Prologo

Sentia aquela dor no peito, dor que parecia trespassar-me o coração, todo o meu corpo parecia agora dividido em dois. Não aguentava mais aquilo nem queria aguenta-lo, já não o suportava mais. Morri.

Capitulo 1 

Talvez ainda de manha ou já depois do meio-dia, não vos consigo dizer ao certo. Mas Charlie acordou. Foi acordado pela Claire, uma das ajudantas do orfanato, como todos os dias acontecia. Abriu os olhos e não vos sei dizer ao certo o quanto ele é bonito, o quanto todos aqueles caracóis loiros e os seus olhos verdes me fascinam a cada segundo que passa. Apesar de tão pequeno, os seus 13 anos não passam despercebidos pela sua tamanha inocência, mas irradia uma beleza cristalina sem igual. Talvez porque só eu o vejo desta forma, maravilhoso e sem comparação possível.

Como todos os dias, brincou e estudou, conseguia até sentir o cheiro a lavanda da sua roupa lavada e daqueles calções que ele tanto gostava e que pedia sempre a Claire para usar, aquele aroma característico ao lápis aguçado. Aí como eu me lembro de tudo isso! A confusão de livros e cadernos, lápis e caneta, borracha e aguça,…tudo junto, nada se podia sobrepor a isso. Toda aquela inocente responsabilidade da escola trazia a Charlie, apesar de achar uma enorme responsabilidade, uma enorme determinação. Sempre fora um menino aplicado e atento a tudo o que se passara à sua volta e também entendera desde muito cedo o comportamento dos outros. Claire era a sua melhor amiga e quando lhe pediam para o justificar, ele dizia que os seus nomes eram muito idênticos. Os crescidos, como ele os chamava, riam-se constantemente da sua simples mas verdadeira justificação. Charlie pouco se importava mas achava estranho, ninguém o compreendia. Sentia-se como um peixe fora de água. Mas nunca se queixava, achava que não deveria preocupar Claire, ela sempre fora tão gentil para ele e se os outros não compreendiam ela também não o iria compreender.

Claire, apesar de tudo, não era assim tão crescida como os outros. Tinha 16 anos e era de estatura baixa o que dava um certo conforto a Charlie, já que se parecia tanto com ele e com os seus amigos e amigas. Porém Charlie, sempre pensara que Claire tinha algo mais que eles todos. Uma maneira diferente de ser, ela não brincava com eles, não estava na sua sala e ele questionava-se tanto que já perdi a contas de quantas vezes o apanhei a pensar nela. Pensava nela deitado na sua cama, com os braços cruzados atras da sua cabeça tal como um adolescente pensa na sua amada, mas Charlie tinha apenas 13 anos e eu estava longe de pensar que aquela atitude era demasiado prematura, que Charlie não tinha afinal 13 anos mas sim 16 anos como Claire, sempre a suspirar e eu sabia que era por ela, conseguia senti-lo.   

- Char anda brincar! – Grita Benjamin demasiado entusiasmado com a próxima corrida de carros, e esperançoso em ganhar, para comer mais umas bolachas de chocolate. Era essa a aposta.

- Charlie! O último a chegar ganha menos uma bolacha! – Continua Benjamin até que acaba por despertar Charlie dos seus profundos pensamentos.

- Não quero Ben. Quero ficar aqui. – Esclarece Charlie já farto de ouvir o seu amigo ansioso pelas bolachas e que também a parecer uma grande bolacha.

Benjamin fica confuso mas rapidamente se esqueça, pois volta a correr para a sala onde lhe esperava uma grandiosa vitória e mais um pacote de bolachas de chocolate.

Novamente sozinho, Charlie, mergulha nos seus pensamentos. Só o consegue fazer ali, no seu quarto. Como o orfanato era pequeno, perto de uma pequena vila, a vila Sunshine, poucas eram as crianças e Charlie tivera o privilégio de ter um quarto só para ele. Fora ele que escolhera as cores para o seu quarto. Até nisso é um menino diferente, para além do resto que referi. Não escolheu azul nem verde, como todos os outros meninos. Escolheu castanho. Não é uma cor habitual, principalmente nos quartos das crianças, mas ele insistiu tanto. Diz que é uma boa cor.