Undertaker [Hiato] escrita por biazacha


Capítulo 15
Sensações


Notas iniciais do capítulo

Oi povo lindo!
Meu bimestre acabou e entrego meu último trabalho dele (leia-se vestido de arame e papel) amanhã! Ai que emoção!
Ok, tô semanas sumida, mas realmente não tinha tempo e.... sabe.... não rola fazer um Keaven de qualquer jeito! XD
Boa leitura!!!!



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Ele demorou no máximo um segundo para dar uma resposta, mas foi o suficiente para a mente dela vagar por caminhos perigosos e quase proibidos: os primeiros pensamentos eram de fato até mesmo incoerentes e inocentes, como por exemplo ‘Ele realmente só tem roupas pretas.’, ‘Cara, que tipo de garoto tem um closet maior que o de uma menina?’ ou até mesmo ‘Nossa, mas o quarto dele é gigante.... e a cama é super macia.’; mas, em um determinado momento, eles se tornaram um reflexo de seu pânico crescente ‘Ah meu Deus, acordei na cama dele, será que... não, eu não posso ter feito... argh Raven, sua mente poluída!’ e ela teve de se segurar para não surtar na frente dele.

-Te achei.

-O quê?! – berrou ela; ele ergueu uma sobrancelha (uma de suas sobrancelhas perfeitamente delineadas, diga-se de passagem).

-Eu te achei e te trouxe para dentro. – explicou delicadamente.

-Me carregou até aqui? – ela estava surpresa e até mesmo um pouco lisonjeada pelo trabalho que ele teve.

-Não foi trabalho nenhum – respondeu ele, como se lesse seus pensamentos – você estava o quê, a dois passos da porta da minha casa?

-O quê??! Pera aí, como assim??! – havia uma falha de consideráveis quilômetros entre a última lembrança dela e o local onde foi encontrada, o suficiente para questões como “se dormi na cama dele, onde ele dormiu?” fossem empurradas para os confins de sua mente.

-Como assim o quê? – ele parecia tão sincero e inocente que ela simplesmente não conseguiu suspeitar dele.

-Eu estava.... aqui? Digo, no bairro, aqui? Você sabe, nessa rua, er... na sua casa, ou melhor, na frente da sua casa, bem aqui, quero dizer... eu estava realmente nas redondezas e bem, você me entende... eu...

-É, aqui. – respondeu ele, e para sua completa vergonha percebeu que Keane segurava o riso bravamente.  E ficava uma gracinha assim, o que não ajudou em nada a menina em suas parcas tentativas de colocar os pensamentos em ordem (o que já era difícil com ele calado, olhando em outra direção e do outro lado do refeitório no colégio).

Eles ficaram em silêncio uns instantes... ele parecia olhar para ela com o mesmo ar de quem olha um quadro particularmente bonito – a garota por sua vez reparava em como ele ficava absolutamente sexy e incrível usando apenas uma jeans e uma camiseta larguinha de manga comprida, ambas logicamente pretas. A expressão contemplativa dele, os pés descalços e o cabelo mais desalinhado que o habitual eram o charme final.

Para ele, Raven recém-desperta era o tipo de visão que gostaria de ter para o resto de sua existência e para ela, Keane versão casual estava mais que aprovado em todos os seus níveis de exigência – estes particularmente altos, pois os ideais masculinos dela iam de seu pai a seus amigos, ou seja, se resumia a tipos mais bonitos que a média.

-Bom, você pode sair do meio de minhas roupas para conversarmos decentemente? Tomando café talvez? – ouvir sua voz depois de divagações a cerca de sua aparência misteriosa e muito bela a deixou no mínimo desconcertada. Principalmente porque ele soava casual e relaxado de um modo que ela não tinha visto nem enquanto ele cozinhava. “Cozinhava...” pensou ela de modo um tanto quanto pouco inocente.

-Você vai cozinhar? – fatalmente, a voz dela saiu esperançosa.

-Na verdade, já está tudo pronto. – ele era bem mais controlado, mas ela jurava ter visto um quê de desapontamento em seus olhos.

-Sério? – somente então ela havia se dado conta da fome que sentia e nem quis fazer as contas de quanto tempo estava sem comer. O que a fez questionar quantas horas ficou inconsciente.

-É, vim te acordar. – ele aparentava ter uma vontade real de acorda-la com sua visão casual ao pé da cama sorrindo; ela se xingou internamente por não ter continuado deitada mais cinco minutos.

Calma, porém constrangida, ela cruzou a distância que separava ambos e se deixou ser guiada para fora do quarto; pelo exterior ela esperava algo mais antigo, porém , com a exceção dos detalhes de gesso no teto, a decoração do resto da casa se mostrou deveras moderna e aconchegante, com vários tons de azul, bege e cobre. Focou nesses detalhes para esquecer, ou tentar esquecer, como as passadas dele eram confiantes, como ele tinha um cheiro delicioso, como ele normalmente sorria um pouco de canto, fazendo surgir uma pequena covinha e... tantas outras coisas, até perceber que a última coisa em que reparava era a decoração da casa.

Eles desceram uma escadaria de mármore claro que parecia ter saído de um musical e seguiram por um corredor, onde a menina visualizou pelo menos três salas – sabia que a casa dele era grande, mas ver seu interior foi uma experiência a parte. Cruzando uma porta ela se viu do lado de fora, em frente a um belo gramado nos fundos da mansão, banhado de um Sol fraco e destacando as flores e amoreiras cheias de frutinhas.

Uma mesa branca continha um farto desjejum e imediatamente ela se sentiu num comercial de margarina da década de cinquenta... só faltavam dois Golden Retrievers e um flamingo pregado na grama.

Era bem provável que Raven continuasse a reparar em cada detalhe e divagar acerca da beleza da casa dele, mas então subitamente sua mente sofreu um estalo: se ela voltava no comecinho da tarde para casa, porque estava de manhazinha e ele lhe preparava o café da manhã?

-Keane, que dia da semana é hoje? – seu choque pela possibilidade que a ameaçava era grande o suficiente para ela aparentar indiferença.

-Sábado – disse ele simplesmente – o tão esperado fim de semana.

-Ah claro – comentou ela, dando um risinho sem graça – sábado... o que quer dizer que passei a noite aqui certo?

-Você acordou apenas uns instantes e brigou comigo por te-la acordado, então deixei quieto – ele parecia achar graça com a lembrança, ela teve vontade de cavar um buraco e se esconder – e também você fica fofa quando dorme, dá uns resmunguinhos. – o tom de voz evidenciava o quanto ele deve ter achado a cena meiga e divertida.

-Eu...? Ah Keane, eu não acredito! – ela estava a alguns passos de entrar numa crise.

-Estou falando sério. – ele parecia calmo, mas estava dando um de seus sorrisos abrasadores.

-Não é isso! Eu dormi fora e você me viu dormindo! – a menina estava quase dando um ataque.

Ele a segurou pelos ombros – fazendo o ar faltar nos pulmões dela por alguns instantes – e sentou-a na mesa gentilmente; sem ao menos piscar uma vez, se sentou ao seu lado e pousou sua mão perto da dela sobre a mesa, uma indireta clara de que ele poderia conte-la ao menor sinal de chilique. Perdida em algum lugar entre os ondulados negros sobre sua testa alva, os brilhantes cristais azuis e perfeitos que ele chamava de olhos, o sorriso tão lindo que despertava nela uma vontade de agarra-lo mesclada com uma vontade de se esconder de vergonha e a postura relaxada e altamente convidativa, Raven divagou em como se sentiria se ele simplesmente pegasse na sua mão. Achou que podia entrar em combustão com esse simples gesto.

-Não se preocupe quanto ao dormir fora – murmurou carinhosamente e ignorando o tom agudo na voz da menina instantes antes –eu liguei pra sua casa de noite e disse pra sua mãe que pegou no sono aqui em casa e que não tinha problema nenhum você ficar aqui.

-Pra minha mãe? – a menina não sabia se ficava incrédula ou em pânico, há anos que Julia diz que ela devia interagir mais com rapazes que não seus amigos de infância.

Mas não com o intuito de fazer novas amizades, é claro.

-É, e a senhora Castle foi bem bacana. – Raven se lembrou das olhadas de canto que a mãe lhe deu quando ele foi levar seus deveres a dois dias atrás e soube imediatamente o motivo dela ter sido tão bacana. Talvez a conduta atrapalhada com caras bonitos fosse um mal de família.

-Eu ainda estou bem morta. – insistiu ela – Quero dizer, e o meu pai, o meu irmão... você devia ter me acordado! – ela estava de fato brava, mas tudo que sentia caiu por terra quando olhou diretamente pra ele.

Nos últimos dias, de ser inexpressivo e inalcançável, ele se tornou uma pessoa bem mais real: ela vislumbrou sua face animada, maliciosa, preocupada e agora via um Keane... chateado? Não era possível, ela só estava reclamando e bem... soando totalmente ingrata pra pessoa que a tirou inconsciente da rua e a deixou dormir na própria cama. Contendo um suspiro, ela juntou coragem e disse:

-Me desculpe, já fez um favor enorme me ajudando e eu ainda reclamo com você... é sério, não fique bravo, eu estou realmente agradecida.

Ele pareceu surpreso por uns leves instantes e depois abriu um sorriso, grande, bonito e que tirou o fôlego da menina; seus lindos olhos azuis pareciam duas vezes mais brilhantes e sua face inteira se iluminou. Raven achou que, se existiam anjos, deviam ser muito parecidos com como ele estava agora.

-Nunca, não importa o que faça, nunca ficarei bravo com você. – disse ele suavemente e ela teve a curiosa sensação de suas pernas estarem desmanchando, assim como teve a certeza de que um sorrisinho bobo se formou no seu rosto.

-Nossa, essa foi profunda. – disse ela nervosa, tentando a todo custo focar em algo que não seus olhos e falhando miseravelmente.

-É o que sua presença faz comigo. – respondeu, com a naturalidade de quem diz “hoje vai fazer um tempo bom”.

-Você está realmente me saindo um Cullen. – riu ela, lembrando-se das piadas que seus amigos fizeram no hospital.

-Realmente? – perguntou com uma contida curiosidade e ela mais uma vez se xingou internamente ao mesmo tempo em que notava como ele ficava uma gracinha com suas sobrancelhas curvadas pela dúvida.

-Bom, sabe como é, você já é todo misterioso e ainda fala como um.... – sua voz morreu antes da frase, pois ele tornou a sorrir e apagou da sua mente qualquer linha de raciocínio.

-Você diz de modo arrogante ou como um tolo apaixonado? – poderia até ser uma pergunta simples para quem estava de fora, mas a voz mansa dele, a mão estrategicamente próxima a sua, seu corpo longo e definido se inclinando em sua direção... ela sabia aonde ele queria chegar com tudo aquilo.

E não pela primeira vez, o comparou mentalmente a um predador acuando um animalzinho indefeso com uma maestria mortalmente bela.

-Como um? – ele sussurrou de modo tão delicado que parecia prestes a lhe beijar; pela distância entre ambos agora, nem era uma tarefa tão impossível assim.

-Como... – sua voz morreu novamente, pois ela não conseguiu raciocinar o suficiente para arrumar uma resposta.

-Pode dizer. – seu hálito fresco tocou de leve o rosto dela, fazendo-a ter certeza de que teria uma reação bem extrema se ele tocasse nela.

-Bem, é, como... – foi poupada de responder, pois um som muito familiar de assobios surgiu: com o começo de Moves Like Jagger, ela teve certeza de que em algum lugar seu celular estava tocando.

Ele tirou-o de seu bolso e entregou em sua direção; ela se surpreendeu, pois depois de esquadrinha-lo vorazmente com os olhos não reparou em volume algum no seu bolso, mas deixou isso de lado e atendeu a ligação sem nem ver quem era.

-Hey Ray! – a voz de Jared surgiu animada do outro lado, despertando-a para a realidade.

-Hey Jay – murmurou, tentando não demonstrar que falava com outro homem, sem saber ao certo porque fazia isso – o que foi?

-Como assim o que foi? A alta do imbecil do Vlad; ele de alguma forma milagrosa convenceu os pais dele a tirarem ele de lá o mais cedo possível e está esperando a galera em casa. Becky faz questão de esperar todo mundo chegar para contar a cena que as enfermeiras fizeram na hora dele ir embora, é a sua chance de ter uma revanche. – ele disse a última palavra num tom divertido.

Ela demorou uns instantes processando a informação.

-Ray?

-Ok, eu vou ver ele agora que teve alta do hospital. – resmungou.

-Eu estou indo pra sua casa, ele quer desenhar sábado de manhã como sempre e blábláblá, nosso garotinho é mimado. – disse ele – E sim, ele pretende ter seu costumeiro almoço vegetariano de sábado também. Que os deuses nos ajudem. – o ruivo riu no final enquanto ela tinha um treco por dentro.

-Ah.... você já está vindo? Tipo, já saiu de casa? – para ela, aquilo era no mínimo injusto.

-É, é, é...  já estou indo. Daqui a cinco minutos no máximo chego.

-Meia hora! Preciso de meia hora! – berrou ela, sem se esquecer de Keane ao seu lado, este dando um curioso sorriso, de quem acha graça da situação, mas é educado demais para demonstrar abertamente. Bonito e cavalheiro.

-Vou tentar salvar meu estômago previamente e comer uns donuts no caminho... você tem vinte minutos, não mais que isso. – disse ele.

-Ok, entendi, vinte minutos! – disse ela agitada.

-Tudo bem com você Ray? – perguntou ele, notando o comportamento estranho da amiga.

-Aham, tchau. – disse, e desligou antes que ele perguntasse mais qualquer coisa.

Eles se encararam um tempinho, ele calmo e curioso, ela envergonhada e em pânico.

-Acho que você tem que ir embora não é? – disse ele, com um quê de desapontamento no olhar.

-Bom... é...  – ela começou, e deu uma olhada na mesa – nem sei como me desculpar pela comida e...

-Relaxa, meus pais acordam a qualquer instante, numa próxima vez você conhece eles.

-Ah... me desculpe mesmo, sério. – se lamentou ela; ele tinha voltado a sentar normalmente e suas mãos repousavam fora da mesa.

-Hum, certo.

-Agora acho que está na hora de te emprestar alguma roupa limpa e te levar até sua casa não é mesmo? – disse ele gentil, mas com um brilho perigoso nos olhos.

-O quê?! – chiou ela chocada – Não precisa! Que exagero! Minha casa é logo ali!

-Raven – disse ele suavemente, e ela se deu conta de que ele nunca mais a chamou de Castle desde que ela perguntou se podia chama-lo pelo primeiro nome – você não vai me negar esse pequeno prazer, vai?

Minutos depois, ambos saiam da casa dele com ela usando uma camiseta de uma malha extremamente confortável (e provavelmente cara) de manga comprida que assentava de um modo gracioso, apesar de visivelmente larguinha, no corpo miúdo dela e ele segurando uma sacola (da Hugo Boss, sempre bom acrescentar) com a camiseta do Pac Man que ela usava.

Foram instantes agradáveis pra ele, que podia assistir ela cada vez mais corada e muito, mais muito constrangedores para ela.

Ao chegarem em frente a porta da residência dos Castle, Raven virou para encara-lo de frente.

-Keane eu... quero dizer, muito obrigada por tudo – disse com a maior sinceridade possível – nem sei o que fazer para agradecer tudo o que fez por mim e.... – ela se calou quando ele subitamente segurou suas mãos e as ergueu.

-Apenas continue sorrindo. Até mais Raven. – e ele depositou um leve beijo nos dedos dela.

Foi como se o mundo tivesse congelado. Aliás, foi como se ele tivesse sumido; nada ali tinha importância a não ser os dois... ou até mesmo a não ser ele, seus olhos, seu sorriso, sua natural elegância. Raven sabia que nunca sentiu nada parecido: primeiro foi a surpresa, depois uma moleza nas pernas, um formigamento estranho e agradável na barriga e a sensação de.... bem, ela odiava ter de apelar para metáforas literárias, mas era a sensação de algo como uma corrente elétrica passando pelo seu corpo e fazendo saltar seja lá o que ela tenha dentro de seu peito.

Se arfou, suspirou ou ambas as coisas não soube dizer, mas naqueles breves instantes em que mantiveram aquele singelo contato, ela teve certeza de uma coisa.

Não era curiosidade, obsessão ou instinto.... era amor.

E com essa pequena descoberta aninhada em seu íntimo como uma cria preciosa, ela o observou partir.


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Notas finais do capítulo

Calma Vlavens!!! Não se desesperem que muita coisa vai rolar.....
Sério. Mesmo.
Enfim né.... o que acharam? Ficou cute? Sou mega fria então fazer coisas românticas pra mim é custoso, sempre acho que sai muito clichê sabe?
Beijos flores do meu jardim! (trocadilho idiota com o início da primavera, só ignorem)



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