“Me vi sozinha num quarto..a meia luz de velas...Olhei para minha direita...havia uma cama,de casal,coberta com um lençol branco,velho,empoeirado.Olhei para minha esquerda...logo pude ver um espelho, velho também...Cheguei mais perto do mesmo e olhei para o meu rosto...Não podia ser eu!Estava com um aspecto cansado,olheiras profundas,e pálida; mais pálida que o normal.Meus cabelos estavam soltos,e muito escuros...’Deve ser o contraste dessa minha cara’ pensei alto... Me afastei do espelho e pude assim ver o meu corpo todo...Eu usava uma camisola comprida de cor branca com mangas..’ Mas que merda é essa?!’...Estava totalmente confusa..Tentando entender...Quando de repente ouvi um gemido de dor vindo do outro lado do quarto.Me virei para o mesmo e pude ver algo se contorcendo na cama por debaixo do lençol branco.Os gemidos foram ficando cada vez mais altos e se transformaram raivosamente em gritos de dor.Fiquei realmente com medo..mas para onde eu poderia fugir?! O jeito era encarar aquilo,mas...o medo foi maior.Continuei a encarar a cena.Aquilo se debatia na cama e gritava cada vez mais alto.Quando enfim...veio um silêncio...Me acalmou um pouco,mas mesmo assim continuei receosa.Encarei a cama e me aproximei.O lençol,antes branco,foi dando lugar a uma cor vermelha intensa,como sangue...O sangue saia cada vez mais descontroladamente.Senti algo molhado no chão tocar meus pés.Olhei....mais sangue.Havia sangue no chão todo.Levei uma de minha mãos até meu rosto..Sem pensar duas vezes corri até a porta do quarto,que para minha surpresa estava trancada.Chutei a mesma com força mas de jeito nenhum ela abria! O nível do liquido vermelho subia rapidamente.Pude sentir bater na altura dos meus joelhos.Ao sentir isso me debati contra a porta mais forte ainda.Gritei por socorro desesperadamente mas ninguém veio.Quando me dei conta o nível do sangue estava no meu pescoço.Logo fui obrigada a prender a respiração.Estava tudo escuro,as velas haviam se apagado e eu mergulhada em Sangue.Tateei algumas coisas no quarto com os olhos fechados e senti tocar em alguém.Me esquivei rapidamente mas devia estar sendo perseguida pelo mesmo.Vozes...palavras que não consegui decifrar foram tomando o silencio do quarto.Estava ficando sem ar,e desesperada abri os olhos.Pude ver então bem a minha frente à imagem de uma mulher,com aspecto de...morta.

-Alice!Alice!ACORDEEE!!!!-gritou

Não pude me conter e gritei fechando os olhos com força...”

Foi tudo tão real, que acordei gritando.

Olhei em volta..minha visão ainda estava meio confusa, mas logo voltou ao normal.Eu me encontrava deitada,numa maca.No começo não entendi muito bem a razão de eu estar lá,mas assim que senti uma dor no meu pulso me lembrei. Suspirei fundo...Senti um cheiro horrível de remédios...’’É acho que eu estou na enfermaria’’... Tentei me levantar então apoiei meu corpo justamente no pulso dolorido.

-Ah...droga..-murmurei.

Logo em seguida ouvi alguns passos apressados pelo corredor.Nem liguei.Apenas peguei no meu pulso,que se encontrava enfaixado numa tentativa de fazê-lo parar de doer.

Entrou na sala uma enfermeira obesa.E a propósito não foi muito com a minha cara.

-Então está melhor?-disse ela num tom não muito preocupado.

-Tá doendo um pouco...Dona,o que aconteceu na real? Haha –

Disse eu meio grogue.

- É Srª. Lopez pra você.E você teve um corte profundo no pulso.Sangrou muito e quando você chegou aqui já estava desacordada.Eu apenas estanquei o ferimento.

-Ah,mas eu não to legal...não me drogaram né?!-disse rindo depois.Nem eu entendi porque mas....

-Não,você só precisa comer algo.Tá fraca - disse ela segurando a risada.

“Sério? Eu to fazendo um papel tão ridículo assim?’’

-Seu amigo já foi buscar algo pra você comer- continuou a “Srª.Lopez”.

Peraí! Amigo?

-Que amigo Dona?... Quer dizer Srª.Lopez.

-É um...- ouvimos passos - deve ser ele chegando.- disse ela.

Olhei pra porta,e então pude ver o meu “amigo”.

-Uffa!Enfim consegui chegar,a fila da cantina tava enorme!-disse, ofegante,para a enfermeira.Acho que nem viu que eu já tinha acordado.

Quando ele finalmente percebeu minha presença ali, me olhou e deu um sorrisinho tímido...e fofo.

“Aqueles olhos,não tinha como não ficar boba.E seus cabelos caído no rosto então! Ai deus...”

Retribui com um aceno amigável,mas não pude conter um sorriso também...“Alice se controla.Nem conhece o menino e já ta aí viajando...” Chacoalhei a cabeça tentando afastar esses pensamentos.

-Ah,oi...Alice não é?!Prazer,Gerard.-disse ele.

“Okay – pensei comigo - já sabe o meu nome”.

-Oi – sorri – como sabe?

-A gente procurou na lista da secretaria.

-A gente?- perguntei confusa.Então apareceu mais um.

-Hey!!!-disse o segundo que acabara de entrar.

- É. – disse confirmando - Eu e meu irmão Mikey.

-Está melhor?-perguntou o segundo...Mikey

-Ah,sim..obrigada- disse sorrindo.Ele sorri de volta.Naquela hora senti um rubor tomar conta de minhas bochechas.

Ouvi umas risadas, o que me deixou mais envergonhada ainda.

-Crianças eu vou até a cantina.Acho que você não precisa de remédios Alice.Mas de qualquer forma...-disse a enfermeira,saindo da sala.

Ficamos por um tempo fitando o teto,sem assunto.

-Ah,quase esqueci... Seu lanche.-disse o de cabelos negros entregando-me um pacote.-É sanduíche natural e tem um suco também.Não sei se você gosta mas eu optei por alguma coisa mais saudável já que você...

-Oh... entendi.Obrigado,eu gosto sim. – disse pegando o pacote e me sentando na maca.Abri o mesmo e cara! Eu tava morrendo de fome.Nem me importava que tava comendo sanduba natural.Eu PRECISAVA comer.

-Bom gente,eu vou lá pro pátio um pouco okay?!- disse Mikey.

Eu e Gerard assentimos. Mikey saiu e não demorou muito para que o mais velho viesse se sentar ao meu lado na maca. Terminei o lanche e me levantei ajeitando a roupa.

*sinal*

Bateu o sinal... Ambos nos levantamos. Eu realmente não queria ir pra aula. Mas fazer o que?

Gerard já estava se virando e um pouco sem jeito, o toquei e perguntei:

-Érr...hey.Será que você não pode me levar pra minha sala?É que eu não conheço nada do colégio.

- Ah levo sim.Qual turma você caiu?

Retirei do bolso traseiro da calça um papelzinho

-Hummmm...é na turma do 3ºB.

-Ohh é a minha sala!Vamos se não iremos nos atrasar... Não que eu ligue para isso, sabe? – Ele disse e tentou esconder um pouco o sorriso. Para não deixa-lo sem jeito, concordei e segurando a mão dele, o segui pelos imensos corredores da escola.-É aqui.

Abrimos a porta e então pude ver a sala,repleta de alunos,um silencio irritante e lógico, infelizmente TODOS olhando para mim. Já era a segunda vez no dia que eu passava por essa situação.

Naquele momento eu quis cavar um buraco e enfiar a cara dentro.

-Professor essa é aluna nova.Alice.- disse Gerard, ainda segurando uma das minhas mãos e quase me arrastando até o professor.

Peguei o mesmo papelzinho de antes, que agora estava um pouco amassado e entreguei a ele. Enquanto o professor lia,quebrou o silencio da sala e me apresentou:

-Classe. Quero que conheçam a aluna nova. Alice Willians.

Cara, que vergonha.Todos me encarando de um jeito... ESTRANHO.

Gerard percebendo meu estado em relação à classe, apertou um pouquinho minha mão e disse baixinho:

-Vem,tem um lugar aqui perto do meu.

Sem pensar duas vezes segui-o até o fundo da sala onde havia uma carteira vazia bem atrás da dele.

Lá estavam também outros dois garotos.Um baixinho e um cabeludo. =s

-Ah,Esse aqui é Ray e este é Frank – disse apontando pra cada um. –Essa é Alice.

-Oi!-disseram em uníssono.

-Oi- respondi me sentando e então todos se viraram pra frente.

Na aula Gerard e Frank não pararam um segundo de tagarelar. E de vez em quando Ray me pedia algo emprestado. E como eu nem estava prestando atenção na aula, a manha passou rápida.

Finalmente o sinal soou fazendo com que eu me levantasse automaticamente. Peguei minhas coisas e joguei na bolsa. Já estava me dirigindo à porta quando:

-Hey, espera aê. – Gerard gritou.

Assenti com a cabeça, escorei no batente da porta e fiquei observando os três se aproximando de mim. Mikey não demorou muito e nos alcançou enquanto saiamos da escola e caminhávamos até o ponto.

O ônibus não demorou muito para passar. E como fomos os primeiros a entrar sentamos na “fileira do fundão”.

Me sentei na janela, ao meu lado o Ray ainda se acomodava, aí vinha o Mikey, depois Gerard e por fim Frank.Os dois últimos não paravam um segundo, quando não estavam se batendo, estavam se xingando ou brincando. Mesmo não sabendo a causa,era divertido assisti-los.

-Então Alice.O que achou da nova escola?- disse Ray.

-Ã? Ah a escola... Bom eu não sou lá fã de escolas... - rimos por um tempo juntos- Mas foi bom. Até... Legal de conhecer vocês, pelo menos eu não fico tão sozinha ,eu também não conheço nada de Jersey.

-Entendo. Somos dois, não curto muito a escola – rimos outra vez. - Era de onde?

-New York.

-Nossa. É bem diferente daqui hein.

-Pois é. Vou ter que me acostumar. Eu sempre morei lá. - Ray assentiu.

O ônibus parou e alguns alunos desceram.

-Vamos Ray - disse o baixinho...  Quer dizer, Frank.

-Ah, tenho que ir, mas amanha a gente se vê okay?!- disse Ray com seu sorriso simpático. Retribui o mesmo e acenei. Os acompanhando com o olhar.

Depois que eles desceram, Mikey e Gerard se levantaram. Mesmo sem saber o porquê levantei junto com eles, desci e os acompanhei. Então comecei a olhar em volta tentando me “localizar”. Quando Mikey percebeu o que estava acontecendo comigo, perguntou imediatamente:

-Onde você mora, Alice?

-Hmmmm... É Salter Ville 219.

-Ah é na rua de casa! Vamos à gente te leva.

-Okay.

Não demorou muito e chegamos à minha casa.

-Prontinho tá entregue!- brincou o menor rindo baixinho.Suspirei mas não pude conter o riso também.

- A gente mora ali, ó!-disse apontando para um sobrado azul.-Se quiser nós podemos ir juntos ao colégio amanha.

-Uhum, eu passo lá - respondi.

-Tá bom, então. Até amanha.

-é... Até amanha!  Tchau.

Gerard acenou e Mikey antes de se virar, fez o mesmo.

                         -X-

Entrei em casa e fui até a cozinha. Com certeza minha mãe estaria trabalhando, então eu tive que me virar.

Almocei, troquei a roupa do colégio e corri desesperadamente até meu PC. Passei a tarde toda na net. Quando escureceu, desliguei o computador e tropeçando, quase caindo de tanto sono, caminhei até minha cama e me joguei.

Fechei os olhos e na mesma hora lembrei-me do sonho esquisito que tive na enfermaria. As palavras que ela dizia, eu não conseguia entender. Mas parecia que eu precisava saber o que era. Rolei na cama de um lado pro outro, mas nada me tirava daqueles pensamentos. Então, me levantando, caminhei até o banheiro da suíte de minha mãe. Abri as portas do pequeno armário e me deparei com vários remédios. Corri os olhos em cada rotulo dos frascos.

“Achei”

Tomei dois comprimidos de calmantes. Não sei se devia, mas me ajudaria a pegar no sono.

Voltei pro meu quarto e dessa vez consegui dormir.