POV Kyle

Eu bati a porta da sala atrás de mim e caminhei em direção ao carro de Josh, Liam e Brandon. Eu estava tão mal por não ter mais a Chloe nos meus braços, eu não podia protegê-la, abraçá-la, beijá-la, ela fazia muita falta para mim. Mas eu não consigo esquecer o que ela e o Alexander fizeram. Mas eu já estou começando a duvidar. Será que eles seriam capazes de fazer isso comigo? Ela teria mesmo contado a verdade? Só a Chloe importava para mim, era ela que me mantinha sob controle, mas agora que eu a perdi, eu não me importo com mais nada.

Entrei no carro e Liam dirigia até uma parte mais afastada da cidade, onde não tinha muito movimento. Todos eles estavam conversando e rindo, eu estava quieto e sério.

- Cara, para de pensar naquela vadiazinha da Chloe. – disse Josh.

- Não chama ela assim. – eu quase gritei. Por mais que ela tenha me magoado, eu ainda a amo.

- Tá, mas tenta se alegrar, essa é sua vida agora, é andar com a gente. – ele retrucou. – não tem mais tempo de ficar pensando nela.

Permaneci quieto. Chegamos até uma rua com pouca iluminação onde tinha várias pessoas da idade deles bebendo e fumando, mais ou menos com uns 17 anos de idade. Eu era o mais novo. Josh disse que isso iria acontecer, mas lá ninguém ligava para idade. Brandon pegou uma daquelas garrafas pequenininhas de Smirnoff Ice e entregou para mim. Eu só bebi aquela garrafa, não queria ficar completamente bêbado. Mas os outros nem ligavam se estavam bêbados ou não.

Então, Josh veio com uma outra garrafinha de Smirnoff e eu tomei. Eu tomei o suficiente para não conseguir distinguir o certo do errado. Eu tomei o suficiente para não conseguir mais distinguir o prudente do imprudente. Eu tomei o suficiente para aceitar entrar em um carro com o Josh para ele apostar um racha com outros amigos.

No começo, ele acelerava mais e mais e, pelo meu estado, eu achava engraçado e incentivava ele a ir mais rápido. Até perceber que ele estava completamente bêbado a ponto de não ter mais o controle do veículo e bater na parede de um beco. E a última coisa em que pensei antes de apagar foi em Chloe.

POV Chloe

Eram 3 horas da manhã quando o telefone tocou. Eu assustei com o toque, que tipo de pessoa liga para alguém de madrugada? limpei uma lágrima que rolava pelo meu rosto, saí do lado de Annie e peguei o telefone.

- Alô? – eu perguntei com uma voz chorosa.

- Alô, você é a irmã do Kyle Daley?

- Sim. – estremeci ao ouvir o nome dele.

- Ele sofreu um acidente de carro e está no hospital, o amigo dele que estava no mesmo carro disse que você era da família. Você pode vir até aqui por favor? O médico precisa falar com algum parente dele. – estremeci ainda mais.

 Eu não acreditei no que estava ouvindo. Demorei um pouco para responder. Tanta coisa se passava pela minha cabeça, mas ao mesmo tempo, ela estava vazia, pesada, preocupada. Não sei explicar.

 - Claro, eu vou o mais rápido possível. Obrigada. – eu disse entre soluços. A mulher passou o nome do hospital no qual ele estava internado e liguei para Tyler.

- O que você quer Chloe? Mamãe não ensinou que não pode ligar na casa dos outros quando tá tarde, é? – disse ele, brincalhão e sonolento. Não ri.

- Tyler, eu preciso de você. O Kyle tá no hospital. Eu preciso que o seu pai me leve até lá. Eu te explico no caminho.

Assim feito, eu e Annie trocamos de roupa enquanto Tyler não chegava. Quando eles chegaram, entrei no carro chorando e expliquei o que a mulher me falou. Paramos em frente ao hospital enquanto o pai de Tyler ia estacionar o carro. Entrei correndo e fiz o que era preciso para a recepcionista me deixar entrar no quarto de Kyle. Annie e Tyler esperaram na sala. Duas pessoas poderiam entrar por vez, mas eles queriam que eu fosse sozinha.

Cheguei no quarto e entrei. Meus olhos percorreram o quarto branco. O médico estava sentado com uma folha de observações ao lado de uma cama, onde um garoto estava ligado a vários fios e estava desacordado. O meu garoto. Aquele que secou minhas lágrimas, que me fez sorrir verdadeiramente, que me amou, que me apenas com seus olhares profundos me levava para um outro mundo, onde só nós dois existíamos, onde eu era completamente feliz, onde eu entendia o verdadeiro significado da frase “o amor não tem idade e ninguém escolhe. Apenas acontece.”

Meus joelhos ficaram fracos e eu quase caí vendo aquela cena. O médico, percebendo minha presença, se levantou e me cumprimentou.

- Está tudo bem doutor? Ele vai ficar bem né? – minhas palavras saíam entrecortadas devido ao choro.

- Infelizmente, as respostas são não e não sei. Eu estou fazendo o máximo para que ele se recupere. Mas ele bateu a cabeça com muita força, ele está em coma. Eu juro que estou tentando fazer o máximo, mas nada é garantido.

Eu desabei mais ainda em lágrimas. Eu pedi para ficar um tempo sozinha no quarto com Kyle, o médico relutou um pouco, mas deixou e disse que em 10 minutos estaria de volta, pois tinha até cancelado vários horários de consulta só para ficar observando ele, para ter tudo sob controle. Ele saiu e ficamos apenas eu e Kyle.

- Kyle... eu nem sei o que falar para você. Você é a minha vida, eu não to aguentando mais não falar com você, nem olhar para você direito, eu sei que você não acreditou em mim, mas é sério, aquele dia com o Alex, não aconteceu nada, eu não quero nada com ninguém além de você. Você sabe que eu te amo. Eu sei que você não tá me ouvindo agora, mas ás vezes falar ajuda. Falar com você sempre me ajudou. Eu queria botar isso para fora, e saiba que, se você... – pausei, pensando na possibilidade de isso não acabar bem e ele não voltar do coma. – se você não voltar para mim aqui na Terra, você vai estar sempre no meu coração, na minha cabeça. Você vai sempre ser o meu melhor amigo e o meu primeiro namorado, meu primeiro amor. E, se você for, eu posso até me apaixonar de novo, mas amar alguém como eu amo você... acho que não. –  Nisso, a porta se abre. Então, Josh aparece com o braço enfaixado e me cumprimenta. Eu vou até ele.

- O que você tava pensando? Levar ele pra beber e para um racha? Ele tem só 14 anos, você sabe que foi muito errado. – eu quase gritava. Empurrei ele contra a parede. A palavra raiva me definia.

- Calma bonitinha, que foi errado, foi, mas já tá feito, ele tá bem né? Ele só tá desmaiado, daqui a pouco ele acorda. – disse ele, tentando esconder uma leve ponta de preocupação.

- Só desmaiado? Josh, ele tá em coma. Ele pode não voltar mais. Como você vai poder viver sabendo que matou uma pessoa? – disse entre os soluços do meu choro desesperado.

- Ele vai voltar. – ele disse olhando para meu namorado.

- Nem o médico tem certeza, você que não tem nem metade do cérebro de uma pessoa normal não pode ter certeza também.

- Como você sabe que eu não tenho cérebro? Você nem me conhece direito, garota. – ele falou olhando para mim com insegurança.

- Considerando que você deixou um garoto de 14 anos bêbado e em estado de coma, você não tem nem menos da metade do cérebro de uma pessoa normal. – retruquei.

Ele não falou nada, apenas saiu. O médico entrou em seguida, seguido de Tyler e Annie. Parece que ele abriu uma exceção para as regras do hospital. Eu queria dormir ali com o Kyle, mas Tyler não queria me deixar ali sozinha. Insisti tanto para Annie ligar para ela voltar para casa e descansar um pouco que ela acabou voltando. Coitada, ela teve que me ouvir chorando até as 3 da manhã e passar por tudo isso. Ela merece dormir um pouco.

Peguei uma poltrona e coloquei encostada na maca de Kyle. O médico estava do outro lado do quarto, monitorando-o internamente por um computador. Tyler estava do meu lado, não tão grudado ao Kyle, mas estava próximo á mim. Depositei um beijo na bochecha do meu garoto, e quando eu me aproximei dele, algo se mexeu. Eram nossos colares que se juntaram. Ele ainda estava usando a parte dele. Entrelacei minha mão na mão dele, apoiei minha cabeça em uma parte da maca e tentei dormir. Só pensava em como eu queria que Kyle acordasse e me beijasse de novo, me protegesse, me amasse. Só isso, nada mais. Mas o medo de que isso não acontecesse nunca mais se arrastou junto com a noite, que passou tão lenta quanto o dia.