Eu nunca pensei exatamente como minha vida poderia mudar tanto no decorrer de alguns meses. Não havia planejado nada, muito menos imaginado que algo de tamanha grandeza aconteceria. Mas o destino por si só tomou as rédeas da minha vida e deixou que aquela presença tomasse conta de tudo ao meu redor e principalmente de mim. Sendo mais específico: Meu coração.

Sortudo. Essa era a palavra que definia meu momento. Acabara de chegar ao estúdio de música para mais uma das minhas aulas de violão. Sim, eu era professor. Não só de violão, mas outros instrumentos também como guitarra, piano e baixo. Mas voltando ao assunto sobre eu ser um cara sortudo... Acabara de chegar à tempo exato de não pegar a forte chuva que começou a cair e agradeci aos céus por isso. Pensei em meu aluno particular que provavelmente atrasaria por causa da mesma e para não ficar tão atoa naquele local fechado, me esgueirei até o fim da sala, capturando em minhas mãos minha guitarra de tom azul elétrico. Ela era minha paixão, até a apelidei de "Babyblue". Confesso, não era um nome genial, mas combinava com a minha companheira azulada. Liguei-a ao amplificador e me sentei sobre uma das caixas de som desligada que se encontrava ali perto, cruzando uma das pernas e apoiando "Babyblue" sobre as mesmas para assim começar a deixar uma melodia escorregar das cordas que meus dedos tocavam sutilmente. Era suave, calma e parecia que nunca tinha fim, sempre voltando as notas iniciais sem parecer repetitivo. Solar era o que mais gostava, parecia aquecer-me o íntimo, trazendo-me uma paz indescritível. Por um momento deixei minha mente divagar um pouco enquanto meus dedos continuavam a deslizar sobre as cordas. Meus olhos se fecharam a procura de algo oculto em minha mente e de início era somente escuridão. Abri os olhos, deixando um muxoxo escapar de meus lábios. Fechei os olhos novamente, dessa vez numa concentração maior e assim por dentro das pálpebras uma luza branca tomou conta e não demorou mais que alguns segundos para que imagens viessem a minha cabeça. De repente um relance de fios loiros passou como um flash. Apertei os olhos com mais afinco, dando uma concentração maior àquela cena que se repetia outra vez. Logo a imagem tomava distância, assim revelando o corpo que possuía aqueles fios e notava-se só de olhar que era de uma sedosidade sem tamanho. Um sorriso brotou em meus lábios mesmo que inconsciente e deixei-me levar por mais da minha imaginação. Aquele corpo parecia dançar em minha mente, deixando que os cabelos desgrenhassem com o balançar do vento. Eu poderia ficar o dia todo naquela divagação se não fosse pelo susto que tomei, quando senti algo tocar-me o braço.

– Cheguei Hyung!

Por pouco não deixei a pequena "Babyblue" ir de encontro ao chão, agarrando-a em meu peito tamanho era meu susto ao abrir os olhos e sair de forma um tanto assustada da minha divagação e encontrar Taemin, meu aluno sorrindo para mim um tanto divertido.

– Sonhando acordado, é?

Sentia uma pontada de brincadeira da parte dele, pois ainda me olhava com aquele ar de diversão. Semicerrei os olhos e fiz uma careta feia pra ele, logo apontando para a cadeira que estava a minha frente. Um sinal mudo que o mesmo senta-se e parasse com as brincadeiras.
Prontamente ele sentava-se ali, ostentando aquele sorriso e balançando a cabeça negativamente.

– E mesmo que não seja da sua conta... Não, eu não estava sonhando acordado.

Estalei a língua em um pequeno "Tsc" e ele riu baixo, tirando o seu violão da capa que o guardava em segurança.

– Mas estava sorrindo feito um babaca aí... Eu vi.

Ele assentiu e ficou quieto antes que desse com a minha linda guitarra em sua cabeça. Onde estava o respeito ao professor, hum? Esses alunos de hoje em dia... Tsc.

– Então Taemin, andou treinando aquela música que lhe passei como dever de casa?
Mal acabei de falar e um bico formou-se em seus lábios, me fazendo rir baixo.

– Não pegou a música ainda né?
Ele assentiu, ainda com aquele bico assustadoramente adorável.

– Mas Hyung, aquela música é muito difícil. Fácil pra você que já sabe, poxa.

Maneei a cabeça afirmativamente, esticando a mão até ele me ceder seu violão.

– Primeiramente esse violão está completamente desafinado. - Suas sobrancelhas se uniram e o bico só aumentou e eu ri divertido. - Segundo, se você não treinar, nunca vai conseguir e Taemin, vamos lá, essa música é muito fácil só tem 4 acordes. - Disse baixo, ajeitando o violão em meu colo após tê-lo afinado rapidamente, tocaria para ele afim de refrescar-lhe a memória sobre a música.

E em poucos segundos a música enchia o lugar.

Oh where, oh where can my baby be?

The Lord took her away from me.

She's gone to heaven so I've got to be good,

so I can see my baby when I leave this world.

Percebi que o mais novo prestava demasiada atenção enquanto tocava e cantava e parei na primeira parte, sorrindo e lhe entregando o instrumento.

– Acho que consegui lhe refrescar a memória... Agora toque o resto.

Um pouco desajeitado ele pegou-o de minha mão e indireitei-me sobre a caixa de som a fim de observá-lo. Não demorou e seus dedos finos e desajeitados tocavam as cordas e um calor cresceu dentro de mim, nunca o vira tocar tão bem como agora. Sua cabeça balançava-se de um lado para o outro, deixando seus cabelos um tanto compridos irem de um lado ao outro também, os fios loiros contrastando com a camisa branca e os lábios entre abertos e rosados deixando a letra da música sair por ali suavemente. Mesmo que a letra não fosse algo que chegasse nem perto das coisas que pensava dele enquanto o via cantar, mas me deixei levar. Talvez já quisesse reparar-lhe a tempo, só não havia tido oportunidade. E mais uma vez aquela imagem de antes, que viera em minha divagação mais cedo me veio à mente. Algo me dizia lá no fundo que ela e Taemin ligavam-se de alguma forma.

We were out on a date in my daddy's car,

we hadn't driven very far. There in road, straight ahead,

a car was stalled and the engine was dead.

I couldn't stop so I swerved to the right,

I'll never forget the sound that night.

Abruptamente seus dedos pararam e deram fim a melodia ainda ao meio. Olhei-o confuso e o mesmo também me olhava, seus lábios repuxando-se em um pequeno e tímido sorriso.

– O que foi Taemin?

Perguntei, com certo susto. O que havia de acontecido à aquela criança?

– Se o Hyung continuar me olhando desse jeito eu não vou conseguir tocar... - Revirou os olhos, como se fosse óbvia a explicação.

– Ah... - Meus lábios abriram-se tamanho era meu susto. Ele havia percebido meus olhos o analisando e deve ter se envergonhando, normal, Taemin era realmente tímido quando lhe olhavam tão diretamente. Recompus-me e sorri-lhe. - Deixa de bobeira, estava analisando você, sou seu professor, oras.

Assim ele maneou a cabeça positivamente e apoiou os braços por sobre o violão. Olhando-me como se soubesse que havia algo por trás do que dissera. Não havia mentido, eu realmente estava analisando-o. Não prestando atenção em suas habilidades, mas em suas feições. Mas é claro que dessa parte ele não sabia e nem deveria imaginar algo do tipo. Ele ainda olhava-me e aquilo estava me intrigando já.

– Sabe Hyung... - Começou e não parecia hesitante, apenas deveria estar escolhendo as palavras certas em sua mente pela cara que fazia enquanto falava, deduzi. - Às vezes acho que você tem uma queda por mim.

Arregalei os olhos, desiquilibrando-me da caixa que me encontrava sentado. E ele continuava neutro, me olhando como se o que acabara de falar não fosse algo altamente grave. Voltou a concentrar-se em seu instrumento, dando a mínima para forma em que me encontrava, completamente desconcertado.

– O que você disse? - Finalmente consegui dizer algo e logo seus olhos desviaram-se do violão para me encarar novamente e podia jurar que um sorriso estava prestes a brotar de seus lábios.

– Você. Parece. Ter. Uma. Queda. Por. Mim.

Disse pausadamente como se eu fosse algum deficiente mental e não conseguisse entender. Eu apenas pisquei nervosamente algumas vezes, sentindo todo meu interior entrar em erupção.

O que estava acontecendo comigo? Eu nunca me sentira daquele jeito. Nunca vira Taemin como algo a mais que não fosse meu aluno. Bom, pelo menos nunca deixei meus pensamentos se aprofundarem nisso. Claro, Taemin era lindo e tinha feições e um aegyo adorável, mas em nenhum momento pensei nele de outra forma... E foi aí que me lembrei de hoje mais cedo, antes do mesmo chegar ao estúdio. E caí em si, aqueles cabelos loiros de minhas divagações nada mais eram do que aqueles cabelos que se encontravam ali na minha frente e seu dono nada mais era que Lee Taemin.

Arrisquei olhá-lo mais uma vez e seus olhos pousavam sobre mim como se quisesse ler meus pensamentos e por um momento eu desejei que conseguisse fazer isso, assim saberia que era, mesmo que inconsciente prioridade deles agora.

– Eu sei que pensa em mim... - Disse-me baixo, dessa vez hesitante. - Assim como também penso em você, Hyung.

Fala sério, isso estava mesmo acontecendo? Eu havia mesmo perdido toda a força que me dava para jorrar todas as palavras que queriam abandonar meus lábios? Eu mais parecia o maknae ali do que o próprio, que tomava as rédeas de tudo, dizendo aquilo que deveria ter guardado por todos esses meses em que lhe dava aula. Fico imaginando de como deve ter ensaiado várias vezes parar me contar tudo aquilo e eu lhe dera a oportunidade perfeita hoje e não reclamava disto. Eu mesmo que não soubesse, nutria a tempo um sentimento por aquele garoto e pensava que era somente um carinho especial de professor para com aluno, mas agora sabia que o que fervia dentro de mim era mais que um carinho, eu havia me apaixonado por aquele pequeno e nem ao menos havia percebido. Quão lerdo e desatendo eu era? Nem ao menos perceber suas intenções para comigo antes eu fui capaz de perceber.

Soltei um muxoxo, suspirando e enfim juntando a coragem que me faltava e dizendo-lhe.

– Taemin... Eu... - Não precisei dizer mais do que duas palavras para um sorriso lhe rasgar os lábios de um canto ao outro, totalmente aberto. E numa velocidade que meus olhos não puderam acompanhar ele deixou o violão de encontro ao chão à seu lado na cadeira e foi de encontro a mim, quase derrubando-me da caixa quando seus braços circularam meus pescoço, unindo meus lábios ao seus de forma desajeitada.

Ele havia me beijado e eu mal podia acreditar naquilo. Parecia estar sonhando. Ok, eu estava realmente sonhando ou era mais uma de minhas divagações, mas enquanto durasse, eu aproveitaria da melhor forma possível e sem hesitar lhe envolvi com meus braços que eram mais fortes que os seus e o trouxe para meu colo, onde sentou sem cerimônia, ainda travávamos uma batalha intensa sobre os lábios, famintos pelo gosto um do outro. E quando faltou ar em ambos os pulmões, separamo-nos e o outro soltou um baixo e manhoso muxoxo, roçando aqueles lábios vermelhos e inchados devido ao atrito anterior com os meus.

Alisava-lhe os cabelos e eram tão sedosos como eu havia imaginado e assim ele me deu um de seus melhores sorriso e naquele momento eu percebi que ambos esperávamos aquilo há muito tempo, mesmo que eu só me desse conta disso agora, quando o tinha ali, em meus braços.

Já deveria ter se passado alguns minutos e ele ainda estava sentado ao meu colo, trocávamos alguns beijos e carícias enquanto trovões rasgavam o céu lá fora, avisando que ainda caía uma forte tempestade e sorri em pensamento com aquilo, pois assim ficaríamos mais tempo ali juntos. Se bem que de agora em diante, veríamos com muito mais frequência, deduzi.

– Eu gostei de você desde o primeiro dia que te vi aqui nessa sala, tocando do mesmo jeito que estava hoje... Me perguntei se enquanto divagava daquele jeito, pensava em alguém e naquele momento, queria tanto que fosse eu, mesmo que não me conhecesse ainda. - Dizia contra meus lábios, mas seus olhos cristalinos fitavam-me como uma intensidade fora do normal.

Sorri com aquelas palavras que me soavam completamente doces. E vindo de Taemin não era de se espantar, ele era de uma doçura indescritível. Afaguei suas madeixas e como presente, ganhei mais um daqueles sorrisos.

– Naquele dia eu não pensava em nada, mas como hoje, eu sentia aquele calor me aquecer o peito e não tenho outras palavras para descrever esse calor que transborda aqui dentro de mim sem ser seu nome. Sempre chamei por você mesmo que inconsciente disso e apartir do momento que atravessou aquela porta, foi quando meu coração se encheu de Lee Taemin.

Seus olhos brilhavam, assim como os meus e mais uma vez nos entregamos à um beijo carinhoso que se prolongou por longos minutos. E nenhum de nós queria saber, pelo menos por hoje, de aula musical. Íamos nos entregar àquele sentimento até aquela tempestade se despedir de nós e assim tivessemos que não despedir também. Nos despedir por hoje, pois dali em diante não conseguia me ver mais sem meu precioso calor.

Eu, Jung Yong Hwa, professor de música, me apaixonei pelo meu aluno como quando se apaixona por uma Canção. Que é quando seu coração se enche de calor e você não pode explicar de outra forma que não seja AMOR.