No quarto escuro daquela tão grande mansão, o sol teimava em tentar penetrar as pesadas cortinas escuras. Sentado de uma forma toda largada em uma poltrona, à figura permanecia em total silencio. Seus olhos frios e vazios fitavam uma pequena caixinha em cima da cama. Sua respiração pesada e solitária era o único som a invadir aquele inquebrável silencio. Sua expressão amarga e carrancuda era perceptível através de um pequeno flash de luz que entrava através das pesadas cortinas. Ele não falava, não demonstrava nada. Apenas respirava. Agia dessa forma desde que ela se foi. Mãos leves tocaram a porta de carvalho do seu quarto, uma voz suave e preocupada ecoava pelo quarto:

- Draco, já acordou? – Narcisa Malfoy, a senhora da casa abria lentamente a porta para observar o filho. E como em todas as manhãs ele já estava acordado de volta a sua morbidez. Todas as manhãs eram a mesma coisa, ele acordava sentava-se na poltrona e observava a pequena caixinha em cima cama. Já fazia três longos e incontáveis meses que agia dessa maneira. Em seu último ano na escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, encantou-se perdidamente por aquela garota sabe-tudo. A verdade dessa historia é que ele sempre gostou dela, apenas expressava isso de forma contraria, desde sempre imaginou sentir apenas ódio por ela, mas ele amadureceu como homem, e percebeu que tudo o que sentia era amor.

[You could be happy and I won't know

But you weren't happy the day I watched you go

And all the things that I wished I had not said

Are played on loops 'till it's madness in my head]

[Você poderia estar feliz e eu não saberei

Mas você não estava feliz no dia em que te vi partir

E todas as coisas que queria não ter dito

São tocadas repetidamente até tornarem-se loucura na minha cabeça]

É claro que ele sofreu no inicio com a rejeição dela. Ela amava o amigo pobretão. Por hora jogou fora seu orgulho próprio e tentou conquistá-la, no começo ela resistia bravamente, mas aos poucos foi caindo em seus encantos. Ela brigava constantemente com o namorado, estava em duvida com seus próprios sentimentos. Quando Draco lhe perguntou o que ela sentia tudo o que a garota que sempre tinha a resposta soube dizer foi:

- Eu não sei.

[Is it too late to remind you how we were?

But not our last days of silence, screaming, blur

Most of what I remember makes me sure

I should have stopped you from walking out the door]

[É muito tarde para te lembrar de como nós éramos?

Mas não os nossos últimos dias de silêncio, gritos, borrões

A maior parte do que eu lembro me faz certo de que

Eu deveria ter impedido você de sair pela porta]

Foi uma relação conflituosa, complicada e confusa. Draco nunca a teve por inteiro, uma parte dela nunca o amaria, seria algo impossível. Foi um longo ano letivo aquele. Hermione Granger e Draco Malfoy eram o casal mais perigoso que já se viu. Ao mesmo tempo em que ambos se desejavam, eles também se odiavam. Uma relação autodestrutiva de amor e ódio. Talvez fossem incompatíveis, gênios fortes, orgulhosos até o fim.

[You could be happy, I hope you are

You made me happier than I'd been by far

Somehow everything I own smells of you

And for the tiniest moment it's all not true]

[Você poderia estar feliz, eu espero que esteja

Você me fez mais feliz do que jamais fui

E de alguma maneira tudo o que eu tenho cheira a você

E pelo mais curto momento, tudo não é verdade.]

Ele sempre soube que um dia aquilo iria acabar, era apenas uma questão de tempo, embora ele no fundo tivesse esperanças de que ela permanecesse insana a ponto de escolhê-lo para todo o sempre. E ficar ali sentado olhando para a única lembrança que ela deixou em sua vida era o seu castigo interminável. Aquela pequena caixinha preta. Ele levantou-se vacilante e arrastou-se até a cama, com as mãos tremula a segurou em suas mãos, com um toque de varinha ela se abriu, e aquela melodia doce e suave ampliou-se no quarto.

A pequena bonequinha de prata patinava sob uma placa de ouro, enquanto a melodia lhe trazia à cabeça todas as lembranças que gostaria de esquecer:

Flashback

- Eu te fiz uma surpresa. – O garoto loiro escondia algo com as mãos atrás de si, enquanto a garota tentava descobrir o que era. Sorridente ele lhe entregou uma pequena caixinha preta.

- Draco, é... Linda. – Os olhos da garota brilhavam emocionados, enquanto a mesma melodia invadia o ambiente e a pequena boneca patinava.

- Feliz Aniversário. – Ele a abraçou forte e em seguida beijou-lhe com carinho.

Sua mente tornava-se um borrão escuro e logo, era tomada por outras lembranças.

“Dois jovens na estação de King Cross, envoltos pela fumaça que saia do trem, acabava de desembarcar.

- Eu não quero mais isso Draco. Eu quero ser feliz entende, eu simplesmente não consigo mais. – A garota chorava enquanto gritava com ele.

- Então vá Hermione, vá e espero que não se arrependa. Corra de volta pra ele! – O garoto também gritava não se importando com os olhares dos curiosos que passavam ali e deparava-se com a cena deles.

- Eu vou mesmo. Correrei de volta para ele e sabe por quê?! Porque eu o amo, sempre o amei. Você foi apenas um erro, um erro que espero nunca mais cometer. – Ela virou-se de costas para ele com a bagagem em mãos, pronta para ir, mas antes se permitiu um último olhar a ele. E então ela se foi. Voltou para o Weasley, àquele que ela escolheu para se entregar para sempre.

Eles brigaram durante a viagem no expresso de Hogwarts, enquanto voltavam a Londres e na estação eles terminaram pelo motivo óbvio de sempre: Rony Weasley, o amor da vida dela. E por mais que fosse difícil admitir ele sempre soube que seria assim. No dia seguinte ao término, ele encontrava-se na varanda da mansão. Irritado e preocupado imaginando o que faria agora que ela o rejeitou. Uma coruja marrom de olhos amarelos o encarava esperando que notasse sua presença. Alguns minutos depois ela deu um sonoro pio, que o fez despertar dos seus pensamentos, notando a coruja que o aguardava, ela trazia um embrulho pequeno junto a um bilhete.

Ele logo reconheceu a letra, e imaginou que fosse um pedido de desculpas ou algo do tipo, sua decepção ao ler aquelas palavras o assustaram.

Lamento que tudo tenha dado errado. Espero esquecer tudo o que vivemos, e apagar sua existência daminha vida. Lamento.

                                                                                           H. G.

E junto do bilhete estava ela, a tão pequenina caixinha. A única recordação que ele não teve coragem de destruir. Viveria ali para sempre com ele e suas dolorosas lembranças.

[Do the things that you always wanted to

Without me there to hold you back, don't think, just do

More than anything I want to see you go

Take a glorious bite out of the whole world]

[Faça as coisas que você sempre quis

Sem eu lá para te impedir, não pense, apenas faça

Mais do que qualquer coisa eu quero ver você,garota,

Tirar uma gloriosa mordida do mundo inteiro...]

Lembrou-se da resposta que mandou a ela: Você poderia estar feliz, eu espero que esteja! Pegou-se imaginando como ela estaria, seu sorriso...

Algo súbito o tomou, caminhou para fora do quarto, além da mansão, na rua caminhando sem rumo, sem destino final. Com todas amarguras e feridas que ele sentia, ele tinha uma certeza, a certeza de que Tiraria uma gloriosa mordida do mundo...