Youll Just Have To Trust Me escrita por Achele


Capítulo 1
Capítulo 1




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Quinn observava enquanto Karofsky andava pelo corredor carregando um grande copo de slushie em uma mão e procurava o alvo do dia. Não muito longe dele, Berry estava eficientemente escondida atrás de um grupo de estudantes, parecendo um avestruz com sua cabeça enfiada dentro do seu armário.

Karofsky pareceu se decidir por um calouro que teve o azar de estar passando pelo corredor errado na hora errada. Menos de trinta segundos depois, o casaco branco, junto com seu rosto e a pilha de livros que ele tinha conseguido equilibrar nos braços estava coberto de gelo sabor artificial uva. Pobre menino, ele podia dizer adeus ao casaco. Uva era sempre o pior para sair.

Lançou um olhar para o canto onde Berry estava, notando que ela tinha saído de seu esconderijo agora que o perigo já tinha passado. A morena observava o calouro tentar, sem sucesso, limpar o excesso de gelo do rosto sem deixar os livros caírem. Parecendo tomar uma decisão, ela caminhou até ele — tomando cuidado para evitar o grupo de jogadores de futebol que estavam no meio do caminho — e tirou os livros de suas mãos.

"Vá lavar o rosto," ela disse quando o garoto conseguiu limpar o excesso de gelo e abrir os olhos para ver quem tinha vindo em sua ajuda. "E lave bem os olhos ou vai ficar ardendo pelo resto do dia. Eu vou tentar limpar seus livros, mas você provavelmente não vai poder entregar sua pesquisa de —" olhou para a folha molhada que se encontrava no topo de pilha e lançou um olhar de pena da direção do menino. "Inglês," terminou.

O menino, sem saber mais o que fazer, apenas acenou com a cabeça e saiu em direção ao banheiro masculino mais próximo. Suspirando, Berry andou até seu armário e pescou algumas toalhas descartáveis de dentro dele. Descansando os livros no chão, ela se abaixou e, um por um, começou a limpar as capas arruinadas com cuidado. Quando o menino voltou, sem o casaco e com o cabelo loiro úmido, mas limpo, ela já tinha limpado praticamente tudo, deixando apenas a pesquisa dele de lado.

"Você não precisava," ele murmurou de cabeça baixa e aceitou os livros de volta. Lançando um último olhar triste na direção da pesquisa, jogou-a na lixeira mais próxima e voltou a olhar para a morena. "Obrigada."

Berry sorriu aquele sorriso de um milhão de dólares e balançou a cabeça de leve. "Acredite, eu sou a pessoa com mais experiência nesse assunto por aqui. Se tem alguém que entende o que você está sentindo agora, esse alguém sou eu," disse em um tom triste. "Não se preocupe, até o final do dia, eles nem vão se lembrar do que acabou de acontecer," acrescentou.

O calouro apenas acenou com a cabeça mais uma vez e virou, descendo o corredor em um passo rápido e passando o mais longe possível do grupo de atletas que continuavam no meio do caminho.

Quinn continuou apenas olhando enquanto a morena se abaixava para pegar o pequeno monte de toalhas descartáveis manchadas de roxo que ela tinha deixado no chão e o jogava no lixo. Ainda sem mexer um músculo, ela a viu pegar os livros no armário e sair caminhando na direção oposta à do calouro até desaparecer na esquina.

"Sabe, essa obsessão sua está começando a me assustar," uma voz murmurou no seu ouvido. Quinn nem precisava se virar para saber quem era. Aquele tom debochado era único.

"S," cumprimentou sem tirar os olhos da esquina em que a morena tinha desaparecido.

"Q," ela respondeu. "Sylvester quer te ver no escritório dela em cinco minutos. Sem atraso, você sabe como aquela mulher é maluca," acrescentou e rolou os olhos. "Então eu acho melhor você parar de babar sobre RuPaul e ir andando porque, eu vou ser sincera com você, Q, esse olhar que você fica depois de ficar secando a bunda da Berry por quase meia hora?" balançou a cabeça, "Nada atraente."

Quinn finalmente virou para a latina e levantou uma sobrancelha. "Eu não estava secando a bunda dela," disse por entre dentes cerrados. Ela estava tendo dificuldades para não deixar suas bochechas corarem e Santana parecia saber disso.

"Isso é o que você diz, Q," rebateu e lançou um sorriso inocente na direção da sua capitã. "Isso é o que você diz," repetiu antes de se descolar da parede na qual ela tinha estado encostada. Quinn esperou que a latina desaparecesse por entre os alunos antes de soltar o ar que tinha estado prendendo. Ok, talvez ela tivesse secado um pouco a bunda dela, mas quem podia culpá-la? Aquelas saias eram tão curtas que elas nem deveriam ser consideradas saias de verdade!

Quinn suspirou e olhou uma última vez para a esquina do corredor antes de fazer o mesmo trajeto que a latina. Era melhor não fazer Sue Sylvester esperar.

-x-

"Q, eu devo dizer que eu estou muito frustrada," Sue disse assim que a loira fechou a porta do escritório atrás de si. Tirou os óculos de leitura do rosto e fechou o pequeno diário onde ela parecia estar sempre escrevendo seus planos diabólicos e apelidos interessantes sobre o cabelo entupido de gel e o queixo-bunda de Will Schuester. "O novo treinador do time de futebol —"

"É uma mulher, treinadora," Quinn corrigiu.

Sue apenas balançou a cabeça. "Eu vou continuar acreditando no que meus olhos vêem até que seja provado o contrário," comentou. "De qualquer modo, como eu ia dizendo antes de ser interrompida" — lançou um olhar levemente aborrecido à loira — "o novo treinador do time do futebol conseguiu fazer com que aquele bando de macacos descoordenados que ele chama de equipe vencesse o primeiro jogo desde o que eu particularmente gosto de me referir como o 'incidente GaGa', e Figgins está tão satisfeito com o resultado que achou que era aceitável cortar um pouco mais o orçamento das líderes de torcida para investir naqueles macacos." Bateu com o punho na mesa, fazendo com que a sua capitã pulasse levemente na cadeira de plástico. "Inaceitável!"

Quinn, sem saber o que fazer, concordou com a cabeça. "Inaceitável," repetiu.

"Exatamente," Sue continuou. "Esse segundo corte significa que agora, além de não ter mais canhões de confete, eu não posso ter mais o meu estoque reserva de canhões de confete. Mas não se preocupe, Q, porque eu já providenciei quinze calouros para substituir meus canhões. Agora eu só tenho que ter certeza de que dez deles são capazes de cuspir confetes à uma distância mínima de sete metros e os outros cinco são capazes de encher duas bocas com os confetes ao mesmo tempo em menos de três segundos e o problema estará resolvido."

Louca, a loira pensou. Essa mulher é completamente louca.

"Mas isso não vem ao caso." A treinadora levantou da cadeira e rodeou a mesa. "O que realmente importa é que eu estou frustrada!" Aproximou-se de sua capitã e observou com deleite quando a postura dela se enrijeceu até um ponto onde a loira devia estar desconfortável. "E você sabe o que Sue Sylvester faz quando ela está frustrada?" perguntou a centímetros do rosto da garota. "Eu tento destruir aquele maldito clube de deslocados descoordenados dançantes, ou apenas DDD, como eu prefiro, particularmente."

Com certa dificuldade, Quinn conseguiu segurar o suspiro que estava lutando para escapar. Já havia tempo desde que ela tinha participado de um dos planos de Sue para acabar com Glee. Planos que eram muitas vezes estúpidos e infantis, e Quinn tinha começado a pensar que acabar de vez com o clube nunca era o objetivo principal da treinadora. Afinal, sem Glee, ou Mr. Shue, Sue ficaria sem nada para usar como distração. Quinn supunha que ficar bolando mil e uma maneiras diferentes para acabar com o clube tinha acabado virando um hobbie para a mulher mais velha.

"Eu estava pensando em usar meu mais novo plano, o qual terminaria com uma escola livre daquele grupo de aberrações e um pequeno acidente incluindo uma máquina de cortar cabelo e um assassinato em massa dos elfos que tiveram a infelicidade de escolher habitar o cabelo de William Schuester, mas isso seria muito rápido e eficiente. Eu quero ver Glee se deteriorar aos poucos até não haver mais nada além de lágrimas e partituras rasgadas espalhadas por toda aquela estúpida sala do coral," disse com um sorriso diabólico no rosto, seus olhos brilhando com apenas a imagem mental de tal tragédia. "E para isso, eu vou utilizar o meu plano mais brilhante de todos. Aqueles DDDs nem vão saber o que os acertou."

"Certo," Quinn murmurou e franziu. Tentou inclinar um pouco contra o encosto daquela maldita cadeira de plástico na tentativa de colocar algum espaço entre ela e a treinadora. Ter o rosto de Sue Sylvester tão próximo ao seu por tanto tempo era levemente perturbador. "E qual seria seu plano?"

"Preste bastante atenção agora, Q, porque eu não vou repetir minha brilhante linha de raciocínio." Pausa dramática para melhor ênfase no 'brilhante'. "Para destruir aquele clube de uma vez por todas, eu preciso atacar o núcleo, a fonte. Você sabe o que isso significa?"

Quinn levantou a sobrancelha esquerda e esperou.

"Streisand," ela praticamente cuspiu o nome.

"Berry?" Quinn perguntou confusa.

"Sim, sim. Aquela anãzinha com um ego tão grande quanto aquele nariz. Eu juro que eu não consigo entender como ela nunca cutucou o olho de ninguém com aquilo," murmurou para si mesma.

Quinn reprimiu a vontade de rolar os olhos e bufar indignada. O nariz dela não é tão grande assim...

"Enfim, eu preciso Streisand fora daquele clube," continuou. "Sem ela, aquele bando de crianças iludidas ficará tão perdido que nem mesmo a deprimente força de vontade de Schuester vai conseguir mantê-lo de pé. E talvez todo o estresse do lento processo cause um abençoado envelhecimento precoce que fará com que o cabelo dele caia, mas isso é ter esperança demais."

"E como eu vou conseguir tirar Berry do Glee?" Quinn perguntou. Rachel simplesmente amava aquele clube. Era o que ela queria fazer mais tarde, afinal. Ninguém em Lima, Ohio, tinha a menor dúvida de que a pequena diva iria conseguir alcançar Broadway algum dia. Além disso, o clube era o único lugar onde ela era aceita.

Sue pareceu pensativa por um instante, como se a pergunta nunca tivesse passado pela sua cabeça. "Bem, isso não deve ser muito difícil. Eu já consegui fazer com que Streisand saísse por conta própria uma vez, mas eu cometi o grave erro de confiar naquela péssima desculpa de diretor que é Sandy Ryerson para mantê-la ocupada e, como você pode ver, não funcionou como eu queria. Então, Q, eu espero mais de você. Tudo o que você tem que fazer é ter certeza de que Streisand não se sinta segura dentro daquele clube. Essa falsa idéia de família que eles parecem ter é o que mantém o grupo unido. Faça com que todos se virem contra nossa diva predileta e o resto se resolverá sozinho. Simples."

Quando a treinadora se endireitou e voltou para sua cadeira atrás da grande mesa, Quinn finalmente conseguiu respirar direito e mudar de posição em sua própria cadeira. Ela podia jurar que sua bunda ficaria quadrada pelo resto da semana.

"Isso é tudo, Q," Sue continuou quando já estava sentada, seu diário aberto. Os olhos da mulher mais velha analisaram-na por cima da armação dos óculos que estava equilibrada na ponta do nariz dela. "Eu espero notícias três vezes por semana. E não me desaponte novamente. Eu estou te dando mais uma chance aqui. Agora tudo depende de você e de onde sua lealdade está: comigo e com as Cheerios ou com William Schuester e seu grupo de perdedores cantantes. Escolha com cuidado, Quinn. E saia do meu escritório enquanto você pensa. Eu já cansei de olhar para a sua cara," acrescentou.

Quinn levantou da cadeira e, depois de alguns segundos onde suas pernas estavam fracas demais para suportar seu peso, ela se encaminhou para a porta do escritório. Do lado de fora, respirou fundo e começou a caminhar pelo corredor sem saber para onde estava indo. O primeiro horário tinha começado mais de meia hora atrás, então não fazia sentido ir para a aula. Depois de cinco minutos vagando pelos corredores vazios, ela se encontrou na porta da sala do coral. Sem mais nada para fazer, ela entrou e fechou a porta atrás de si.

Tudo estava exatamente como sempre. As cadeiras enfileiradas em um canto, o piano no meio e o resto dos instrumentos no outro canto. A mesma sensação de paz que sempre tomava conta da loira se fez presente naquele momento, mesmo quando tinha apenas ela na sala. Memórias do ano anterior passaram pela cabeça dela e sua mão instintivamente descansou em seu estômago plano coberto pelo uniforme vermelho que o cobria. Vazio, pensou e seus bonitos olhos cor de avelã se encheram de lágrimas. Ela se lembrou de como todos os membros do clube ficaram do lado dela, animando-a quando as coisas ficavam difíceis, chorando com ela e ajudando-a a ultrapassar todos os obstáculos, um de cada vez. E então ela se lembrou de como a primeira coisa que Sue Sylvester fez quando descobriu sobre a gravidez, chutando-a para fora da sua equipe de perfeitas líderes de torcida e como sua vida tinha virado um inferno depois daquilo. Glee esteve ao seu lado quando nem seus pais estavam. Puck, Mercedes, Kurt. Todos eles. Até Finn, mesmo depois de descobrir que a criança não era dele. Não importava o que Sue falasse, Glee era uma família.

Então a imagem de uma certa diva invadiu sua mente. Aqueles olhos que pareciam chocolate derretido, sorriso perfeito, voz de anjo, suéteres ridículos e aquelas saias infernais. Mesmo depois de tudo o que Quinn tinha feito a ela durante o primeiro ano delas em McKinley High, Rachel Berry nunca desistiu dela. E depois de dar a luz e ver a coisa mais importante de sua vida desaparecer pela porta dupla do hospital nos braços de outra pessoa, Quinn prometeu para si mesma que nada seria como antes. E Rachel Berry era um dos nomes no topo daquela lista.

Entre o grupo de pessoas que ela tinha aprendido a chamar de família por quase um ano inteiro e o ninho de cobras comandado por Sue Sylvester, Quinn não tinha dúvidas sobre onde estava sua lealdade. E para manter o grupo unido, providências imediatas precisavam ser tomadas.

Quinn tirou o celular da bolsa que tinha pendurada no ombro e buscou pelos dois números familiares em sua agenda.

Vestiário. Cinco minutos.

Apertou enviar, jogou o celular de volta na bolsa e virou para sair, mas não antes de olhar para o lustroso piano que estava no meio da sala. Memórias de conversas, piadas e brigas que tinham acontecido ali fizeram com que um pequeno sorriso aparecesse nos lábios da loira. Ela não iria deixar que Sue acabasse com aquilo.

Decidida, ela saiu da sala e se dirigiu ao vestiário que ficava do outro lado da escola.


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