Sannder não poderia saber de tudo. Isto é fato, já que ele não sabia de muita coisa. A última lembraça que tinha a mente, era de uma luz tremeluzindo. Tinha um tom verde-cana, por isso cegou Sannder. Ao acordar, não sabia onde estava. Sentia um cheiro estranho, mas o que seria? Não sabia, apenas pensava em como sair dali. Estava rodeado de adolescentes loucos, deliquentes juvenis. Um grupo próximo, estavam 4 pessoas. Não, não eram 4 pessoas. Eram mais, um grupo de 8 ou 9. Maldita Disléxia, pensou Sannder. Olhou em volta, preocupado. Franziu o cenho rapidamente, o grupo eram os únicos normais da sala, ou pareciam. Se aproximou calmamente, contando os passos. Era tímido e o modo que seus cabelos negros caíam e formavam uma franja, o que era estranho. E ainda ficava mais, porque quase no fim era tudo espichado. Então quando chegou, um garoto notou ele. Seu cabelo era negro e bem aparado. Parecia aqueles garotinhos irritantes da TV, algo que Sannder não gostava. Suas bochechas eram rosadas, motivo para riso de Sannder. Sannder o fuzilou com olhar.

— Mais um novato. Pronto — falou o garoto, enquanto olhava atenciosamente para Sannder — Ei, a Creche é ali fora? — ele apontou para fora, mas Sannder não prestou atenção - se ele mesmo quisesse prestar.

— Eu sei, você fugiu de lá há pouco. — Sannder falou, olhando para todos os rostos difíceis de serem lembrados. Todos com expressões diferentes. Somente uma garota parecia com o garoto que Sannder começava a brigar. — Meu nome é Sannder, Sannder Cruz.

— Por acaso eu perguntei? — falou o mesmo garoto.

— David! — falou uma garota. Ela também tinha o cabelo negro, que nem Sannder. Seu sorriso era muito belo, parecia ser inteligente. — Olha só, ele  tem problemas. Eu sou a Raquel — quando ela mencionou seu nome, todos riram. Sannder apenas a observou, tentando saber de onde a conhecia —, e esses são Charlotte, Scarlet, Ever, Victoria e Sofia — enquanto ela falava, mexia as mãos. E ainda apontava para as pessoas que dizia o nome.

Por fim, Sannder conheceu todos eles, que logo o cumprimentava. Algumas vezes com apertos de mão, espalmada. Mas algumas vezes apenas com sorrisos. A garota que se chamava Ever - mesmo que Sannder não lembrasse direito do seu nome -, apenas o fuzilou com o olhar e vociferou algo que Sannder perdeu. Ele também era hiperativo e tinha Déficit de Atenção, e às vezes as coisas passavam que ele mesmo não percebia. Então depois de um tempo, se acostumando aos amigos, ouviu um grito. Não, também não era um grito. Era uma sirene. Sannder não percebera mas estava em um internato, dúzia de crianças o rodeava, todas indo para uma sala, na qual David pareceu apontar.

— Vamos lá, estão chamando para o almoço — disse David, começando a correr.

Sannder viu que todos começaram a correr, mas quando foi tentar, não conseguiu. Apenas sentiu um leve desconforto na nuca, que o levou para o chão imediatamente. Era sufocante, e a dor no peito agonizante. Não teve tempo para falar nada, e ele mesmo sabia, estava em encrenca.

•••

Lucas se levantava. Estava no meio de uma sala escura, sem saber o que estava acontecendo. Há pouco tinha enfrentado uma Benevolente, coisa estranha por sinal. Era isso, Lucas não era uma pessoa normal. Ele era um semideus, e era filho de Hefesto. Sim, existem semideuses, existem deuses e um deles estava atrás de Lucas. A primeira Benevolente era uma mais fraca, uma serva qualquer de Hades. Mas ao perceber um aperto no coração, sabia que ia dar errado. O vidro de uma grande janela estilhaçou a sua frente e então uma velha enrugada com asas de couro e um chicote flamejante na mão apareceu voando.

— Achou que ia fugir de mim, Zephyrum? — disse a mulher. Sua voz era enrugada, e Lucas sabia do que estava se tratando.

— Seu Lord a mandou aqui para quê? — falou Lucas, arfante. Seus cabelos brancos se moviam, com o vento frio o atingido como um punhal. Embora estivesse com frio, não se preocupava. Ele mesmo era a essência do fogo. — Ah, já sei. Ele quer que eu acerte algumas marteladas em sua cabeça. Está arranjando problemas para ele?

Ela não aguentou, investiu na direção do garoto, com o chicote sendo colocado para trás. Lucas sorria, com seu colar reluzindo em um tom laranja. Era uma codorna de bronze, muito pequena, na verdade um pingente com um cordão negro. Então em poucos segundos o colar havia sumido, e nas mãos do garoto estava um martelo de bronze, com o cabo de aço. Ele somente esperou a Fúria se estabilizar no ar e tentar um ataque com o chicote. Pronto, pensou ele.

Em um rápido movimento, algo como uma cortina de fogo, Lucas desapareceu e apareceu novamente - só que desta vez, estava atrás da Fúria. Ele desceu o martelo, que reluzia estranhamente. Algumas pequenas lâminas estavam no martelo, e quando ele tocou a Fúria, ela simplesmente explodiu em uma nuvem de pó. Quando Lucas aterrissou, limpando sua camisa laranja do pó, ouviu um grito ecoando. De repente, 9 pessoas apareceram a frente dele. O cheiro de enxofre começou a aumentar em todo o local.

— Alguém soltou uma bufa — disse David, expressando um sorriso e brandindo os braços. Todos iriam rir, mas uma risada ecoou no local.

— Gregos, ou melhor, vocês grandes semideuses, terão de fazer uma escolha. Eu, Hades, o deus dos mortos, estou providenciando uma ajuda para todos vocês. Espero que agarrem a possibilidade que nem os outros.

Assim, a sala ficou totalmente silenciosa.