Me lembro de nem ao menos me arrumar direito. Na ultima coisa que estava pensando naquela manhã era na minha aparência.

Era sábado. Aquela semana parecia sem fim para mim, eu tinha que resolver aquilo, mas eu não tinha coragem de ao menos falar com ela.

Não demorou muito para que um impulso viesse de dentro de mim e me fizesse caminhar novamente até a casa da Jade. Tudo estava como naquela noite, os galhos das árvores cobertos pela neve, que ainda era pouca, o começo de Novembro era realmente lindo, aquele vento gelado que batia sobre o meu corpo me fazia imaginar se era realmente o tempo ou eu que estava sendo o responsável por toda aquela tremedeira.

Como assim? De repente, de um dia para o outro eu estava machucada por amar alguém como ela?

Ia bater na porta quando ouvi algo vindo da janela de seu quarto, poucas pessoas sabiam, mas Jade odiava trancar a janela, acho que tinha medo de algo ou alguém. Não tenho certeza.

Naquele momento pude ver uma lágrima derramando sobre os meus olhos, uma lágrima que parecia me queimar. Eu vi, pela primeira vez na minha vida,Jade West chorar.

Ela era como uma boneca ,feita totalmente de porcelana, uma porcelana que eu havia quebrado, e que nunca mais poderia ser concertada novamente.

– Por quê diabos você tem essa mania estúpida de vir atrás de mim Vega? - Ela me olhava de um modo irritado, e tentava secar as lágrimas sem que eu percebesse.

– A CULPA NÃO FOI MINHA PELO QUE ACONTECEU ! - Quando eu percebi ja estava falando alto demais pra me desculpar.

– MAS É CLARO QUE NÃO.. TORI VEGA JAMAIS FARIA MAL À ALGUÉM NÃO É?

– Foi você quem dormiu com ele .

– Continue acreditando nisso. Parabéns. Agora vá embora.

– Eu...Eu não vou embora.

– Sério? E porque não? Quer saber? EU NÃO ME IMPORTO , MORRA CONGELADA AÍ.

– Então você quer que eu vá embora porque está preocupada comigo no frio?

– Me poupe Vega.

– Ou você está esperando pelo Beck? Pode me dizer que eu vou embora .

– Se isso fizer com que você vá embora. Suma. - Ela deu de ombros e ameaçou fechar a janela.

– Você não dormiu com ele não é?

– Me parece bem interessada nisso não é?

– Jadelyn! - Ela ria de mim novamente daquele modo zombador.

– Quer saber MESMO Vega? Já que está tão interessada e esse seu ciúme é enorme, não se preocupe, eu não dormi com ninguém.

– Você dormiu comigo.

– Cala boca, eu nem toquei em você.

– Você me beijou! - Agora nós duas ríamos.

– Eu sei que você gostou.

– Eu não disse isso.

– Nem precisa dizer.

– Você chorou por mim, admita isso.

– NUNCA!

Eu não sei o que a Jade tinha que me fazia rir mesmo com toda aquela frieza dela. Ela fechou a janela na minha cara pelo menos umas duas vezes antes de finalmente me deixar entrar .

– Urgh, você parece um cachorro molhado Vega.

– Sério? Porque esse cachorro estava tentando entrar a algum tempo atrás quando ele ainda estava seco.

– Mas é claro que sim, ele quer abusar da minha bondade e da minha casa limpa. Quer dizer, casa que já esteve limpa. - Ela me olhava tentando fazer com que eu pegasse a indireta da casa molhada enquanto preparava um café que provavelmente me faria implorar por um copo.

– Jade...

– Não vou te dar café.

– Não é isso..

– Que foi? Vai querer saber se eu sou virgem também?

– Não era isso, mas..

– Cala a boca Vega .

– Sério , eu queria te dizer outra coisa...

– Então diga logo.

– Eu.. Não consigo...

– Ah qual é Vega, não me faça ir buscar a sua mãe antes que você chore.

– Eu acho que eu gosto de você.

– Você me ama.

– É, talvez..

– Admita.

– Eu não te amo.

– Isso aí, está quase lá, agora tire esse “Não“ .

– Não vou dar esse gostinho pra você.

– Será? - Ela colocou o café na mesa e se aproximou de mim. - Admita.

–N-não. - Eu senti ela me puxando cada vez mais perto dela enquanto meu coração acelerava novamente, como todos aqueles dias em que eu não pude falar com ela na escola, e quando eu dormi na casa dela.

Ela me beijou com toda delicadeza que eu jamais imaginei que ela tivesse.

– Pode dizer agora.

–Eu...eu te amo.

– Agora melhorou. - Ela me empurrou e pegou novamente seu café, eu demorei alguns segundos pra voltar ao meu estado normal.

–Hey Tori, venha aqui.

Eu pude perceber duas coisas naquele momento, a primeira era que pela primeira vez ela me chamou de Tori. E a segunda , bom, a segunda era que Jade West era definitivamente o ser mais incrível que ja passou pela Terra.

Aquele não parecia nem de longe ser um cômodo de sua casa. Era aberto, batia muito sol, e haviam brinquedos, brinquedos que não estavam quebrados, ou triturados, eram brinquedos guardados com todo cuidado em uma caixa fechada .

– Está vendo essa boneca? Eu ganhei ela do Beck quando tinha 9 anos. E quer saber porque eu a guardei? Naquele dia ele me disse “ Eu quero que você guarde essa boneca como se fosse um colar, tipo aqueles de casais que eles usam,e que, de alguma forma mantém eles unidos. E essa boneca vai estar aí quando eu não estiver. Quero que quando você não gostar mais de mim , ou a gente não se amar mais, você jogue ela fora.“ E sabe porque eu não joguei?

– Você ainda o ama.

– Eu aprendi que nunca se esquece alguém por completo. Nunca. No caso do Beck a boneca vai ser a unica parte dele que eu quero perto de mim, a metade do meu coração vai estar com ela.

– E a outra metade?

– Com você.

Depois daquele dia eu e a Jade somos um casal. Não daquele tipo de casal que você vê por aí nos filmes e nas horas iguais de um relógio. Me lembro perfeitamente bem da última mensagem que ela me mandou , e essa mensagem dizia “ 15:16 . Foda-se essa idiotice, eu ainda penso em você. “