Diary Of A Journalist escrita por Shorty Kate


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeira história aqui, sejam gentis! Primeiro capítulo é uma espécie de prólogo de introdução.



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Acordei e a primeira coisa que fiz foi olhar-me ao espelho. E ri-me. Tinha olheiras e os olhos encovados que só condiziam com os meus olhos castanhos-escuros. E o meu cabelo? Todo bagunçado. Eu parecia que tinha vindo de uma luta e não da cama! Pousei as mãos sobre a cómoda e observei-me melhor a mim e ao meu quarto. Ser como a maioria, seguir regras realmente não era comigo.

E tudo começava mesmo desde o dia em que nasci. O meu tetravô, Edward Martin, teve um filho, Logan, o meu bisavô. Também ele tivera um filho, David, meu avô. Ele, por sua vez tivera também um único filho, o meu pai, Michael. E o meu pai teve-me a mim…Kate. Estão a ver onde quero chegar? Kate Martin, a única mulher da linhagem dos Martin em quatro gerações.

Fui educada muito como rapaz. Brincava com rapazes, tinha educação rígida, regida por homens, mas nunca me queixei. Vivi em Liverpool até aos meus seis anos, apenas com os meus avós, depois os meus pais levaram-me de volta para o país de origem da minha mãe, Portugal. Queriam que eu fosse educada lá, que frequenta-se lá a escola, mas mal eles sabiam que já ia de Inglaterra ensinada. Tudo o que aprendi na vida foi com o meu avô. Ele ensinou-me a ser bilingue (Português e Inglês), ambidestra e partilhou comigo a sua maior paixão: a música. Aprendi a ler partituras e o meu avô orgulhava-se de dizer a todos quantos conhecia que a neta de cinco anos já dava uns toquezinhos na guitarra, no baixo, na bateria e no piano. É, digamos que, inconscientemente, ele me ensinou a ter ouvido absoluto. Ele dizia que as minhas mãozinhas eram talentosas. Ainda hoje o diz. Para além de tocar quatro instrumentos, adoro escrever e desenhar… E que pena tive de deixar os meus avós, e de deixar Liverpool.

Lembro-me dos primeiros dias de escola. As meninas a brincar todas juntas, os rapazes a jogar futebol, e eu sentada a ver todos, um bocadinho ansiosa por me juntar à rapaziada e esfolar os joelhos. A professora dizia que eu me sentava nos degraus, à espera de um rapazinho para vir brincar comigo. E dizia o nome dele, chamava-o na esperança de ele aparecer. Só nos recordo quando eramos miúdos, não sei que é feito dele agora. Eventualmente esqueci-me dele… E tudo ia bem até aos meus doze anos. A minha mãe morreu e bem, o meu pai agarrou-se a todas as garrafas que encontrava. Tinha-lhe medo porque ele levantava a mão contra mim. E o meu avô disse basta; levou-me de volta para Liverpool e desde então cá tenho vivido. Mas nunca pude ir espiar à casa do vizinho e encontrar o meu amiguinho já que os meus avôs tinham mudado de casa.

Agora estou prestes a completar vinte e um anos e não me considero uma senhorita como todas as outras. Odeio vestidos, cortesias por parte dos homens e odeio profundamente que me tentem controlar. Por isso me rio. Contam-se pelos dedos as mulheres que andam pelas ruas e que usem calças; orgulho-me se ser uma delas! Contam-se pelos dedos as mulheres jornalistas. E pensar que eu serei uma delas uma dia, se o chato e embirrento do Francis me desse crédito. O Francis é o diretor da redação. Pelas mãos dele passam todos os texto antes de serem publicados, e por mais que mais me esforce, ele simplesmente rejeita os meus. Às vezes nem chega a lê-los.

Respirei fundo quando a imagem dele me veio à cabeça. A vontade que tenho de lhe dar um murro em cheio no nariz fez-me partir o espelho, atirando contra ele a escova. E lá veio a minha avó a correr escadas acima, abrindo a porta abruptamente:

-Que se passa aqui?

-Nada vó. – Eu disse, já abrindo o armário e tirando a roupa para vestir. – Fica descansada.

-Meu Deus, - Ela olhou o espelho. – porque é que partiste o espelho?

-Não foi nada, a sério. O vô?

-Já saiu para a loja. – Mas ela não ignorou o assunto por mais que eu tentasse. – Kate? O que aconteceu?

Por mais rude que tenha parecido, fechei-lhe a porta. Não estava com a mínima disposição para lhe explicar a minha infelicidade com o meu emprego, e o tom de voz dela já estava a subir consideravelmente. A discussão avizinhava-se se continuássemos.

Nem comi o pequeno-almoço. Apenas pus a mala ao ombro e saí para a loja do meu avô. Ele vende e arranja instrumentos musicais. E sabia que lá encontraria alguma paz, até porque uma conversa com o meu avô sempre fizera maravilhas. Quando entrei ele estava atrás do balcão. Sentei-me sobre o vidro deste e inclinei-me, dando um beijo no meu avô.

-Estás com cara de caso, miúda. – Ele disse com um sorriso no canto do lábio. – Discussão com a Senhora Julia Martin?

Eu ri. – Não. A discussão não chegou a acontecer. – Tirei a mala que me cruzava o peito e atirei-a para o chão. Não havia nada que se partisse; lá dentro só estavam os meus cadernos e as minhas canetas e lápis. - Mas o Francis começa a tirar-me do sério logo pela manhã! – Eu ri-me outra vez; desta vez nada satisfeita. A minha vontade era de chorar e destruir tudo quanto pudesse até acalmar a raiva.

-Mocinha… - O meu avô leu-me as expressões. Ele puxou-me para um abraço e eu funguei, tentando evitar as lágrimas.

-Avô, ensinaste-me tudo quanto sei. Dizias que era tão talentosa, e olha-me agora. Sou uma falhada!

-Hei, hei, hei, nada de repetir essas coisas, ouviste? – Ele disse firmemente, apontando-me o dedo. – Nada de repetir isso. O Francis é que é um asno de primeira. – Ele depois chegou-se mais perto e sussurrou. – Mas nisso sai ao pai! Se ele quer uma história fantástica tua, ele vai tê-la!

-Na verdade, ele só quer os exclusivos. Ele só quer aquilo que mais ninguém terá.

O meu avô já estava de telefone na mão, e riu ao dizer-me. – Ainda melhor. Garanto-te que ninguém terá a tua história. E garanto-te que o Francis até vai gatinhar e implorar para que a deixes publicar!

Eu dei de ombros. O meu avô podia ser assim misterioso. E na verdade, estava ali tão perto dele e não consegui perceber nada da conversa telefónica. Quando ele desligou, virou-se para mim e anunciou. – Faz as malas, Katie. Arranjei forma de teres um exclusivo.

-Sério? – Eu não cabia em mim de tão contente. Saltei do balcão e dei um abraço apertado no meu avô. – Obrigada, vô. Mil obrigados.

-De nada. Agora, casa! Temos de estar na estação pela uma da tarde.

Assim fiz. Corri para casa, literalmente corri, e desta vez não ignorei a minha avó. Fui até ela, dei-lhe um beijo de bom-dia e subi as escadas num ápice. Ela achou um pouco estranha a minha ação, mas ainda assim ofereceu-me o pequeno-almoço pelo qual passei e andei nem à uma hora. Atafulhei quanta roupa consegui para dentro da mala. Não sabia quanto tempo a viagem ia durar, mas sabia que a roupa era suficiente. Depois esperei ansiosamente pela uma hora.

Quando chegamos à estação, uma multidão continuava a aumentar no recinto, a maioria raparigas da minha idade. O meu avô virou-me face a face com ele e disse-me:

-O trabalho da tua vida está dentro daquele comboio. Aproveita.

-Dava jeito se me dissesses quem é a pessoa. Não sei, para a conseguir entrevistar e coisa do género! – Disse-lhe em tom sarcástico e brincalhão.

-Não te preocupes. Eu sei que vais dar conta do recado; não vai ser difícil descobrires. Além disso, sempre tiveste um fraquinho por rapazes de olhos verdes!

Eu corei, mesmo isso sendo verdade. Mas, o que é que isso tinha a ver com a situação atual? Daí eu olhar o meu avô de forma estranha. Ele empurrou-me para dentro do comboio sem mais explicações e colocou na minha mão uma palheta. A palheta com que sempre toquei, uma espécie de amuleto.

-Boa sorte, miúda. Deixa-me ainda mais orgulhoso.

Deixei de conseguir ouvir o meu avô já que as raparigas começaram com gritos histéricos. Eu só me enfiei dentro do comboio; não devia ser coisa boa que estaria por aí a vir. Acenei-lhe uma última vez ao passar pelas janelas. Ouvi um barulho imenso de pessoas a correr atrás de mim e acabei estatelada no chão.

-Peço imensa desculpa, senhorita. – Ouvi um rapaz dizer, apanhando a minha mala e agarrando-me pela mão.

-És sempre o mesmo trapalhão! – Outro disse e riu. A ele se juntaram outras duas vozes masculinas a rir. Enquanto me levantava com o auxílio do rapaz, o comboio entrou em movimento.

-Oh, não faz mal. – Mas aquela voz. Não…não podia ser. Não podia. Eu já não o via há uns quinze anos, ele não podia soar tão igual como dantes. - Não me magoei.- E foi quando o olhei. Os olhos verdes dele e os meus castanhos cruzaram-se. A minha boca abriu-se em êxtase e fiquei muda.

-Katie? – Apenas ele falou. Sim, o meu entrevistado era ele. O meu amigo de infância. E quando levantei os olhos aos outros três rapazes, não queria quer. Quais eram as chances?   


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Notas finais do capítulo

Só continuarei se valer a pena, assim, comentem que não custa! Além disso tentei deixar a história neste ponto, para ver se fica empolgante.
P.S: Por norma sou rápida a fazer updates...se for o caso para esta história.



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