Quero desfazer uma má impressão que possa ter causado. Claro que ver o baixinho apavorado me diverte, mas ele diverte todo mundo no Sereitei desse jeito. Ou vai dizer que ele é o mascote da Quarta divisão a toa? Podemos ser bárbaros, brutos e assustadores, mas aqui na Décima Primeira a gente ainda tem coração.

- Ken-chan! Ia ser bom se o Baixinho-chan viesse visitar a gente de vez em quando, né???

- É, seria divertido...

- Chama ele, vai, onegai! Só tem cabeçudo feio por aqui, eu queria poder brincar com alguém do meu tamanho de vez em quando...

- Por que você não chama o Hitsugaya, igual da última vez?

- Nháaaaaaa... ele tá sempre ocupado, e... bem, eu tenho um pouquinho de vergonha – corando – além do mais, ele anda muito chato ultimamente, e só fala da Hinamori, hunf.

De qualquer maneira, pra agradar a Yachiru e fazer uma boa ação, chamei o tampinha pra tomar um chá com a gente.

A pequena teve de ser um pouquinho persuasiva pra fazer ele entrar aqui em casa, mas, os danos não serão permanentes. No máximo uns hematomas a toa.

Embora ele tenha ficado o tempo todo um pouco tonto com a minha presença, os tampinhas se deram muito bem. Conversaram sobre as frutas da estação, fofoquinhas de corredor e essas novidades que interessam gente pequena... Confesso que me senti um pouco deslocado. Mas deixei a conversa correr, os dois tavam se divertindo tanto...

Pra descontrair, de vez quem quando eu exibia meus dotes culinários, trazendo biscoitos, bolinhos, essas coisas. Espero que ele tenha se alimentado direito, o que eu acredito que não tenha acontecido, porque cada vez que eu me aproximava, metade do chá da sua xícara ia parar no tatame e na hakama...

Eu estava realmente entediado. Aproveitei que a Yachiru pareceu ficar sem assunto e me meti na conversa, exibindo alguns truques. Ela sugeriu malabarismo, e acatei, pereceu uma idéia divertida. Tomei emprestada as katanas dela e do Yamada, não sem uma certa hesitação da parte dele. Sim, foi realmente divertido, até o baixinho pareceu ter ficado encantado com o show. Mas, adivinhem? Depois de um pequeno erro de cálculo, eu não consigo cravar as três katanas na minha coxa direita? Errei por pouco a virilha... Eu ando sem sorte ultimamente, mas acho que dessa vez eu me superei.

- É, jardineiro de bonsai, acho que isso foi um pouco fundo... poderia me dar uma ajudinha?

- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaiiii, urgh, céus, é pra já, Kenpachi-san!

Tão solícito, tão prestativo, ele tá na divisão certa pra ele, pobre baixinho. Pedi pra Yachiru brincar lá fora por alguns instantes, eram coisas não muito saudáveis pra uma dama daquele tamanho assistir, embora eu ache que já tenha visto coisas piores em todos esses anos comigo, mas... Bem, eu sou um tutor responsável, afinal.

Depois que eu tirei as espadas espetadas, jorrou um bocado de sangue, suficiente pra fazer alguns conhecidos meus desmaiarem por alguns segundos. Ele agiu prontamente, estancando o sangramento. Pediu pra eu tirar a hakama, pra fazer as suturas e o curativo, e eu fiz, na maior boa vontade. Ele estacou. Seguiu um silêncio de uns dez minutos, ele mal respirando, e sem esboçar ação alguma, fora olhar as minhas coxas, as suas próprias sandálias e o meu rosto, em sequencia.

Acho que eu esqueci de avisar pro baixinho que eu não costumo usar nada por debaixo do hakama, sabe, pra o sangue circular melhor, deixar as coisas soltas e arejadas. É confortável, deveriam experimentar um dia... Enfim, dali pra frente, ele quase fêz o curativo todo de olhos quase fechados. Desviava a atenção de tempos em tempos, assobiando algo que lembrava ora Deus Salve a Rainha, ora Stace Punks. Deu vontade de rir, tadinho. Vou ser obrigado a dar um jeito de deixá-lo mais relaxado na minha presença, antes que ele tenha uma síncope.