Horizonte escrita por Crina


Capítulo 3
Primeira Semana




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Primeira Semana

O despertador tocou 5:30 da manhã, me preparei para o dia, levantei da cama me espreguiçando, fui escovar os dentes e tomar o café da manhã.

– Bom dia Mel – disse meu pai, Helioth, era difícil meu pai me cumprimentar logo de manhã, com sono e sempre cansado era um homem de poucas palavras.

– Bom dia – disse, inspirei o ar matinal, cheirinho de café – hm... O que tem de bom hoje?

– Torradas? – disse minha mãe com um sorriso.

Minha mãe, Jasmin, era totalmente diferente do meu pai, sempre bem disposta e cheia de humor.

– E aí? Animada para o Primeiro dia de aula? – disse Helioth cheio de sarcasmo.

– Uh! Estou morrendo de medo, com frio na barriga! – uma gargalhada soou pelo ar.

Engoli meu café da manhã e subi correndo pela escada, olhei no relógio, 6:00. Fui tomar um banho, separei minha calça de moletom preta e minha camiseta rosa de algodão, olhei pela janela o sol saia pelo horizonte.

Antes de ir para escola dei mais uma olhada pelo relógio, 6:30, achei meio sedo pra sair e fui dar uma folheada nos meus livros.

Uma buzinada me fez pular.

Meu pai e minha mãe já haviam saído para trabalhar, estranhei. Corri para a janela, um carro azul, sendo mais especifica acho que era um gol azul escuro, mas não vi ninguém no banco do motorista.

Ouvi a campainha que me fez dar mais um pulo.

Desci a escada de dois em dois degraus e espiei o olho mágico. Abri a porta com o olhar surpreso.

– Angellus?! – ele sorriu para mim.

– Oi Mel! – o cumprimentei.

– Quer entrar?

– Não, você não vai para escola? Pensei se podia vir comigo e me mostrar onde tudo fica antes...

– Claro, hm... Só um minuto.

Subi a escada enfiei uns cadernos na mochila e os livros que já tinha separado. Desci novamente pegando minha chave e um casaco qualquer que vi pela frente.

– Vamos? – falei esbaforida, percebi que minha coxa estava doendo de tanto subir e decer. Percebi que ele reprimia uma risada.

– Claro.

Tranquei a porta, passando por mim ele abriu a porta do carro, corei olhando para baixo, não estava acostumada com qualquer tipo de cavalheirismo.

Chegando à escola o sol estava quase alcançando o meio do céu, e as ruas ficando lotadas de carros, o estacionamento era apenas para funcionários da escola.

– Espero que não esteja incomodando... – disse ele.

– Não que isso, já estava a caminho da escola mesmo.

– Onde eu paro? – perguntou Angellus.

– Acho que pode parar atrás daquela árvore mesmo.

Mostrei o refeitório, a quadra de Educação Física, o laboratório, sala de informática e por fim a nossa sala.

O sinal tocou para a primeira aula, pegamos as carteiras do canto esperando o professor Tommas de Matemática.

– Boa tarde classe, meu nome é Tommas sou seu professor de matemática, e espero que nosso ano seja bom e progressivo – com uma pausa rápida começou a falar novamente – muito bem, todos tem seus livros a mão? – uma ou duas pessoas ainda não tinham os livros, mas o professor encaminhou rapidamente um par para acompanharem a aula.

Assim a tarde passou rapidamente entre as aulas de matemática, inglês e história, até o recreio.

– Nossa acho que meu cérebro fritou! – falei a Angellus rindo.

– O meu também – ele falou de um modo distraído como se estivesse prestando atenção em algo mais importante – onde nos sentamos?

Apontei uma mesa qualquer e nos sentamos, logo meus colegas de classe começaram a se aproximar.

– Oi Mel! Podemos nos sentar com vocês? – hm... Não gostei nada disso, esse “vocês” foi pronunciado de um jeito que estava na cara de que ia virar fofoca.

– Claro – arrastei uma cadeira – Angellus, esses são Jane, Layla, Paulo e Jonan.

– Prazer – disse Angellus tão formalmente quanto o necessário, levantou-se e cumprimentou todos.

– E ai Mel o que vai fazer amanhã à tarde? – disse Clara com um ar animado.

– hm... Serve lição de casa? – disse fazendo uma careta.

Todos menos Angellus olharam um para a cara do outro e disseram como num coral.

– Não! – risadas rolaram pelo ar e começaram a discutir para onde iríamos dia seguinte à noite, “comemorar” o inicio das Aulas.


Depois da Aula nos reunimos na casa de Clara para pegar a sessão das 16:00 no cinema.

Assim estávamos todos lá, e algumas pessoas a mais, o primo de Layla, Gabriel, e o irmão de Jane, Teodor.

– O que nós vamos assistir mesmo? – perguntei sem ter a mínima idéia do que eles haviam planejado.

– Acorda! Terra para Mel! Nós ficamos o almoço inteiro combinando isso! Você não ouviu nada? – Balancei a cabeça dizendo que não com um sorriso envergonhado – Vamos assistir “Lois a ET”.

– Ah! Desculpe, estava preocupada com a próxima aula que iríamos ter...

Clara bufou, e os dois “convidados” cochicharam algo um para o outro que eu não entendi.

– Você vai comigo Mel? – perguntou-me Angellus tentando disfarçar a impaciência dos outros.

– Sim, er, pode ser – ele sorriu.

Sobrando, era o que eu entendia pela ocasião, o grupo se dividiu em: Clara, Jane e Layla; Paulo, Gabriel e Teodor e eu e Angellus. Coisa meio estranha, por que éramos para ir “juntos”, isso se tornou uma completa “guerrinha” entre meninos e meninas, sobrando, eu e Angellus.

Isso tudo começou com Clara descobrindo que tinha acabado de sair o filme “rosa melada”, um romance “nada a vê” que as meninas concordaram e assistir de ultima hora. Assim Gabriel descobriu o filme “a revolta dos ninjas”, outro filme “nada a vê” de artes marciais.

E a guerra continuou por 20min, até que resolveram por fim se separar. Acabou que Angellus e eu seguimos nossa “espécies”.

– E ai garotas como foi o filme – perguntou Paulo cheio de sarcasmo.

– Lindo! – respondeu instantaneamente Clara – e o de vocês? – perguntou ela correspondendo com o mesmo sarcasmo.

– O filme mais legal do ano! – respondeu exaltado Gabriel.

Olhei para cara de Angellus que respondeu com uma careta, soltei uma risada tão baixa que ninguém percebeu ou não quis perceber.

Voltando pra casa no carro de Angellus, o assunto recomeçou.

– Agora sério! o que você achou de “a revolta dos ninjas”? – Perguntei com sarcasmo, Angellus voltou a fazer a mesma careta de antes.

– Vamos dizer... Como me expressar? – soltou uma risada – besta, mal feito, sem nexo, típico de lutinhas desnecessárias e sem enredo – com uma pausa para retomar o fôlego, continuou – Mas agora fale você, o que achou do “seu” filme?

Melado – dei uma gargalhada.

– Melado? Só isso? Ah! Não vai me dizer que o filme todo foi uma abelha fazendo mel? – que ironia, foi quase.

– Não, é só mais um romance onde o cavalheiro conquista a dama na valsa longa da vida.

– Uau! Pra quem apenas achava melado isso é bem profundo – disse-me.

– Profundo? – perguntei.

– É, eu cavo, tu cavas, nós cavamos! Dãr! Isso foi quase uma poesia!

– Obrigado – disse me curvando reverentemente.

Ele fez outra careta pra mim e nós rimos.

Chegando em casa, estava chovendo, aqui em São Paulo o tempo mudava tão rápido quanto as horas de um dia. Sai do carro correndo, e cheguei a porta toda encharcada, acenei para Angellus me despedido, e a única coisa que ouvi na escuridão foi o ronco da partida de seu carro.

Abri a porta, e entrei, pendurei meu casaco no corrimão da minha escada quando percebi que meus pais estavam assistindo um filme.

– E ai Mel? Como foi o filme? – perguntou minha mãe só por educação, pois não estava nem prestando atenção no que dizia, já meu pai não desgrudava os olhos da tela.

– Foi divertido, MÃE POSSO ME SUICIDAR? – perguntei só pra confirmar se minha mãe estava ouvindo.

– Aham, legal – é confirmei que ela não estava ouvindo nada do que eu disse – Tem lasanha no forno.

– Obrigada mãe – fui em direção a cozinha me segurando para não rir.

Peguei a lasanha já fria, e mordisquei até me deixar com vontade, estava meio enjoada por não olhar para frente no carro, mas sabia que precisava comer e que ao sair do cinema estava com fome.

– Estou indo dormir – disse.

– Claro filha – disse minha mãe novamente sem nem prestar atenção, pelo menos dessa vez fez sentido.

Subi para o segundo andar, peguei meu pijama e fui tomar banho.

Sonhei algo que me deixou feliz, não lembro muito bem, mas era algo parecido com uma piada que me contaram ou algo que eu não acreditei, só sei que acordei aos risos e lacrimejando.

No outro dia, tomei meu café da manhã e arrumei minhas coisas, quando estava pronta para sair, novamente, a buzina conhecida tocou.

Angellus, esse nome... Agora era tão comum, dia após dia sempre na cola dele, eu quase que necessitava dele, era como um carregador de bateria, nunca estava indisposta.

Só se passaram duas semanas, e mesmo assim os professores não dão trégua, um dia que você falta pode ter conseqüências horríveis nas provas semanais.

Passado o momento “sonhando acordada”, corri escada a baixo e abri a porta toda estabanada.

Angellus me esperava dentro do carro com o motor ligado, parecia estar com pressa, dei uma olhada no meu relógio de pulso, já era 12:36, fechei a porta correndo e entrei no carro.

– Desculpe – falei.

– Desculpe? Por quê? – ele perguntou com uma cara extremamente sincera.

– Eu te atrasei.

– Não seja boba.

Estranho, ele parecia estar tão preocupado e sério.

– Eu que devia te pedir desculpas, esta semana não vou poder te buscar para ir á escola, vou ter que ir visitar minha família – ele parou e fez uma careta parecendo estar envergonhado – reunião anual.

– Claro, e por que você deve satisfação a mim? Você ofereceu a carona por que quis, mas não precisava ter feito isso.

Ele vez uma cara de alivio e relaxou os ombros. Chegando à escola me dei conta de que a semana sem a companhia de Angellus a semana vai ser bem diferente, ele passa a maior parte do dia comigo sendo me levando e trazendo, nas aulas, no recreio e as vezes que a galera sai.

No recreio acho que notaram que eu e Angellus estávamos quietos, tanto é que Clara veio falar comigo.

– Mel, o que você tem? O que Angellus fez com você? Vocês estavam de namorico e nem me contou? Ele terminou com você – er, essa ultima parte estava meio estranha, da onde ela tirou isso, será que... Nem vou enfiar essa idéia na cabeça, depois fico cheia de abobrinhas e isso não está nem em cogitação.

– Que? Não, não! Você está pensando coisas demais! Da onde você tirou isso? – Perguntei nervosa sem nem ar para continuar, respirei fundo e expirei, ela parou, olhou para minha cara e começou a falar aliviada.

– Hm... Desculpe, é que com toda aquela apegação, vocês não se desgrudam!

– Que?

– Ah, desculpe de novo, acho que entendi tudo errado – ela disse com um ar indeciso – Então me explique você, começamos de novo, o que você e Angellus têm? – também não gostei disso.

– Eu, estou com medo da matéria de matemática que andei olhando antecipado antes da próxima aula, Angellus, esta pensando na... – pensei bem, se Angellus estava tão envergonhado de me contar, acho que não ia gostar que eu espalhasse isso por aí – numa viajem que ele vai fazer essa semana.

– Ah... – ela quase caiu dizendo isso! Ficou tão desanimada de que não era nada do que ela pensava que quase babou.

– “B!” – Disse dando uma alta gargalhada, ela retribuiu meio envergonhada.

Assim depois disso a tarde passou rapidamente, na aula de matemática Clara percebeu que eu não estava mentindo, quase arrancou o cabelo quando o professor explicou a matéria.

Na saída Angellus me esperava encostado no carro.

– Oi – disse mais para confirmar chegada.

– Oi – ele respondeu – então vamos?

– Claro – ele passou por mim e abriu a porta, entrei com a cabeça baixa mais uma vez corando.

No caminho a conversa de manhã se retomou.

– Então, é só essa semana, se não houver nenhum problema semana que vem eu te busco de novo.

– Já disse! Você que se ofereceu não me deve nada, mesmo que nunca mais voltasse – credo aquilo tinha saído um tanto rude.

Ele franziu o cenho.

Durante o caminho todo ficamos em silêncio. Em fim chegamos a minha casa.

– Então... Até semana que vem! – disse para quebrar o gelo, forçando um sorriso amarelo, e soou meio interesseiro.

– Até! – Disse ele meio sem graça.

Entrei em casa, pendurei minha mochila e meu casaco e passei pela sala, em direção a cozinha minha mãe me barrou.

– E aí filha! Como foi hoje a escola?

– Chato como sempre – dei uma risada forçada – Falando nisso mãe, me da o dinheiro pra condução?

– Claro, mas Angellus não estava te buscando?

– Sim, mas esta semana teve que viajar, por tanto ele não pode estar em dois lugares diferentes e ir me buscar para ir á escola.

– Então... Pega na minha carteira.

– Ta – Disse me recolhendo.


A noite passou rápido, tomei banho, escovei os dentes tudo automático sem nem perceber. Dormi sem sonhos e quando acordei o despertador nem tinha tocado.

Alguns minutos antes do despertador tocar, eu já estava pronta, repassei mentalmente que ônibus teria de pegar e que ponto parar, para garantir que desta vez eu não me perderia do caminho.

Peguei minha bolsa e sai de casa. O clima estava agradável, nem muito quente nem muito frio, com apenas algumas nuvens no céu.

O vento soprava contra meu rosto provocando nós em meu cabelo. Lembrei-me que esqueci minha blusa, mas agora não importava muito, estava abafado.

Cheguei à escola e corri para a aula de Química, a Srta Amanda já havia começado a aula.

– Com licença – disse entrando na sala enquanto me sentava.

– Toda – ela respondeu sem dar muita atenção e continuou – Abram o livro na página 43 e façam os exercícios 2, 4, 5 e 6.

Na aula de educação física, Clara e Jonan fizeram grupo comigo, o que de certa forma foi bom, os dois eram os melhores da classe se tratando de esportes.

Quando a aula terminou Clara e Jonan se dirigiram ao refeitório comigo.

– E ai? – disse Jonan – o que vocês vão fazer esse fim de semana?

– Nada – disse clara – e você mel?

– Nada também, vocês têm alguma coisa em mente?

Os dois se entre olharam e depois sorriram, e em coro disseram:

– Cinema comendo pipoca e assistindo Lery-Bow no sábado!

– Okay.

– Eu pego vocês ás seis – disse Jonan

– Amanhã a gente compra os ingressos – disse Clara – vocês vão chamar mais alguém?

– Que tal Jane, Layla e Paulo? – disse Jonan.

– A turma toda? Mel fala pra Jane e pra Layla trazerem o Gabriel e o Teodor.



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