso não chega aos pés de tudo o que você fez por mim, mas eu fiz de coração.

Eu podia ouvir as batidas do meu coração acelerarem enquanto ele dizia essas palavras. Eu sorri para ele e assenti, sem condições nenhuma de falar qualquer outra coisa. Sem mais delongas, começamos a comer.

– Então, como está? – ele disse com os olhos ansiosos.

– Hm... – eu fingi uma pausa para analisar o pedaço de bolo que havia acabado de comer. –Está delicioso!

Eu não conseguiria mentir, aquele bolo estava maravilhoso. Eu nunca teria capacidade de fazer algo parecido, eu era péssima na cozinha. Tanto que, alguns dias atrás, quando eu ainda morava sozinha, eu costumava comprar comida pronta do mercado ou apenas comer no restaurante que ficava ali perto. Aqueles bacons com ovos do dia anterior até que eram fáceis de fazer, até uma criança de 5 anos faria, mas coisas muito mais complexas como cozinhar arroz, não eram para mim.

Baekhyun sorriu contente pelo meu elogio e provocou um pouco de bolo também. Olhei para o relógio e vi que eram por volta de 8h30 da manhã. Arregalei os olhos e perguntei:

– Como você conseguiu fazer tudo isso em tão pouco tempo? Que horas você acordou exatamente?

– Bom, eu acordei mais cedo hoje para poder preparar isso tudo para você, porque sabia que até assar o bolo, cortar as frutas e fazer todo o resto, iria demorar muito – ele respondeu despreocupado.

– Não precisava ter feito tudo isso, Baekhyun! Você deve estar exausto! Por que não dorme um pouco? – perguntei preocupada notando seus olhos cansados, que ele tentava disfarçar.

– Está tudo bem, eu dormi o suficiente – ele me assegurou, mas era fácil perceber que era uma completa mentira, porque não conseguia olhar para mim enquanto dizia isso.

– Não é o que seus olhos estão dizendo – falei com as sobrancelhas levantadas. – Não tem nenhum problema se você for descansar um pouco, eu vou ficar bem, eu prometo. Afinal, não sou eu quem se mete em problemas em cada 5 em 5 segundos – brinquei piscando um dos olhos enquanto passava um pouco de geleia na minha torrada.

– Tem certeza? – Baekhyun perguntou um pouco descrente e eu assenti, mordendo um pedaço da torrada. – Então eu vou descansar um pouco depois de comer, afinal, fazer tudo isso me deixou com muita fome – eu ri quando ele olhou para a comida ao redor da mesa com os olhos famintos.

Então ficamos em silencio para poder saborear a comida feita por Baekhyun, eu só parava de comer para comentar o quanto ela estava boa. No final, acabamos comendo quase tudo. Sobrou um pedaço do bolo, algumas frutas e biscoitos, mas o resto estava dentro da nossa barriga, nos deixando a sensação de que explodiríamos a qualquer momento.

– Estou me sentindo uma bola de boliche – comentei, enquanto me reencostava na cadeira e massageava minha barriga com uma careta no rosto.

– Acho que não deveríamos ter comido tanto – disse Baekhyun fazendo a mesma careta que a minha.

– Não deveríamos mesmo – concordei me levantando da cadeira e começando a limpar a mesa. Logo Baekhyun levantou-se também e veio me ajudar. – Ei! Pode parar aí, você me disse que iria descansar depois de tomar seu café da manhã.

– Mas Hyera-

– Sem “mas” – o interrompi antes que eu começasse a ceder aos seus pedidos. – Agora vá para o meu quarto, entrei debaixo das cobertas e durma.

– Eu posso dormir no sofá mesmo.

– Não, você não pode, eu não permito. Agora vá lá e descanse – o empurrei em direção ao meu quarto.

No final, Baekhyun finalmente cedeu e entrou no quarto para descansar, não sem antes protestar durante o curto caminho até lá. Assim que me certifiquei de que ele estava aquecido e bem confortável, lhe desejei bons sonhos e sai do quarto, fechando a porta atrás de mim. Eu me senti como uma mãe, dando boa noite para seu filho. Mas a preocupação que eu tinha por Baekhyun, eu sabia, que era da mesma intensidade que a de uma mãe para o seu filho.

Depois de retornar á cozinha, resolvi arrumá-la mais tarde, já que uma preguiça inexplicável tomou conta de mim assim que vi toda aquela bagunça em cima da mesa. Suspirei e me joguei no sofá, da mesma forma que havia feito no dia anterior. Esse gesto me fez perceber: Se eu havia apagado no sofá no dia anterior, como eu acabei acordando na minha cama?

Procurei e procurei, mas a única resposta cabível que encontrei para aquela pergunta era: Baekhyun havia me levado para o quarto. A não ser que eu fosse sonâmbula e tenha ido até lá sozinha. Mas ninguém nunca havia me falado nada sobre isso, então descartei essa ideia.

Logo um sorriso se formou em meus lábios, isso só poderia significar que ele se preocupava comigo também. Uma felicidade anormal havia tomado conta do meu ser com aquela hipótese e eu só poderia desejar que ela fosse verdadeira.