Wunsch escrita por Tsuki no Taiga, Alexia Jo


Capítulo 18
Um pouco de História


Notas iniciais do capítulo

Capitulo 18 on. . .um pouco de historia para melhorar os nossos conhecimentos XD Boa leitura



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A primeira parada foi em Paris, e depois de mais dois voos, chegaram a La Rochelle.

Os quatros rapazes encontravam-se rodeados por uma escolta constituída, apenas por vampiros.
Alexia e Selene tinham o seu lugar à frente do grupo, mantendo o seus olhares altivos e ríspidos. Meganie e Melanie ladeavam os rapazes, enquanto Vincent se encontrava atrás dos mesmos.
Os quatro estavam trajados com roupas simples, tentando ocultar o máximo possível a sua identidade.

Mas uma vez fora do aeroporto, Selene não evitou o sorriso. Há muito tempo não pisava em La Rochelle, tanto tempo que as alterações feitas pelo avançar dos anos eram notórias.

- Está ali o Pierre! – Avisou Alexia ao ver um homem dos seus 30 anos com um porte altivo junto à porta de um carro. Selene despertou para a realidade, olhando para a figura imóvel de mãos atrás das costas e olhar fixo em frente.

- Não mudou nada! – ela disse aumentando o sorriso.

- Com mais de 500 anos e as rugas nem se notam. – Gracejou Alexia depois de ter certeza que Gustav, Georg e Tom não escutariam. Vincent encaminhou-se até ao vampiro que os olhou com um sorriso nos lábios.

Sem demoras, dirigiu-se às vampiras, inclinando a cabeça em sinal de referência.

- Bonjour, mademoiselles et monsieurs.

- Bonjour Pierre! – Exclamou Alexia em plena felicidade.

- É bom voltar a te ver, meu velho amigo. – Disse calmamente Selene, mantendo a postura.

- Devo avisar-vos que estamos todos felizes pelo vosso retorno. A madame Ariel aguarda-vos com elevado entusiasmo. – ele disse e Alexia e Selene assentiram. - Sejam bem-vindos a La Rochelle. – Dito isto começou a carregar as malas para o interior do carro com uma agilidade maravilhosa.

A pequena comuna francesa que outrora fora um porto tão importante quanto Le Havre, Honfleur e Bordéus maravilhavam os que nunca tinham ido até lá. Podia-se ver casinhas por todos os lados e logo uma grande dique apontou no horizonte.

- Foi construído durante o Cerco de La Rochelle – disse Megan. – Pelo Cardeal Richelieu.

- Por que? – Gustav perguntou.

- Para impedir que La Rochelle fosse revitalizada por mar – Melissa respondeu.

- Como assim? – o baterista voltou a perguntar.

- Já ouviram falar do Édito de Nantes(1), não? – Vince perguntou e, vendo que assentiram, continuou - Se ele levou a paz ao reino da França, teve também o efeito de criar um Estado dentro do Estado. A ameaça que enfrentava o poder do rei era bem real e Richelieu pretendia reduzi-la a nada. Graças ao Édito, La Rochelle tornou-se um alto posto da Igreja reformada da França. Este porto era o último local de segurança dos calvinistas e recebia, por mar, o auxílio dos ingleses, prontos para intervir quando se tratava de colocar em perigo o poder de seu grande rival histórico, a França. O maior receio de Richelieu era que La Rochelle se tornasse uma fortaleza de onde os protestantes, ajudados financeiramente pelos ingleses, poderiam amparar-se de todo o território francês. Richelieu tomou então a decisão de tomar La Rochelle.

- La Rochelle era sustentada pelos ingleses não só por ser uma cidade protestante, mas também por frear o desenvolvimento da marinha francesa. Quando Richilieu soube que George Villiers, 1.° Duque de Buckingham, zarpou do porto de Portsmouth com 110 naus e 6.000 homens, ele  usou este pretexto para decretar o estado de cerco da cidade e fortificou as ilhas de e Oléron. A armada real colocou 20.000 homens ao redor da cidade, cortando todas as vias de comunicação terrestres. Os reforços só poderiam vir agora por mar. – disse Selene.

- Buckingham instalou-se a princípio na Ilha de Ré. Apesar de ser também protestante, a ilha não se havia juntado à rebelião contra o rei. O duque foi expulso da ilha por Henrique de Schomberg e Toiras, e depois derrotado no mar, voltou sem glórias para a Inglaterra. Então, para evitar que La Rochelle fosse revitalizada por mar, Richelieu empreendeu a construção por 4.000 operários de um dique de 500 metros de comprimento por 20 de altura. – disse Aelxia apontando para o dique que agora estava mais perto - Os alicerces repousam sobre os navios abatidos e naufragados. Na época, haviam canhões apontados para o mar para servirem como reforços.

- Mas a Inglaterra poderia ter feito algo – disse Georg – Ela era a maior potência, não havia nada que ela não pudesse fazer.

- Ela bem que tentou, mas todas as expedições fracassaram. O filho da mãe fez um cerco muito bem feito. – disse Meganie – Quando os alimentos começam a acabar e os navios ingleses mandados em auxílio foram obrigados a fazer meia-volta, a decisão tomada foi expulsar as chamadas “bocas inúteis”, que consistiam em idosos, mulheres e crianças. As tropas reais os mantiveram à distância, então eles andaram durante dias sem recursos e por fim sucumbiram de privação. Mais duas expedições inglesas fracassam. Enquanto isso, os habitantes de La Rochelle foram obrigados a comer o que lhes restava: cavalos, cães, gatos, etc...

- Quando a cidade se rendeu, só restavam 5.500 sobreviventes dos 28.000 habitantes, a quem o rei Luís XIII concedeu perdão contanto que eles lhe fornecessem um certificado de batismo. As muralhas foram arrasadas. Estima-se que, se La Rochelle não tivesse sido cercada, hoje seria uma das principais cidades da França. – disse Melanie. - A capitulação era incondicional. Pelos termos da Paz de Alès de 28 de Junho de 1629, os calvinistas perderam seus direitos políticos, militares e territoriais, mas conservaram a liberdade de culto garantida pelo Édito de Nantes.

- “Richelieu” não me é um nome estranho... – disse Bill pensativo – Acho que já li em algum lugar...

- Provavelmente sim – disse Vince - Alexandre Dumas usou deste episódio da História da França para fazer um dos capítulos de "Os Três Mosqueteiros". Mas ele tomou algumas liberdades históricas.

- Como por exemplo...? – questionou Tom.

- Ele deslocou a narrativa no tempo e colocou nela o personagem D'Artagnan, sendo que o verdadeiro D'Artagnan, na época com quinze anos de idade, jamais tomou parte nestes acontecimentos.

- Interessante... – Gustav murmurou.

- Vocês devem ter visto uma pequena passagem sobre Richelieu na aula de História – disse Selene olhando vagamente pela janela – Ele apoiou os protestantes da Alemanha na guerra religiosa que ficou conhecida como Guerra dos Trinta Anos e comprometeu diretamente a França por sua declaração de guerra à Espanha. O conflito só foi resolvido pelos tratados de Westfália, consagrando a marginalização da Alemanha por dois séculos.

- Ah sim, agora me lembro – disse Bill.

Melanie e Vincent ainda foram contando sobre o lugar para os Tokio Hotel, a fim de fazê-los ficarem mais familiarizados com a cidade e prometeram leva-los conhecer os pontos turísticos.

Até que o olhar brilhante de Bill avisou que estavam chegando ao seu destino. Alexia e Selene precipitaram o seu olhar para a janela tal como os humanos. Ao longe era possível observar a enorme mansão que fazia lembrar um palácio medieval.

Com o carro aproximando-se cada vez mais, tornava os pormenores mais visíveis aos olhos de todos. A forma requintada e harmoniosa como aquela construção fora feita, o  jogo de cores que dispunha, flores, arbustos, arvores e até alguns animais, principalmente aves, de raças raras e exóticas faziam-se notar.

Era inacreditável como espaço tão belo podia passar desconhecido aos residentes de La Rochelle. Simplesmente inacreditável.

As cores quentes oferecidas pelo pôr-do-sol criavam um contraste digno de uma pintura. A natureza oferecia uma parte de si para contribuir de uma maneira arrebatadora para a profunda beleza que se encontrava nos olhos dos recém-chegados.

- Meninas – disse Pierre abandonando a tonalidade formal e voltando a tratar Alexia e Selene como suas filhas, já que as acompanhou desde que tinham sido transformadas – Bem vindas de volta ao lar.

E naquele momento, elas realmente se sentiram em casa.

 

Continua... 

 

(1) Édito de Nantes: Foi um documento histórico assinado em Nantes a 13 de Abril de 1598 pelo rei da França Henrique IV. O édito concedia aos protestantes franceses a garantia de tolerância após 36 anos de perseguição e massacres por todo o país, com destaque para o Massacre da noite de São Bartolomeu de 1572.

Com este édito ficava estipulado que a confissão católica permanecia a religião oficial do Estado, mas era agora oferecida aos calvinistas franceses a liberdade de praticarem o seu próprio culto. Mas 87 anos mais tarde a intolerância religiosa estaria de volta. A 23 de Outubro de 1685, o rei Luis XIV da França revogaria o Édito de Nantes com o Édito de Fontainebleau. Os protestantes franceses voltariam a ser perseguidos e muitos deles fugiriam para o estrangeiro: para a Prússia, para os EUA e África do Sul.

 

 

 


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