Cap. 40 – Epílogo Samcedes

Mercedes P.O.V

_ Makuahine (mãe). – ouvi Ailika me chamar e vi-a descer as escadas. Apesar de termos voltado à Lima, as crianças ainda falam algumas coisas em havaiano – Kãne (pai) pediu para você ajudá-lo com os meninos.

Concordei, me levantando do sofá para subir as escadas. Fomos os últimos à volta a Lima, apenas dois anos atrás. Tivemos alguma burocracia por causa de Ailika, Ileina e Kai, os três adotados em Honolulu. Eles tinham, respectivamente, 10, 8 e 6 anos hoje em dia e seus pais, grandes amigos que fizemos na ilha, faleceram em um acidente de lanche três anos atrás, deixando as crianças sem família.

_ Muito bem criançada, já estamos atrasados, então acelerado. – gritei subindo as escadas com Ailika ao meu lado – Kai e Iwin, é melhor obedecerem o kãne, ou esqueçam o vídeo-game hoje.

Vi os dois saírem correndo de dentro de meu quarto em direção ao deles e Sam surgiu atrás, com os cabelos desarrumados e bufando.

_ Claro, você eles obedecem. – resmungou ele e Ileina saiu de seu quarto, pulando nas costas do pai.

_ Não é questão de obedecer kãne, - disse ela rindo – É questão de persuadir.

_ Vocês duas vão se aprontar também mocinhas. – mandei – E Kaila, nada de dar trabalho para suas irmãs. Sam, vá vistoriar os meninos enquanto eu arrumo a Kali.

Quando adotamos as crianças, já tínhamos Kaila de três anos e Iwin estava para nascer. Pouco depois retornarmos a Lima, nasceu Kali e eu e Sam concordamos que era melhor darmos nossa contribuição para a humanidade por encerrada.

Apesar de sentirem muita falta dos pais, especialmente Ailika, as crianças já tinham grande carinho por nós e em pouco tempo, já nos consideravam realmente sua família, principalmente por sermos, eu e Sam, órfãos, assim como eles.

Eles relutaram um pouco em deixar o Havaí, mas prometemos que voltaríamos uma vez por ano, durante a temporada de férias de verão, quando eu trabalho no maior hotel da cidade como cantora noturna. Sam atualmente é o técnico de natação do McKinley e seu salário mais o que recebo nas férias é o bastante para que eu possa ficar em casa cuidando das crianças.

_ Meme (mãe). – cantarolou Kali quando eu entrei em seu quarto. Ela estava sentada em seu berço, brincando com suas bonecas. Apesar de ter nascido aqui, ela fala muitas coisas em havaiano, pois é assim que os irmãos a ensinam.

_ Vamos nos trocar para ir ao batizado princesa? – perguntei, a apanhando do berço. Ela riu, mostrando as covinhas e bateu palmas, enquanto eu a sentava no trocador e apanhava seu vestido.

Dos três filhos biológicos, Kali foi a única que saiu morena como eu. Iwin é tão loiro quanto Sam e quando não estamos em Honolulu, é tão branco quando um fantasma. Kaila tem os cabelos escuros, mas assim como o irmão, parece um fantasma de branca.

Já Ailika, Ileina e Kai tinham os cabelos lisos e escuros, e a pele ainda tinha o tom bronzeado, mesmo morando em Lima. O pai deles, Quon, era chinês, então os três têm os olhos levemente puxados.

_ Makuahine vai se arrumar que eu cuido de Kali. – propôs Ailika, entrando no quarto – Ileina está terminando de arrumar Kaila e kãne já arrumou os meninos.

Eu agradeci, saindo do quarto em direção ao meu. Sam estava bufando irritado enquanto colocava a camisa social e eu ri, atraindo sua atenção.

_ Que foi? – perguntou ele, dando um sorrido torto.

_ Você, todo irritadinho. – respondi como se fosse obvio e ele revirou os olhos.

_ Odeio roupa social, prefiro bermuda e camiseta. – observou ele – Ou ficar nu, mas isso só com você.

_ Samuel. – eu exclamei, corando e lhe dando um tapa no braço – Você sabe que na igreja tem que se usar roupa social.

_ Por isso que batizamos Kali no Havaí e não aqui. – lembrou ele – As vezes eu sinto falta de lá.

_ Eu também. – admiti – Mas concordamos que seria melhor para as crianças crescerem aqui com toda a família não?

_ Eu sei... Mas olha para mim... – pediu ele, dando uma volta só com a camisa aberta e a cueca – Eu to parecendo um fantasma de tão branco.

_ Mas continua gostoso. – admiti dando de ombros e ele sorriu travesso.

_ Você também, cada dia mais baby. – elogiou ele, me abraçando pela cintura. Para minha completa surpresa, depois de três filhos minha cintura diminuiu, não aumentou.

_ Minha boca por cima? – brinquei.

_ Dessa vez eu deixo vai. – respondeu ele, me beijando.

_ Eca. – ouvimos duas vozes e nos viramos, dando com Kai e Iwin – Que noooojo.

_ E vocês acham que nasceram como? – perguntou Sam e eu lhe dei um tapa, fazendo-o rir.

_ Crianças, esperem lá embaixo que o kãne e a meme já descem, está bem?

_ O Ailika, como os bebês nascem? – ouvimos Iwin gritar assim que saiu do quarto e eu virei para Sam, indignada.

_ Olha as coisas que você ensina para eles. – ralhei e ele riu.

_ Qual é amor, são meninos. – retrucou ele, colocando as calças e os sapatos e começando a fechar a camisa – Tem que saber isso.

_ Ah é? – provoquei – Mas eles tão perguntando para a Ailika, então a Kaila e a Ileina também vão saber, além é claro da própria Ailika.

Isso pegou-o de surpresa e antes que eu pudesse dizer algo, ele já descia as escadas aos berros, me deixando as gargalhadas. Se alguém me dissesse que eu teria essa vida quando tio Burt ficou noivo de Carole, eu nunca acreditaria. Mas é, eu posso dizer que eu tenho a vida perfeita.