A Ilha De Ivy, Parte I - Os 4 Frascos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 3
O acesso aos escritórios


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo tem algumas palavras a menos que o anterior, em compensação, ele tem mais ação e emoção! Espero que gostem!



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Há quanto tempo Patrick, Katrina, Marjorie e Halley estavam despencando rumo ao desconhecido? Quem estaria contando? Bom, eu contei. Agora marcam cinco minutos e trinta e sete segundos. Coincidentemente, Katrina está berrando há cinco minutos e trinta e sete segundos. Sem parar.

–SOCORRO! Eu vou morrer! Eu vou morrer!

–Ao menos nisso você está certa, Katrina – a voz de Marjorie soou mais amedrontada do que ela esperava.

– Meninas, por favor, – Patrick já estava sem a cabeça de lêmure. Seus óculos haviam caído no chão da cabine – já não acham que esse não é o momento certo para discussões?

–Nós estamos pra morrer! – Halley disse a ultima palavra de forma prolongada.

Não que eles tivessem tempo para observar, mas o túnel no qual estavam caindo era feito de pedra com uma cor alaranjada e tinha a forma circular, na qual cabia perfeitamente a cabine fotográfica. Parecia que ele tinha sido construído exatamente para eles.

De repente a cabine bateu em uma rocha e virou de cabeça para baixo. Todos caíram em cima de Patrick. E o processo repetia-se várias vezes, formando montinhos humanos.

Então a cabine caiu na água.

De acordo com os conhecimentos de Patrick, quando se cai de certa altura, o impacto com a água é o mesmo impacto com concreto. E a cabine na qual estavam era feita de vidro. Eles já deveriam estar em pedacinhos... mas não. Agora boiavam em uma espécie de rio subterrâneo, com a cabine virada de lado. O tal rio era verde e quente, e dele saia uma névoa. Mas não parecia sujo; era como se a cor que ele realmente deveria ter era essa: um verde claro. Katrina não entendia muito de ciência e física, mas a água já deveria estar entrando na cabine. E eles estavam lá, boiando, e o melhor de tudo era que seu cabelo ainda estava impecável. Ela viu uma luz.

–Olha lá, gente! Uma luz! – Katrina pulou por cima do ombro de Marjorie.

–Ai meu ombro! Sim, estamos vendo a tal luz.

A "tal luz" vinha de cima para baixo, como se houvesse um caminho de volta à escola. Era como uma “luz no fim do túnel”, só que vertical.

–Vocês também deveriam ver aquilo! – Halley apontou para um redemoinho dez metros a frente deles.

– SOCORRO! Nós vamos morrer! Nós vamos morrer! – agora Katrina e Marjorie gritavam juntas e se debatiam, tentando virar a cabine para o lado oposto. Tudo em vão

Logo, a cabine com os quatro adolescentes foi sugada pelo redemoinho. Eles giravam e giravam em uma espiral violenta, até que foram totalmente engolidos pelo rio verde. Demorou um tempo. Um tempo para refletir, para pensar nas últimas coisas a fazer, as últimas pessoas a qual olhar. Bom, Katrina não queria passar os últimos segundos da sua vida ao lado de Marjorie, nem Marjorie ao lado de Katrina. Mas Katrina tinha Halley e Marjorie tinha Patrick, o que valia a pena. Fecharam os olhos esperando a morte vir. O que ganharam foi uma forte corrente empurrando-os rumo a tal luz.

–Urru! Um gêiser! – Patrick levantou os braços de lêmure. A água de um gêiser deveria ser quente e ter derretido a parede da cabine. Mas eles já haviam caído de uma altura absurda e não se espatifaram, portanto quem se importaria com a física naquele momento?

A corrente de água parou e eles caíram mais uma vez em queda livre. Mas não viram nenhum vestígio do colégio McHudson. Ao invés disso, avistaram um céu azul e com nuvens e o mesmo rio verde abaixo deles A corrente de água parou e eles despencaram. Agora estavam sendo levados pela correnteza dentro de uma cabine fotográfica em um rio de duzentos metros de largura e uma medida de comprimento incalculável. Ficaram assim por mais uns vinte minutos até que avistaram uma bifurcação do rio verde. À esquerda um caminho com flores na beira do rio e árvores bem altas que projetavam uma sombra agradável. À direita, um túnel escuro de metal que seguia para o subterrâneo.

–E então gente? – perguntou Marjorie – vamos pela esquerda ou direita?

–Esquerda claro! – Responderam Patrick e Katrina em uníssono.

–Pessoal – interveio Halley – Nunca viram nos filmes que os lugares mais fofinhos e bonitos sempre são os traiçoeiros? Além do mais, onde há túnel de metal, há civilização.

–Nós não estamos em um filme! – retrucou Marjorie – nós vamos pela esquerda e pronto! A maioria decidiu, então vamos por aqui e...

–Não mesmo! – Halley jogou todo o peso do seu corpo para a direita até e eles entraram no túnel com paredes metálicas.

–Seu idiota! – gritou Marjorie – E se a tal civilização não for amistosa? Se morrermos será culpa sua!

A cabine bateu em uma placa solta e o vidro rachou pela primeira vez. Um vidro que sobreviveu a uma queda de centenas de metros e a água quente de um gêiser agora tinha rachado por conta de uma simples placa de metal.

–Ah não! Tá entrando água na cabine! – Marjorie tentava parar o vazamento com as mãos – Está satisfeito agora Halley Filhinho-do-Papai Johnson?

–Eu não sabia que a cabine iria bater, senhorita Segundo Lugar!

–Ah, cale-se e faça algo que preste!

Patrick tentou abrir a porta da cabine. Estava trancada. Ela começava a afundar mais e mais até que sobrou um espaço de quinze centímetros boiando, pelo qual os quatro jovens respiravam.

–Gente, foi uma aventura e tanto – despediu-se Patrick – Halley e Katrina, não foi muito o tempo no qual passei com vocês, mas gostei de conhecê-los.

–Não posso exatamente dizer o mesmo – disse Katrina, já não se importando com o fato de que o elástico que prendia seus cabelos loiros havia caído – Mas você não é tão chato, idiota e Zé-Ninguém como eu pensava.

–Pessoal, agradeçam ao Halley por nos colocar nessa situação – Marjorie sorriu.

–Será que até nos nossos últimos momentos de vida você vai implicar comigo?

–É, acho que sim. Porque foi você que glub glurb...

A cabine afundou por completo. Katrina parecia chorar. Patrick, com a fantasia de lêmure sem a cabeça, apertou fortemente a mão de Marjorie. Halley olhou para baixo, sentindo-se culpado. Eles já começavam a perder os sentidos. Katrina já estava fechando os olhos e Patrick já havia afrouxado um pouco o aperto de mão. Marjorie olhou para Halley com uma cara de “Me perdoe por ter culpado você por isso”, Halley devolveu com um olhar de “Me perdoe por ter virado a cabine para a direita”. Logo ele também fechou os olhos. Marjorie agora estava sozinha. Conseguia prender a respiração por mais tempo. Ela havia percebido que, apesar de estar sem óculos de natação, conseguia ver os colegas de turma e seu amigo nitidamente. Talvez fosse aquele maldito rio verde. E ela ia também cerrando os olhos, quando a cabine foi içada por um gancho gigante.


A água verde começava a vazar. A cabine estava na sua posição inicial, como se eles ainda fossem tirar mais uma foto para o anuário. Os sentidos de Marjorie, Halley e Patrick estavam voltando. Katrina ainda estava desacordada, mas já respirava. Uma cabeça de lêmure, um óculos, um pompom, um elástico, uma bola de basquete e um boné ainda flutuavam pelo chão. A cabine pousou em algo que parecia ser um alvo. Marjorie pôde observar diversos computadores de tela gigantesca espalhados por uma... caverna? Havia também vários tubos com uma gelatina verde que soltava bolhas. Pessoas com jalecos andavam de um lado para o outro. Talvez Halley não estivesse tão errado assim quanto ao assunto dos filmes. Então quem ela menos esperava apareceu.

–Então, meus criancinhas curtiram o viagem? – O Dr. Hanz sorriu. Ele estava acompanhado da Srta. Allison.

–Vocês! – Marjorie trincou os dentes e começou a bater no vidro da cabine – Quase nos mataram, sabia? A gente poderia ter morrido! E a Katrina está desacordada, ela pode estar morta e vocês são os culpados! Além do mais...

–Katrina Misty não está morta. – A Srta. All andou calmamente até a porta da cabine fotográfica – Está apenas se recuperando da grande absorção de água. Seus pulmões estão voltando a funcionar corretamente e ela deve acordar em três, dois...

Gasp! – Katrina tossiu, levantando-se em um pulo – Como a gente... Você! Eu me lembro de você trancando a gente nessa cabine e nos fazendo passar por essa enrascada! E eu já devo ter perdido a comemoração do jogo, que iria acontecer no final do horário!

–Ah, perdoe-me. Mas era o modo mais eficaz e rápido de vocês chegarem até aqui. E não se preocupem com as aulas perdidas. Aquela máquina que instalei na parede da sala vai congelar o tempo do planeta inteiro. – A “inspetora” deu uma risadinha – Quer dizer, sem notícias em jornal algum sobre uma escola em São Francisco que ficou... congelada.

–Isto é impossível! – protestou Patrick – Um aparelho do tamanho de um dicionário não poderia simplesmente paralisar o tempo de um planeta inteiro!

–Pode sim, se for o nossa aparelho desenvolvido por meu equipe de cientistas, seu gordinha com roupa de primata – O agora Dr. Hanz também deu um passo à frente. Nossa, seus braços eram realmente compridos! Quase chegavam ao chão. E suas perninhas curtas compensavam o tamanho dos membros superiores. Mas o que mais chamava a atenção era sua cabeça: seu cérebro deveria ser duas vezes maior do que o de um humano.

–Mas vamos para o que realmente nos interessa neste momento. – A Srta. Allison abriu a maçaneta da cabine rapidamente, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

–Mas como... – balbuciou Katrina

–Vamos! – A Srta. All ordenou.

Agora dava pra se perceber melhor o ambiente: mesmo com os equipamentos altamente desenvolvidos, as paredes do laboratório eram rochas negras, e do teto, pendiam centenas de estalactites. As demais pessoas da caverna-laboratório tinham cabeças proporcionais ao do Dr. Hanz. Ao menos os homens, de acordo com Katrina; as mulheres apenas queriam imitar o penteado de Amy Winehouse... até mesmo as loiras. Mas no fundo ela sabia que não. Elas também tinham uma cabeçorra.

Patrick estava simplesmente deslumbrado. Ele poderia passar horas e horas vendo cada projeto e assistindo a cada experiência. Mas a inspetora já chamava o grupo para a saída da caverna.

–Sei que devem estar se perguntando, sim eu sei. Aquele é o laboratório número quatro da micro-província Neuron, onde habitam pessoas especiais. Eles são diagnosticados com um excesso de massa cefálica assim que nascem, então alguns agentes da província vão até o Mundo Comum e comunicam aos pais de um internato famoso por educar crianças com o “problema” com mensalidade gratuita. Aí os progenitores entregam o recém-nascido, pensando estarem se livrando de um peso. Mas eles são criados para serem justamente o contrário. Suas capacidades mentais são tão grandes que Albert Einstein não é nada perto de qualquer um deles. Já as crianças que ficam com os pais, tendem a ter problemas mentais porque não são imediatamente supridas com conhecimento. É como se o estômago de vocês fosse duas vezes maior, e precisasse de duas vezes mais comida, só que sua necessidade não pôde ser saciada. Então ele morre de fome.

–E o que eles têm a ver com a gente? – perguntou Marjorie.

–Não muito, para ser franca. O laboratório quatro é destinado para o estudo do rio Kat, o que transportou vocês até aqui. Ele seguia apenas para o castelo da rainha, mas há apenas uns cinquenta anos atrás foi construído este desvio. Eles estudam as variações na água, os seres vivos existentes, entre outras coisas. Hoje nós pescamos vocês.

–Por que a gente? Vocês vão querer fazer algum estudo ou algo assim? – Halley choramingou.

–Não, não, Halley Johnson. – a inspetora riu – Conheço alguém que pode explicar melhor isto para vocês.

–Quem? – perguntou Patrick.

–O Lorde Edwin,futuro rei.


Eles estavam em um corredor com as paredes pintadas de amarelo do meio para cima e com pastilhas de azulejo branco do meio para baixo. O chão era revestido por um carpete marrom-claro. De quatro em quatro metros, um par de lâmpadas laterais, cada uma em uma parede, iluminava o caminho. Eles dobravam várias e várias vezes, o cenário sempre o mesmo. Até que encontraram uma porta de madeira com um leitor ao lado.Lia-se em cima: “ACESSO AOS ESCRITÓRIOS” A inspetora colocou o dedo indicador e levantou os óculos para apresentar o olho direito. A porta destravou-se.

 Encontraram uma sala bem grande, com um imenso lustre em cima. Tinha um papel de parede vermelho com alguns detalhes amarelos. No chão ainda permanecia o carpete marrom-claro. À frente, quatro portas, uma diferente da outra: Uma de metal,bem simples, com uma maçaneta de alça metálica também; Uma que mais parecia a porta de um submarino,um retângulo arredondado com uma rótula ao centro; e outra feita de madeira nobre em formato de U ao contrário, com uma maçaneta circular. Ainda tinha uma porta de elevador revestido de prata com detalhes dourados. Nenhuma das quatro combinava com a sala, nem com uma enorme mesa no lado direito. Nela havia um notbook preto e uma impressora da mesma cor. Havia também pilhas de papéis e um telefone ao lado. Um rapaz com cabelos loiros escuros estava sentado em uma poltrona de couro. Ele usava uma camiseta amarela, sem mangas, uma calça moletom roxa e estava com o braço engessado. No gesso haviam vários coraçõezinhos e recadinhos – nada apropriado para um atendente.

–Eles são todos seus – a Srta. Allison sorriu e saiu pela mesma porta que entrou. Os quatro esperaram ela fechar a porta. Então Halley começou perguntando.

–Bom dia... tarde... que seja! Qual dessas portas leva até o escritório do Lorde Edwin?

–A porta que vocês acabaram de passar. – o atendente piscou.

Você é lorde Edwin? – Katrina segurou uma risadinha – Você ao menos já completou vinte anos?

–Vocês esperavam um velho gordo e com trajes reais, certo? E sim, eu já completei vinte anos há um tempo atrás.

–A inspetora, secretária... não sei mais nem quem aquela mulher é! – Marjorie estressou-se – Bom, ela disse que você pode nos dizer o porquê de estarmos aqui.

–Sim. E vou explicar-lhes agora – o lorde espreguiçou-se na poltrona – Sentem-se – Ele apontou para quatro cadeiras em frente à mesa. – Há uma semana houve um roubo no palácio. E não um roubo qualquer. Eram os quatro frascos, que continham poderes sobre os quatro elementos primordiais. Os ladrões invadiram o salão do palácio, onde os frascos estavam extremamente protegidos. E na sua fuga em um redemoinho roxo, fizeram esta beleza aqui no meu braço – ele mostrou o braço engessado - O meu bebê... quero dizer, a rainha, está completamente desesperada. Pensamos em mandar nosso exército em busca dos ladrões, mas era uma tarefa muito grande até mesmo para um grupo de vinte homens.

–E você está insinuando que apenas quatro adolescentes vão conseguir? – Marjorie debochou.

–Espere eu concluir, Meredith. Então tivemos uma ideia até precipitada, mas que poderia funcionar: confiar na lenda dos Dominadores. Depois de dias de pesquisas atrás de linhagens e árvores genealógicas, descobrimos que eles estudavam na mesma escola, mas tinham treze e catorze anos. Como eu havia dito, era uma ideia precipitada, mas era a única forma de encontrar esses ladrões e recuperar os vidrinhos. Se eles conseguirem abrir os frascos e tomarem o conteúdo de cada um... estaremos em sérios problemas.

“Por sorte, a rainha, sempre prevenida, escondeu os aros que abrem cada frasco em cada província Elemental: Fogo, Água, Terra e Ar. Cabe a vocês, crianças, a tarefa de encontrar cada aro e os ladrões que roubaram os frascos, antes deles conseguirem achar outra forma de abri-los. Mas, antes, quero dirigir cada um à sala dos mestres, que ensinarão a vocês ao menos o básico para esta jornada, já que vocês não têm nenhum treinamento. Bom, de acordo com as nossas anotações... Halley Johnson, você vai para aquela primeira porta, no final da sala – Halley assentiu e dirigiu-se até a entrada – Marjorie Meredith...

–Sim.

–Dirija-se até a segunda porta. Patrick Stone, para a terceira porta. Katrina Misty, aguarde o elevador – Lorde Edwin ligou no telefone e pediu para que se abram as portas dos escritórios. Ficaram cinco segundos em silêncio. Todas as portas destrancaram-se de uma vez e o elevador de Katrina chegou.

Todos entraram ao mesmo tempo.



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Notas finais do capítulo

Os próximos capítulos serão bem menores, porque são mais pessoais, e se eu juntá-los em um só ele vai ficar grande demais. Vejo você nos reviews.



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