Na escola, a primeira aula era com a professora representante. Uma velha gagá e chata que só sabia passar “regras e mais regras” para os alunos. Mandava-nos sentarmos retos na cadeira, sem ficar "encostado no encosto". Não podíamos cruzar as pernas seja lá de que jeito e não podíamos conversar durante explicações e outras coisas. No fim, ela mandou nós nos apresentarmos, eu sentava na terceira fileira, na antepenúltima carteira. Então, chegou minha vez:

 - Meu nome é Busujima Kaori, tenho 14 anos, nasci nessa cidade mesmo. – eu disse e me sentei.

 - Mas só isso!? Não, pode dizer mais coisas sobre você, sejam pessoais ou não. A regra é obedecer ao professor, então me obedeça! – disse a velha gagá tentando me dar ordens, uma coisa que eu odeio muito. Levantei-me e olhei desafiadoramente pra professora de nome Maria.

 - Então quer algo pessoal? Tá certo. Meus pais morreram um pouco depois de eu nascer, quando estavam voltando de uma viagem, o carro deles capotou e caiu em um rio profundo. Não acharam o carro e os corpos e agora eu vivo com o “mordomo” da casa Willian. – sentei-me após dizer isso, todos olharam com uma expressão de “nossa coitada dela”.

 Inesperadamente, alguém entrou batendo a porta agressivamente e adivinha? Era o delinquente de mais cedo. Ele entrou sem pedir licença, apenas em silêncio e se sentou na cadeira vazia ao meu lado.

 A professora resmungava coisas como “que rude” e “deveria ter pedido licença”. Bateu o sinal e trocou os professores, era aula de artes e a professora parecia ser legal. O problema era o menino ficar me observando a aula inteira.

 No fim da aula, a professora de artes nos disse que haveria a cerimônia de abertura para os novatos e a aula acabaria mais cedo. Então, bateu o sinal do intervalo e todos foram comer para depois irmos à cerimônia. Eu estava sentada na minha cadeira comendo meu lanche, quando o delinquente puxou a cadeira e me cumprimentou:

 - Oi.

 - O que você quer? Me agradecer por mais cedo, é? – eu olhava-o friamente enquanto comia.

 - Nossa você tá bravinha é? Só vim te dizer ‘oi’, não posso? – ele disse sorrindo ironicamente. De alguma forma, eu me sentia estranha estando perto dele e conversando com ele.

 - Não, mas é estranho alguma pessoa vir falar comigo. E também não gosto de ninguém daqui, talvez só você se salve. Também não vou participar de cerimônia nenhuma. – eu terminei de comer e apenas fiquei sentada na cadeira olhando diretamente para o menino. – Afinal, qual é mesmo o teu nome?

 - Makoto, só me chame de Makoto. Também não vou participar dessa cerimônia, é só falação, né? E Você é... Kaori, né? “Kaori-chan” – ele disse ironicamente

 O sinal bateu, todos se levantaram das cadeiras e foram em direção às escadas, para irem ao pátio onde ocorreria a cerimônia.  Eu e Makoto saímos da sala e fomos por outro caminho, saindo da escola. Enquanto andávamos e conversávamos, eu vi uns “bichinhos” estranhos passando pela rua, mas ninguém parecia vê-los, só eu. Makoto foi para a casa dele e eu fui para a minha que não era tão longe.

 Chegando lá, contei para o Will sobre os bichos que eu vi e ele pareceu nervoso:

 - Will, hoje no caminho de casa eu vi uns bichos estranhos pela rua, eles era como bolas roxas com um olho só e ninguém podia vê-los além de mim...

 - Mas o que... Kaori-sama parece que terei que te contar a verdade. – Will estava parecendo realmente nervoso. – Na verdade, seus pais não morreram em um acidente.

 - O que você quer dizer com isso? – eu não estava entendendo. – Me explique melhor, detalhe por detalhe.

 - Bem, seu pai era um demônio e sua mãe era um anjo, eles se apaixonaram e tiveram você. Mas, no mundo deles é um pecado mortal essa raça se juntar, já que demônios não se dão bem com anjos. Como punição, o rei demônio massacrou as almas de seus pais, os fez sofrer muito. A rainha anjo ficou com pena de você e lhe deixou na Terra, tirando sua capacidade de entrar em algumas dimensões do mundo e me mandou junto para eu cuidar de você. – enquanto ele explicava, parecia triste e aflito. – A rainha anjo me mandou, pois amava muito sua mãe, já que ela era sua filha. O rei demônio não tinha piedade, mesmo sabendo que quem ele massacrava era seu próprio filho.

 - Espera, então eles eram tipo... Príncipe e princesa... Romeu e Julieta? Tá brincando comigo, né Willian? Isso deve ser tudo sua armação! Ah, estou saindo, vou pegar um ar. – não estava acreditando naquilo. Só podia ser brincadeira.

 - Espere! Você está em perigo! O rei demônio provavelmente está enviando seu servos para te matar! Não vá! – Will gritava tentando me parar, mas era tarde demais.

Saí andando pela rua e continuava vendo aqueles seres estranhos. Era realmente uma grande armação, ninguém os via. Mas, eu parei de acreditar nisso quando um daqueles seres se “transformou” e virou algo bem maior e com a cauda me prendeu, quando percebi, eu estava em um lugar estranho. O chão era pedra e nas suas rachaduras dava pra se ver lava ou fogo, não sei. Parecia uma imagem do inferno. E eu tinha certeza que estava ferrada.