Bento.

Aquele lago me trazia arrepios.

Há algum tempo eu e Tomás (filho do caseiro de uma fazenda vizinha) havíamos ido pescar. Mas estava muito quente.

Quente demais.

Arrancamos nossas camisas e pulamos dentro do lago.

Eu comecei a sentir umas cãibras, mas não disse nada. E depois vieo o enjôo e só então eu resolvi sair.

Mas eu estava longe da margem. E quando dei por mim, estava afundando.

Bolhas de ar dançavam acima da minha cabeça.

E eu vi o rosto da minha princesa.

Mas não contei isso para Kátia.

Ela estava tão linda... Com os cabelos molhados, a blusa ensopada e com aquelas meias imundas.

Pode pensar o que quiser, mas ela estava linda.

Cheguei perto e a beijei.

_Bento, é sério. Você não tem medo? Qeu alguém nos pegue... Ou pior, que eu não seja sua... sua princesa?

_Calma, princesa... Eu sei que o que estou fazendo é certo. Quando a gente espera muito por uma coisa, sabe que ela é boa.

Ela sorriu. Seus olhos diziam que ela confiava em mim.

Ela encostou a cabeça molhada em meu peito e eu a abraçei.

_Eu te amo.

Ela sorriu.

_É engraçado como a gente pode sentir algo tão forte em tão pouco tempo.

_Há muitas coisas engraçadas na vida. E com certeza, o amor é a mais engraçada de todas.

Ela não dizia nada. Ficava olhando pra mim, enquanto eu desmanchava sua trança.

_Ei! Eu demorei um tempão pra desembaraçar meu cabelo viu?

Eu ri.

Ri com vontade.

Era tão fácil estar com Kátia.

_Vem vindo alguém - eu disse.

_Não vá.

_Desculpe, não gosto muito desse sujeito.

Era aquele idiota do alpendre. O que ele queria com Kátia?

Eu havia aprendido que não conseguia controlar minha raiva, por isso achei melhor sair de perto.

Fiquei por ali. Não queria fazer feio perto da minha princesa.

Mas aquele rapaz era um idiota.

Como eu ousava ficar abraçado com a minha princesa?

Ele demorou uns 15 minutos e foi embora. Respirei um pouco e voltei para perto dela. Não queria que ela me visse com raiva.

_Não gosto dele - eu disse.

_Calma, Bento. Rentato e eu só somos bons amigos.

_Tudo bem. Mas eu ainda não gosto dele.

Ela olhou dentro dos meus olhos.

_Não seja tão ciumento!

_Não sou ciumento. Bem, sou sim. Mas tenho que cuidar de você! Eu eu também não gosto que ele fique... Encostando em você. Por favor, não contribua para meu ataque de ciúmes!

Ela tombou a cabeça e riu.

_Você não existe, Bento!

Não entendi muito bem aquilo, mas beijei o topo de sua cabeça.

Ela era minha. Minha princesa. Faria qualquer coisa para tê-la comigos, para vê-la em segurança e não suportava a ideia de Kátia pertencer a outro.

Renato ia pagar muito caro por sua ousadia!