Megan, outra vez, tinha saído com o namorado. O cara era um tal de Evan e ela o tinha conhecido em uma dessas festas. Ele até parecia legal, mas sei lá. De qualquer jeito, eu e Josh já tínhamos combinado que ele iria lá pro apartamento. Então sentei-me no sofá quando cheguei e pus-me a esperar, pensando nas palavras exatas que usaria. Após um tempo, a campainha tocou. Josh.

Abri a porta e sorri fraco. Ele me beijou de leve.

“Então... Bem, nós temos que conversar”, comecei.

Josh apenas acenou a cabeça e sentou-se à cadeira que indiquei. Sentei-me à sua frente. Eu queria literalmente por as cartas na mesa (ok, não literalmente. Não havia cartas, mas havia uma mesa).

“Em primeiro lugar... Eu fui falar com John hoje. Sabe? E ele foi de grande ajuda... Enfim, depois de ainda pensar muito... Eu me decidi.”

Josh parecia aflito e bastante inquieto. Respirei fundo pela milésima vez naquele dia, fechei os olhos e falei:

“Eu vou aceitar o emprego”, abri os olhos, porém encarava a mesa.

Dizer isso em voz alta foi mais difícil do que imaginava. Mais difícil ainda foi erguer os olhos e ver a expressão de Josh.

“Não era isso que você esperava, não era?”

Ele desviou o olhar e murmurou o que parecia “Não, não, eu não...” e mais alguma coisa inaudível.

“Você queria que eu ficasse, não é?”, disse num sussurro rouco.

“De um jeito... É claro que sim... Mas... Mas...”, ele se perdia nas palavras e eu nem controlava as minhas.

“Você sabe que eu não estou muito contente trabalhando aqui. E que com essa oportunidade só estou aqui ainda por causa sua. Mas você também sabe que vai acabar entrando em essa ou aquela banda e vai entrar em turnê. E eu vou ficar aqui mofando...”

“Espera aí. Você quer dizer que está indo porque eu eventualmente vou sair em turnê e aparentemente vou te deixar aqui sem mais nem menos?”

“Isso também. Mas eu indo pra lá pelo menos vou fazer algo que eu gosto...”

“Sabe de uma coisa? Não acredito em namoro a distância.” Como é que era, Klinghoffer?

 “Será que eu interpretei mal? Você está dizendo que eu indo, nós acabamos?”

“Se você gostasse de mi-”

Caminhei decidida até a porta e a abri. Fiz sinal pra que ele saísse.

“Você não sabe de metade de como eu fiquei por causa disso tudo, e justamente por causa sua. Por favor, vai”, ele agora estava com um olhar meio arrependido, pedindo desculpas. Mas caminhou até a porta, “E você está certo”, disse quando ele já estava saindo, “Eu não gosto de você. Eu te amo. Ou pelo menos achava que sim”, ele se virou, mas fechei a porta no mesmo instante.

Merda!

Desabei com um estrondo e comecei a chorar na hora. Isso tinha acontecido mesmo?

Não sei por quanto tempo chorei, só que quando finalmente decidi parar com a ceninha, a primeira coisa que fiz foi mandar um email de confirmação que estava aceitando o emprego. A segunda foi sair pra comprar bebida.

Acabei saindo da loja de conveniências mais próxima com algumas de cerveja.

Passei a noite inteira sem pregar os olhos por um minuto sequer, só ouvindo Beatles, bebendo e comendo todo o estoque de doces que tinha na geladeira.

Maggie não ia passar no apartamento antes de ir trabalhar, isso me poupou de ter que explicar a situação. Mas mesmo assim, tive que ligar para o chefe e avisar minha decisão. Ele falou que estava liberada a partir de hoje, então, apesar de ainda termos algumas coisas pra acertar, mas isso ia ser visto depois. Decidi que ia gastar aquele tempo livre arrumando as malas e todas essas porcarias.

Definitivamente não acreditava que Josh fosse ligar, mas só pra não me preocupar muito deixei o celular desligado.

Lá pelas quatro horas, recebi um email do New York Post falando que estavam felizes que tinha aceitado o emprego. Também diziam que me queriam em NY o mais rápido possível e que por isso já tinham arranjado uma passagem para mim no voo das 23h. Sorri com isso.

Já estava pronta, mas nada de Megan aparecer. Estava esperando por ela, queria pelo menos ter um “jantar de despedida” essa noite. Ainda deu tempo de ir ao supermercado, comprar tudo que eu queria e ainda fazer metade da lasanha antes dela chegar.

Expliquei as coisas meio por cima; não queria entrar em detalhes sobre a noite anterior. Mas, enfim, Maggie foi muito agradável quanto a isso. Não insistiu no assunto e resolveu que tínhamos que aproveitar enquanto ainda estávamos juntas.

Por volta das nove horas, Megan me levou até o aeroporto. Falei com o pessoal, como me instruíram no email, e logo estava fazendo o check-in. Avisaram-me ali também que alguém estaria me esperando no aeroporto de NY.

Em pouco tempo, estava sentada no avião, esperando o mesmo decolar. E a sensação de deixar a cidade não era exatamente o que eu pensei que fosse. Eu não me sentia como deixando o “peso Josh” em Los Angeles. Tal ideia parecia estúpida agora.

Não sabia se me sentia bem ou mal com isso.