A Ilha De Ivy, Parte I - Os 4 Frascos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 6
O machado


Notas iniciais do capítulo

Eu realmente estou muito chateado. Fiz esse capítulo praticamente todo e o Word um belo dia o corrompeu. Tentei fazê-lo de novo, mas não saiu tão legal quanto eu esperava. Não sei se já falei, mas no capítulo dois eu inseri alguns hiperlinks. Os desenhos são meus, mas ainda não vou mostrar todos os personagens - quero que vocês imaginem mais. O capítulo está relativamente pequeno (acho que vou editar) e meio bobo, mas espero que gostem. Se não gostar, tudo bem.



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Patrick girou a maçaneta bem polida. A fantasia de lêmure coçava. A porta precisava de um pouco de óleo, já que rangia bastante. Estava tudo escuro. Tentou até reclamar com Lorde Edwin, mas ele estava um pouco ocupado. Entrou. A porta trancou-se imediatamente e ele ficou no breu.

-Ah droga, não tem nenhuma lâmpada aqui? – começou tatear a porta e as paredes, aparentemente de pedra, quando atrás dele surgiram duas luzes verdes. Em um lugar com um rio verde, pessoas com cérebros colossais e com Katrina passando mais de três horas com ele, aquilo não poderia ser nada normal. – Quem é? – Patrick virou-se devagar, esperando o pior – Por favor, não me machuque! – fechou os olhos.

Quando abriu, havia apenas duas luminárias em cada lado da parede. Algumas libélulas zanzavam em volta das duas pedras brilhantes que emanavam uma luz verde quase neon. Duas outras luminárias acenderam-se e as anteriores apagavam-se gradualmente. Patrick decidiu seguir.

Será que era verdade o que o lorde com o braço engessado havia dito? Que Patrick era um Dominador? Se isso fosse verdade seria muito “uau!”. Imagine, ele matando monstros e ladrões, recuperando frascos e quem sabe, encontrando uma namorada.

Certo,  quem ele estava tentando enganar? Patrick era gordo. Gordos não fazem nada além de correr trinta metros antes de caírem no chão como um saco de areia, comer batatinhas e vestir fantasias de lêmure. Marjorie conseguiria recuperar frascos. Katrina até que poderia dar algumas piruetas e derrotar ladrões enquanto Halley matava monstros. Mas o que ele poderia fazer? Ficar dançando e gritando “Vai Lêmures!”?

Talvez sejam culpa dos bolos de chocolate e nozes que sua mãe fazia. E também de seu pai, que sempre pedia uma pizza tamanho família de bacon e queijo parmesão para duas pessoas, já que mamãe não gostava de pizza. Patrick sentia vontade de fazer jus ao nome “tamanho família” da pizza, dividindo-a com tios, primos e outros parentes. Mas sua mãe dizia que seus avós e tios moravam na Pensilvânia, e era muito caro comprar passagens para lá.

O túnel de pedra havia acabado. Patrick agora estava de frente com uma porta de madeira e um interfone... também de madeira. Ele tocou no botão e ouviu um barulho de chamada de dentro do cômodo.

-Alô? – chamou ele.

-Sim, quem fala? – uma voz feminina falou do outro lado.

-Sou Patrick Stone. Lorde Edwin disse que você poderia me ajudar. Ele também disse que eu sou um... um Dominador.

-Pela Árvore-Mãe! Não pode ser verdade! Entre, garoto, entre!

A porta destravou. Patrick pegou a cauda de lêmure. Na sala predominava o marrom em seus diversos tons e o verde, além do cheiro de canela. Estava tudo embaçado, já que ele havia esquecido seus óculos na cabine. Então algo o cutucou na perna, fazendo-o olhar para baixo. Alguém – muito baixinho por sinal – estava oferecendo um par de óculos para Patrick. Ele os colocou. Agora enxergava tudo nitidamente.

-Você encontrará nestes óculos várias funções: visão noturna, sensor de calor, visão microscópica e muito mais, que só esses aparatos tecnológicos de hoje têm. Eu lhe diria mais se não tivesse perdido o manual, mas sei que ele está por aqui...

Patrick girou um botão ao lado dos óculos, ajustando o grau necessário para enxergar – dois e meio. Então pôde ver melhor a sala: o chão era de terra batida, provavelmente conservado assim para combinar com o resto da sala. Várias máscaras africanas compridas eram postas nas paredes, algumas sorriam, outras tinham caras bravas. Havia um tapete persa estendido no chão, com franjas brancas. Uma mesa de madeira estava no canto da sala, com uma máquina de escrever bem conservada, além de uma resma de papel reciclado ao lado de uma caixa de lápis. Dos cantos da parede até o teto, onde o revestia completamente, cresciam ramos verdes com flores amarelas desconhecidas até então. Nelas, abelhas e borboletas coletavam o pólen.

Patrick olhou para quem havia lhe dado o presente. Era uma mulher bem, mas bem baixa, com menos de um metro de altura. Ela tinha traços indígenas, longos cabelos lisos e negros e usava um vestido simples cor de areia, além de joias feitas de sementes coloridas. Segurava um cajado de madeira com uma flor de lótus no topo. Mas o mais peculiar de sua aparência era a cicatriz que tinha próxima ao olho esquerdo: ela parecia com uma rachadura, como se fosse a de um solo seco, sem água.

-O-olá. Obrigado pelos óculos, eu estava realmente precisando.

-Ah querido, Srta. All me disse que você precisava. Sou Pholha, a xamã designada para treinar o Dominador, que no caso é você – ela deu um risinho, que revelou algumas rugas nas laterais do rosto. – Aliás, meu bem, qual seu nome mesmo?

-Eu me chamo Patrick Stone.

-Hm, Stone. Sobrenome sugestivo. Srta. All não me disse que você era um híbrido – disse ela tocando nos braços cinzentos de lêmure que revestiam Patrick.

-Não, isso aqui é uma fantasia apenas. Estava usando na escola – disse ele, despindo os braços de lêmure.

-Então vocês humanos costumam vestir-se de animais para ir à escola – sugeriu Pholha.

-Não, não. Hoje fui só eu. Mas seria engraçado ver Marjorie vestida de lontra – ele despiu o resto da roupa, revelando a camiseta branca e a cueca bege que usava. Suas bochechas ficaram vermelhas como romãs.

-Entre no biombo ali, querido. Lá estão roupas mais adequadas. – Pholha deu uma risada contida.

Patrick entrou na pequena cabine. A cortina era feita de retalhos de vários tons de verde. Ele esperava que não tivesse espelhos, já que seu corpo não é algo de que se tenha orgulho. Poderiam falar de seu ótimo boletim; seu ótimo comportamento e como ele era prestativo para carregar livros de Biologia, como a professora Zooey costumava comentar, mas não sobre seu corpo. Afinal, não é muito bonito de se ver um garoto de treze anos com “excesso de fofura”, como a própria mãe dizia. Patrick odiava os eufemismos dela.

Dentro do biombo havia três peças de roupa, além de uma cueca nova e um par de tênis laranjas. Eles não pareciam muito bonitos, mas sua sola verde parecia garantir conforto. Vestiu o bermudão verde escuro repleto de bolsos laranjas e desdobrou a camiseta de um verde mais claro. Enquanto isso ouvia Pholha andar, batendo seu cajado no chão. Ouviu o som de uma grade se abrir e ela saudar alguém. Uma outra voz feminina soou, também saudando-a. Esta parecia mais agitada, de uma mulher jovem e empolgada. A mulher perguntava para Pholha se o Dominador havia chegado. A senhora pareceu não ouvir a pergunta, mas contou animada sobre quem estava no biombo.

Faltava apenas mais uma peça de roupa: um colete marrom, com vários bolsos. Ele o vestiu atrapalhando-se um pouco, mas logo saiu da cabine.

-Ah, aí está ele, Sheyla! – Pholha pareceu mais contente, juntando as mãos – Deixe-me ajeitar você, Patrick.

Não havia nenhuma outra mulher além de Pholha na sala. Havia apenas um macaco prego sobre a mesa, checando alguns papéis. Ele da cintura para cima tinha pelagem loira; da cintura para baixo, mais os antebraços, predominava uma pelagem negra. Mas o mais estranho aconteceu: o macaco olhou para Patrick e uma voz soou dentro da sua cabeça.

-Olá, garoto. Sou Sheyla e Pholha me colocou para ficar de olho em você – o macaco pareceu sorrir após isso.

-Sheyla já deve ter falado com você. Ninguém consegue ouvi-la, a não ser o Dominador – Pholha, que havia pegado um cinto de tecido trançado, começou a passa-lo na calça de Patrick. Também alinhou os coletes e verificou se todos os bolsos estavam fechados

Assim que terminou, ficou parada olhando para cima, na direção do rosto de Patrick. Ela deu um largo sorriso, fechando seus olhos e deixando ainda mais evidentes as rugas nas laterais do rosto. Ela parecia uma... parecia uma avó. Uma avó que Patrick nunca tivera. Ele já ouvira falar que avós faziam coisas incríveis como fazer biscoitos e roupas. Não resistiu e curvou-se, abraçado a xamã.

-Oh querido, não tem o que agradecer. O Dominador da terra precisa de alguns agasalhos e essas coisas.

Ele levantou-se e fez o máximo para não chorar.

-E então, como eu estou?

-Está uma gracinha!

-Como um verdadeiro Dominador deve ser! – exclamou Pholha – Agora, querido, precisamos colocar em prática o seu poder de Dominador. Vamos lá. Você precisa primeiro conectar-se com a terra, fazendo-a seguir o seu pensamento. Além disso...

-Pholha – Patrick interrompeu, timidamente.

-Sim, querido.

-Preciso lhe contar algo.

-Fale, sou toda ouvidos.

-Eu já sei controlar a terra – disse ele, levitando um punhado de areia do chão.


Sim, era algo surpreendente. Dentre os quatro Dominadores, Patrick era o único que conhecia seus poderes antes de chegar à Ilha. E isso o fazia o mais experiente e o mais estranho dos quatro. Era um segredo só seu. Iniciou-se quando ele começou a colecionar vasos de plantas. Seu pai dizia que isso era perigoso, que as plantas poderiam roubar seu oxigênio à noite. Mas no apagar das luzes, ele começava a levitar os vasos de cerâmica e rodopiá-los pelo quarto como uma grande brincadeira. Seu maior medo era de que descobrissem sua esquisitice de controlar vasos e conversar com plantas. Não, elas nunca respondiam, mas ele sentia como se tivesse um elo entre ambos.

Patrick acordou de suas lembranças com Sheyla guinchando e batendo palmas.

-Isso, isso é incrível! A senhora já imaginou isso, dona Pholha? Meu menino é tão precoce!

-O-o que disse Sheyla? – perguntou Patrick.

-Ah, me desculpe por lhe chamar de “meu menino”. Eu, eu me empolguei. Mas não vai acontecer de novo, juro.

-Não tem problema. Eu gostei disso – ele sorriu.

-Ok, agora interrompendo a conversa dos dois, seja lá o que for – diz Pholha – Acho que algo você ainda não aprendeu: controlar plantas.

-Como assim?

-Espere, espere. Você será o único Dominador a lidar com seres vivos. Não irá controlá-las, assim como faz com terra; mas irá induzi-las a fazer o que você pede. Tome – Pholha entregou saquinhos com sementes de cores e formas diferentes. Patrick as colocou em bolsos diferentes do colete – Não me pergunte quais são, me esqueci quem é quem. Mas é só plantar algumas no solo e convencê-las a nascer, que elas farão o que você pedir. Vamos treinar. Aqui está uma semente de girassol. Tente convencê-la a nascer e a virar-se para mim. Faça isso mentalmente, como se estivesse conversando com elas – Pholha enterrou a semente no chão da sala.

-Certo vou tentar.

Olá, plantinha – começou Patrick. – Está um lindo dia hoje, sabia? Ah está sim. Que tal você ver o que está acontecendo aqui fora? – Um fio verde começou a sair do chão, junto com um botão amarelo. Aquilo parecia ridículo, mas funcionava. – Que bom que atendeu ao meu pedido! Agora cresça mais! Você consegue, eu sei disso! – O ramo verde agora era mais alto que Pholha. – Agora vamos ver o que você guarda aí. Desabroche, amiguinha! – A flor desabrochou em pétalas amarelas e um centro marrom. – Isso mesmo! Agora vire-se, olhe aquela senhora ali no chão.

De repente algo fugiu do controle. A planta pareceu rosnar para Pholha e seu objetivo visava fazer dela seu novo alimento. Mesmo assim, Pholha permaneceu confiante e imóvel.

Pare, plantinha – pediu Patrick, escondendo seu desespero – Pare, por favor – Ela agora envolvia Pholha como uma anaconda. Sheyla guinchava e pulava pela mesa, exasperada.

-Salve-a Patrick, faça alguma coisa! Veja se tem algo na gaveta em algum lugar!

Patrick verificou a mesinha de madeira e pegou um machado na primeira gaveta. Vendo que o girassol não o atendia, cortou seu caule, derrubando o corpo verde no chão.

-Sabia que seu instinto de Dominador iria agir. Vejo que descobriu sua arma antes de eu entregá-la para você – Pholha não tinha um rosto de quem estava prestes a morrer por causa de um girassol gigante – Isso serve para tanto para você se defender quanto usar como ferramenta.

-Uau, obrigado – Patrick olhou para o machado. Tinha cabo de madeira com uma alça de cipó verde e uma pedra cinza afiada na ponta.

-Só uma advertência: se for cortar uma árvore, agradeça a ela por oferecer seu corpo. Se alguém da Província da Terra, que inclui você, não fizer isso, o tronco automaticamente definha e seca quando cortado. Portanto, utilize seu machado com responsabilidade.

-Sim, sim. Vou usá-la direito e com responsabilidade. Me desculpe, girassol, por matar você. Tive que defender Pholha.

-Ah querido, quase ia me esquecendo! Aqui está sua mochila. Eu coloquei alguns sanduíches vegetais, cobertores, uma garrafa d’água e algumas roupas a mais – Pholha entregou uma grande mochila de acampamento marrom com bolsos verdes – Um herói também precisa dessas coisinhas.

-Certo, Pholha. Obrigado por tudo, de verdade. – disse Patrick, atando a alça do cipó do machado ao seu cinto.

-Faça uma boa missão, querido. Digo isso por toda a Província da Terra. Por toda a Ilha. Agora vão. Rápido. Sheyla, cuide do menino!

-Certo Pholha, ele não vai sair debaixo da minha vista!

-Então vamos – Patrick despediu-se uma última vez de Pholha e colocou a mochila.

Sheyla subiu em seu ombro esquerdo e os dois saíram pela porta da salinha. O caminho era o mesmo – menos assustador agora. Ele girou a maçaneta e a porta rangeu mais uma vez, revelando a sala de Edwin. Seus amigos também haviam acabado de sair de portas diferentes. Olhou para esquerda e viu Katrina, que não parecia mais uma líder de torcida. Depois olhou para Marjorie, que estava bem engraçada de azul. Patrick apalpou o cinto, vendo se ele não estava sonhando e ainda usava uma fantasia de lêmure, e a saliência afiada do machado comprovou: ele realmente era um Dominador.


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Notas finais do capítulo

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