Isnt She Lovely? escrita por catpiss neverclean


Capítulo 1
O sonho




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Effie Trinket

Eram mais ou menos 4 da madrugada quando eu acordei. Tive um pesadelo horrivel. Era sobre tudo o que eu sofri nas mãos da capital. Todas as torturas, as chicotadas, as cicatrizes... Sinto-me muito mal quando eu me lembro disso. Estava suada e meu coração batia muito forte. Levantei-me e fui até o banheiro. Lavei o rosto e o enxuguei, em seguida me olhando no espelho. Voltei à cama, mas era muito pouco provável que eu conseguisse voltar a dormir, então me deitei na cama e comecei a pensar aleatoriamente. Pensei nos Jogos, na Revolução, em Cinna e Portia, em Katniss e Peeta e em como eles estão felizes juntos, e... bem, em Haymitch. Honestamente, aquele homem não saia da minha cabeça. Ele me salvou da Capital, eu era eternamente grata a ele por isso. Mas parece que ele prefere esquecer. Ele com as suas garrafas de liquor, seu jeito relaxado, largado, aquela voz grossa, as suas mãos macias e... opa. Melhor parar de pensar tanto por aqui. 

Meu despertador tocou. Eram 7 horas da manhã. E eu já estava acordada para um "grande, grande, grande dia!". A manhã estava linda! Um lindo céu azul, poucas nuvens, os pássaros estavam cantando mais harmonicamente... Tudo estava perfeito. Bom, nem tudo. Minha casa foi construída na aldeia dos vitoriosos, dois anos atrás, e, para o meu desgosto, na frente da casa de Haymitch. O vi acordado (por um milagre, pois era muito cedo), estava sem camisa, (o que me deu uma visão panorâmica de seu peitoral malhado) mas com as calças do pijama e com as janelas abertas. Até que ele percebeu que estava sendo espiado e gritou de sua janela:

- Bom dia, princesa!

- Bom dia, Abernathy – respondi, friamente – que raro você estar de bom humor... o que aconteceu, posso saber?

- Não foi nada, é que eu tive um sonho realmente muito bom – enfatizou o “muito bom”.

- Que bom – disse, desconfiada - Gostaria de um café? – juntei todos os pedacinhos de coragem que ainda me restavam para fazer essa pergunta.

- Se não for incômodo...

- Incômodo nenhum! Vamos, vista uma roupa e venha pra cá – fitei-o, divertida.

Terminamos o diálogo janela-janela e eu fechei as janelas e as cortinas violetas do meu quarto. Eu estava excepcionalmente curiosa pra saber o sonho de Haymitch. Tinha que ter sido alguma coisa muito boa para fazê-lo, primeiramente, acordar a essa hora e depois: aceitar o meu pedido para tomar café tão educadamente! Suas atitudes estavam estranhas... senti-me no dever de investigar. Coloquei o meu robe de ceda chinesa azul-bebê por cima da minha simples camisola cor-de-rosa e escovei os dentes. Ajeitei meus cabelos loiros prendidos numa tiara e desci as escadas até a cozinha. Depois da Revolução, as pessoas poderiam vestir-se do jeito que quisessem, portanto, eu deixei o meu estilo “capitol-doll” de lado: todas as perucas, os vestidos bufantes e luvas. Também pude mobiliar a minha casa ao meu gosto: ela tinha a mesma planta das outras casas da Aldeia. Tinha uma larga sala e as escadas ficavam perto da porta. Eu mobiliei tudo com base nas minhas cores preferidas: roxo, vermelho e rosa. A porta dava direto com a parte central da sala, com sofás vermelhos aveludados em volta de uma mesa-de-centro de mogno, sobre um tapete persa marrom.

Haymitch bateu na porta. Meu coração pulou. Eu não sabia o que fazer, apesar de eu ser Effie Trinket, “a rainha da organização e planejamento”, eu sou humana. Pra certas situações eu também travo. Assim como essa. Desci rapidamente as escadas, respirei fundo e abri a porta. Haymitch. Ele estava essencialmente radiante nessa manhã. Seu olhar estava diferente, a sua barba estava feita, seu sorriso estava ainda mais sedutor, ele estava todo mudado. Entrei em um transe. Meus olhos azuis encontraram os seus olhos cinza-claros, e por um momento eu senti o tempo congelar. Poderia ficar observando aquele rosto por muito mais tempo, mas voltei à realidade quando ele falou comigo:

- Olá, Trinket. – saudou, simpático.

- Como vai, Abernathy? – perguntei.

- Muito bem, obrigado. Melhor agora que poderei desfrutar do sabor do seu café – sorriu, fazendo o meu coração derreter como manteiga.

- Vamos entrando, então? Ainda farei o café, mas enquanto ele não está pronto nós podemos conversar.

Nós entramos e fomos pra cozinha. Haymitch se sentou numa das cadeiras enquanto eu fazia o café e botava os pãezinhos na mesa. Esses pães eram da padaria dos Mellark, feito por Peeta. Estavam uma delícia, e assim que os pus na mesa, Haymitch foi logo tirando um.

- Modos! – ri enquanto segurei seu pulso.

- Deixe os modos de lado, princesa! Eu estou com muita fome, e essas delicinhas são muito boas para serem desperdiçadas! – respondeu, brincando e tentando se livrar das minhas mãos. Em uma dessas tentativas, se movimentou bruscamente e, quando me dei por mim, ele era quem estava segurando meus pulsos enquanto meu peito estava encostado com o dele e nossos rostos estavam a milímetros um do outro. Meu coração começou a bater muito forte, e torci pra que ele não o ouvisse. Haymitch estava com cheiro de roupa limpa e creme de barbear, e seu hálito não tinha cheiro de liquor, uísque, ou qualquer tipo de bebida. O seu sonho deve ter sido bom mesmo para até deixá-lo sóbrio pela manhã. Por impulso, lambi os meus lábios inferiores, o que o fez dar um sorrisinho. Estávamos quase nos beijando quando de repente o Alex chegou.

Depois da revolução, tudo mudou, as atitudes de todo mundo mudaram, tudo ficou diferente. E a Katniss desenvolveu um afeto quase maternal por mim, e eu por ela. Então, quando ela deu à luz ao Alex e à Stella (a sua outra filha mais velha), ela fez questão que eu e o Haymitch fôssemos os padrinhos. Aceitei, claro. Agora, as crianças me vêem como uma tia, e o Haymitch como um tio. Não tenho sossego mesmo, eles sempre vem aqui pedem pra brincar, pra que eu faça biscoitos, pra sei lá o quê, mas eles sempre vêm aqui, mesmo sem pedir pra entrar. Como agora.

Alex tem três anos, é loiro, tem olhos azuis e parece muito com o pai, de todas as maneiras. É doce, carinhoso, e sempre que pode, sai da sua casa e vem pra cá para ficar comigo. Mas ele chegou na hora mais errada do mundo.

Quando senti a presença do pequeno, empurrei Haymitch e ajeitei meu robe que estava meio aberto.

- Tia Ef! – correu para me abraçar.

- Oi, meu querubim! – respondi, carinhosa.

- Oi, tio Mitch! – abraçou-o também. Haymitch era tão carinhoso com o afilhado, que quase tive a vontade de tirá-lo do aperto e lhe dar um beijo! Era tão fofo, e poderia ser um pai tão bom...

- Vocês vão para o jantar de aniversário de casamento da mamãe e do papai hoje? – perguntou.

- Eu vou, sim. Já tenho a roupa e tudo. – respondi, alegre.

- Eu... bem, não sei se vou... – gaguejou Haymitch.

- Ué, por quê? Praticamente todos os nossos conhecidos vão! Vai ser um grande evento! – cortei.

- Garotão, que tal você ir ver o que seu pai está preparando lá na sua casa? Ele disse que deve ter um presente pra você lá... – Haymitch deu uma desculpa para Alex sair da casa.

- Preparar? Presente? Oba! – e correu porta afora direto para a sua casa.

Haymitch me olhava da cabeça aos pés, como se eu fosse uma presa. Senti minhas bochechas corarem, então quebrei o silêncio:

- Haymitch!

- O quê? – divertiu-se com a minha indiguinação.

- Por que você fez aquilo? Coitada da criança, vai chegar em casa e não vai encontrar presente nenhum.

- Ah, achei melhor conversarmos a sós. Você também não prefere assim, princesa? – foi chegando perto de mim. Senti um calor súbito vindo de baixo.

Ele chegava cada vez mais perto. Mordi meu lábio. Não, aquilo era errado, as crianças poderiam nos ver, entender errado... aquilo tudo era errado. Mas era tão bom... Não. Não podia.

- Então, Haymitch, por que você não vai pra a festa? – falei, me afastando dele.

- Hmm... ér... você sabe muito bem que nesses tipos de evento eu não me dou muito bem... – gaguejou. Sabia do que ele estava falando. Ele estava se referindo ao álcool. Meu coração pulou de alegria em saber que ele estava se importando com a sua saúde. – Também não tenho o que vestir e eu não devo conhecer ninguém de lá.

- Bom, se o problema forem só as roupas, nós vamos numa boutique no centro da cidade que é ma-ra-vi-lho-sa e damos um banho de loja em você. Você pode não conhecer ninguém lá, mas você me conhece! Eu acho que conheço mais gente do que você, então se você ficar perto de mim, eu te apresento um monte de gente, tá certo? – falei, carinhosa, logo em seguida dando um abraço nele. Ficamos abraçados por uns 2 minutos. Eu poderia ficar abraçada com ele por muuuuuuuito mais tempo, só que eu tinha que ir trabalhar. – Hay, eu vou subir pra tomar um banho, tenho que ir trabalhar de 10 horas, e já são nove e meia! Olha o que você me faz fazer, garoto! – ri.

- Tá certo, então, quer ir comprar alguma roupa comigo naquela boutique ma-ra-vi-lho-sa que você falou depois? – brincou, imitando o meu sotaque da capital.

- Claro, eu te ligo mais ou menos umas 3hs? Precisamos ir cedo, senão eu e a Katniss não teremos tempo pra nos arrumar!

Concordou com a cabeça e saiu da minha casa. Aquele homem tinha um efeito muito grande em mim, ele mexia com a minha cabeça, com o meu coração, me deixava mais que confusa. Como eu estava agora. Ele estava muito carinhoso, atencioso e SÓBRIO! O que, raios, estava havendo com Haymitch?

Subi as escadas para o meu quarto e entrei no meu banheiro. Depois passei meus cremes, loções, perfumes, etc. Um dos únicos hábitos que eu não deixei de lado depois da revolução foi esse de me perfumar! Coloquei uma saia de cintura alta preta, uma blusa rosa de cetim e meus saltos 12 roxos (outro hábito, os saltos enormes).

Saí de casa, tranquei-a e entrei no meu carro a caminho do trabalho, contando os segundos pra me encontrar com Haymitch de novo.

Consegui um emprego na prefeitura uns meses atrás como diretora-chefe, um cargo muito bom, ligado diretamente com o prefeito. Sentei-me na cadeira de couro marrom da minha sala. Posso dizer que não fiz nada produtivo até as três, só fiquei pensando em Haymitch e em ficar apenas com ele. Eu estava uma adolescente naquele dia, meus pensamentos estavam dispersos, eu estava completamente em outro mundo, viajando na maionese, até que a Lisa, minha assistente, me tirou do transe:

- Terra para Senhorita Trinket! Terra chamando Effie Trinket! – brincou.

- Oi? Ahn? Que passa? – disse, confusa.

- Eu que pergunto, o que se passa nessa sua cabecinha loira? – indiguinou-se.

- Ah, nada não, é que mais tarde vai ser a festa da Katniss e do Peeta e eu tô meio nervosa, só isso...

- Aham, e eu sou muito ingênua. – rebateu, sarcástica – Bom, eu vou deixar quieto, já até sei o que é, porém vamos abafar o caso. À propósito, você não tinha um compromisso às 3? Já são 3 e 10!

- Ai, Meu Deus! Tenho que ir! – gritei, pegando a minha bolsa e saindo porta afora a caminho do meu carro.

Peguei meu telefone e liguei na hora pra Haymitch.

- Haymitch? Ai, Meu Deus, desculpa! Eu fiquei atolada no trabalho...

- Tudo bem, princesa. Estou aqui na minha casa, você vem aqui ou eu te encontro lá? – respondeu, compreensivo.

- Não, eu vou aí te pegar. Até daqui a pouco. – desliguei

Cheguei à casa de Haymitch, ele entrou no carro e começamos a conversar:

- Então, qual é o nome da boutique ma-ra-vi-lho-sa? – ainda fazendo graça com o meu sotaque.

- Seu bobo! O nome é l’espace de La mode. Só coisa fina, e bem feita!

- Hm. E o preço também é fino? – preocupou-se.

- Relaxa. Deixa essa parte de pagar comigo. Tenho meus contatos. – respondi, misteriosa.

Chegamos à loja. Era tudo muito chique, tinha um toque vintage e tocava minha música preferida (L-O-V-E). Era grande, tinha portas de madeira enormes e no interior dela havia vários candelabros com luzes ao invés de velas. Haymitch olhou pra mim um tanto surpreso e eu ri. Fui falar com a Naya, a gerente da loja, sobre alguns ternos.

- Olá, Srta. Trinket! Que prazer tê-la em nossa loja! Então, o que vai querer hoje? Chegaram uns saltos que eu sei que você adora... - ofereceu Naya.

- Na verdade, eu estava a fim de ver alguns ternos e camisas sociais. Haymitch, vem cá! – chamei-o. Ele parecia bem distraído vendo os candelabros e sentado nas poltronas de veludo.

- Sim, princesa? – respondeu, dirigindo-se até nós.

- Vamos escolher alguns ternos e camisas? – perguntei com um sorriso.

- Hm... por que você não escolhe por mim? Tenho mais que certeza que você tem um melhor gosto que eu – corou.

Fiz que sim com a cabeça e segui a gerente até um armário onde estava repleto de camisas, gravatas, etc. Todas eram muito bonitas, e achei muito difícil escolher apenas uma de cada. Então escolhi algumas! Escolhi blusas sociais rosas, pretas e brancas, gravatas de várias cores. Achei desnecessário comprar um terno, eu sei que Haymitch detesta. Então as comprei.

Saimos da loja e fomos tomar um café na padaria Mellark, onde conversamos por um bom tempo.

- Então, gostou das camisas? – perguntei, entusiasmada.

- Preciso provar primeiro, mas de vista, parecem muito elegantes. Não gosto de gravatas, parecem coleiras! – brincou.

- Comprei algumas, mas acho que você vai ficar muito bem nelas... – provoquei.

- Hm... tomara... – deu um gole em seu café.

Um dos meus maiores defeitos era a curiosidade. E desde manhã que o segredo desse sonho que Haymitch teve me incomodava. Era a hora de eu perguntar.

- Qual foi esse “sonho” tão bom que você teve ontem? – perguntei, direta.

- Hm... ér... foi... bem... – gaguejou enquanto dava outro gole no café.

- Você está bem? – disse rindo da sua gagueira fofa.

- Você tem certeza que quer mesmo saber? Quer dizer, não tem nenhum problema, é que... não sei! – enrolou-se – bom, vou falar. Ontem eu estava lembrando de quando eu te salvei – meu coração disparou a partir do momento que ele falou essa frase. - Você, com o rosto machucado, cheia de cicatrizes horríveis pelo corpo, com o coração quebrado, fraca... Sonhei que eu te perdia pra capital de novo. E que te via sendo torturada. Você chamava meu nome, Effie. Mas eu não podia te salvar. Eu não podia...

Meu coração. Estava. Muito. Descontrolado. Completamente. Descontrolado. Eu senti lágrimas começarem a se formar nos meus olhos. Haymitch, ao contrário do que eu imaginava, lembrava do que tinha acontecido entre nós. E essa lembrança ainda o machucava.

- Mas... Haymitch... você disse que o sonho foi bom... – disse, com a voz embargada.

- E foi bom, sim. Me fez perceber como você é preciosa. Quem vai me acordar todos os dias às 7 da manhã com um sorriso no rosto, pronta pra um “grande, grande, grande dia”, vai reclamar da minha bebida, dos meus modos e vai me fazer sorrir com tão pouco, além de você? Eu preciso de você comigo. Eu preciso de você. E você não tem idéia de como essa necessidade é grande. – interrompeu-me enquanto segurava minhas mãos e me olhava nos olhos.

O ato seguinte foi instintivo. Eu não sabia mais o que falar diante daquele discurso que ele tinha feito, e eu estava tão emocionada que palavras não conseguiam descrever como eu estava me sentindo.

Eu beijei nada mais nada menos que Haymitch Abernathy


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Notas finais do capítulo

EU SEI, EU SEI, esse final ficou uma bosta mesmo. Eu quis dar uma de final de capítulo de jogos vorazes, porém não consegui e caguei tudo. Enfim, vai sim ter uma continuação, vai ter ainda a festa que o Alex falou no meio do capítulo, mas só se vocês me mandarem reviews (no minimo 10) e se vocês tiverem twitter(o meu é @barbievato), me avisarem que leram e darem a sua opinião, pfvo.
Eu sei que ficou muito ruim mesmo, mas não caiu a ficha ainda.
Mandem muitas reviews e replies no twitter.
grata,
manu