As palavras daquela lauda saltavam-lhe aos olhos. Licença sem vencimentos. Será que entendera direito? Não podia ser verdade. Ele se recusava a acreditar. Aquilo tudo tinha de ser fruto da sua imaginação. Ela não ousaria fazer uma coisa dessas. Ou não? Ele não tinha certeza. Não! Ela não faria isso. Não ela. Não sua Sara. O que ele faria sem ela? O que faria se ela realmente fosse embora?

Sua cabeça começava a doer como sempre acontecia quando ele ficava preocupado com alguma coisa. E nesse exato momento ele tinha um forte pressentimento de que Sara o deixaria. Sentiu a boca ficar seca e o coração inquieto.

Era difícil para ele admitir seus sentimentos por ela. Nem ele mesmo conseguia entender o que acontecia consigo. Quando a chamou para vir a Vegas para ajudar-lhe como o caso da morte de Holly Gribbs, não imaginava que tudo o que sentira por ela há tempos atrás, voltaria com força total. Julgara  que já tivesse superado essa fase, mas pelo visto se enganara. O sentimento apenas estivera adormecido e agora despertava, levando com ele a paz de Grissom.

Por mais que sua mente tentasse mostrar que era errado o que sentia por ela, o seu coração suplicava para que ele lhe dissesse o quanto a amava, o quanto a desejava.  E por mais que tentasse reprimir a todo custo a paixão avassaladora que lhe consumia por dentro, ele não podia deixar de admitir o óbvio: ele a amava. Talvez desde a primeira vez que a vira.

Ele se assustava como Sara o deixava perturbado. Sempre que estava perto dela sentia a necessidade de aproximar-se, de sentir o seu cheiro, de dizer que a amava, e quando isso estava para acontecer ele a sempre acabava magoando-a, como fora no caso daquele turno. Sabia que não havia justo com ela.

O caso envolvia a investigação da causa da morte de um corpo que fora achado na fazenda de corpos. Ele não pertencia aquele lugar, já que todos os cadáveres que chegavam ali eram monitorados por cientistas. O corpo havia sido desovado. Logo na avaliação inicial percebeu-se que a vítima fora atingida por uma bala, porém não foi encontrado nenhum fragmento de projétil. No entanto, foi encontrado um verme que se aloja no intestino dos bovinos. Ele começou então uma experiência, para saber como o tal verme havia chegado no corpo. E foi justo nesse ponto que ele fora cruel com Sara. Ele pedira para que ela limpasse a mesa em que estava o experimento e se livrasse daquela carne mesmo ela sendo vegetariana. Como ele esquecera isso? Idiota!

 Ele era um idiota mesmo. Um perfeito idiota covarde. Porque não declarava logo o seu amor por Sara e acabava logo com todo esse sofrimento? Ele tinha a resposta. Ele estava ciente de que o envolvimento entre membros da mesma equipe era proibido. Além disso, ele era muito mais velho que ela: 16 anos! O que ele poderia oferecer a uma jovem linda que tinha um futuro brilhante pela frente? Nada! Ele não queria ser o responsável por estragar futuro profissional dela ou, o que era pior, ser o responsável por impedir que ela pudesse ser feliz com alguém que pudesse oferecer o que ela merecia. Quanto a ele? Ele tentaria aprender a ser feliz sem ela, embora soubesse que isso seria impossível. Como poderia ser feliz sem ela? Sem seu sorriso? Sem o seu perfume? Enfim, como poderia ser feliz sem Sara Sidle?

Recostou-se na cadeira de seu escritório, massageando suavemente as têmporas. Olhou mais uma vez para o papel que agora estava sobre a sua mesa. Precisava descobrir o que realmente aquilo significava. O seu coração já se martirizava, ante o simples pensamento de que sua suspeita pudesse provar-se verdade. Apenas uma pessoa era capaz de  dar-lhe aquela resposta. Apenas ela. Apenas Sara Sidle seria capaz de esclarecer a dúvida que o estava consumindo por dentro? E não tardaria a descobrir. Ela estava parada à porta.