Sexy Biology escrita por Flavia Horan Styles


Capítulo 19
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Sério véi to louca que vocês leiam uma parte da web KKKKKKKKKKKKKKKK mas tamo quase chegando lá.



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...
- Louis, eu tenho que ir.
- Ah, Maddie, só mais um pouquinho, vai.
Estávamos deitados no sofá da sala, após uma tarde bastante, erm, empolgante. O corpo de Louis estava sobre o meu, e suas mãos percorriam confortavelmente minhas coxas, quadris e cintura enquanto nos beijávamos. Já estávamos há um bom tempo ali, a ponto de deixá-lo “alegre” pela milésima vez no dia, mas eu realmente tinha que ir embora. Não que eu quisesse, por mim ficaria o resto da vida dando uns belos amassos em Louis, mas se eu não chegasse em casa logo, minha mãe ficaria desconfiada pela demora.
- Eu tô falando sério – reforcei, tentando me sentar enquanto minhas mãos empurravam inutilmente seu peito pra trás e ele beijava meu pescoço de um jeito provocante – Eu preciso ir embora.
Ele soltou um suspiro derrotado, apoiando a testa em meu ombro, e eu quase voltei atrás, se ele já não estivesse de pé no segundo seguinte.
- Só você mesmo, Maddison – ele resmungou, de pé na minha frente enquanto eu me sentava pra calçar meus tênis – Fica me atiçando e depois me dispensa? Não dá certo.
Olhei pra ele, mas meus olhos inevitavelmente se fixaram no volume que havia pelo caminho, mais especificamente em sua bermuda. Como eu já estava acostumada a vê-lo sem roupa, às vezes eu me esquecia de que aquilo podia chamar muita atenção quando ele estava vestido... E muito bem provocado, claro.
- Pelo amor de Deus, Tomlinson, hoje você não pode reclamar de carência – eu ri, voltando a amarrar meus cadarços com um sorriso divertido – Já liberamos endorfinas suficientes pra uma semana só nessa tarde.

- Engraçadinha – Louis falou, com a voz meio frustrada/irritada – Já vi que você realmente vai me deixar assim, então eu vou me conformar e buscar meus tênis.
- Pra que? – perguntei, quando o vi caminhar na direção de seu quarto – Vai me levar até lá embaixo hoje?
- Você acha mesmo que eu vou te deixar ir andando sozinha a essa hora? – ouvi sua voz exclamar lá de dentro, como se andar até a minha casa lá pelas 8 da noite fosse um absurdo – Eu vou te levar!
- Claro que não, Louis! – neguei, ficando de pé quando terminei de calçar meus tênis e seguindo-o depois – Nem pensar, é arriscado demais! Imagina se minha mãe ou alguém conhecido nos vê?
- Não acho que ninguém vá nos ver, mas se acontecer, o que tem de mais nisso? – ele disse enquanto calçava rapidamente os tênis, como se nossa relação fosse totalmente permitida – Um professor não pode dar uma carona pra uma aluna que encontrou totalmente por acaso na rua?
Revirei meus olhos, com um leve sorriso contrariado, e ele logo veio até mim com uma expressão esperta.
- Se você insiste... – murmurei, encarando-o com o olhar derrotado. Ele sempre me convencia, sempre me fazia ceder ao seu jeito seguro e despreocupado, e o pior, extremamente lindo.
- Sim, eu insisto – Louis retrucou, cerrando os olhos e franzindo rapidamente o nariz antes de me dar um beijo demorado. Os minutos foram passando (aliás, voando), a gente continuou se beijando, e assim que ele me prensou contra a parede do corredor, me dei conta de que aquilo estava durando demais e estava tomando um rumo que não devia tomar.
- Desculpa, eu me empolguei um pouquinho – ele sussurrou, abrindo devagar os olhos e me fazendo sorrir feito uma idiota quando eu o afastei pelo peito. Mesmo depois de quase dois meses juntos, ele ainda me fazia sorrir sem esforço.

- É, eu percebi, você tá que tá hoje – brinquei, lançando um breve olhar pro retorno do insistente volume em sua bermuda antes de dar as costas pra um Louis desconcertado – Vamos?
Descemos as escadas rapidamente, sem esquecer de nos despedirmos de Andy, e caminhamos até o carro de Louis, que estava estacionado bem em frente ao prédio. Rezando pra ninguém nos ver, entrei no carro pela porta do carona enquanto ele fazia o mesmo do outro lado, com um sorriso insistente de quem estava levando a namorada (ou sei lá o que eu era dele) pra casa pela primeira vez. Ele lançou um olhar de dúvida pra ignição do carro e subitamente começou a tatear os bolsos da bermuda, procurando alguma coisa.
- Droga – ele xingou, entortando a boca e desistindo de revirar seus bolsos – Esqueci a chave.
- Não acredito – falei, revirando os olhos e rindo de um jeito apreensivo por estar aparecendo com ele em público. Olhava pra todas as direções, preocupada com as poucas pessoas que passavam pela rua e o que elas poderiam pensar.
- Viu o que você faz comigo? Me deixa todo desconcentrado – ele murmurou, com sua típica cara brincalhona de insatisfação enquanto saía do carro – Já volto.
Assim que Louis sumiu pela portaria do prédio, eu me deixei escorregar no assento do carro, praticamente sumindo de vista. Apesar de ter olhado pra todos os lados possíveis e não ter visto quase ninguém na rua, eu não queria correr o risco de ser vista por gente demais, ou pelas pessoas erradas.
Encarando vagamente a barra de minha blusa, com a qual eu brincava com a mesma atenção, eu esperei, até ouvir leves batidas no vidro ao meu lado poucos segundos depois. Pulei de susto com o barulho repentino, e senti todo o sangue do meu corpo evaporar quando olhei na direção do som. Meu olhar se fixou nos olhos irritantemente verdes de Kelly Smithers do outro lado do vidro, que sorria pra mim com seu cinismo cotidiano. Não sei descrever o que se passava dentro de mim naquele momento, só sei que foi um dos piores sentimentos que eu já tive, como se tudo dentro de mim estivesse desmoronando. Ela não podia estar ali, ela não podia ter me visto, ela simplesmente não podia.
Quando eu pensei que ainda havia uma chance de driblar aquela situação, vi que havia uma meia dúzia de garotas igualmente patricinhas do outro lado da rua cochichando e rindo entre si enquanto nos observavam, algumas até fotografando a cena com a câmera de seus celulares caríssimos. Amigas dela, que também me conheciam de vista porque estudavam no mesmo colégio. Maravilha, eu realmente estava encurralada.
- Desce o vidro, quero falar com você – ouvi a voz de Kelly pedir, abafada pela porta fechada entre nós. Tentei me mexer ou fazer algo básico como respirar, mas não deu. Eu estava totalmente paralisada, dura de pavor. Ela era só fruto da minha imaginação. Só podia ser.
Levei alguns segundos assimilando a situação, e como Kelly continuou parada do meu lado e não sumiu como uma miragem normal, eu fiz a única coisa que podia fazer: abaixei o vidro, com o olhar trêmulo. Já era, ferrou tudo. Ela e suas amiguinhas iam mostrar fotos minhas no carro de Louis pra diretora, ela chamaria minha mãe e aí minha vida estava acabada. Já dava até pra me ver mudando de escola e sendo tachada de piranha pro resto da vida.

- Ora, ora, vejam só o que temos aqui – Kelly sorriu maleficamente, apoiando levemente um cotovelo no retrovisor do carro – Maddison Sherllock no carro de Louis Tomlinson... Por essa eu não esperava... Bom, talvez eu até já esperasse.
O grupinho de garotas a la Gossip Girl do outro lado da rua começou a rir, e eu senti meu sangue voltar às veias, concentrando-se especificamente em minhas bochechas e deixando-as insuportavelmente quentes, chegando até a confundir meus pensamentos.
- O que você quer? – gaguejei, meio tonta por causa da pressão enorme que eu sentia dentro da cabeça, que atendia pelo nome de pânico. Vi o sorriso de Kelly alargar, como se tivesse gostado da pergunta, e seu olhar maldoso se tornou ainda mais intenso.
- Amanhã eu vou dar uma festinha na minha casa – ela murmurou, aproximando mais um pouco seu rosto do meu para se fazer ouvir – Aparece lá e a gente conversa.

Ela voltou a se afastar, mexendo em sua bolsa, e de lá tirou um cartão em branco e uma caneta. Anotou rapidamente seu endereço no papel retangular e me deu.
- Se eu fosse você, não deixava de ir – ela disse, piscando maliciosamente pra mim enquanto se afastava e levava seu bandinho risonho consigo. Eu apenas a observei se afastar, gargalhando e vendo alguma coisa nos celulares das amigas, provavelmente fotos da minha cara horrorizada. Totalmente confusa e assustada, abaixei meu olhar pro cartão, onde a caligrafia redondinha de Kelly reluzia graças à tinta cintilante da caneta gel rosa dela. Eu precisava achar uma maneira de contornar aquela situação, e eu tinha cerca de 24h pra pensar numa boa proposta.
Olhei desanimadamente na direção do prédio de Louis, e o vi passar depressa pelo balcão e rir de alguma coisa com Andy. Rapidamente escondi o cartão de Kelly no bolso da calça, e assim que ele entrou no carro, forcei um sorrisinho simpático. Não queria que ele soubesse desse inconveniente, não por enquanto. Ele colocou a chave na ignição e me olhou, provavelmente notando meu jeito estranho. Não era preciso muito tempo de convivência comigo pra saber classificar meu estado de humor.

- Que foi, Maddie? – Louis murmurou, com a expressão e a voz levemente preocupada – Você tá branca feito papel.
- Não foi nada – respondi, balançando negativamente a cabeça e me esforçando ao máximo pra parecer normal – Eu só tô meio cansada... Acho que preciso dormir um pouco.
Ele continuou me encarando, com a testa franzida, e por um segundo pensei que ele não cairia na minha mentira. Mas tudo que Louis fez foi dar de ombros e arrancar com o carro, alheio a qualquer tipo de acontecimento perigoso. Como sempre.

- É aqui, mãe.
Encarei dolorosamente a enorme e iluminada casa de Kelly assim que mamãe parou o carro rente ao meio-fio. Eu estava com um vestido azul escuro xadrez que ia até os joelhos, meus All Star azuis acinzentados de tão gastos e uma discreta bolsa preta, vestida até demais pra uma festa na mansão dos Smithers. Casais sem roupa aprontando pelos jardins era rotina em suas festinhas particulares, disso todo mundo sabia.
- Qualquer coisa me liga que eu venho te buscar - ouvi mamãe dizer, ainda desacostumada à idéia de me ver numa festa como aquelas. Ela sabia exatamente que eu não gostava desse tipo de evento, mas concordou em me levar quando eu fingi estar socialmente interessada naquela festa.
Assenti devagar, tirando o cinto e saindo do carro. Caminhei determinadamente na direção da porta da casa, ouvindo os batimentos acelerados de meu coração apesar da música alta que se tornava cada vez mais ensurdecedora a cada passo. Eu sentia medo pulsando em minhas veias, um medo indescritível de toda aquela situação. Toquei a campainha quando meus pés afundaram no tapete de boas vindas da casa, e logo Kelly abriu a porta, revelando uma roupa totalmente promíscua. Assim que me viu, o mesmo sorrisinho maligno do dia anterior surgiu em seu rosto, e umas duas ou três garotas correram pra direções diferentes, provavelmente pra espalhar o boato de que Maddison Sherllock estava numa festa de Kelly Smithers. Torci pra que elas não saíssem contando o motivo da minha presença também.
- Você veio mesmo - Kelly sorriu, erguendo as sobrancelhas em tom de surpresa - Pensei que não teria coragem.
- Vamos logo com isso - murmurei, tentando não demonstrar a insegurança que urrava dentro de mim. Ela me deu passagem e eu entrei, sentindo instantaneamente o cheiro de cigarro, suor e álcool que dominava o ambiente. Muitas pessoas dançavam pelos cômodos, virando copos de bebida e passando as mãos onde bem entendessem nos corpos alheios. Com toda aquela gritaria bagunçando minha mente, eu podia jurar ter visto um olhar intrigado conhecido no meio de várias garotas quando meus olhos rapidamente percorreram o sofá da sala. Continuei seguindo Kelly até as escadas da casa, onde já se podia caminhar normalmente, e rapidamente subimos para o andar de cima. Ela abriu a porta de um dos quartos, interrompendo os amassos de um casal, e não precisamos dizer nada pra que eles se tocassem e saíssem.
- Como você percebeu, eu tenho uma festa animada pra aproveitar lá embaixo - Kelly sorriu, virando-se pra mim depois de fechar a porta do quarto atrás de nós - Então não vou demorar muito com você.

- Eu não pretendia passar muito tempo aqui mesmo - falei, sem emoção na voz, e ela ergueu uma sobrancelha, de um jeito que não me agradou muito.
- Ah, mas você vai - ela disse, cruzando os braços e sorrindo zombeteiramente da minha cara - Se realmente quiser manter seu caso com o sr. Tomlinson escondido, você ainda vai frequentar várias das minhas festinhas.
- Como é que é? - perguntei, rindo nervosamente com o olhar irritado fixo nela - O que exatamente você quer de mim, garota?
- Não vou pedir muito, vou até ser bem boazinha com você, só porque estudamos juntas desde que me conheço por gente - Kelly respondeu, como se estivesse fazendo um ato de caridade - Se você não quiser ver suas fotos no carro do sr. Tomlinson estampadas na primeira página do jornal da escola, terá que obedecer a duas condições. Ela fez uma pausa, só pra aproveitar mais um pouquinho a minha cara de enterro, e continuou:
- Primeiro, você vai ter que concordar em me fazer alguns favores de vez em quando, por exemplo, a minha lição de casa... E a das minhas amigas também, claro. Eu sei que isso é bem pouco perto da seriedade do seu segredinho, mas eu disse que ia ser boazinha.
- E a outra condição? - rosnei, tentando ignorar o fato de que teria de copiar no mínimo umas sete vezes as respostas gigantes dos exercícios do Hammings até achar um jeito de me livrar daquela chantagem barata. Kelly soltou um risinho satisfeito, apesar de seu olhar fulminante, e respondeu:
- Não ouse dirigir uma palavra ao Styles.

Franzi a testa em tom de desprezo, e não pude evitar uma risadinha baixa.
- Peraí, deixa eu ver se entendi - falei, segurando uma gargalhada - Você quer que eu faça a sua lição de casa e ignore o Styles em troca do seu silêncio?
Mais engraçada do que aquela situação toda foi a cara de tacho da Smithers, totalmente sem resposta diante do meu divertimento. Nem pra chantagear alguém ela prestava. Ignorar o Styles é algo que eu adoro fazer, só ela ainda não tinha se tocado disso. Provavelmente ela sabia da cisma dele comigo, e estava se aproveitando daquela situação pra me manter longe dele e garantir sua atenção só pra ela, coitadinha.
- Se quiser que eu piore, é só falar - ela resmungou, totalmente desmoralizada, e eu engoli o riso. O assunto era sério, apesar do fracasso de Kelly como chantagista.

- Não, eu aceito essas condições - assenti, colocando as mãos nos bolsos do vestido - Bom, se for só isso, eu já vou indo.
- Mas já? Pra que a pressa? - Kelly perguntou, franzindo a testa do seu jeito cínico sem tirar um sorrisinho de canto do rosto - Bebe alguma coisa, senta um pouquinho. As meninas têm várias perguntas pra te fazer.
- Perguntas? - repeti, sem entender - Sobre o que?
- Oras, conquistar o professor mais desejado e intocado da escola não é motivo de curiosidade? - ela sorriu, encostando-se na porta e me impedindo de sair. Que absurdo, meu Deus do céu. Aquilo só podia ser uma piada. Como ela e as amiguinhas conseguiam ser tão putas?
- Você já conseguiu o que queria, agora me deixa ir embora - rosnei, quase dando um soco na fuça dela.

- Acho que esqueci de te avisar que os favores que vai fazer pra mim começam hoje - ela disse, como se eu tivesse problemas mentais e só entendesse as palavras se fossem ditas numa velocidade mais lenta que a normal - E o primeiro deles é ficar até o fim da festa. Quero ver como você se sai num ambiente completamente diferente do qual você tá acostumada a ficar. Talvez não seja tão divertido pra você, mas aposto que vou adorar a experiência.
Pude ver minha cara de perplexidade refletida nos olhos brilhantes de malícia de Kelly, e soltei um suspiro derrotado ao pensar no que estava em jogo ali. Minha relação com Louis, minha felicidade estava em risco, era um segredo perigoso demais pra arriscar uma rebeldia contra as condições dela.

- Que seja - murmurei, evitando encará-la e ver a alegria maldosa em seu rosto. Kelly abriu a porta com um sorriso, finalmente me deixando sair, e eu a acompanhei até o andar de baixo, sem acreditar na cilada na qual eu tinha acabado de cair.
- A casa é sua, querida - Kelly disse, cínica, quando descemos o último degrau da grande escadaria de mármore - Fique à vontade... Se conseguir.
Soltei um suspiro fúnebre enquanto me encaminhava pra qualquer lugar daquela mansão, fazendo questão de seguir a direção oposta à de Kelly. Por onde eu passava, via pessoas conhecidas da escola, e as poucas ainda sóbrias demonstravam curiosidade por me ver naquele lugar. Encontrei um balcão onde um rapaz preparava alguns drinques, e resolvi ficar por lá, já que a meia dúzia de pessoas sentadas ali pareciam estar bêbadas demais pra sequer se mexer.

- Cerveja, por favor - rosnei ao barman, com a garganta coçando por álcool. Se era pra encarar aquele martírio, que algo me ajudasse a passar o tempo mais rápido. Não sei te dizer em quantas línguas diferentes eu xingava Kelly em pensamento por me manter presa naquela festa horrorosa. Ela sabia muito bem que eu não suportava ficar em lugares como aquele, e ainda me forçava a aturar aquele bando de gente que eu já odiava quando estavam lúcidos, e conseguia odiar mais ainda quando estavam bêbados.
O barman logo me entregou uma latinha de cerveja, cuja metade do conteúdo eu mandei garganta abaixo de uma vez só, sem hesitar. Sentindo o líquido gelado descer dentro de mim, voltei a observar a bagunça na qual aquela casa tinha se transformado. Nada parecia estar em seu lugar, ninguém parecia estar em seu juízo perfeito... A não ser aqueles olhos. Franzi a testa de leve, me perguntando se aquilo já era efeito da cerveja, mas era impossível com apenas um gole. Eu ainda podia senti-la descendo pela minha garganta, eu ainda me sentia lúcida o suficiente pra saber bem o que estava vendo. Aquilo era real, ele realmente estava ali, a poucos metros, me encarando como se soubesse que eu estava precisando de ajuda, como se soubesse que eu não estava ali por vontade própria. Seu olhar estava fincado no meu, extremamente sério, intrigado, preocupado. Havia muito mais coisas naqueles olhos do que eu podia descrever, me prendendo, me imobilizando, me retraindo.
Eu já devia imaginar que Harry Styles estaria naquela festa. Não sei por que fiquei tão surpresa, afinal, ele era praticamente fixo da Smithers, todas as garotas de seu bandinho sabiam que ele era quase uma propriedade dela. Mas parecia que naquela noite ele estava liberado de sua monogamia, porque três garotas o rodeavam, uma mais descoberta que a outra. Harry estava sentado num sofá perto de onde eu estava, com os braços abertos e apoiados no encosto do móvel, e tinha uma garota de cada lado seu, acariciando seu peito e sussurrando em seu ouvido com sorrisos pervertidos. Fora a terceira, que tinha uma perna de cada lado de seu quadril e estava sentada em seu colo, beijando-lhe indecentemente o pescoço. Mas apesar de tudo aquilo, era em mim que seu olhar repousava, como se tentasse descobrir o motivo de minha presença. Desviei meu olhar do dele, sentindo meu coração disparar. Não estava sendo nada agradável estar sendo observada daquele jeito tão invasivo por uma pessoa como ele, o que só aumentava minha vontade de cometer suicídio por estar ali. Dei mais um grande gole na minha cerveja, encarando qualquer ponto ao meu redor que estivesse distante dele, mas meus olhos se recusaram a me obedecer quando o professor Styles se livrou das três garotas que o provocavam e caminhou rapidamente na direção de Kelly, que passava por perto. Ele a segurou bruscamente pelo braço, de cara fechada, e disse algo em seu ouvido, pra que a música ensurdecedora não a impedisse de ouvi-lo. Afirmei pra mim mesma que aquela conversa tensa que se desenrolava entre os dois não podia ter a mínima relação comigo, mas ainda assim era impossível não observá-los. Pela repentina mudança de humor de Kelly, a conversa não estava sendo das melhores. Harry falava entusiasticamente em seu ouvido, gesticulando de leve com uma lata de cerveja nas mãos e com a testa constantemente franzida, e Kelly o respondia com incredulidade, com as mãos na cintura. Após um tempo de conversa, ela, que estava de costas pra mim, virou o rosto na minha direção e me lançou um olhar fuzilante. Harry simplesmente disse mais algumas palavras, mantendo a expressão séria, e se afastou rapidamente, encolhendo seus ombros largos para poder passar pela multidão desvairada. Desviei meu olhar do dela, engolindo depressa o resto da minha cerveja, já sem tanta certeza de que aquilo não era sobre mim. Os minutos foram se arrastando torturantemente, as cervejas foram descendo uma a uma, e uns quarenta minutos depois, eu já tinha perdido a conta de quantas latinhas tinha tomado. Tudo que eu sabia era que as coisas estavam meio confusas ao meu redor. As pessoas pareciam se mexer em flashes de imagens, e não mais continuamente, os sons se tornaram um pouco mais abafados, mas apesar dos sintomas de embriaguez, eu me sentia lúcida o suficiente pra ouvir os urros de depressão que ainda vinham de dentro de mim por ter que estar ali. Tomei um gole da cerveja que tinha pedido, mas aquilo era como água pra mim agora, descia pela minha garganta sem fazer a menor diferença. Só aquilo de álcool não estava bastando pra abafar minha frustração.Resolvi me levantar, com uma leve vertigem, e caminhei vagarosamente pelas pessoas, tentando não deixar que a música abafada por um zunido estranho em meu ouvido estourasse meus tímpanos. Não demorou muito e eu encontrei uma grande passagem para outro cômodo bem mais vazio e silencioso: a cozinha. Pouquíssimas pessoas estavam ali, bebendo tequila com limão numa rodinha, entre elas um menino de olhos verdes faiscantes e cabelos compridos queimados de sol. Assim que avancei na direção de um armário, em busca de alguma bebida mais forte, notei que seus olhos me acompanharam, brilhando de interesse. Bem que minha mãe dizia que aquele vestido caía bem em mim.
Soltei um suspiro frustrado ao ver que naquele armário só havia louças, e enquanto fechava suas portas, pensando no que fazer, senti alguém se aproximar de mim, trazendo um cheiro de praia consigo. Sorri disfarçadamente e me virei na direção da pessoa, dando de cara com aquele mesmo menino.

- Tá procurando bebida? - ele perguntou, com um sorriso galanteador nos lábios, e eu assenti devagar, me perdendo sem querer naquele verde intenso - Se gostar de tequila, pode beber com a gente.
Com um leve aceno de cabeça que fez sua franja bagunçada se mexer, ele indicou o grupo de amigos, todos meninos e igualmente bronzeados. Ergui as sobrancelhas, e por fim assenti novamente. Tudo pela tequila, e não porque o garoto de olhos verdes tinha um cheiro gostoso de protetor solar.
Senti o garoto me puxar pela mão até seus amigos, e sem nem fazer questão de apresentá-los, me estendeu uma dose de tequila e um gomo de limão. Nunca tinha tomado aquilo na vida, mas me esforcei ao máximo pra parecer experiente. Espremi o limão em meu pulso, e sem demora virei o copinho de bebida, sugando o líquido amargo em minha pele logo em seguida. Com os olhos fortemente fechados, senti aquela coisa arder e queimar dentro de mim, arranhando tudo por onde passava e formando lágrimas em meus olhos. Pelo menos o forte efeito da tequila me manteria entretida por mais algum tempo, ainda mais quando acompanhada de um par de belos olhos esmeralda.

- Mais uma pra garota aqui, Jimmy - ouvi o menino pedir a um de seus amigos, quando abri os olhos e vi tudo embaçado ao meu redor. O garoto sorriu pra mim antes de tomar sua dose, e sem querer eu também estava sorrindo, com mais um copinho cheio de tequila numa mão e um gomo de limão na outra.
De repente eu me sentia leve. As coisas já não me preocupavam mais, a pesada responsabilidade sobre minhas costas tinha evaporado, e eu já nem me lembrava da razão de estar naquela casa. Ninguém existia mais, só eu e os garotos estranhos que riam alto e falavam besteiras ao meu lado. De repente tudo era extremamente engraçado, de repente eu me vi rindo de qualquer coisa, mesmo quando não havia motivo pra rir, com uma mão insistentemente apoiada no braço do garoto de olhos verdes, que eu descobri que se chamava Paul. E desse mesmo jeito repentino, estávamos nós dois sozinhos na cozinha: eu sentada sobre a bancada da pia, e ele em pé ao meu lado, segurando vacilantemente a garrafa de tequila quase vazia entre seus dedos.

- Eu já não te conheço de algum lugar? - ouvi ele perguntar, com a voz arrastada, enquanto eu soltava mais uma de minhas risadas desconexas - Sério, eu acho que já te vi uma vez.
- Ah, é? - falei, erguendo uma sobrancelha sem tirar o sorriso débil do rosto e com a certeza inconsciente de que tinha bebido muito mais que o aconselhável - Onde?
Paul chegou mais perto, aproximando sua boca de meu ouvido, e respondeu num sussurro:
- Em algum dos meus sonhos.
Soltei uma gargalhada alta e mais lerda que o normal, demonstrando que eu ainda tinha senso do ridículo e não tinha deixado de achar graça de cantadas baratas.
- Então você deve estar sonhando agora, porque eu tenho certeza de que nunca te vi na vida, muito menos em sonho - respondi, com a voz levemente ácida de desprezo - Além do mais, eu sou comprometida.
- Com quem? - ele insistiu com um sorrisinho tonto, me segurando pelo braço com um pouco mais de força que o necessário quando eu fiz menção de me levantar - Quem sabe eu não conheço o sortudo?
- Tenho certeza de que você não o conhece - resmunguei, tentando me desvencilhar dele, sem muito sucesso devido à minha fraqueza provocada pelo álcool - Agora solta meu braço, tá me machucando.
- Relaxa, Maddison - Paul pediu, sem me soltar, e eu já estava começando a me sentir realmente incomodada com aquele contato físico indesejado - Tá com medo de que eu te force a fazer alguma coisa, é?

- Me solta, por favor, Paul - implorei, olhando firmemente em seus olhos verdes semi-abertos - Eu quero ir embora.
- Ir embora? Agora? Mas por quê? - ele perguntou, ficando na minha frente e fazendo pressão com seus quadris contra meus joelhos fechados pra se encaixar entre minhas pernas - Logo agora que a gente ia começar a se conhecer melhor.
- Eu tô falando sério, me deixa sair daqui - falei, com a voz séria e um pouco mais alta que o normal, e quando minhas mãos foram na direção de seus ombros para afastá-lo de mim, suas mãos agarraram meus pulsos, praticamente me imobilizando, e fazendo com que a garrafa que ele segurava se espatifasse no chão - Me solta!
- Pára de resistir, eu sei que você também quer - ele sussurrou, chegando com seu rosto cada vez mais perto do meu apesar do meu recuo - Seu namorado não precisa saber.
Paul soltou meus pulsos e num milésimo de segundo suas duas mãos envolviam minha nuca e me puxavam na direção dele, tornando um beijo cada vez mais inevitável. Fechei os olhos, empurrando-o inutilmente pelo peito, e foi então que eu me lembrei do ponto fraco dos homens, e de que ele estava perfeitamente ao alcance dos meus joelhos.
Sem pensar duas vezes, dei uma joelhada caprichada em seus “documentos”, imediatamente fazendo-o cair ajoelhado na minha frente. Desci da bancada e desesperadamente saí da cozinha, me afastando ao máximo daquele cômodo. Eu sabia que não devia ter bebido tanto, era sensível demais a álcool. Pensei em explicar minha situação à Kelly na intenção de conseguir ir embora, mas tinha certeza absoluta de que ela faria questão de me entregar numa bandeja a Paul assim que ficasse sabendo do acontecido. Cambaleando, acabei me trancando num cômodo do andar de cima, e por sorte escolhi a porta certa: a do banheiro. Me encarei no espelho, e soltei um suspiro tenso. Eu estava corada por causa do calor e da adrenalina, levemente suada e um pouco descabelada. Lavei o rosto calmamente com a água fria, ficando um pouco mais lúcida, e o enxuguei com a toalha de mão, pensando em um jeito de sair daquele inferno. Minha única saída era tentar convencer Kelly a me deixar ir embora, e determinada a fazer isso, respirei fundo e abri a porta do banheiro, dando de cara com um garoto curvado e com cara de dor que acabava de subir as escadas.
- Você! - Paul exclamou, andando depressa até mim com uma fúria repentina, e eu voltei pra dentro do banheiro na hora. Tentei fechar a porta, mas ele se lançou pesadamente contra ela, conseguindo entrar facilmente.
- Pelo amor de Deus, pára com isso, me deixa sair! - gritei, tremendo da cabeça aos pés enquanto ele avançava na minha direção.
- Agora você vai se ver comigo - ele rosnou, totalmente fora de si, e me prendeu violentamente contra a parede, forçando um beijo doloroso e segurando meus pulsos com força. Dessa vez eu realmente não tinha como me mexer, estava prensada entre seu corpo e o azulejo frio, e quanto mais eu me recusava a beijá-lo, mais ele insistia.
Mantive meus olhos arregalados, esperando que alguém passasse pelo corredor e ouvisse meus gritos abafados, e logo vi uma sombra passar, sem conseguir ver quem era. O grito fino que não encontrava espaço em minha boca saía pelo meu nariz, ainda mais alto agora que eu sabia que havia alguém ali, e me debati com mais energia, até que subitamente o corpo de Paul não estava mais ali. Em um segundo, ele tinha ido parar fora do banheiro, caído no chão com um baque surdo. Quando finalmente assimilei o que tinha acontecido, vi que havia alguém me puxando pela mão na direção do andar de baixo, e eu apenas segui, ofegante e apavorada demais pra tomar conta de mim mesma.
As imagens se passavam como fotos em minha mente: primeiro Kelly reclamando vigorosamente com a pessoa que me guiava, depois a porta da mansão dos Smithers se abrindo, a porta do carona de um carro que eu não conhecia aberta na minha frente, e por último eu sentada dentro desse mesmo carro, enquanto a pessoa que tinha me levado até lá entrava pela porta do motorista. Totalmente desnorteada, franzi a testa quando vi quem estava sentado do meu lado.

- Você está bem? - Harry perguntou, sem me olhar, enquanto colocava a chave na ignição. Não respondi nada, apenas continuei observando aquela cena. Eu ainda não acreditava que aquilo estava acontecendo, eu não acreditava que ele tinha realmente feito aquilo tudo, só podia ser invenção da minha cabeça. Não podia ser real, não fazia sentido ele ter me salvado.
- Maddison, você tá me ouvindo? - ele perguntou novamente, me encarando com firmeza. Por um segundo, tudo ficou ainda mais confuso quando aqueles olhos esverdeados se cravaram nos meus, mas depois as coisas pareceram voltar um pouco ao seu lugar, e eu consegui responder.
- Tô - murmurei, sentindo meu coração extremamente acelerado. Harry ficou alguns segundos em silêncio, apenas me encarando, e logo depois voltou a olhar pra frente, balançando negativamente a cabeça em tom de desaprovação.
- Você é doida de se meter num lugar desses - ele disse, cerrando os olhos por causa do farol alto de um carro que passou por nós - As festas da Kelly são mais perigosas do que parecem. Elas misturam as pessoas erradas e as desavisadas no mesmo ambiente, fazem com que os desencaixados logo achem uma confusão da qual não possam se livrar antes de se arrependerem.
Ele deu uma pausa, enquanto eu mantinha meus olhos bem abertos e fixos nele. Como se quisesse reforçar mais ainda seu aviso, Harry voltou a me encarar com uma conclusão:
- Aquela casa não é lugar pra você.
Sem esperar qualquer reação, ele arrancou com o carro, com a expressão fechada, e logo estávamos nos afastando rapidamente da mansão. Meus olhos teimavam em continuar presos a ele, tentando entender direito os últimos minutos. Por que ele tinha me livrado de Paul? Por que ele discutiu com Kelly antes de sairmos? E o principal...


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