Entre Cassiopeia E Sisyphus escrita por Uno


Capítulo 1
existia merope




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/234987/chapter/1

Thomas amava os pais, assim como estes o amavam igualmente. Todas as conversas e relações mantidas entre eles eram agradáveis e sinceras, embora Tom não sentisse muita falta de irmãos ou parentes mais próximos como primos ou primas - talvez tivesse herdado isso do pai, que se enfiava no escritório da casa para não sair mais; alegava estar cheio de afazeres vindos do escritório imobiliário da família em Londres, mas não significava que o Sr. Riddle estivesse descumprindo a sua participação na casa. Obviamente a tinha, mas era feita do seu jeito -, porque gostava de passar os dias empenhado em seus desenhos ou qualquer coisa que viesse à mente, disposto a ocupar as horas da melhor forma possível, ou do jeito que ele compreendia de melhor forma.

Passara então boa parte do seu tempo desenhando as constelações gregas e suas respectivas donas e donos, mergulhando cada vez mais naquele universo criativo e enorme.  Seus olhares pairavam para todos os lados, até colidir com Cassiopeia, a constelação que possuía um coração e uma alma.

Cassiopeia era conhecida por ser arrogante e possuir uma vaidade desmedida. E assim que Thomas pousou seus olhos em Cecilia, pode sentir a vaidade de Cassiopeia nela de cima a baixo. De certo que pouco a conhecia e que não era de julgamentos precipitados, mas os traços delicados de seu rosto e os cabelos loiros, encaracolados, fizeram-no lembrar-se da rainha. Tinha vontade de pegar um lápis e um pedaço de papel qualquer, para desenha-la e quem sabe depois, talvez, mostrar a ela e... Não, Thomas, interrompeu seus devaneios. “Ela nunca olharia para alguém como você, Felix,” murmurou para si mesmo, balançando a cabeça negativamente.

“Quem é Felix?” Tom ouviu alguém perguntar. A voz era macia, mas um tanto autoritária, fazendo-o virar o rosto para procura-la.

Encontrou Cecilia sorrindo. “Thomas Riddle, prazer,” ele murmurou, forçando para não gaguejar, estendendo-lhe a mão para cumprimento.

“Eu sei quem você é,” ela respondeu, rindo. “Meu pai me falou sobre os Riddle, Tom.”

Ele assentiu com a cabeça, perguntando se ela gostaria de sentar-se junto a ele em alguma das mesas ou até no quintal da sua casa - e a mais nova preferiu a segunda opção. Lá fora, longe dos velhos e do tintilar de copos, Tom pôs-se a sentar em um banco de madeira, dando espaço à loira, que agradeceu rindo. “Você era mais divertido quando éramos crianças, Riddle.”

Tom gargalhou, meio nervoso, meio desconfortável, mas sempre tentando não deixar que sentimentos como estes fossem evidentes demais para que a garota não viesse a perceber - ele jurava que ela não percebia... Mas estava lidando com Cecilia. “E você era menos esperta, Wright.”

“Tom!” ela disse com um falso ar de ofensa. “Isso lá é coisa de dizer a uma dama como eu?”

Cecilia começara a gargalhar, deixando Thomas vermelho. “Me desculpe... Não queria ofendê-la,” ele gaguejou, encarando o chão procurando, agora, onde esconder-se. 

A loira revirou os olhos, apesar do mais velho não tê-lo visto, colocando uma de suas mãos em seu ombro, murmurando: “Você é o único amigo que tenho,” e puxando-o para trás, para que ele se encostasse ao banco, ficando de igual para igual com ela. “Não precisa pedir desculpas por uma brincadeira ou outra, querido,” finalizou, olhando para o céu.

Thomas suspirou, afundando-se em seus pensamentos sobre a garota. Não, não poderia estar apaixonado por Cecilia - apaixonar-se era algo bem maior do que ele e... Bom, um tanto exagerado, certo? Fazia tempo que ele não via a amiga e talvez estivesse com saudades da presença espaçosa e marcante da loira e... Céus! Quem ele queria enganar? Desde que seu pai avisara-o da festa que fariam, Tom começara ficar nervoso (à princípio achou o sentimento estranho, nunca tinha sentido isso por nada ou ninguém ou alguma coisa), e logo depois que o Sr. Riddle dissera a ele que os amigos de Great Hangleton viriam, sua cabeça praticamente explodiu.

“Tom?” Cecilia perguntou, aumentando o volume de sua voz gradualmente, tentando trazer o amigo à tona. “Está tudo bem?”

Este piscou algumas vezes antes de respondê-la. “O que houve?” perguntou num tom vocal mais delicado possível.

“Perguntei se conhecia Cassiopeia, nada demais.”

Riddle riu, e em seguida perguntou: “A rainha ou a constelação?”.

Cecilia assustou-se. “Tem uma constelação?”

“Olhe para o céu,” ele murmurou, apontando um ‘w’ que se formava na imensidade estelar. “Aquela é Cassiopeia.”

“Parece um trono de cabeça virada,” a mais nova soltou, inconscientemente.

“Tem muito a ver com a mitologia de Cassiopeia,” Tom respondeu. “Era uma rainha vaidosa e arrogante, nada mais justo que os deuses a presentearem com um trono, não acha?”

Cecilia voltou os olhos para terra, encarando Tom por alguns segundos. “Um presente?” ela perguntou, parando por alguns segundos, não deixando que o outro sequer balbuciasse resposta. “Permitindo a destruição Cepheus e oferecendo Andromeda como sacrifício? Eu realmente acho que os deuses não foram bons com Cassiopeia,” completou, tornando a encarar a constelação.

Tom teve receio em rebater a opinião da amiga, que parecia tão ofendida com que o outro dissera. “Ela era arrogante, Cecilia,” ele murmurou, assumindo posição igual à dela, embora estivesse procurando Perseus. “E vaidosa.”.

Wright sentiu suas maçãs começarem a arder, mas por muito pouco. “Isso foi uma indireta, Sr. Riddle?”

“Claro que não, Cecilia,” respondeu, franzindo o cenho e agora, encarando o chão. Ela era tão aberta, tão... Livre. E essa era uma das coisas que Thomas mais admirava na loira: a liberdade.

“Acho que somos realmente bastante parecidas...” disse. “O que liga Merope à Cassiopeia?”

O moreno parou por alguns segundos, observando de relance Cecilia encarando as estrelas, contando-as com alguns movimentos na boca e gestos quase imperceptíveis com o indicador. Merope era a plêiade que negara a si mesma por amor - um amor viciante que lhe rendera apenas um fruto -, diferentemente de Cassiopeia, uma rainha que valorizara a si mesma em negação aos outros. Contudo, não tinham nada em comum: Merope era uma estrela errante e Cassiopeia era narcisista.

“Eu não gosto de Merope,” Cecilia murmurou.

“Por quê?” Thomas perguntou, “Merope aparenta ser uma boa plêiade... Negar tudo por amor.”.

“Era uma obsessão, Tom, disso não tenho dúvidas,” a outra rebateu. “Não encontrou nada que liguem as duas?”

O maior balançou a cabeça negativamente, voltando-se para ela, e viu que esta também já parara de encarar os astros para continuar a conversa com o amigo. “Não.”

“Você já ouviu alguém dizer que Sisyphus amava Merope?”

Riddle ficara sem saber o que responder. “Ele não amava Merope simplesmente porque ele era medroso,” ela continuou. “Ele tinha medo de morrer, e, talvez, tenha encontrado, como mortal, uma forma de ofendê-los conseguindo o que eles tinham por ser inteligente.”

“Suas teorias...” Thomas começou, quase sem perceber o que estava falando. “São fascinantes.”

Cecilia soltou uma gargalhada rápida e baixinha. “Você ainda não me respondeu, sir.”

Tom colocou as mãos suadas e frias sobre os joelhos, pensando numa resposta, qualquer que fosse ela, para dar-lhe. “A ligação entre Merope e Cassiopeia...” ele murmurou. “Estamos falando de uma plêiade e uma mortal, Cecilia, não vejo ligação.”

Wright não conseguiu esconder a expressão descontente que fez, mas soube contorna-la. “Pense, Felix.”

E ele estava o fazendo. “Eu...” vasculhou por toda a sua mente qualquer resquício de coisa que as ligassem, nem que as divindades se viessem a debater-se uma com a outra, sequer que fosse qualquer mínima coisa que citasse Cassiopeia e Merope. “Sisyphus...?” murmurou, descontente com o resultado, voltando a olhar as estrelas e pronto para escutar o longo discurso da amiga juntamente com a resposta certa, que não deveria ser a sua.

“Você é incrível, Tom.” Ela murmurou sorrindo, mas tampouco o outro pudera vê-lo, pois a loira repousara seus lábios um tanto avermelhados sobre uma das bochechas de Tom, para em seguida rir, mais uma vez, e recostar-se no banco no quintal da casa dos Riddle, ao lado do moreno - que tinha o rosto vermelho -, conversando com as estrelas.

Sisyphus não parecia nem um pouco com nenhum Riddle, muito menos o Riddle mais jovem, mas era tão livre quanto Cassiopeia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

faz algum sentido? (e antes que me batam, título e capa foram ideias da aribh D:)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Cassiopeia E Sisyphus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.