O prisioneiro jazia no piso duro de pedra da penitenciária. Estava respirando, mas imaginava há muito que sua hora estava chegando. Não havia mais esperança. Sem salvação. Sem futuro. Era o que ele era.

            Ouviu as portas da ala onde se encontrava se abrirem. Na certa, um de seus companheiros de confinamento ia receber uma visita. Pelo som dos passos, era um grupo enorme – com certeza uma família que vinha visitar o parente injustiçado.

            Qual não foi o seu espanto quando o grupo finalmente parou de andar, para postarem-se em frente à cela dele. Certo de que era uma brincadeira do destino, porém atiçado pela curiosidade, ele se endireitou e se apoiou no catre da cela, tão frio e duro quanto o chão onde estivera deitado.

            Um negro corpulento o encarava do outro lado. Seu olho negro era profundo e estava fixo no semblante do prisioneiro. Seu olho esquerdo estava oculto por um tapa-olho. Usava um sobretudo preto com uma longa capa de viagem. Atrás dele, um grupo de homens de terno e óculos escuros montava guarda no corredor. Esses com certeza não são vigias locais.

            De tão faminto que estava, o detento mal conseguia olhar para o homem. Juntou todo o seu fôlego e disse:

- Quem é o senhor? E o que quer de mim?

            O detento falava inglês com uma leve acentuação latina. Sua roupa constituía-se apenas de um trapo preto longo semelhante a um grande pijama. A roupa com que fui preso.

- Nick Fury, diretor da S.H.I.E.L.D. – respondeu ele.

- Nunca ouvi falar.

- Não me surpreende, e é bom que não saiba de mim. Quanto ao que quero do senhor... É algo que pode ser visto tanto como algo simples quanto como uma missão suicida.

            O prisioneiro franziu o cenho.

- O senhor não disse coisa com coisa.

- Claro que não. Sempre começo assim – declarou Fury. – Aliás, qual é o seu nome?

            O prisioneiro riu como não ria havia meses, incrédulo ante a pergunta de Nick Fury.

- Não tenho nome.

- Engraçado, na sua credencial que me forneceram na entrada, diz que você tem um nome – afirmou Fury.

- Meu nome não tem sentido. Quem se importaria com meu nome?

- Ah, acredite, eu me importaria. – Fury pousou a mão na barra da cela. – Até porque eu sei por que você está preso.

- Não há motivos para o senhor querer saber detalhes da minha prisão.

- Verdade, até porque eu já sei. Sei o que você fez, o que você é capaz de fazer.

- Não estou entendendo – disse o prisioneiro.

- Refiro-me às suas habilidades – retomou Fury. – Nós da S.H.I.E.L.D. estamos precisando de alguém como você no nosso time.

            O prisioneiro se levantou com toda a força que suas pernas ainda tinham.

- Como assim?

- Vou soltar você – afirmou Fury -, com a condição de que trabalhe para mim. Trabalhe comigo. Sua habilidade e minha inteligência precisam muito cooperar. Tenho uma missão que só você, em minha opinião, pode executar.

            O prisioneiro olhou fundo nos olhos de Fury, e viu que ele não mentia.

- Contanto que você me tire daqui, eu faço tudo que o senhor ordenar.

- A partir de hoje, temos um acordo. – O diretor chamou um de seus homens, que segurava um molho de chaves. – A propósito, vai começar a usar seu nome com mais respeito, eu espero. Não vai?

            Com relutância, o detento assentiu levemente. O agente da S.H.I.E.L.D. com as chaves começou a destrancar a cela.

- Ótimo. Aliás, já que você está recuperando seu nome hoje, eu espero que você não tenha apelidos, porque a partir de hoje vou dar um apelido novo e secreto a você – anunciou Fury.