Looking For A Bright Smile escrita por OneThing


Capítulo 9
Capítulo 9: Burt Hummel




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Assim que o sinal soou, eu e Kurt saímos pela porta da frente e fomos em direção á sua casa. Andavámos lentamente, sem pressa, olhando para o sol se pondo...

–Não se importa de andar um pouco, não é? Não é muito longe...– Eu sorri.

–Que nada, é ótimo uma caminhada rápida no dia.– Kurt deu uma leve risada. –É por isso que você anda em forma!– Ele olhou para mim imediatamente, ainda com o sorriso no rosto.

–A-acha mesmo que estou bem?

–Tá brincando? Você arrasa com as gatinhas.– Ele riu. –Mesmo não estando interessado, elas te olham com certeza.

–Me olham com desprezo...– O sorriso sumiu. Droga. Odeio quando ele para de sorrir assim do nada -...Porque maltratei todos no ano todo.

–Elas sabem que você mudou...

–Sim, mas não sabem a razão de eu ter feito tudo aquilo, Blaine! –Kurt parou de andar e ficou de frente á mim. –Como vou seguir o futuro, se o passado me persegue?

–Não é o passado que te persegue.– Ele franziu as sobrancelhas. –É você que o persegue. Se aprendermos á deixar o passado para trás, aprendemos á cuidar do nosso futuro.– Kurt permaneceu em silêncio, e uma lágrima escorre do seu olho direito. –Eu vou te ajudar, Kurt. Eu vou te ajudar á superar tudo isso.– Segurei com as duas mãos nos seus ombros. –Promete que acredita em mim? Eu vou te ajudar.– Kurt olha em meus olhos, e eu simplesmente caio num transe profundo olhando diretamente para aqueles olhos azuis, claros e brilhantes como o mais raro dos diamantes. –Eu vou te ajudar.–  Repito. Kurt funga e esfrega o nariz e tira minhas mãos sobre seus ombros.

–Acredito.– Eu sorrio. –Eu acredito que você pode me ajudar, Blaine.– Ele sorriu docemente e voltamos á andar. –Minha casa fica no quarteirão acima. Avisto uma pequena casa, nada de luxo, mas também não caía aos pedaços. Era uma casa bege, com uma garagem ao lado com dois andares, duas janelas com persianas nos andares de cima, uma porta no andar de baixo, e duas janelas com flores ao lado dela. Uma casa humilde, mas charmosa, que transmitia um ar de simpatia. Fiquei imaginando como era o pai de Kurt, imaginava um cara loiro, com os olhos na mesma coloração aos de Kurt, alto, forte, daqueles que malham o dia inteiro... Imagino um cara carrancudo, um cara nervoso de pavio curto. Me sobe um calor. Fico com medo da impressão que possa causar assim que pisar naquela casa. Kurt abriu a porta e a sala ficava na entrada. Havia um sofá grande, e outro menor e encostada na parede ficava uma tevê em boas condições. Imaginei nela uma imagem bem nítida, uma mesinha de centro com um vaso em cima com um lírio dentro. Seguindo em frente, havia a cozinha, não consegui descrevê-la do ângulo que estava na sala, mas ouvi um barulho vindo dela, acho que seu pai estava lá. Na parede direita da sala, do ângulo contrário ao meu, havia uma escada que levava ao andar de cima. Já do lado esquerdo, uma mesa de jantar com várias cadeiras, a madeira era reluzente, um material admirável. Uma casa humilde. Humilde era a descrição perfeita para esse alojamento. Kurt joga sua mochila no sofá da sala, se vira pra mim e dá de ombros. -Não é nada de luxo, mas consigo sobreviver.– Eu sorri levemente, enquanto media a casa detalhe por detalhe.

–É um lugar agradável.– Coloquei delicadamente minha bolsa sobre o sofá. Kurt cruzou os braços e suspirou.

–Tudo isso foi arrumado pela minha mãe.– Ele ia observando a simples sala sorrindo, ingenuamente –Ela odiava mudanças. Tudo sempre foi desse jeito, sem mudar um centímetro do gosto dela.– Percebi a falta que a mãe o fazia. Kurt sorria ao lembrar da mãe. Acho que ele tinha muita afinidade com ela.

–Sua mãe gostava de flores.– A sala era toda detalhada com flores, em cima da mesinha de centro, estampadas na cortina, outro vaso maior sobre a mesa de jantar, as almofadas tinham rosas estampadas suavemente num tom pastel... Tudo muito bem detalhado.

–Ela adorava, suas paixões eram as flores. Mais tarde mostro a pequena plantação de flores no fundo de casa que ela tinha. Se deixássemos, ela passava o dia todo lá.– Seu nariz já ficara numa tonalidade avermelhada. Resolvi mudar de assunto antes que ele comece é chorar.

–E... Aonde está seu pai?– Kurt olhou para a cozinha.

–Deve estar preparando o almoço.– Ele deu um passo adiante e fui atrás dele. Na cozinha, ainda com decorações de flores para todos os cantos que eu avistasse, no fogão um homem forte, meio rechonchudo, usando boné com uma camiseta cinza simples, e calça jeans surrada, estava usando avental e mexendo uma panela. Assim que se virou, consegui ver os traços de seu rosto, era uma feição muito simpática, olhos da mesma tonalidade que os de Kurt, mas o formato do rosto os deixavam muito diferentes. Quando me viu, ficou alguns segundos me encarando, e disse tentando não ser rude, mas sem sucesso.

–Quem é esse, Kurt?

–Modos, pai. Modos.– O moço continuava me encarando –É meu amigo, Blaine. O trouxe para cá para fazermos alguns exercícios de fixação para a prova de aritmética.– Mentiu. Acho que se dissesse que era para eu conhecê-lo seria algo realmente suspeito. Ouvi seu pai suspirar.

–Ótimo, suas notas andaram caindo.– Voltou-se para a panela, depois pegou um guardanapo, enxugou suas mãos e veio em minha direção com a mão estendida –Burt Hummel.– Apertei sua mão, enquanto ele sorria. Seu sorriso era leve, não era grande. Parecia um sorriso sarcástico, mas quando ele sorria, o deixava com uma feição muito mais simpática e agradável.

–Blaine Anderson. Prazer em conhecê-lo.– Ele balançou levemente a cabeça uma vez e voltou para o fogão.

–Gosta de bife? Não sabia que viria, se não tinha pedido uma pizza. É resto da janta de ontem, até fiz mais para sobrar para hoje como Kurt foi naquela festa do Club novo...– Eu o observava da cabeça aos pés, ainda duvidando ele ser pai daquele garoto tão delicado. Era um homem forte, com aparência intimidadora, mas percebi que era muito doce com as pessoas.

–Está ótimo, Sr Hummel. Não precisa se preocupar, como o que tiver.– Burt pegou dois pratos e colocou-os sobre a mesa, depois nos serviu com bife em silencio até que Kurt disse:

–Não vai almoçar com a gente, pai?

–Vou para a oficina dar uma olhada num carro e depois que vocês acabarem, eu volto e almoço.

–Não ligamos de você almoçar com a gente pai...– Burt simplesmente não deu ouvidos á Kurt. Tirou o avental e saiu pela porta da frente sem dizer uma única palavra depois daquilo. Kurt apoiou o cotovelo esquerdo sobre a mesa, colocou a mão na testa e suspirou.

–Calma Kurt... N-não tem problema.

–Tem problema sim!– Disse ele, quase gritando comigo. Parei e só fiquei olhando para seu rosto que havia algumas lágrimas escorrendo levemente sobre suas maçãs –Desde que eu admiti á ele que eu era gay ele não almoça mais comigo, não damos a cara o dia inteiro e eu estou cansado disso... –Kurt chorava cada vez mais conforme cada palavra saía da sua boca. Aquilo foi a gota d’água. Levantei da mesa imediatamente deixando o meu prato de bife pra lá e fui até a oficina que fica na garagem da casa de Kurt. O pai dele estava mexendo na parte da frente de um Camaro v6 prateado. Parei na frente do carro e só fiquei o observando, quando ele notou minha presença olhou para mim e ficou me encarando até que decidiu falar:

–Não vai almoçar?

–Que tipo de pai é você?– Ele ajeitou a postura e ficou me olhando sem expressão –Que tipo de pai despreza o filho, só por causa de sua opção sexual? Você devia dá-lo até mais atenção do que se tivesse um filho hetero.

–Está querendo me ensinar como educar meu filho?

–Não. Só estou dizendo que o Kurt merece educação melhor. Por sua causa ele quase foi suspenso 7 vezes, por sua causa ele se fez de valentão por um ano inteiro só pra te orgulhar, por sua causa ele sofreu tanto e não tinha ajuda nenhuma... Ainda bem que eu estou aqui pra ele, porque se dependesse do pai...

–Eu não vou ficar aqui ouvindo desaforo de um amigo do meu filho de que nunca ouvi falar! –Ele jogou o guardanapo do qual limpava seu rosto no chão.

–Nunca ouviu falar porque não tem diálogo na sua casa.– Ele ficou quieto –Kurt é um garoto especial, Burt... Eu sei que eu estou me metendo em um assunto pessoal e muito delicado para esse momento, mas eu não agüento mais ver o Kurt se esforçando tanto para conseguir pelo menos seu orgulho e depois acabar frustrado, chorando... Não agüento ver ele desse jeito por que... –Dei uma leve pausa enquanto olhava para seus olhos claros exatamente idênticos aos de Kurt. Naquele momento me lembrei do rosto de Kurt cheio de lágrimas, as palavras ficaram difíceis de sair, mas com um pouco de esforço consegui falar -...Porque eu gosto muito do Kurt. Ele é especial pra mim! Por que você não o trata normalmente como trataria um filho hetero?

–Porque ele é gay! Eu queria que meu filho fosse normal. Queria que ele arrumasse uma mulher, tivesse filhos mas não... Ele prefere homens!

–Kurt é um cara normal. Você por acaso sabe do que Kurt é capaz? –Burt hesitou em responder– Kurt é um cara incrível! Já o ouviu cantar? Nossa... Sua voz é impressionante, ele tem uma afinação maravilhosa! Com certeza nenhum outro cara conseguiria alcançar as notas que ele alcança. Ele é super inteligente! Já viu suas notas? Se você se importasse um pouco mais com a vida escolar de Kurt ficaria orgulhoso em saber que seu mínimo é B+. Além de Kurt ser muito gentil. Ele teve uma fase muito rude antes... Mas agora ele mudou. E aquela fase ele passou por sua causa! Você mal percebe que seu filho tenta te impressionar de todo o jeito...

–Chega!– Gritou Burt –Não gosto quando tentam me mostrar a maneira certa de educar meu filho! Vá almoçar antes que eu te expulse da minha casa!– Eu poderia ter respondido á toda essa rebeldia... Mas decidi me calar. Já havia dado meu recado, mesmo ele não ouvindo nada que eu dissera. Entrei novamente na humilde casa e me sentei á mesa com Kurt. Kurt me encarou friamente quando sentei ao seu lado.

–Por que saiu assim do nada? –Não respondi. Eu estava nervosíssimo por causa da petulância do pai de Kurt. -Blaine... Me conte. Você saiu daqui do nada e depois voltou assim! Está até vermelho! Blaine... –Eu estava olhando para a mesa, Kurt colocou o polegar no meu queixo e fez eu olhar diretamente para seus olhos –...Você gritou com meu pai?

–Não gritei com ele. Ele que gritou comigo.– Kurt permaneceu em silencio e acho que ele deduziu que se perguntasse pra mim o que aconteceu eu não iria falar. Deu a primeira garfada no seu bife.

–Coma, Blaine. Vai esfriar.

–Não estou com fome...

–Estou tão desapontado... Não queria que você fosse maltratado assim como foi pelo meu pai e...

–Não fique chateado por causa dele! –Kurt arregalou os olhos –Muito menos por minha causa! Não gosto de te ver assim! Tentei falar com o seu pai sobre isso mas ele não quis me ouvir... –Peguei no braço de Kurt. –Eu vou fazer de tudo... De tudo! Vou fazer de tudo para você ficar feliz, Kurt. Vou fazer de tudo para seu pai se orgulhar de você, para ele ver o quanto você é especial! –Kurt sorriu e ficou lá... Sorrindo e olhando para mim. Depois que almoçamos, decidi ir para casa. O clima não estava muito bom entre mim e o pai de Kurt. Então, para não descartar esse convite de Kurt, decidi levá-lo para minha casa conhecer meu irmão, que estava á toa já que meus pais trabalham o dia inteiro.

Chegamos em casa e Kurt mal fazia idéia que meu irmão era um cara famoso que já fizera vários comerciais de TV e que esta fazendo uma audição para o filme do “Megatron.” Assim que entrei em casa, joguei minha bolsa no sofá como sempre faço e Cooper surgiu do nada do teto, praticamente e gritou:

–AAAAHÁÁÁ– Kurt gritou assim que Cooper apareceu com aquela roupa estranha de ninja que estava usando, estava com uma espada falsa na mão e não fiquei tão surpreso em vê-lo assim. Era com bastante frequencia que isso acontecia, tudo que consegui fazer foi rir. Kurt disse tremendo atrás de mim segurando forte em meus ombros:

–B-Blaine, por que tem um ninja na sua casa?! –Eu ri.

–Coop... Pra que tudo isso? Como você fez pra cair assim do teto?– Cooper tirou a máscara e assim que Kurt viu seu rosto, abriu um grande sorriso.

–Técnicas ninjas, maninho... Técnicas ninjas!

–Mas por que...

–AI MEU DEUS VOCÊ É COOPER ANDERSON! BLAINE! SEU IRMÃO É FAMOSO!– Kurt me interrompeu na hora.

–Eu não diria famoooso...

–Mas claro que eu sou famoso! Quem é seu amigo, Blaine?– Eu não conseguia terminar nem sequer uma frase com aqueles dois juntos...

–Esse é o Kurt, Cooper. –Cooper estendeu a mão e apertou a de Kurt.

–Muito prazer, Kurt. –Kurt não parava de sorrir. Era tão bom ver ele animado daquele jeito.

–O-O PRAZER É TODO MEU, COOPER!

–Ta certo, pode parar de gritar.– Disse eu –Cooper, me explica esse negócio de ninja...

–Blaine, só estou treinando para uma audição pra um filme de ninjas que vou fazer no Domingo! Vai haver uma cena na qual vários ninjas roubam uma loja e eu quero estar nela.

–Mas... Espera aí, você é um ninja ou um ladrão? –Cooper fazia audições para filmes estranhos, admito.

–Os dois.– Eu olhei para Kurt que soltou um leve riso –Que tipo de anfitrião você é, Blaine? Ofereça algo para seu amigo beber!

–Opa, desculpa Kurt! Quer algum refrigerante? Suco? Vitamina?

–Ah, não... Não gosto de vitamina.– Cooper sorriu e olhou para mim.

–É porque nunca experimentou a vitamina dos Andersons!– Kurt riu. Percebi que deixá-lo comigo e com Cooper o fazia melhor, ele se divertia com a gente.

–É boa?...

–É a melhor vitamina do mundo!– Exagerei. Mas admito que eu e Cooper sabíamos fazer vitaminas realmente gostosas –Você não pode ficar sem experimentar! –Kurt sorriu.

–Acho que vou pegar uma...

–Você não vai aguentar só uma, no mínimo vai pegar umas sete...!- Disse Cooper empolgado. Kurt riu.

–Seu dramático!– Disse eu, dando um soco no braço de Cooper. Corremos para a cozinha rindo e ficamos a tarde toda nos divertindo, o que por sinal, fazia muito bem para Kurt. Era sempre bom quando ele sorria mais, principalmente quando eu conseguia prestigiar seu sorriso.



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