Clove não sentia tanta dor. O impacto em sua cabeça transformara todas as cores em cinza, todos os seus pensamentos em uma grande e disforme massa de emoções e os sons ao seu redor ecoavam surdamente em sua mente.

Exceto por uma coisa. Tudo era cinza, menos o dourado de seus cabelos e o brilho de seus olhos cheios de lágrimas. Ela não conseguia ouvir nada, exceto pelos gritos agoniados dele. Sua mente naquele momento só conseguia pensar em uma coisa.

Cato.

Cato que na frente de todos sempre fora o grande e malvado Carreirista, mas que com ela era apenas um garoto conturbado com problemas em controlar sua raiva. Cato que a pedira em casamento aos sete anos e até hoje perguntava a Clove se ela aceitaria casar-se com ele. O mesmo Cato que era capaz de torcer o pescoço de alguém em segundos e não sentir remorso com isso.

Cato que estava debulhando-se em lágrimas à sua frente, sacudindo seu corpo flácido cuja vida esvaía-se a cada pequeno momento.

"Clove, não!" Ele urrava, a dor e a agonia pulsando em sua voz como um organismo vivo. "Clove, fique comigo!"

A garota deixou uma lágrima rolar por sua face. Uma lágrima por tudo o que ela havia perdido. Sua vida, os Jogos, seu Distrito e Cato. Uma simples lágrima que naquele exato momento representou tudo o que Clove mais amava. Uma lágrima que carregava tanta dor e desespero quanto os gritos estrangulados de Cato. Uma lágrima derramada por amor.

E essa lágrima queimou a face de Clove enquanto fazia seu trajeto para baixo. Ela sabia que uma vez que a gota pingasse no chão tudo estaria acabado. Não havia como voltar atrás, a Morte havia falado e ela havia escutado. E como havia.

Ela tinha pouco tempo, e queria usar este tempo para poder falar tudo aquilo que seu coração gritava, debatendo-se furiosamente em seu peito. Usou suas últimas reservas de energia para segurar sua mão fortemente e começar a sussurrar:

"Cato-"

E com uma só palavra, um mero nome sussurrado, ele foi capaz de entender tudo.

Todos os seus anseios e todos os seus desejos.

Todos os seus amores e todos os seus temores.

Ele sorriu.

E Clove retribuiu o sorriso.

E com uma simples troca de olhares e sorrisos aquele amor tão trágico foi selado. Eles compreendaram um ao outro.

A lágrima caiu.

Um canhão soou.

Os olhos antes brilhantes tornaram-se vítreos e tudo acabou.