Mithica escrita por Ao Kiri Day


Capítulo 17
A Caixa de Pandora e o Contrato do Mal




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/233987/chapter/17

Enquanto ela chorava ali, envolvida pelos imensos cobertores cinzentos, a anjo era observada pelas freiras assustadas. Não duvidavam de que era realmente um anjo, mas estavam quase duras de medo e ansiedade.

-Não chore. –pedia uma voz.

A azulada afastou a pessoa com a mão delicadamente, se levantando. Ela foi guiada para dentro da Igreja com cuidado. Seus olhos bicolores mostravam algumas lágrimas remanescentes, mas ela parecia estar se recuperando aos poucos.

Enquanto andava, uma das freiras solicitou a presença de uma maga que estava por ali, buscando ajuda.

-Pobrezinha, está ferida. –a menina de cabelos curtos violeta tentava acalmar a anjo, ajudando-a a se sentar no banco comprido de madeira, às vistas do altar com uma grande cruz atrás da mesa com velas.

A anjo afastou os cabelos, mostrando os rosto perfeito. O único ferimento tinha sido nas asas, mas isso não podia ser considerado algo muito bom.

-Eu vou te ajudar a se recuperar. –a maga sorriu docemente, conjurando uma magia para fechar o ferimento superficialmente e controlar o sangramento.

A ajuda foi bem recebida e a anjo segurou as mãos da roxinha sem muita cerimônia, com um leve sorriso aparentava estar triste, mas mesmo assim agradecia.

-Não tem de que. O que está fazendo aqui?

A azulada apenas soltou as mãos e balançou a cabeça negativamente, se levantando para sair. Porém, foi interrompida pelas freiras preocupadas e pela roxinha que a acalmou.

-Por favor. Descanse apenas essa noite.

A anjo suspirou fraquinho e se deixou levar até um quarto no recinto do Convento que ficava nos fundos da Igreja. Lá, ela viu-se com uma cama arrumada, um pequeno e simples armário com uma bacia de água e a janela grande dando vista para o céu, que ainda guardava alguns vestígios de sua presença.

A anjo enrolou os cabelos nos dedos enquanto decidia se saía dali ou não. Foi muita bondade, mas ela tinha algo a fazer, e agora, especialmente, não era um dos melhores momentos para se manter parada. Ficar deitada pensando no amor inconcebível que sentia por aquela pessoa desconhecida não daria muito certo. Foi muita bondade dela ajudá-la também, mas não entendia porque a ruiva tinha saído correndo. Ela se sentiu desolada e rejeitada.

Olhando o correntão de estrelas que pareciam marcar seu caminho até ali, a anjo decidiu sair, mas voltar até o amanhecer. Logo, pois ela não dormia.

Sua asa tinha melhorado de uma forma até assustadora, contudo, estava imensamente feliz por ter tido a sorte de ter sido atendido por uma maga. Piscou olhando as vielas escuras, enquanto caminhava, pois não queria piorar sua situação, buscava um cheiro estranho que detectou quando ainda estava na atmosfera.

O cheiro do mundo dos humanos era misto. Havia todos os tipos de sentimentos e emoções. Era um pouco incomodo, e pensando bem, Mari conseguia imaginar o trabalho que os Anjos da Guarda tinham em permanecer ao lado deles. Devia considerar mais aqueles anjos extremamente gentis, mas que às vezes apareciam um tanto furiosos. O Regente sempre os repreendia, mas pelo jeito nem ele sabia como era aquele plano.

No fim, o cheiro que buscava era muito mais fétido e com certeza estava vagando no escuro em alguma forma de sombra. Aquela criatura parecia estar andando na cidade há algum tempo.

Ao parar, sentindo-o próximo, uma voz chegou até ela.

-Ela te rejeitou...

Mari estreitou os olhos, estranhando o tom da voz, também algo muito poderoso que estava em sua presença, mas não vinha da criatura em si.

-Ela te abandonou ferida. Você não a quer para si? Mesmo sendo um anjo?

-Quem é você?

-Eu sou aquele a quem chamam de demônio. Porém, alguns me chamam de Nerídio... Ou até mesmo Dio. Mas isso é quase como ironia. –sorriu a sombra ganhando forma e se recostando na parede de braços cruzados.

Garras, chifres, uma cauda longa e dentes pontiagudos, além da pele arroxeada. Era um demônio de alto nível, perigoso e altamente fétido.

-O que está fazendo nesse plano? –perguntou a anjo sem demonstrar nada, ajeitando os óculos em seu nariz.

-Ahh... Você me ouviu, mocinha. Ela te abandonou. Não vai fazer nada? Seu amor é tão fraco a ponto de desistir?

-Eu não sou atingível à sua tentação, Nerídio. Agora me diga o que tem aí que está exalando esse poder macabro. Não é algo que devia estar com você.

A azulada apertava os olhos buscando pressioná-lo. Ela não era ajudante do Regente à toa.

O demônio deu uma risada escandalosa, movendo a cauda para os lados um pouco excitado com a perspicácia da anjo. Ele não era tampouco fraco, e ainda por cima, sabia de todo o poder dela.

-Isso...-a garra elaborou uma mana negra que começou a tomar a forma de um objeto.

Era algo como um pequeno baú, nos dedos do demônio ela passava de mão em mão como se fosse algo inofensivo. Mari arregalou os olhos, reconhecendo-o.

-A Caixa de Pandora. Abra-a e todos os seus desejos serão concedidos. Não é excitante? –o demônio lambeu os lábios com o olhar vinho brilhando maldosamente.

-Como conseguiu isso? Isso estava na posse dos deuses do plano inferior. –Mari se postou reta, esperando qualquer movimento.

-HuHum... Eu tenho contatos. Mas o mais importante. Você não fica curiosa do que fazer? Ela pode se apaixonar por você se abrir a caixa. –falava o demônio se aproximando.

Mari apertou os olhos, sentindo que lágrimas sem sentido caíam de seus olhos. Seu exterior estava desprotegido, e em sua mente ocorriam milhares de perguntas confusas sobre aquele acontecimento monstruoso.

Nerídio ficou à sua frente, estendendo o baú para ela, em sua outra mão, ele materializou uma maçã.

-Reconhece?

A azulada segurou o baú relutante e fitou a maçã perfeitamente vermelha. Ela brilhava, madura e doce, suculenta. O Pecado.

-O Pecado Original está bem aqui. Vai querer morder? Abra a caixa e faça o pedido. Pode ser qualquer coisa. O Pacto estará formado quando você comer da fruta. Vamos!

Mari sentiu que suas lágrimas aumentaram, lembrando-se dos olhos vermelhos e sem pensar, abriu a caixa, fazendo um pedido louco. E seguida, tomou a maçã e lhe deu uma forte mordida com pressa.

Segundos depois, ela abriu os olhos. O demônio tinha desaparecido com a caixa e com o resto da maçã. Estendeu suas mãos, esquecida do que tinha pedido. Caminhou, sentindo-se um tanto leve, sua visão um pouco embaçada.

Quando parou sob o céu escuro numa rua de comércio, Mari olhou-se em uma vidraça. Seus dedos ergueram-se até os óculos, retirando-os. Piscou duas vezes, reconhecendo no espelho dois olhos azuis e um rosto masculino.

Onde existiam asas brancas se formavam um par de asas negras, as pétalas se soltavam devagar e iam desaparecendo, assim como todo o esqueleto, sobrando apenas a forma humana. O cabelo tinha diminuído consideravelmente, suas roupas tinham mudado para algo nos tons azuis e brancos. A anjo agora era um homem humano.

Seus dedos tocaram a vidraça em cima de seu reflexo. Seria possível que, dessa forma, aquela pessoa se apaixonasse por si?

Continua


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews :3?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mithica" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.