Undertaker [Hiato] escrita por biazacha


Capítulo 28
Grande Demais


Notas iniciais do capítulo

Oi gente linda!

Não me xinguem, minha mãe avisou que iríamos viajar tipo, super do nada e aí não teve o que fazer.... não que eu reclame de ficar comendo tortinhas e churrasco no Uruguai, mas não tinha como atualizar coisa alguma de lá também. (de qualquer forma, me invejem)

Quando eu volto, só surpresas boas por aqui: atualizações de quem tava parado há eras, mais leitoras em ambas as fics, mais fics pra ler e.... Katniss Odair. Sério, você não foi só a única leitora nova que se identificou, escreveu um review mega empolgado e.... uma recomendação!!! (*O*)

Tudo bem, foi meio chocante saber que você não deu muito pela sinopse mas... livro? Sério mesmo??! Gente, vocês me falaram que escrevo, mas a ideia de que alguém compraria Under numa livraria é tão surreal que fiquei sem fala! E mega feliz, obrigada mesmo linda, você me deixou mega feliz e animada, estou que nem uma idiota dando pulinhos até agora... e você gosta das minhas notas iniciais e finais - por alguma razão aleatória isso também me deixou muito feliz.


De qualquer forma, preparem os nervos e boa leitura!!!



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Seus pelos faziam o adjetivo “escuro” ganhar uma nova definição para Raven; era mais alto que os mausoléus, sua cabeça batia na copa das árvores ali e isso porque ele se encontrava com as quatro patas no chão.

Conforme andava, ficava claro que cada garra dele era maior que a mão dela toda e sua respiração cortava o ar gelado da noite; fora as patas nada mais se movia – orelhas, caudas, olhos, tudo permanecia imóvel.

Para a garota, aquilo era mais do que um cão anormalmente grande surgindo do nada, ou pelo menos seu corpo fazia parecer que era.

No momento em que colocou os olhos nele, cada parte de seu corpo levou um grande choque, como um balde de água fria. Seu coração descompassou totalmente e seu corpo imediatamente assumiu uma pose alerta, pronta para sair correndo dali o mais rápido possível. Mas ela sabia que isso seria impossível, estava com medo demais para fazer alguma coisa. Algo na escuridão profunda e sólida daquele animal a perturbava mais do que ela jamais seria capaz de expressar, o modo como seus olhos pareciam engolir tudo que estivesse a sua volta, pretos, profundos e sem um mísero sinal de brilho, seu andar despreocupado, como se tivesse certeza de que tinha o controle da situação... ou o fato de Keane estar claramente na defensiva.

E qualquer coisa capaz de deixar ele na defensiva era algo que sem dúvidas acabaria com ela.

Não que ele fosse feio, longe disso; seu porto era altivo, seu rosto fino, seus pelos compridos, sedosos e alinhados, o negrume de seu corpo se mesclava ao céu noturno e contrastava com as garras que se sobressaiam de suas patas a cada passo, muito brancas, finas e afiadas.

Pela primeira vez desde que entrou no cemitério atrás de Keane alguns meses atrás, ela se perguntou que droga ela estava fazendo ali. Uma reação tardia e, no mínimo, carregada de amargura.

O bicho andou calmamente até a lápide onde Keane estava e, sem cerimônia alguma, deitou. Algumas folhas se levantaram com o ar que aquele corpo gigantesco levando ao se deitar, mas fora isso tudo continuou muito, muito quieto. Olhando para o alto, ela viu cada uma das corujas numa situação muito parecida com a dela: com as penas eriçadas, os olhos fixos no cão e claramente prontas pra fugir dali.

A imagem do corpo destruído na sua pia pulou viva em sua mente. Aqueles retalhos não pareciam terem sido feitos com uma lâmina, eram grotescos demais, combinavam mais com.....

Com garras enormes, finas e afiadas.

Rapidamente, ela tratou de espantar a ideia da mente. Além de ela não ter ligação alguma com aquele bicho, ele era grande demais para caber em seu quarto, principalmente em seu banheiro. Mas a lembrança continuava ali, se recusando a ser enterrada novamente, meio que como um aviso – ela decididamente tinha que considerar o que acontece com quem se mete com algo que tenha unhas como aquelas. E ela estava considerando.

-Até quando pretende ficar aqui? – disse Keane depois de um longo silêncio entre ele e o cão.

-Não tenha mais nada para fazer. – ela se assustou com a voz do bicho. Era sinistra e carregada de imponência, mas era estranhamente reconfortante, como a de um parente ou amigo que sempre sabe o que dizer.

-Posso apostar que tem. – ele estava mais que defensivo, estava claramente pisando em ovos e ela não podia censura-lo com o tamanho daquele bicho.

-Reformulando: não tenha mais nada tão interessante pra fazer.

Diante disso os dois se calaram e Keane recolocou os fones; mas ela não deixou escapar o movimento dele desligando o aparelho, sinal de que a coisa era tão séria e tensa quanto aparentava.

-Assim você me ofende, pode escutar sua música a vontade, não é como se eu fosse avançar em você.

-Realmente, não combina com você algo assim. Você costuma ser mais maquiavélico que guerreiro.

-Isso é algo cruel de se dizer a um velho amigo.

-Já houve um tempo em que te chamei de amigo, admito – as palavras saiam cortantes de Keane, como se lhe causasse dor dize-las – mas essa foi uma época da qual realmente me arrependo. – o cão fez um som rouco e estranho, que ela deduziu ser riso.

-Como pode dizer se por minha causa ela está aqui hoje? Ah é verdade, ela não é Ravena e sim Raven.

Foi como se alguma coisa quebrasse dentro dela e um vazio enorme ficasse no lugar. Ravena. Aquilo não era apenas um sonho? Ravena e Kanel eram... ela e Keane? Reencarnação era algo completamente fora de cogitação pra ela – a simples ideia de ter existido séculos e séculos, sob nomes e vidas diferentes e provavelmente junto da mesma pessoa em todas elas simplesmente lhe dava nos nervos.

Não, ela não era Ravena, o próprio cão havia dito; mas era coincidência demais, as mesmas faces, nomes similares e aparentemente uma vida tão estranha e complicada quanto... ela precisava dormir, voltar ao quarto preto e tentar tirar mais alguma informação sobre ambos.

E em hipótese alguma faria isso no cemitério, ainda mais com aquela monstruosidade em forma de cachorro tão perto.

Aparentemente, ela não foi a única a sofrer um baque com o comentário do bicho. Keane estava tão pálido que cada veia de seu rosto era visível mesmo àquela distância. Seus lábios franzidos em cólera, seus olhos carregados de mágoa e fúria assassina – uma visão desoladora e aterrorizando ao mesmo tempo.

-Não se atreva a tocar no nome dela, de nenhuma delas. – sua voz saiu tremida e carregada de um modo que a garota jamais teria imaginado.

-Isso é algo que você não pode me impedir de fazer.

-Eu posso tentar. – seu tom era ameaçador o suficiente para ela se encolher, o cão fez um movimento que lembrava um dar de ombros.

-E vai perder energia com algo inútil. – Keane abriu a boca, mas o cão levantou a cabeça e ele se calou – devia aproveitar a situação atual sabe? Há anos que eu achava que ela ficaria com Charles e você, bem me perdoe a expressão, se foderia lindamente. Mas agora até essa variável está fora da jogada.

De alguma forma isso fez Keane parar e encarar o animal por alguns instantes; por fim ele tornou a se largar na lápide do modo desocupado como estava antes.

-Ela nunca ficaria com ele. – murmurou ele, como se tentasse convencer mais a si mesmo.

-Ao menos concordamos que eu estive observando ela mais atentamente que você durante esses anos. – ele soou casual.

A ideia daquela coisa a “observando atentamente” era horrenda e, de repente, Raven não estava mais tão descrente com a possibilidade daquilo ter entrado no seu quarto.

-Na verdade, concordamos que nunca entraremos em total consenso sobre certos assuntos.

-Isso também. – o cão riu de novo e se levantou.

-Está indo? – perguntou Keane surpreso.

-Agora quer que eu fique?

-Na verdade não, só não entendo o que veio fazer aqui, pra começo de conversa.

-Apurrinhar você – o garoto fechou a cara – de qualquer forma, agora eu estou indo... e você, provavelmente vai fazer o de sempre não é? Ficar aqui até o início da madruga e ir pra sua casa, não sem antes dar uma passadinha pra conferir se sua donzela ainda respira. – pela primeira vez desde que surgiu, o bicho piscou e seus olhos se tornaram menos assustadores e mais... familiares.

A quantidade de coisas que ela aparentemente devia reconhecer e não o fazia a estava matando. Começou com uma música e agora estava em Kanel, cachorros gigantes... seu cérebro estava basicamente desistindo de tentar colocar lógica na sua vida.

Mas ele ainda funcionava o suficiente pra registrar o fato de que era possível deduzir que Keane ia olha-la quando ela estava dormindo. De repente, a comparação com Crepúsculo não parecia tão absurda e muito menos engraçada – mas aquele não era lugar e nem hora pra ponderar a questão.

E tão súbito, majestoso e terrível quanto surgiu, o cão se foi.

Era como se ela tivesse passado um bom tempo embaixo d’água, vendo o mundo turvado e sem respirar. A realidade bateu nela como um muro de concreto e a deixou mais alguns instantes imóvel e sem fala.

A sua volta o mundo voltava a girar. As corujas tornaram a piar e fitar Keane, ele deitou e recolocou os fones, dessa vez realmente escutando música e enfim ela viu ali a deixa para voltar pra casa – só então se dava conta que os insetos haviam sumido, que nenhum vento tinha aparecido e que a Lua misteriosamente iluminava o local onde o diálogo se passou apenas enquanto o cão estava lá.

Mesmo acostumada com a iluminação precária, ela voltou para o portão devagar e tateando para não cair. Não ousava fazer barulho, acender o celular ou qualquer coisa que alertasse o resto do universo para sua presença – ela não poderia dizer se Keane iria mesmo permanecer o tempo todo ali e ela tinha certeza de que ele se locomoveria com muito mais rapidez.

O fato de algumas corujas estarem seguindo-a insistentemente já era preocupante o bastante.

Para a completa irritação, mas não surpresa de Raven, o portão já estava trancado tanto na fechadura quanto com as grossas correntes sustentando o pesado cadeado. O que sem dúvidas desencorajava vândalos, ladrões, drogados, mendigos e bem... malucos góticos.

Depois da tarefa penosa que era alguém com seu tamanho e estrutura corporal pula-lo, ela começou uma solitária caminhada de volta para casa.

O que foram vinte minutos determinados no início da tarde, se tornaram minutos arrastados e amedrontados naquela hora da noite. Acompanhada apenas por corujas suspeitas e alguns postes de luz que ocasionalmente falhavam, ela tinha total certeza de já ter tido um número considerável de momentos mais felizes e memoráveis em sua vida. Da última acabou com mais um fantasma a tiracolo, desejava ardentemente que ninguém a abordasse com intenções tortas dessa vez.

Quando enfim chegou em casa, teve de ouvir um sermão de seu pai, com Julia ao lado fazendo uma cara de desaprovação e acenando em afirmação cada vez que ele falava algo. Ela estava tão física e mentalmente cansada que simplesmente não registrou absolutamente nada do que se passou ali – se eles dissessem que tinha uma bomba na casa ou que ela era adotada, a garota iria dormir sem saber.

Sem tomar banho ou trocar de roupa, ela chutou as botas que usava longe quando entrou no quarto, registrando vagamente que uma delas bateu em algo na sua escrivaninha e ambos caíram.

Se deixou cair na cama como um saco vazio, com a cabeça enterrada no travesseiro, o corpo inteiro imóvel e pesado.

Mas, contrariando suas expectativas, o sono não veio. Sua mente aparentemente exausta fervilhava de informações, tentando juntar e conectar tudo que estava acontecendo nas últimas semanas, colocar algum sentido em seus sonhos e no comportamento de todos a sua volta.

A verdade era que uma parte dela, a mesma que sempre rechaçava sua determinação, fazia papel de boba e colocava tudo a perder, estava esperando pra ver se Keane iria vê-la.

Eram três da manhã quando finalmente ela sentiu uma presença. Se mantendo o mais imóvel possível, ela manteve a respiração relaxada e apurou os ouvidos. O calor no alto da cabeça indicou que alguém estava mexendo em seu cabelo.

-Você me trocaria por aquele cara? Jogaria fora tudo aquilo que podemos ter? – sua voz soava triste e cansada, como se essa dúvida já tivesse lhe ocorrido mais de uma vez.

O calor se foi e, mesmo sem som algum, Raven soube que estava sozinha ali novamente.


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Notas finais do capítulo

Prevejo Team Vlaven e Team Keaven se estapeando... não sei se alguém se deu conta, mas o nome do cap não se refere apenas ao cachorro, mas ao tamanho dos problemas da Ray e do rolo no qual ela tá metido.

Beeeijos!! (*--*)//



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