Brat escrita por Uno


Capítulo 2
o homem mais novo


Notas iniciais do capítulo

ao pai, ao filho e ao irmão perdido.



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Thomas sempre vivera bem. Bem em qualidade de vida, bem em saúde e em todos os quesitos da vida pessoal e financeira, nunca havia sentido falta de nada porque de tudo tinha - tinha amor, tinha o filho, a esposa, uma bela casa, uma bela família, uma mãe, um pai; enfim, tinha tudo, mas dizer que nunca sentira falta da presença do irmão em sua vida seria mentir, e Thomas jamais mentira.

“Pai,” ele viu o seu filho, também Thomas, entrar no seu escritório e sentar-se em uma das poltronas de couro que lá ficavam, levantando o rosto. “Quando você e a mamãe vão me dar um irmãozinho?”

O homem rira com a pergunta do filho. Devia ter uns seis ou sete anos, mas aparentava ser mais velho porque era alto e branco como ele, praticamente a sua cópia - se não tivesse praticamente a personalidade de seu pai, o velho Grigori. Thomas conseguiria facilmente rabiscar o que os dois tinham de incomum, porque era escasso, mas parar para encontrar o que havia de comum entre os dois... Era definitivamente um trabalho árduo.

O menino era, sem sombra de dúvidas, parecido com a mãe em alguns quesitos - como sobre desenhar ao invés de fazer qualquer outra coisa mais produtiva -, contudo, isso não era suficientemente grande para deixar a personalidade do pai de Thomas não transparecer nele. Tinha perdido a conta de quantas vezes encontrara o filho em silêncio, rabiscando em um caderno no quarto, enquanto poderia estar brincando, como o pai fazia. Lembrou-se que Mary reclamava da bagunça que ele fazia. E fazia mesmo, assim como Grigori fazia.

Lembrou-se também do próprio irmão - irmão este que nunca viera a conhecer pessoalmente. O menino tinha morrido afogado, de acordo com sua mãe, quando tinha dez anos de idade. Um ano depois ele nascera e colocaram nele o mesmo nome do irmão, uma espécie de substituição. Mas Thomas detestava pensar assim, pois sabia que era rude de sua parte, visto que tinha acompanhado o sofrimento do pai - que ainda sofria, como sempre sofrera, em silêncio.

Ah... Como sentia falta do irmão. Já havia chegado a essa conclusão tantas vezes... Pensara como poderia ter sido a sua vida e a da família se o irmão não tivesse morrido. E pensava mais, cada vez mais, como se sentiria mais completo do que já era se o irmão estivesse ali. Alguém que o entendesse, acompanhasse e estivesse junto dele para compartilharem segredos e conversas que ninguém mais do que eles mesmos entenderiam - porque eram irmãos, e irmãos, eram mais que amigos. Mas não era culpado.

“Pai...?” Tom perguntou, encarando o homem que segurava um charuto e parecia também tão pensativo e longe.

Thomas piscou os olhos rapidamente, saindo de seus devaneios. “Vocês vão me dar um irmãozinho?”

“Filho...” o homem murmurou, voltando a encarar uma pilha de papeis e réguas e tudo mais que um arquiteto tinha que fazer. Tom encontrava-se sempre alheio vendo o pai mexer com tudo aquilo, então ria e voltava a rabiscar em seus cadernos, mal sabendo que o pai via o próprio pai nele. “Nós não-“

“Pai.” Tom parecia sério no que pedia. “Vô Grigori me disse que o senhor teve um irmão. Por que não posso ter um?”

“Porque...” Thomas não como responde-lo. O mais velho deu um sorriso no canto do rosto, coçando a cabeça e encarando o filho. “Você tem razão,” era tudo o que o mais novo conseguia falar.



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