Aquele Que É O Mais Importante escrita por Lana Snakebald


Capítulo 1
O que é importante para ÁustriaHungria


Notas iniciais do capítulo

Perdoem a minha tremenda falta de criatividade pra escolher o nome dos capítulos. (^///^')
Espero que curtam a fic o/



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As sombras cobriam toda a floresta a frente como um véu. Pouco se via do verde das árvores que eram fortemente chicoteadas pelo vento. E o único indício de que aquele céu tempestuoso e cheio de nuvens escuras fora azul algum dia, se mostrava apenas quando flashes de relâmpagos  o acendia em tons de azul marinho e púrpura numa fração de segundo.

                Era a mesma cor daqueles olhos refletidos no vidro. O cenho franzido e o punho cerrado eram os dois únicos reflexos da aflição que o estava devorando por dentro. Ele que sempre fora um homem famoso por manter sua calma e compostura independente da situação. Se fosse movido por instintos, já teria quebrado aquela janela, pulado no jardim, montado seu cavalo e se infiltrado correndo dentro do bosque.

                Roderich sentia a amargura de ficar na mansão apenas esperando, arranhar sua garganta como uma lixa. E não conseguia deixar de sentir-se frustrado por isso, mesmo sabendo que tal sentimento era totalmente justificado. Sendo que, em algum lugar naquele bosque assombroso, engolidos pela tempestade, não estava só uma das pessoas mais importantes de sua vida. Mas, duas.

                Ouviu três batidas na porta que já estava aberta. Apenas seus olhos moveram-se para ver quem era.

- Ahn... Bem... Se-senhor Áustria... Eu trouxe um pouco de chá. – disse o jovem rapaz italiano com os olhos baixos.

                O jovem veneziano não era tão hábil em esconder seus sentimentos quanto ele. Mas, Áustria, já havia se acostumado com aqueles falsos sorriso e o olhar cabisbaixo de Itália. É claro que sua esposa conseguia sempre de alguma forma distraí-lo, e depois de muito tempo, o humor de Itália pareceu melhorar bastante. Mas, não era incomum vê-lo deprimido. E isso já perdurava por anos. Desde que aquele fatídico dia em que o Sacro Império Romano Germânico decidira deixar a casa dos Habisburgo.

- Pode deixar em cima da mesa Veneziano.

                Ele o obedeceu colocando a bandeja de prata delicadamente sobre a escrivaninha. Pensou em ir até Áustria e olhar para a janela ao seu lado, mas sabia o que veria. E não entendia o que motivava o seu senhor a ficar diante daquela parede de vidro olhando sombras disformes do bosque que parecia se estender até o pé das montanhas. No entanto, caminhar sozinho por aquela casa imensa não o estava fazendo se sentir melhor.

- Ne... Nenhum deles voltou ainda, não é? – Feliciano perguntou timidamente. Seu mestre continuava parado em frente a janela com sua impecável postura formal, e não lhe deu nenhuma resposta. O mais jovem sentou-se numa poltrona com os joelhos e as mãos unidas. O olhar apreensivo ainda voltado para o chão. – Eles estão demorando demais... Senhor Áustria, não haveria outro jeito? A tempestade está muito forte e... Eu não queria que perdêssemos... – os dedos de suas mãos se entrelaçaram e se apertaram. -... Mais ninguém.

                Um silêncio prolongado tomou conta do salão. O único som parecia ser o das gotas de chuva batendo contra o vidro e dos trovões que estouravam lá fora. Os ombros do austríaco fizeram um movimento suave como se tentassem se livrar da tensão. Ele via o menor refletido no vidro, mas não tirava os olhos da janela.

- Não se preocupe, Veneziano. – ele fez uma pausa. As duas mãos estavam juntas atrás das costas, uma segurando o pulso da outra. Os dedos se apertaram ao redor do pulso. Sentia que não estava dizendo aquilo em voz alta apenas para acalmar o italiano, mas também para acalmar a si mesmo. – Se existe alguém no mundo que pode trazer Gilbert de volta...

                “... Esse alguém é Elisabeth.”

                Os cascos do cavalo batiam furiosamente contra a lama em galopes rápidos e quase desesperados. A respiração ofegante e bruta do animal estava tão cansada e ansiosa quanto a sua própria. As gotas grossas de chuva já haviam encharcado seu chapéu e a capa escura que ela usava. Os olhos verdes corriam por todo o cenário velozmente, investigando cada sombra e cada borrão de cor escura daquele bosque.

                A cada minuto que se passava em que sua busca não se mostrava bem sucedida, os batimentos cardíacos e o medo da húngara pareciam aumentar. As sombras das árvores passavam em velocidade ao seu redor e ela esquivava-se dos troncos e pedras correndo em alta velocidade. O animal saltou um troco grande de uma árvore tombada com agilidade como se aquilo fosse uma corrida de obstáculos. Até que sua dona puxou as rédeas violentamente fazendo-o parar bruscamente a corrida, empinar e relinchar.

                Elisabeth parou sobre uma colina íngreme e correu os olhos pelo vasto vale que se estendia abaixo. A mão enluvada apertou o a corda molhada das redás fazendo um barulho emborrachado. Procurar alguma coisa naquele escuro parecia inútil, mas seus olhos moviam-se como os de uma águia.

- Onde você está Gilbert? – murmurou ela, e como se obedecendo ao seu desejo um raio estourou no céu clareando tudo por um instante.

                Aquela moça tinha o olhar mais guerreiro do que muitos homens. Seus cabelos castanhos encharcados estavam presos num rabo de cavalo caído no ombro. Ela sentia aquele sentimento que estava tentando reprimir subindo por sua garganta de novo. E com outro raio, o flash pareceu trazer de volta a lembrança do que havia acontecido não mais que três horas atrás:

                “A tarde parecia que iria terminar tranqüila. Ela e Roderich estavam caminhando pela mansão de braços dados.

- Parece impossível, querido, mas, acho que você está ficando ainda mais habilidoso no violino. – dizia ela sorridentemente agarrando o braço do marido e apertando o rosto contra seu ombro. – Você não imagina como eu adoro vê-lo tocar.

                Ele ria com o rosto ruborizado, não só pelos elogios, mas também por sentir seu braço em meio aos seios volumosos da húngara.

- Bem, eu tenho que continuar fazendo isso direito, não é? - sorria ele virando o rosto um pouco pro lado tentando esconder a vermelhidão de suas bochechas. – Porque afinal eu preciso de algo pra fazer com que você continue gostando de mim. Parece que eu morreria se não visse seu sorriso pelo menos uma vez por dia.

- Não diga isso Roderich! Eu continuaria gostando de você mesmo que você não fosse um músico tão bom. Apesar de não saber fazer mais nada...

                Ele voltou-se olhando pra esposa com uma expressão aborrecida.

- Ah! Me desculpe por ser um mauricinho mimado que não sabe fazer nada. – disse ele beliscando a bochecha dela suavemente e fazendo-a rir.

- Eu não quis dizer isso. – Repentinamente algo chamou a atenção de Hungria, ela voltou seu rosto para a alta janela que se erguia ao seu lado e direcionou seu olhar para o céu. Ela parou de caminhar repentinamente.

                A reação estranha de sua esposa chamou a atenção de Roderich, fazendo com que ele também parasse, fitando-a curiosamente.

- Elize? O que foi?

- Vai chover... -                Ela levou a mão ao peito e suas sobrancelhas se curvaram numa expressão aflita. Roderich sentiu que aquela frase queria dizer muito mais do que realmente dizia. Pela forma como sua esposa o disse. Então ela voltou-se pra ele suspirando e passando a mão na própria bochecha. – Ora? Que estranho... De repente me veio um pressentimento tão ruim...

                O austríaco preparava-se para falar alguma coisa quando os dois foram surpreendidos por um baque alto de madeira sendo quebrada. Ambos correram para o hall de entrada, e mesmo antes que chegassem lá já ouviam a voz ansiosa do homem chamando: “Áustria! Áustria!”

                Quando chegaram à entrada se depararam com França, vestido em seus trajes tradicionais: o sobretudo azul e branco cheio de adornos dourados, os cabelos loiros presos por um laço vermelho junto a nuca.  Ele arfava e a porta atrás dele, pelo qual Espanha, com seus trajes vermelhos da época, entrava apressadamente tentando impedir o francês.

- França! – exclamou Áustria.

- O que é isso? – perguntou Hungria com uma expressão aborrecida e os punhos já cerrados. Ela se aproximou de França á passos firmes e o segurou com firmeza pelo colarim da blusa. – O que vocês estão fazendo aqui? O que pensam invadindo a nossa casa desse jeito? Não estão pensando em nos atacar de novo ,não é?

- Não é isso! – adiantou-se Espanha, visto que Francis ainda arfava e parecia estar se irritando com a atitude da húngara. – Senhorita Hungria, por favor acalme-se! Não se trata disso!

- E quanto á você, fique quieto aí! – disse Elisabeth soltando uma das mãos, apanhando a frigideira de sua cintura e apontando-a ameaçadoramente para o espanhol. – Onde está o Prússia? Sei que vocês dois não seriam capazes de tentar invadir nossa casa se isso não fosse idéia dele.

- Errado!  - disse França livrando-se de Hungria e afastando dela. Sua expressão era um misto de raiva e preocupação. – É justamente esse o problema! Prússia desapareceu!

                A informação pareceu largar uma espécie de descarga elétrica no corpo de Hungria e de Áustria. A húngara sentiu os joelhos tremerem e fraquejarem, mas manteve-se de pé. E depois de alguns segundos absorvendo aquilo, Áustria pôs-se na frente caminhando em direção ao francês.

- O que você quer dizer com isso?

                Francis virou o rosto pro lado com os dentes trincados. Espanha aproximou-se de Áustria estendendo a mão para ele num gesto diplomático.

- Não sabemos onde ele está. – disse o espanhol. – A última vez que o vimos foi numa taberna na noite passada. Hoje pela manhã ele havia sumido. Já o procuramos em todos os lugares que conseguimos pensar, mas não o encontramos.

                Elisabeth pareceu despertar do choque adiantou-se pra perto dos outros.

- É provável que ele tenha sido atacado! Talvez tenha sido capturado e seqüestrado por alguém! Tem um homem... O Império Turco Otomano...

- Não! – disse Francis com a frustração imprimida na voz. Ele colocou a mão na testa e suspirou. Quando falou de novo seu tom estava menos irritado. Na verdade, beirava o cansaço. – Não... Ele não foi seqüestrado e nem atacado.

- Já conhecemos o Turquia. – suspirou Antônio. – Não foi ele.

- A questão é que Gilbert já estava agindo estranho ontem à noite. – emendou o francês, tirando a mão no rosto ainda que seus olhos continuassem fitando o chão. – Na verdade ele andava esquisito já há algum tempo. E não tinha como ser diferente, não é? – ele disse cerrando os punhos. E então ergueu o rosto pra encarar o austríaco e a húngara. – Depois do casamento de vocês... Como acham que ele se sentiu?

- Isso não vem ao caso Francis! – disse o espanhol colocando a mão no ombro do loiro.

- É claro que vem!

- Não seja infantil França! – disse ele elevando a voz de uma forma que alguém tão calmo e tranqüilo como Antônio raramente fazia. A atitude pareceu surpreender o francês que voltou a virar o rosto desviando o olhar. Quando falou de novo o espanhol parecia mais compreensivo com o nervosismo do amigo – Não é culpa de ninguém...

                Formou-se um silêncio incômodo no ambiente. Até que Roderich, com o queixo apoiado entre o polegar e o indicador suspirou com um olhar reflexivo:

- Entendo... Então me parece que ele saiu por vontade própria.

- Não dá pra saber pra onde ele foi ou no que pode estar pensando. – disse Antônio cerrando o punho. – Eu e França ficamos preocupados que ele queira fazer alguma besteira.

                Hungria se encolheu segurando os próprios braços e tremeu levemente com a sentença. Ela trincou os dentes e voltou-se para os dois com ansiedade e nervosismo.

- Isso... Isso é mesmo possível?

- É difícil saber o que ele está pensando. – disse França apreensivo.

- Não queremos invadir suas terras, mas... – emendou Espanha. – Ainda não o procuramos aqui por perto. Achamos que talvez seja possível que ele esteja nas redondezas... E considerando a ligação dele com vocês...

                Elisabeth ainda parecia apreensiva.Assim como Espanha e França que fitavam os dois com ansiedade e preocupação. Ela apertou fortemente os próprios braços encolhendo os ombros e baixando a cabeça. Por mais que estivesse preocupada, sabia o que isso poderia significar pra Áustria.

- Muito bem. – disse o austríaco depois de alguns segundos de silêncio. – Vocês tem minha permissão pra vasculhar minhas terras e até as minhas fronteiras se quiserem. A casa de Prússia também fica perto. Ele não deve estar muito longe.  – França e Espanha pareceram surpresos com a facilidade que Áustira havia concedido o pedido. Mas agradeceram silenciosamente com a cabeça e saíram apressadamente para aprontar os cavalos. E no silêncio que foi deixado o salão, a húngara sentiu as mãos de seu marido tocarem seus ombros tensos. – Vá também Elizabeth.

                Ela voltou-se pra ele espantada com o que tinha ouvido e encontrou aquela expressão compreensiva do homem que ela amava.

- O... O que você está dizendo Roderich? – ela disse cruzando os braços e virando o rosto. – Não tem por que eu procurar aquela pessoa, não é? Depois de todo o problema que ele já nos causou. Não fique falando como se nós devêssemos nos preocu...

- Elize – ele interrompeu ela com um toque em seu rosto. Quando ela voltou a olhar pra ele seu olhar de safira estava firme e determinado através das lentes de seus óculos. –Não pense que ele é importante só pra você. Não podemos deixar o Itália sozinho em casa. E eu posso aguentar esperar melhor do que você agüentaria... Vá.

                Ela fitou-o por alguns instantes. Sentiu os olhos marejarem brevemente e para suprimir seus próprios sentimentos ela jogou-se em seus braços. Ele a envolveu apertando-a afetuosamente e acariciando seus cabelos castanhos. E assim que a soltou ela se lançou porta a fora a caminho do estábulo dando ordens aos empregados para que lhe trouxessem seu terno branco e sua capa.”

                Agora a húngara estava sob a tempestade, naquela floresta sombria. As gotas de chuva pingavam da aba de seu chapéu. Ela trincou os dentes.

“O que você tem na cabeça, seu idiota?” pensou fazendo o cavalo dar a curva e começando um galope rápido em meio ás arvores de novo. Ela segurava as rédeas com firmeza e curvava-se sobre o pescoço do animal incentivando-o a correr mais. “Fazendo com que eu e Áustria tenhamos que nos preocupar com você desse jeito! Se você se sentia assim... Se estava se sentindo sozinho por nossa causa...”

                Ela fechou os olhos com força e baixou a cabeça. A tempestade a golpeava ferozmente enquanto ela galopava. Ela puxou a rédea do cavalo fazendo-o empinar. Não se sabia se o que molhava seu rosto era chuva ou lágrimas.

- Por que você não se juntou a nós? Por que preferiu fugir do que ficar com agente? GILBERT!

...


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