Sakura estava, como sempre, caminhando pelos corredores do hospital. Dessa vez ía em direção à sua sala; o parto de Tenten - que acabara de acontecer - tinha sido um sucesso, e como previsto, ela tivera um menino. Neji, que acompanhou tudo de perto, não se aguentava de tanta felicidade, e já falava em um segundo filho. Hinata estava lá também, junto com Hanabi; Naruto preferiu ficar dormindo e visitar o bebê mais tarde, pois estava muito cedo. Pior que estava mesmo. Sakura, apesar de muito feliz, não se aguentava de cansaço. O parto tinha sido fácil, afinal, Tenten se cuidara e se preparara muito bem para esse dia; o problema era o horário - eram 6:30 da manhã. Sakura não se lembrava ao cero da hora, mas deviam ser 5 horas quando Neji bateu desesperado em sua porta, anunciando que seu filho estava pra nascer. Sasuke dormia tão profundamente, que sequer acordou com as fortes batidas de Neji, nem viu Sakura sair; ela apenas lhe deixou um bilhete, avisando onde estava.

– Doutora!

Sakura estava tão grogue, que mal ouviu a recepcionista do hospital chamá-la.

– Sim! - respondeu, sem saber ao certo pra quem.

– Tsunade-sama te espera em sua sala!

– Ah, sim...obrigada.

Mal tinha se dado conta do que ouvira, até chegar próxima à porta da sala. Tsunade a essa hora?! Deve ser algo muito importante, pois pelo que se lembrava, a médica não gostava de ser acordada antes das 9. Respirou fundo e entrou na sala, pensando seriamente no que trouxera Tsunade tão cedo até aqui.

– Tsunade?!

– Ah, olá Sakura...começou cedo hoje, hein?!

Tsunade estava sentada na cadeira de Sakura; não entendia o porquê de todos sentarem em sua cadeira quando íam visitá-la. Puxou uma cadeira a frente de sua mesa e sentou-se.

– Pois é, bebês...sempre escolhem as piores horas para nascer!

– Não culpe o bebê Sakura! - Tsunade riu e continuou - Soube que correu tudo bem no parto...você está fazendo um excelente trabalho, melhor até do que eu imaginei!

– Obrigada, mas dessa vez o mérito não foi só meu. Tenten se preparou muito bem durante a gravidez, não queria que desse nada errado hoje.

– Ela é sempre muito cuidadosa...uma das melhores pediatras daqui! Vou lhe fazer uma visita daqui a pouco e lhe desejar os parabéns!

– Ela vai adorar recebê-la; não se aguenta de tanta felicidade! Mas, você não veio aqui a essa hora só para visitar a Tenten...

– Tem razão...parece que você me conhece um pouco...

– Pode apostar que sim, e conheço esse olhar preocupado também; aconteceu alguma coisa?

– Sim...quer dizer, eu é que te pergunto...

– Como assim?!

– Por acaso aconteceu alguma coisa entre você e o Sasuke aqui no hospital nos últimos dias?

– Karin... - Sakura pensou mais alto do que queria.

– Então ela tinha razão...

– Depende do que ela te disse...

– Bem, ela me disse que você andou violando as regras do hospital, e que era muito grave...e sabe-se Kami o que vocês estavam fazendo, pois ela preferiu nem falar!

– É uma vadia mesmo...

– Isso é verdade Sakura?!

– Não foi bem assim que aconteceu...se deixar, eu posso explicar!

– Sou toda ouvidos...

– Isso aconteceu ontem, na hora que aquele ladrão, que tentou assaltar o Ichiraku, se machucou na fuga. Os policiais trouxeram ele pra cá, e eu cuidei dele. Quando cheguei na minha sala, descobri que Sasuke tinha vindo com eles, pois ele estava sentado bem aonde você tá. Nós conversamos um pouco, e eu lhe disse que ele não podia ficar aqui. Então, quando o ladrão se recuperou da anestesia, ele foi embora; mas, antes de sair ele me deu um beijo. Eu disse que ele não podia fazer isso, mas ele é teimoso demais e eu acabei cedendo. A Karin entrou, sem bater, na hora que ele tava me beijando...e imagino que já tenha inventado um monte de histórias.

– De fato, isso é um pouco grave, e viola as regras do hospital. Porém, é bem menos grave do que eu imaginei. Eu mesma já violei essa regra algumas vezes...o Dan sempre passava aqui quando voltava das missões. Mas, digamos que eu era mais sortuda que você nesse ponto, afinal, ninguém nunca "invadiu" minha sala desse jeito nesses momentos. E, quer saber, fico feliz que você e Sasuke tenham se acertado. Tome mais cuidado nas próximas vezes, tranque a porta se ficar em dúvida. Ah, e...não que eu esteja na idade, nem nada, mas já vou avisando que quero um neto, e rápido!

Sakura então sorriu, aliviada com a resposta de Tsunade. Não iria suportar brigar com sua mestra/amiga por culpa das intrigas de Karin.

– Obrigada por acreditar em mim...

– Não precisa agradecer, só me dê netos e fica tudo certo. Enquanto você não me dá um neto, vou visitar o bebê da Tenten. Ah e, querida, tome cuidado com a Karin, ela disse que não gosta de fofocas.

– Pode deixar...eu não gosto de quem não gosta de fofocas!

– Eu também não!

–--

O dia havia começado bem no hospital, mas desenrolara como um dia normal. Algumas emergências, outros casos não tão graves, partos, cirurgias, algumas vidas perdidas, outras salvas com sucesso, efim, coisas que acontecem em um movimentado hospital de uma vila ninja. E, para fazer jus ao título de hospital de vila ninja, lá estava mais um, esticado em uma maca, com uma das pernas sangrando e o rosto se contorcendo de dor. O sortudo da vez?! Ninguém menos que Shikamaru Nara, preguiçoso e atual conselheiro da vila. Estava em uma missão secreta, quando acabou acontecendo um inevitável confronto com ninjas inimigos. Ele, que liderava a missão, acabou levando a pior; mas, felizmente a missão fora completada com sucesso, e ninguém mais além do líder, se feriu.

Ino, retirava com cuidado o veneno da perna infeccionada do amigo. Ele fora acertado por uma kunai envenenada, que tinha sido retirada a pouco pela médica. A príncipio, a loira se assustara com o que vira, mas logo tomou a frente da situação e decidiu que salvaria o amigo.

– Shika, eu sei que dói, mas se você não deixar eu tirar esse veneno, vou ter que tirar a sua perna.

– Nem brinca com isso Ino! - Shikamaru ainda fazia caretas de dor.

– Eu tô falando sério...agora se acalma que já está terminando.

A medida que a dor aumentava, Shikamaru teve vontade de chorar. Mas, não o fez; não na frente de Ino. Desde a morte de seus pais na última guerra, Ino e Shikamaru - que já eram muito amigos - se tornaram cada vez mais próximos, e ele passou a ser uma espécie de protetor e conselheiro da médica. Infelizmente, nos útimos tempos, os dois não têm andado afastados, pois Sai, atual namorado de Ino, não gosta nem um pouco da amizade que existe entre os dois, e não suporta ver a namorada ao lado de Shikamaru, ainda mais cuidando dele.

– Seu namorado não vai gostar nem um pouco disso! Ele é complicado. - Shikamaru parecia cansado, de tanto se contorcer de dor enquanto Ino tirava o veneno.

– Ele não tem que gostar, tô fazendo o meu trabalho! - Ino ajeitava um travesseiro atrás de Shikamaru, para que ele relaxasse. Finalmente tirara todo o veneno e já havia terminado o curativo. Ajudou o amigo a se ajeitar na cama, e sentou-se ao lado dele.

– Ele vai dizer que você deveria estar atendendo outros pacientes...

– Eu não quero atender outros pacientes; fiquei preocupada com você!

– Achei que você não se importasse mais!

– É claro que eu me importo...sei que tem um tempo que a gente não se fala, mas isso não quer dizer que eu não preocupo com você!

Shikamaru apenas segurou a mão da médica e deu um leve sorriso.

– Eu quebrei nossa parceria, né?! - Ino segurou mais forte a mão do moreno.

– Você não teve culpa...namorar é complicado Ino, você acaba tendo que abrir mão de algumas coisas!

– Nunca esteve nos meus planos ter de abrir mão de você!

– Nos meus tembém não...mas isso faz parte da vida, e a vida é algo ainda mais complicado do que o namoro.

– Eu sinto a sua falta!

– Eu também sinto a sua falta...sinto falta de ficar vendo as nuvens com você, sinto falta dos churrascos nos finais de semana, dos filmes que a gente via na sua casa, e até das missões. Mas eu prefironão te procurar, nem falar nada; não quero estragar seu namoro, nem a sua vida...

– Eu vou conversar com o Sai, não tem cabimento ele me proibir de te ver...nós somos amigos há tanto tempo; não tem que terminar assim, por causa de um namoro besta! Se ele gostar de mim, vai ser do jeito que eu sou, e com os amigos que eu tenho!

– Toma cuidado...

– Pode deixar, sei o que tô fazendo! Preciso ver alguns pacientes, mas depois volto pra ver como você tá! - Ino se levantou e deu um leve beijo na testa de Shikamaru. - Se comporta, hein?!

– Pode deixar, doutora!

Ino então foi até o quarto de três pacientes e, por sorte estava tudo bem. Pensou em voltar para o quarto de Shikamaru, mas ele precisava descançar, e se ela voltasse, ele não ia conseguir. Decidiu ir até a sua sala e deixar passar um tempo. Ao entrar, se deparou com uma figura alta e de cabelos negros encostada na mesa.

– Sai?!

– Vim saber como seu amiguinho está...espero que tenha cuidado muito bem dele!

– Como é que você soube?

– A vila é pequena meu amor, as notícias correm rápido!

– Eu tava atoa quando ele chegou...não podia deixar ele sem atendimento!

– Imagino que você nãao seja a única médica desse hospital...

– E não sou mesmo, mas eu quis cuidar do Shikamaru, e cuidaria quantas vezes ele precisasse!

– E comigo você não se importa, não é?!

– Por acaso você tem uma kunai envenenada enfiada na sua perna?

– Não...

– Então você não tem do que reclamar!

– Então é isso, você prefere esse seu amiguinho?! Se é que pode ser chamado de amigo...

– Você se sente ameaçado por ele Sai?! Por isso me proibiu de ver o Shika...

– Eu não tenho medo daquele preguiçoso...não sei que tipo de ameaça ele pode representar pra mim! E se você prefere ficar com ele, que fique...tenho certeza que vou encontrar alguém melhor pra mim; alguém que saiba me dar atenção e valorizar o que tem!

– Como quiser!

Sai então, saiu e bateu forte a porta da sala de Ino. Ela sentiu algo como um nó, preso em sua garganta. Estava com raiva de Sai, tinha vontade de chorar e gritar, mas ainda assim, sentiu ter feito a coisa certa.