A escola era uma droga. Muita modinha, muita gente arrogante e os professores faziam cobranças e falavam sobre provas.

         Eu já estava cheio daquela rotina. Mal dormira noite passada. Meus olhos fechariam a qualquer minuto. Hoje estava menos tolerante do que em qualquer outro dia.

         - Ei! Acorda, Cal!

         Era Efros, meu velho amigo. E único. Pelo que se vê, eu não era o aluno exemplar. Detestava as tarefas de casa mais que tudo e recusava-me a estudar para os testes ridículos, mas estudava, enfim. Nota não é proporcional à inteligência. E me achava um acéfalo, de qualquer forma.

         Dormi um pouco a tarde, ao som dos Strokes. Mas é uma pena que nem seus maravilhosos “riffs” de guitarra tinham efeito sobre meu desgaste. Minha paciência com o mundo estava completamente esgotada. E no fim, não dormi mais que uma hora, mesmo precisando muito.

         Resumi meu dia a ler livros sobre os assuntos que me despertavam interesse. Coisas como Física, Lógica, Matemática. A biblioteca! É o único lugar onde o mundo parece não me incomodar. O único lugar onde o tempo parece não passar. O único lugar onde o cansaço não me alcança. Devo ser um tipo de acéfalo que gosta de pensar.

         O mundo das ciências exatas me fascina. A racionalidade gera em mim uma sensação indescritível, como a do poder. Não se descreve, só se sente.

         Mas aí chega a noite. A noite tão tentadora e curta. Ela me dá um pouco de medo. Não pelo escuro. É que os seres humanos são diurnos e a noite eles dormem. E infelizmente os seres humanos também sonham. A pergunta deve ser: “E o que tem demais nisso?”. Simplesmente eu não sou muito comum. Meus sonhos não são projeções de pensamentos aleatórios do cérebro humano. Sonho com coisas assustadoras que se repetem todas as noites e de onde não consigo sair. Meus sonhos são uma prisão com a chave na porta. É simplesmente acordar. Mas a sensação não é nada boa.

         Em algumas noites, cheguei a escutar algumas vozes falando sobre coisas do cotidiano, como se estivessem em outro plano. O plano da mente. Às vezes, posso escutar os pensamentos das pessoas mesmo sem querer. Mas somente na hora que me desligo do mundo material. Apenas quando minha mente está concentrada o suficiente para não realizar nenhuma outra tarefa.

         É justamente o que acontece quando estou dormindo. Como se minha mente estivesse interligada a todas as outras. E essa ligação vem de uma sala que chamo de Sala Escarlate. Uma sala que aparece em meus sonhos e de onde eu ouço as vozes.

         Mas hoje a noite será diferente. Eu vou enfrentar a Sala. Vou descobrir por que ela aparece em meus sonhos e o motivo de eu poder ouvir os pensamentos das outras pessoas. Se tudo isso é um jogo, vou jogar até perder. Ou ganhar... Quem sabe?