If I Saw You In Heaven escrita por Blue Dammerung


Capítulo 2
Capítulo 2: The Middle.




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Would you hold my hand

If I saw you in Heaven?

Would you help me stand

If I saw you in Heaven?”

Alfred, o velho Alfred, acamado ainda naquele hospital, fitou sua neta, Elizabeth, que tinha os olhos brilhando como se a qualquer momento fosse começar a chorar.

-E assim, nos separamos.-Alfred disse, os olhos azuis perdidos em distantes e dolorosas memórias.

-Mas, vovô! E vocês não voltaram a se ver? Nunca mais? Você não foi atrás dele? Nenhuma vez?!-Ela perguntou quase desesperada, o tom de voz meio tremido.

Alfred sorriu, quase rindo, com certa tristeza.

-Minha querida Elizabeth... Não era tão simples assim. Se eu era orgulhoso, Arthut era três vezes mais. É claro que ele sentia minha falta, mas jamais diria isso. Jamais ligaria para mim para perguntar que horas eu chegaria em casa. E eu... Bem, eu era um completo idiota egoísta e egocêntrico. Achava que o mundo girava a minha volta, que eu sempre estava certo, que “desculpe” era uma palavra que só fracos diziam, além de que sempre estava rodeado por mulheres bonitas, bebidas, drogas, muito dinheiro... E eu não quis abrir mão de todos aqueles luxos materiais apenas por uma pessoa, entende? Mesmo que aquela pessoa fosse terrivelmente importante para mim.

-E o que aconteceu depois, vovô?

-Ah, isso fica para amanhã... Vá para casa, Elizabeth, e amanhã nós continuamos e você me traz um hamburguer, okay? Eu não aguento mais essa maldita comida de hospital, preciso de um McDonalds... E um chocolate. E batata-frita. E uma coca-cola bem gelada.

Elizabeth riu, colocando-se de pé a contragosto então. Sabia que seu avô insistiria para que ela fosse para casa mesmo que ela não quisesse, então melhor não discutir atoa.

-Pô, vovô Alffie!-A mais nova fingiu um riso, coçando os olhos ainda meio úmidos.-Tá, tudo bem, eu trago, mas tem certeza de que o senhor vai ficar bem? Eu posso ficar aqui, juro que não tem nada de importante em casa! Não quero deixar o senhor sozinho...

-Eu vou ficar bem!-Alfred sorriu.-Juro! Até porque as enfermeiras não me deixam fazer muita coisa mesmo.

-Pois... Eu volto amanhã... Okay, vovô? E eu quero saber como continua a história.

-Tudo bem, tudo bem... E mande um oi para o William também, seu namorado. E para sua mãe e para seu pai e para todo mundo, se puder.

Elizabeth sorriu e assentiu, pegando as coisas e deixando o quarto do avô, logo depois saindo do hospital. Jantou fora e encontrou William na ida para casa, e foram conversando até chegar no simples embora charmoso apartamento do jovem casal.

-E como seu avô está?-William perguntou quando já iam dormir.

-Ele não está bem, Will. É uma doença terminal, você sabe.-Ela suspirou, encolhendo-se debaixo das cobertas, o tom claramente abatido.-Ele vai morrer e nós não vamos poder fazer nada... Por isso eu não quero deixá-lo sozinho. É única coisa que posso fazer por ele.

-Entendo... Sinto muito.-O rapaz disse, embora sorrisse como se tentasse confortar Elizabeth.

-Não, está tudo bem, o vovô mesmo disse que tudo que vive um dia morre.-E enquanto falava, desligou a luz, ambos tentando dormir, e dormiram, até que no meio da madrugada o celular de Elizabeth disparou a tocar, sobressaltando-a enquanto atendia a ligação com a voz arrastada de sono.

-Alô...?

-Srta. Jones? Seu avô, Alfred F. Jones, sofreu um infarto e foi movido para a unidade de UTI. Precisamos da senhorita aqui para assinar alguns papeis e...

-M-Meu Deus, e-eu estou indo, já estou chegando aí, obrigada por ligar!-Elizabeth exclamou, exasperada, levantando-se de uma vez enquanto desligava o telefone, trocando de roupa rapidamente enquanto William acordava, meio confuso.

-Algo aconteceu...?

-O vovô, ele teve um infarto.-Ela explicou rapidamente, vestindo uma calça jeans, uma regata e um casaco, pegando a bolsa logo e se aproximando do namorado para lhe dar um rápido beijo na testa.-Eu preciso ir, mas qualquer coisa você me liga ok? Eu te amo.-E saiu tão apressada no quarto que não teve tempo de ouvir o rapaz dizendo que a amava também.

Dirigiu rapidamente pelas ruas escuras, e uma vez no hospital, foi logo atrás do avô, encontrando-o em outro quarto com uma das enfermeiras.

-O-Oi, eu sou Elizabeth Jones, a responsável pelo meu avô e... Ele está bem, não está? Ele vai ficar bem, certo?!-Perguntou, ainda exasperada, segurando as chaves do carro nas mãos com força.

A enfermeira deu um sorriso complacente.

-Ele está num quadro muito instável nesse momento. Não sabemos ao certo o que prever e seria melhor sempre haver alguém da família do lado dele, por precaução. Ah, há uns papeis que precisa assinar, estão na recepção.

-Ah, sim, sim...-Ela respondeu, olhando para o avô que dormia. As máquinas ainda faziam aqueles barulhos “assustadores”, quase como um mau agouro toda vez que um “bipe” soava. Acabou por ir logo na recepção, voltando ao quarto pouco depois apenas para se sentar na poltrona, sem tirar os olhos do avô.

Pegou-se ao lembrar das vezes que, numa tarde chata de domingo, Alfred sempre a levaria para caminhar na praia, e sempre daria um jeito de tornar tudo divertido. Eles tinham cachorros também, Spike e Rocket, dois daqueles goldens retriviers, que sairiam correndo na areia e voltariam completamente sujos. E Alfred só riria dos cachorros, e pegaria Elizabeth nos braços e a faria sentar sobre seus ombros, e ele correria com ela ali, quase como se estivessem voando. E quase todo final de semana eles fariam isso.

Até que:

“Mamãe vem me buscar?”

“Vem, my dear.”

“E o senhor, vovô?”

“Ah, eu ficarei bem... Ela precisa mais de você do que eu, hm? Seja uma boa menina e quando ela chegar, lhe dê um abraço bem forte.”

“M-Mas eu quero ficar com o senhor, vovô...”

“Liza... Tem coisas que precisamos fazer, mesmo que queiramos o contrário. E você vai me ver de novo nas férias!”

Só que depois daquilo, Elizabeth praticamente passou anos e anos sem ver o avô. Anne não queria a filha perto de Alfred, não importava o motivo, simplesmente não queria, e assim foi.

De qualquer forma, Elizabeth passou horas apenas olhando para o avô, quase pegando no sono, esperando que ele acordasse. Os sinais estavam mais estáveis, e se qualquer coisa acontecesse, as máquinas avisariam. Porém, ainda não tinha sequer amanhecido quando Alfred abriu os olhos.

-Vovô Alfred...?-Elizabeth chamou, baixinho, se aproximando da maca e fitando o mais velho, encontrando aquele olhar azulado tão parecido com o seu próprio, juntamente com um sorriso.

-Ah, Liza...-Alfred murmurou, fitando a neta.-Por que voltou tão cedo, hm?

-Vovô, o senhor teve um infarto! O senhor está bem?

-Ah, o de sempre... Você trouxe aquele chocolate que pedi?-Ele sorriu, meio brincalhão.

-Vovô, o senhor quase morreu e eu vim correndo para cá, é claro que não trouxe chocolate!-Ela exclamou, desabando sobre a poltrona, suspirando, mexendo nos cabelos.-Quem quase teve um infarto também fui eu...

-Mas eu não morri e nem você, certo?-Ele continuou a sorrir.-Você pode voltar para casa agora, meu bem.

-Não, vovô, eu vou ficar. Foi só eu me afastar do senhor por três minutos que alguma cosia aconteceu! Vou ficar e o senhor não vai conseguir me convencer do contrário!

Alfred voltou a sorrir de uma forma mais calma, já sabendo que realmente nada do que fosse dizer ia mudar a resolução da neta. Suspirou então, acomodando-se melhor na cama, os olhos meio cansados por detrás dos óculos.

-Pois bem... Prepare-se direito, e não se espante se eu passar a madrugada inteira acordado. Dormir virou um luxo para mim, mas já que está aqui, quer que eu continue a história?-Ele voltou a dar aquele sorriso mais animado, embora, lá no fundo, meio triste.

-Eu já perdi todo o sono, então sim, vovô Alffie.-A mais nova meio que se deitou de lado na poltrona, recolhendo as pernas, fitando o mais velho.

-Muito bem... Onde eu parei mesmo? Ah, sim, quando eu e Arthur nos separamos...

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“Depois de 'Terror Branco', eu fui chamado para atuar no 'Domador de Leões', na Austrália, e acabei morando alguns anos lá. O filme foi um sucesso, claro, e ganhei mais dinheiro do que parecia justo ganhar. Tive alguns casos com algumas atrizes e tudo o mais, e não fui feliz nem infeliz. Eu não lembrava muito bem de Arthur, ele estava meio que... Enterrado na minha mente, embora frequentemente eu sonhasse com aquela cena onde ele gritava alguma coisa e eu estava no avião, deixando Londres, e não pude ouvir o que ele dizia, e me via tentando descobrir o que ele tinha gritado com mais frequência ainda.

Mas os anos se passaram bem rápido até e, quando eu tinha 29 anos, seis anos depois, fui chamado à Londres para fazer uma propaganda. Me hospedei num hotel qualquer e durante as horas livres, eu ainda caminhava pela cidade, vendo as coisas que tinham mudado. Estava chovendo, fazia frio, e eu adoraria ter um cigarro na boca naquele momento, mas tinha parado de fumar durante minha estadia na Austrália.

Por acaso, eu acabei indo parar onde antes era a livraria de Arthur, e ela ainda estava lá, um tanto mudada, mas ainda de pé e funcionando perfeitamente. Passei quase uma hora olhando-a pelo lado de fora, a vitrine mostrando que ela estava lotada de fregueses ávidos por livros e mais livros, claro. Mas ainda assim, não havia sinal de Arthur lá dentro.

E fiquei apenas observando, até que um dos vendedores saiu e veio me cumprimentar, provavelmente me estranhando por eu ficar tanto tempo apenas olhando para a vitrine, ele então me perguntando se eu procurava por algo em especial. Eu perguntei por 'Sr. Kirkland', já que aquela era sua livraria.

O vendedor sorriu de leve, dizendo 'ah, você conhece o chefe? Ele está viajando, mas parece que volta amanhã. É um amigo? Familiar?'. Eu sorri, de repente pensando que talvez fosse melhor que Arthur não me visse. 'Não, eu sou apenas um conhecido, obrigado', e saí dali. Arthur deveria estar bem, deveria ter mudado, com outra vida, afinal, seis anos eram muita coisa.

Voltei para o hotel e lá passei a noite toda, e assim, algumas semanas se seguiram. Eu realmente achei que não fosse encontrar Arthur, até porque em Londres havia milhões de pessoas... Mas o destino sempre foi muito mau comigo, e eu já tinha começado a detestar aquela cidade (de novo). Foi quase um mês depois de eu chegar para fazer a propaganda, e na verdade, já estava planejando ir embora novamente.

Não estava chovendo daquela vez e foi total e puramente por acaso, porque eu estava lá há um mês e realmente acreditei que não fôssemos nos encontrar, e agora penso que deveria ser melhor mesmo que tivéssemos permanecidos separados. Mas enfim, como eu disse, não estava chovendo, mas também não fazia sol. Fazer sol em Londres era praticamente um milagre mesmo.

Eu estava andando na rua, indo comprar cigarros porque mesmo que tivesse parado de fumar na época, eu estava precisando de um naquele instante e foda-se o câncer de pulmão. Estava frio, eu estava de mau-humor pela estressante rotina das filmagens e precisava de uma válvula de escape naquele exato momento, então entrei numa daquelas lojas de conveniência e fui direto comprar o cigarro. O problema era que a atendente do balcão era novata no trabalho e demorava dois anos para passar um produto, e eu me irritei com ela. Ainda hoje penso se não fui rude demais, se eu tinha sido capaz de estragar a manhã dela, de tê-la feito ter um dia ruim, e sempre quis pedir desculpas porque, afinal, não era culpa dela.

Todos olharam quando eu simplesmente explodi com ela, chamando-a de inútil e abestada e imbecil, e na verdade, nem notava que todos assistiam a minha cena até que uma terceira pessoa se intrometeu, dizendo:

-Ei, você, pare de gritar com esta dama!

Ah, aquele tom de voz, aquele timbre enjoado e mandão e constantemente mau-humorado que estava enterrado tão fundo na minha mente. Inconfundível, realmente. Eu virei meu rosto, encontrando-o segurando meu braço como se eu fosse bater naquela moça, e enquanto ele notava que quem era o causador de toda aquela comoção era eu e empalidecia, eu fazia o mesmo.

-Alfred...?

-Arthur...

Ele me soltou então, de repente, deixando a loja no exato instante. Não sei o que me impulsionou, saudades talvez, afeição talvez, qualquer coisa, mas me vi correndo atrás dele, alcançando-o na altura da calçada, segurando seu braço enquanto ele voltava o olhar para mim, perturbado, confuso, sem saber como agir e seguindo apenas o instinto de todos os animais quando quer sair de uma situação desconfortável: Fugir. E para longe.

-Arthur, eu...-Eu tentei falar, mas naquele exato momento, naquele milésimo de segundo, eu percebi que ele sentira muito mais a minha falta do que eu, a dele. Ele me amava. Eu apenas sentia alguma coisa por ele. Foi injusto desde o começo, nossas autoestimas eram diferentes, nosso jeito de pensar, nossa carência era diferente, nós precisávamos em quantidades diferentes um do outro. Ele precisava de muito mais do que eu, não que não pudesse, mas que não quisesse dar. Eu não queria. Ele precisava, mas eu era estúpido o bastante para não querer o suficiente.

E mesmo assim, melhor, mas mesmo assim, mesmo sabendo de tudo isso, mesmo sabendo que provavelmente ele perdera noite inteiras chorando por minha causa quando em momento algum eu chorara por ele, naquele instante, eu sorri.

Sorri porque o quis perto de mim de novo, mesmo sendo totalmente egoísta da minha parte, mesmo sabendo que seria ele quem ia sair machucado daquela vez, e eu tive o que queria. Porque Arthur ainda me amava, e jamais me mandaria embora ou se afastaria de mim enquanto eu o quisesse por perto.

Eu abusei do amor dele da forma mais desleal possível.

-Arthur, que bom ver você.-Eu disse, a mão antes em seu braço subindo até seu ombro.-Como vai a vida?

-Bem.-Ele respondeu apenas, ainda um tanto abalado, desviando o olhar para o chão.-E você?

-Ah, o de sempre. Apressado também.

-Faz muito tempo que chegou a Londres?

-Algumas semanas, só. Vou viajar em três dias de volta para os Estados Unidos, visitar a família, sabe?

-Entendo...-Ele suspirou, encolhendo os ombros.

Devo acrescentar que Arthur, em momento algum, correu atrás de mim. Devo acrescentar e enfatizar que ele também nunca foi fraco. Não, ele foi, e para mim ainda é, a pessoa mais forte que já conheci. Ele nunca se desesperou, e se em algum momento eu fiz parecer que ele era dependente de mim ou era meu capacho, peço desculpas, porque ele não era e nunca foi. Arthur era adulto e independente, e discordava da maioria das minhas opiniões, o que fazia com que brigássemos com uma frequência incrível.

-Enfim, você... Como vai a loja?-Eu perguntei.

-Vai bem também. Muita coisa aconteceu.-Ele respondeu, me olhando nos olhos. Pude sentir a indireta com força, mas apenas assenti e sorri, colocando as mãos nos bolsos, as pessoas passando na calçada por nós de forma indiferente.

-Então, você...

-Não sabia que estava se concentrando em agredir atendentes agora.-Ele me cortou, costumeiramente ácido.

-Ah, aquilo... Acabei sem comprar meu cigarro. Passei duas horas esperando a toa... Você fugiu de mim por quê? Não queria me ver?-Perguntei, infantilmente querendo devolver a acidez.

-Não, eu...-Ele limpou a garganta e desviou o olhar. Depois do modo como tínhamos nos separado, eu sabia que não tinha o direito de fazer aquela pergunta, mas como eu disse, egoísmo era meu forte.-Eu só... Achei que não quisesse ser visto falando comigo. Ah, eu vi seu filme, aquele novo.

-E o que achou?

-Pode melhorar ainda.-Ele respondeu.

-Ah, sim.-Eu ri. Era aquele Arthur que eu conhecia, e pelo costume, eu sabia que aquilo significava que ele tinha gostado do filme.

-Eu preciso ir, Alfred. A loja me chama, você sabe. Nos vemos...

-Arthur, eu vou embora em três dias, você quer jantar alguma coisa hoje ou amanhã? Eu pago. É apenas para reviver os bons tempos, nada de...

-Compromissos? Eu sei que você não gosta desse tipo de coisa.-Ele disse, cruzando os braços. Ah, sim, eu também lembrava de Arthur com toda aquela acidez nas palavras, mas dei um sorriso amarelo, sem me abater.

-É, é isso mesmo. Então? O que acha?-Perguntei.

Ele pareceu pensar por alguns instantes, mas eu sabia que ele não iria resistir. O amor sempre deixa as pessoas um tanto... Masoquistas.

-Ah, claro, por que não? Me busque na livraria amanhã, às sete em ponto. Se você se atrasar, não precisa nem vir, entendeu?

-Yes, sir!-Eu disse, sorrindo de leve.

Voltei para o hotel estranhamente feliz. Eu deveria me sentir culpado por não ter sentido extremamente a falta de Arthur depois de todos aqueles anos, mas não sentira e não podia fazer nada quanto a isso ou ao espírito jovem e egoísta que eu tinha ao chamá-lo para sair na cara lisa depois de tanto tempo.

Na noite seguinte, eu passei na livraria, o encontrei e fomos a pé para um restaurante próximo. Arthur estava tão adorável naquela noite e no momento eu não tinha percebido, apenas depois, que ele vestia uma daquelas calças sociais, uma camisa de mangas longas de mesmo estilo e um sobretudo por cima, o que o deixava com uma aparência de anos a mais. Mas então eu lembrava de que Arthur tinha quase trinta anos, senão mais, e ficava um pouco perdido porque ele sempre tivera feições meio infantis, e isso se agravava pelo porte magro e pequeno que ele tinha. Ainda assim, Arthur continuava muito bonito, com os olhos verdes bastante chamativos e boa postura e elegância.

Ele parecia mais com um ator do que eu, e eu lembro que ri na hora por causa disso.

Eu vestia um blazer, calça jeans, all-star e uma blusa mais arrumada por dentro, tanto que Arthur reclamou do modo desleixado com que eu tinha me vestido quando nos encontramos, mas aquilo não era novidade.

Jantamos e fomos ao cinema então. O clima entre nós era bom. Não tão pesado mas certamente não leve a ponto de... Acontecer alguma coisa. Estávamos ali mais como amigos do que possíveis amantes. Conversávamos sobre coisas banais apenas, e eu estava bem com aquilo.

O problema foi quando deixamos o cinema. Eu estava saindo junto com Arthur, com um refrigerante numa das mãos, mas um cara veio e do nada esbarrou em mim e acabei me sujando. Quase arranjei uma briga com o cara, mas Arthur disse que estava tudo bem e que podíamos ir até a casa dele para eu poder me limpar e me trocar antes de voltar para o hotel (porque ambos sabíamos que o hotel estaria cheio de repórteres de plantão e ser flagrado com uma mancha daquelas na roupa seria...). E assim fizemos.

Ele entrou na loja, jogando as chaves por sobre a mesa enquanto adentrava o lugar comigo o seguindo. Ele tinha feito algumas reformas na parte mais interna da livraria, que era justamente a parte da casa ligada a loja, de modo que agora estava tudo maior, mais organizado e agradável.

-O banheiro fica ali.-Ele disse quando começou a despir o sobretudo, deixando-o sobre o aparador.-Vou buscar alguma coisa que sirva em você...

-Arthur, tá tudo... Diferente...-Eu disse, ainda olhando em volta para toda a reforma que ele tinha feito na casa.

-Claro que sim, esperava que eu deixasse tudo igual apenas por sua causa?-Ele respondeu, áspero como de costume.

-Não foi isso que eu quis dizer, Arthur...

-Você perdeu muita coisa, Alfred.

-Mas não você, não é?-Eu perguntei de repente, me virando para ele, deixando o blazer meio sujo escorrer dos meus braços, deixando-o cair no chão. Eu tinha um sorriso meio pedante no rosto, e sinceramente a pergunta me saiu tão súbita que não sei porque, na hora, decidi fazê-la.

-Como sabe?-Arthur perguntou, franzindo o cenho. Eu sabia que estava tocando na ferida, e continuei.

-Porque eu estou aqui, porque você aceitou sair comigo hoje, porque você não me esqueceu e porque você...

-Por que o quê?

-Porque você ainda gosta de mim... Não gosta, Arthie?-Eu voltei a perguntar, fazendo-o corar de leve. Céus, perceba o quão ruim eu era, por tocar, não, por lacerar a ferida dele quando ele já tinha sofrido tanto, e eu ainda sorria. Se eu soubesse o quanto aquilo machucara Arthur na hora, jamais teria dito algo como aquilo, jamais. Ele ergueu o olhar para mim novamente então, devagar, com uma expressão totalmente desolada em seu rosto, mas com um sorriso nos lábios. Eu tinha acabado de cravar a faca na sua ferida aberta, e agora ele gritava de dor, e o grito saía não através da sua garganta, mas das esmeraldas que tinha no lugar dos olhos e através dos lábios curvados naquele sorriso totalmente sem vida.

A primeira coisa que pensei naquele momento foi: Desculpe. Mas antes que eu pudesse verbalizar tal palavra, antes que eu pudesse fazer a primeira coisa certa dentre tantos erros, ele falou:

-Eu odeio você, Alfred.

Se ele tivesse dito aquilo com raiva, gritando, até jogando coisas em mim, estaria tudo bem. Mas não, ele chorava e sorria enquanto dizia aquilo, pequenas e tímidas lágrimas escorrendo por sua face.

Arthur gostava de mim e eu praticamente o usava ao meu bel prazer, surgindo de repente seis anos depois para chamá-lo para sair como se estivesse tudo bem, como se ele já não tivesse sofrido o bastante por minha causa e mostrando que apenas ele sofrera com nossa separação. Ele tinha todos os motivos do mundo para me odiar, e mesmo que realmente me odiasse, ainda gostava de mim e eu acabara de passar este fato na sua cara, do quanto ele era patético por gostar de alguém que o maltratava e o quão pior ainda era aquilo por estar ele estar completamente ciente que o fraco ali era ele. Eu não parava de machucá-lo.

Que tipo de monstro era eu?

Em que espécie de ser eu havia me transformado para causar tanta dor a alguém e ainda agir como eu agia? Você pode achar que estou enfatizando demais essa parte do quanto fui cruel com Arthur, mas é preciso que você saiba o tamanho da coisa, é preciso que você entenda o quão grande foi meu erro, e é por isso que eu repito e repito e repito sem parar.

Novamente, que tipo de monstro era eu?

-Desculpe, eu...-Eu comecei, mas ele ergueu uma das mãos para que eu parasse.

-Não, tudo bem, você já disse tudo que precisava dizer.

-Não, eu realmente...

-Chega, Alfred. Apenas vá tomar um banho para que possa ir embora daqui e, com sorte, não voltaremos a nos ver nunca mais.

Eu engoli em seco. Uma dor atravessou meu coração com força, e parecia que respirar era a coisa mais difícil de se fazer.

-Arthut, espere, olhe para mim.-Eu falei, coma voz um tanto mais firme enquanto lhe segurava os braços praticamente sem força, apenas para chamar sua atenção.-Eu...

-Você o que, Alfred? O que vai dizer desta vez? Como você vai me ferir agora, hã? Já não basta tudo e você ainda quer tirar mais de mim?!

Eu engoli em seco, sentindo o peso nos ombros de uma forma que não tinha sentido até aquele momento, o peito doendo mais. Seis anos tinham me transformado numa pessoa mais paciente e tolerante (e ainda que não fosse muita coisa, era alguma coisa), apesar de ainda ser terrivelmente egoísta e insensível quando o assunto eram os sentimentos dos outros.

O que eu quero dizer é que se Arthur tivesse dito aquilo seis anos antes, eu não teria ligado e o teria trocado pela minha carreira de qualquer forma. Mas naquele instante, quando eu era um pouco mais adulto, mesmo que muito pouco, quando eu começava a me dar conta de toda a dor que eu lhe causara, aquelas palavras doeram. Epesaram. E o soltei devagar, exibindo uma feição mortificada pelo monstro que eu havia me tornado para Arthur.

Acho que foi naquela hora que eu me toquei que o tinha perdido para sempre, que mesmo que ele me perdoasse e eu passasse mil anos pedindo perdão, jamais ficaríamos juntos de verdade porque eu já o ferira demais.

Tem coisas que o amor não cura.

Engole em seco, procurando palavras que conseguissem exteriorizar o que eu sentia. Nada. Recuei alguns passos enquanto sentia seu olhar magoado sobre mim.

-Desculpe.-Foi o que consegui dizer antes de me virar e sair, deixando o blazer que antes eu despira para trás. Eu fiquei com medo, basicamente apavorado. Não queria mais ouvir aquelas palavras e tampouco sentir seu olhar, a culpa já fazia o trabalho de me torturar, mas como o destino era muito bom, estava chovendo quando saí da loja. Eu corri os primeiros cinco metros mas então desisti, a chuva ficando pesada demais, o frio me fazendo tremer.

E mesmo assim, mesmo eu tendo feito tudo o que fiz, mesmo errando e errando muito, mesmo tendo saído porta afora e mesmo a chuva retumbando alto nos meus ouvidos, eu o ouvi.

“Alfred!”, ele gritou, e eu estava tão certo que era algo da minha imaginação que só vim perceber e me virar na segunda ou terceira vez que ele me chamou. A rua estava deserta, escura, estava chovendo e não passava sequer nenhum carro. Bem cena de cinema, se você conseguir imaginar. Era apenas eu e ele e a chuva, deixando-nos encharcados.

-Alfred...-Ele chamou uma quarta vez. Eu mordi o lábio. Arthur parecia querer dizer alguma coisa, segurando algo nas mãos, se aproximando devagar. Lembro que fiquei tão surpreso que nada, repito, nada passava por minha cabeça.

Eu me aproximei alguns passos também, um bolo na garganta como se eu fosse chorar, mas não sabia o porquê. Ele me estendeu o que segurava, o blazer que eu esquecera na loja. Segurei a roupa com certo descaso.

-Você... Esqueceu isso.-Ele disse, olhando nos meus olhos. Eu podia ver a nossa respiração formando uma nuvem de fumaça por causa do frio da chuva.

-Ah, é...-Eu murmurei. Não sabia como agir, não sabia o que falar, aliás, eu estava prestes a ter um ataque e não entendia o porquê, na verdade.

Ficamos em silêncio por alguns instantes. Não sei enquanto a Arthur, mas eu estava apenas esperando por uma reação dele. Três, cinco, dez minutos na chuva, e continuávamos ali. Até que eu sem querer espirrei, e isso pareceu quebrar a hipnose em que estávamos, e Arthur limpou a garganta, coçando os cabelos encharcados.

-Então... Adeus, Alfred.-Ele disse, fitando o chão enquanto eu sentia o bolo na agrganta pesar ainda mais.

-A-Adeus, Arthur.-Eu queria pedir desculpas. Mais uma vez.

-Boa viagem amanhã.

-Thanks.

-E boa sorte.

-Thanks again.-Eu queria pedir desculpas enquanto era tempo. Eu queria, eu precisava, eu necessitava tirar aquele peso do peito, aquele bolo da garganta, aquela sensação, aquela culpa.

Ele suspirou e me deu as costas, voltando para a loja. Naquela hora, eu senti: Era tudo ou nada. Que apesar de eu ter achado que eu o tinha perdido para sempre, que ele jamais me perdoaria totalmente, eram poucos os segundos que eu tinha para decidir entre as coisas mais importantes para mim naquele exato momento. E Arthur conseguira se tornar uma daquelas coisas antes que eu sequer percebesse. Foi a única vez na vida que eu agi por pura emoção boa, porque eu vivia perdendo as estribeiras pela raiva ou pela arrogância.

E foi como no cinema, basicamente. Eu corri até ele e o puxei, deixando o blazer caríssimo cair no chão, minhas mãos preocupadas uma em segurar o ombro de Arthur e a outra, seu queixo. Nos beijamos, e mesmo que ele tivesse passado os primeiros momentos totalmente imóvel (não sei se porque eu o surpreendi ou se ele não quis) mas depois, me correspondeu.

Passou os braços por meu pescoço, me trazendo mais para perto, e foi assim. Voltamos para a loja para nos abrigar da chuva e você já deve imaginar o que aconteceu depois. De repente a culpa não existia mais, não existia todos aqueles erros nem nada negativo entre nós, apenas nós mesmos, nós, puramente.

E eu, que você e sua mãe me perdoem, adoraria que este relato terminasse aqui e assim. Eu estaria feliz com Arthur, e quem sabe ele ainda estivesse... Enfim, preciso fazer outra pausa.”

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O Alfred já não tão jovem assim fitou sua neta com um olhar triste nas safiras azuis no lugar dos olhos.

-Mas, vovô, se você tivesse ficado, o senhor não...-Elizabeth começou, raciocinando a ideia.

-Eu não teria vocês, e você provavelmente nem existiria.

-O que aconteceu então?!-A mais nova exclamou, ávida por saber mais, vendo o avô dar um sorriso triste.

-Eu fui embora no dia seguinte, antes que Arthur acordasse. Peguei minhas coisas e fui.

Alfred nunca pareceu tão abatido, tão arrependido. Seria capaz de tudo apenas para voltar no tempo, apenas para poder ter ficado junto do inglês na manhã que se seguiu, ao invés de ter partido.

-Mas por quê?! Vocês estavam bem e tinham feito as pazes, por que o senhor foi embora?!-Elizabeth exclamou, completamente abismada.

-Porque eu fiquei com medo de ser feliz. Porque fiquei com medo de ousar e simplesmente jogar tudo para o alto, fiquei com medo das consequências, e não nego que me arrependo dessa escolha todos os dias.

Alfred suspirou, massageando as têmporas e fechando os olhos. Elizabeth viu que não deveria mais pressionar o avô sobre aquilo, e deu um sorriso mais confiante, se levantando, meio encabulada, meio triste.

-Eu vou... Dar uma volta, vovô. O senhor quer que eu traga algo?-Perguntou. Como tinha chegado ás pressas na madrugada ao hospital, já fazia uma hora que o sol tinha se nascido. Era possível ver as olheiras sob os olhos de Elizabeth, mas ainda tinha o simpático sorriso nos lábios, herdado do avô.

-Meu McDonalds e meu chocolate. E com um ataque cardíaco, derrame ou seja lá o que for, ainda quero comê-los.-Alfred disse, o sorriso mais animado nos olhos que permaneciam tristes.

Elizabeth sorriu e assentiu, despedindo-se do avô, deixando o quarto pouco depois. Daria uma passada em casa nem que fosse para dormir um pouco, exausta, e assim fez. Por volta da hora do almoço, voltou a sair de casa, ou teria saído se não fosse um único problema: Sua mãe aparecendo bem na hora que a mais nova tirava o carro da garagem.

-Elizabeth! Aonde está indo?-A mãe perguntou com um tom bastante autoritário. Já foi dito, mas é preciso enfatizar novamente que quando Anne, mãe de Elizabeth e filha de Alfred, tinha pouco mais de 12 anos, foi abandonada pelo pai, vivendo apenas com a mãe pelos 18 anos que se seguiram até vê-lo novamente apenas em seu casamento, quando tinha 30 anos. Mais uma vez, ninguém nunca soube a causa daquele sumiço súbito por parte de Alfred, que se recusou a falar sobre o assunto de forma ferrenha. Vale também ressaltar que, para recompensar sua ausência, Alfred criou Elizabeth até os 12 anos da mesma quando Anne, logo depois de ter a filha, passou por uma enorme dificuldade econômica.

E por isso, Anne não gostava muito de Alfred por ele não ter sido muito presente em sua vida, embora todo mês ele também mandasse uma grande quantia de dinheiro e quando Anne terminou o ensino médio, passou a pagar todos os custos da sua faculdade. O pior é nunca que, nunca, jamais, Alfred explicara o porquê do seu afastamento, e isso apenas piorava as coisas.

-Ao McDonalds e depois, ao hospital ficar com o vovô Alfred.-Elizabeth respondeu, saindo do carro e pondo as mãos na cintura, respirando fundo. Sempre exigia paciência falar com sua mãe.

-Seu avô?! Por quê?! Ele merece mais é...!

-Porque ele está morrendo! Eu não vou deixá-lo sozinho e você também não deveria! A senhora foi muito bem avisada sobre o estado dele naquele hospital!

-Ele me abandonou por 18 anos! Ele não tem o direito de...!

-Mas você, como filha, deveria perdoá-lo!

Anne mordeu a língua, engolindo as palavras que já pensava em usar, suspirando em seguida.

-Liza, não me desobedeça. Você sabe que quero apenas lhe proteger e...

-Não, mãe, independente disso eu vou ver sim o meu avô. Tenho certeza de que se você estivesse no lugar dele, não gostaria de ficar sozinha.

-Ele está sofrendo as consequências por ter abandonado uma família que o amava! Ele merece ficar sozinho! Você não faz ideia pelo o que eu e minha mãe tivemos que passar!

-Justamente! Quem precisa sentir raiva é você e a vovó , e não eu!-Elizabeth exclamou de uma vez, voltando a entrar no carro e o ligando enquanto Anne chamava pela filha com a mesma voz autoritário de sempre, mas Elizabeth a ignorou, pisando no acelerador e logo sumindo na rua.

Quase esqueceu-se de parar no caminho para comprar as coisas que Alfred queria, mas uma vez tendo comprado tudo, voltou ao hospital. Tudo bem que estava deixando de fazer coisas importantes para ficar com o avô, mas realmente não se importava e tampouco se arrependia.

-Vovô, desculpe eu demorar tanto e...-Ia falando ao entrar no quarto, mas não havia ninguém ali. A maca estava vazia, o cômodo, arrumado, e os aparelhos, desligados.-Vovô Alffie...?

Deixou o quarto com um ar exasperado, parando uma enfermeira pelo braço assim que avistou-a.

-Oi, meu avô estava neste quarto, mas para onde ele foi? Aconteceu alguma coisa?-Elizabeth perguntou.

-Oh... Paciente Jones? Foi transferido para a ala de urgência há algumas horas. Teve uma grande recaída e precisou de auxílio imediato de outros aparelhos.

Elizabeth levou ambas as mãos ao rosto, assustada, as pernas ficando bambas.

-M-Mas ele está bem?!

-O quadro está estável, mas não se sabe ao certo. Seria melhor que você falasse com o médico responsável, doutor Bonnefoy.-A enfermeira respondeu, o tom de voz neutro como quem já sabia lidar com aquele tipo de situação.

-O-Onde posso encontrá-lo?!

-Na área do oncologistas, no penúltimo andar.

Elizabeth seguiu para lá, andando rapidamente, levando os sacos consigo que continham as coisas que Alfred pedira. Tomou o elevador e logo batia na porta onde estava pregada uma plaquinha de ferro que dizia “Dr. Francis Bonnefoy”, sendo aberta logo depois.

-Oui?-O médico perguntou, aparecendo, o rosto cansado, a barba por fazer, o sotaque francês terrivelmente presente, mas assim que viu Elizabeth, sorriu de uma forma mais animada.-Oh, bonjour, como poderei ajudar a senhorita?

-Ah, bem... Meu avô, Alfred F. Jones, é um dos pacientes que o senhor está cuidando aqui e...

-Oh, siga-me então, senhorita. Estava mesmo esperando por você.-O médico disse, guiando Elizabeth pelo corredor até uma área não muito distante, abrindo a porta do quarto, mostrando um Alfred velho e inconsciente.

Elizabeth se aproximou, o som das máquinas lhe deixando desconfortável, novamente aquela sensação de mau agouro ao ouvi-las.

-Ele teve uma falência geral nos rins e no fígado e teve que ser removido às pressas para cá. Mas o quadro está instável ainda. Ele pode... “Partir”, a qualquer hora.

-Mas a enfermeira disse que...

-Ah, aquelas idiotas nada sabem.-Francis agitou as mãos de forma eloquente, quase um gesto obsceno.-Eu que o tirei do quarto quando as máquinas disseram que o corpo entrou em colapso, então acho que a senhorita deveria acreditar mais em mim do que numa enfermeirazinha de araque, hm?-O francês ergueu uma das sobrancelhas num sorriso meio astuto.

-Ah, tá mas... O senhor pode acordá-lo?

-Eu acho que... Seria melhor não. Ele pode sentir dor e...

-Mas eu não me despedi... Por favor, doutor Bonnefoy.

Francis fez uma leve careta, sorrindo largamente então.

-Ouh! Não é justo quando uma ladie pede dessa forma!-Ele riu, embora tivesse uma expressão meio triste, indo até uma das máquinas e aplicando num dos fios uma substância que pouco importava naquele momento, retirando-se do quarto pouco depois, falando algo sobre rosas.

Alfred abriu os olhos devagar, piscando como se buscasse encontrar-se, meio perdido. Encontrou Elizabeth com lágrimas nos olhos e o (bem) mais velho lhe deu um curto sorriso.

-O que aconteceu...? Eles me colocaram pra dormir de novo? Você está chorando por que, meu bem? Céus, que dor maldita...

-Vovô, o senhor quase...!

-Morri? Ah, normal. Quase morro toda vez que respiro mesmo. Se me lembro bem, você deveria ter trago algo para mim. A questão é: Você trouxe?-Alfred voltou a sorrir.

-Vovô, isso é sério!-Elizabeth quase recomeçou a chorar.

-Mas eu estou falando sério!-Alfred riu, rouco, tossindo pouco depois, voltando a olhar para a neta.-Deixe-me adivinhar, eu estava em coma e você pediu que me acordassem, não foi? Fez muito bem, não quero ficar vivendo (ou dormindo) por aparelhos. Elizabeth, não chore, por favor. Sorria por mim. Acho que vou morrer logo e preciso terminar a história, eu realmente preciso. E está quase no final, vamos, sente-se.

-Mas o senhor está sentindo dor, não está em condições de...

-Querida, nenhuma dor física jamais será maior do que a dor que eu carrego no meu coração. Eu cometi erros demais, eu joguei fora tudo o que era mais importante para mim, e hoje eu trocaria tudo para voltar ao passado e consertar todos os meus erros. Para voltar e dizer ao Arthur o quanto eu o amei sem saber, para pedir desculpas por ter sido um maldito sacana, ou pelo menos... Voltar mais ainda, e por mais que isso me doa, voltar para a hora em que eu me abriguei da chuva naquela livraria. Maldita chuva. Se não estivesse chovendo, eu jamais teria conhecido Arthur. Não teria sido melhor assim? Jamais termos nos conhecidos? Passar a vida um completamente alheio a ausência do outro? Eu o machuquei tanto, meu Deus, tanto. Pelo bem dele, eu teria preferido que não tivéssemos nos conhecido porque agora ficou claro que mesmo se eu tivesse escolhido Arthur e não minha carreira e todos os meus luxos, não teria dado certo porque sempre fomos opostos demais, incompatíveis demais. Sempre foi um amor impossível e doloroso no qual insistimos, mas principalmente, ele que insistiu. Mas agora, de qualquer forma, não existe mais, e antes que falar fique ainda mais difícil, preciso terminar de contar a história. Preciso que saibam da nossa história.

Alfred deu um sorriso triste, segurando uma das mãos da neta enquanto esta limpava as lágrimas com as costas das mãos que sobrara. Ela exibiu um sorriso mais triste, como se estivesse escondendo toda a tristeza por trás das feições apenas por causa de Alfred enquanto ele continuava seu relato.

-Sabe, Arthur tinha uma música que ele gostava muito... Mas de qualquer forma, você tem que entender que...


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Notas finais do capítulo

Segundo capítulo enorme de grande eu sei eu sei, mas não se abalem por favor, o que é grande é sempre melhor ♥ (??) de qualquer forma, espero que tenham gostado ♥
ENTÃO QUITAL UMA REVIEW? DEIXARIA A TIA SYN AQUI TÃO FELIZ QUE ELA IA VOMITAR ARCO-ÍRIS ♥333333333



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