Me olhei no espelho. Meus cabelos loiros lisos estavam bagunçados e molhados devido ao pequeno acidente durante a chuva forte que caía, meus olhos esverdeados estavam brilhantes pelo choro, mas nem assim chegavam a se comparar com o brilho dos olhos de Kyle. Por fora eu estava bem, tirando alguns arranhões. Por dentro, eram bem mais que isso. Eu estava destruída. Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Minha alma já estava machucada, e as cicatrizes que iriam se formar ficariam para sempre.

Parei de pensar nisso quando vi/senti duas mãos pegando na minha cintura e um corpo me abraçando por trás.

- É desse jeito que você deve se enxergar. Sempre comigo do seu lado, nunca sozinha. – Kyle ajeitou uma mecha do meu cabelo e me deu um beijo na bochecha.

Me virei para beijá-lo e então ouvimos um som. Kyle correu para atender seu celular. Ele volta depois de 5 minutos.

- Era o Tyler. Ele disse que foi na escola para fazer a matrícula e disse que as aulas começam daqui a 15 dias e ele ficou na mesma classe que eu.

- Vocês dois vão ficar uma classe acima da minha? – indaguei.

- É, mas a gente ainda vai se ver no intervalo amor. – ele chegou mais perto.

- Mas vocês vão ficar na classe da Savannah. – eu fechei a cara.

Ele me olhou por alguns segundos.

- Klo, não vai acontecer nada, eu não me interesso nela, eu só me interesso em você, e você sabe que eu nunca te trairia. – ele olhou no fundo dos meus olhos com aqueles olhos verdes penetrantes.

- Eu sei. – disse, dando um pequeno sorriso. – só pede pro Tyler tomar cuidado, pelo jeito que eu conheço a Savannah, ela vai tentar pegar ele também. – alertei-o.

- Pode deixar bê. Agora, vem cá. – ele me puxou e me deu um beijo calmo, intenso porém devagar, como se ele quisesse me proteger.

Abracei-o em agradecimento. Em seguida olhei para a janela. Tinha parado de chover.

Já estava escurecendo e então fui tomar banho, em seguida Kyle. Enquanto ele tomava banho, pensei em irmos jantar em uma lanchonete que ficava aqui perto, então a hora que ele saiu do banho eu perguntei.

- Kyle, e se a gente fosse no Subway? Fica aqui perto, e eu preciso me distrair. – disse.

- Pode ser mô. – assentiu ele.

Então nos arrumamos, e meia hora depois saímos rumo a lanchonete.

Chegando lá, escolhemos uma mesa e pedimos nossa refeição. Enquanto isso, o celular de Kyle toca novamente. Era o Tyler, de novo. Depois de algumas palavras ao telefone, Kyle desliga o aparelho.

- O Tyler chamou a gente pra ir jantar na casa dele, então eu chamei ele e um amigo dele que já estava lá pra virem aqui, tudo bem?

- Claro. – respondi.

Nossos lanches chegaram, na mesma hora em que Tyler e seu amigo chegaram. Levantamos para cumprimentá-los. Falei oi pro Tyler e depois vi seu amigo falar para o Kyle:

- Oi, eu sou o Alexander, vou ficar na sua classe esse semestre – disse ele com um sorriso simpático.

Depois, Alexander se virou para mim.

- Oi Chloe, quanto tempo né? – disse ele com um sorriso. Imaginei como Kyle deve estar internamente, pois ele sabe que o Alexander já pediu pra ficar comigo, então ele ficou com a Savannah. – a gente precisa se ver mais.

- É. – eu disse, com um sorriso um tanto simpático no rosto, e em seguida dando uma olhadinha para o Kyle e voltando meu olhar para Alexander, mais em um gesto de meu-namorado-está-a-cinco-passos-de-você-e-está-te-fuzilando-mentalmente-mas-não-quero-parecer-mal-educada.

Nos sentamos e começamos a conversar sobre diversos assuntos, e eu que nunca tinha estado em uma conversa que durasse mais que 15 minutos com Alexander, o achei muito legal, e acho que ele não tinha segundas intenções comigo, não mais. Ele me olhava – não toda hora, ele não me secava – como uma boa amiga, e era assim que tinha que ser.

Depois de uma longa conversa, ouvimos algumas pessoas entrando na lanchonete, e nos viramos para ver. Mas é claro, aquela vadia me persegue. Com salto-altos gigantescos, um vestido minúsculo e com um decote enorme, maquiagem parecendo com a de um palhaço de tão mal feita e exagerada que estava, Savannah e suas escravas amigas dão o ar de sua graça.

 Eu fiquei me perguntando, do fundo do coração, o porque elas vieram de vestidos curtíssimos, saltos enormes e maquiagem exagerada em uma lanchonete simples. Eu estava apenas com uma calça jeans, uma sapatilha, uma camiseta normal e só usando lápis de olho e rímel. Mas sua voz estridente interrompeu meus pensamentos.

- Oi Kyle! Quanto tempo né lindo? – ela perguntou, com um enorme sorriso no rosto.

- Oi Savannah. – ele respondeu.

- Não vai me apresentar para o seu amiguinho? – ela olhava freneticamente para Tyler, como se estivesse o comendo com os olhos.

- Ah, esse é meu melhor amigo, o Tyler.

- Oi – disse ele, tentando parecer simpático. Mas eu conseguia ver que ele não tinha gostado nem um pouco dela.

Ela chegou mais perto dele e disse:

- Sua namorada é ciumenta?

- Na verdade, eu não tenho...

- Ótimo. – ela o interrompeu. Piscou para ele e foi embora, esquecendo da minha existência e da existência do Alexander.

- Alex, posso te fazer uma pergunta? – me virei para Alexander. – como você conseguiu ficar com aquilo?

- Ah, para falar a verdade eu também não sei. – todos rimos um pouco. – ela insistiu tanto que eu acabei ficando com dó, mas foi só uma vez e ela passou a me odiar depois disso, não sei por que.

- Ela é assim mesmo, não sei como eu era amiga dela. – falei.

Passado algum tempo, nos levantamos para ir embora. Percebendo que Savannah estava olhando, dei um beijinho no Kyle e sorrimos em seguida, deixando a lanchonete. Nos despedimos de Alexander e Tyler e fomos para nossa casa.

- Klo, esse é o menino que queria ficar com você? – pergunta Kyle.

- É sim. Mas eu acho que ele não quer mais, ele percebeu que a gente tá junto. – respondi.

- Que bom, porque agora ele é meu amigo e eu não gostaria de quebrar a cara dele. – respondeu ele, com um sorriso no canto da boca. Eu ri.

Colocamos nossos pijamas e fomos nos deitar para dormir. Deitamos com os nossos rostos a centímetros de distância e começamos a conversar.  

- Eu até tinha esquecido o que aconteceu hoje mais cedo. Esse é o efeito que você causa em mim. Você me faz esquecer das coisas ruins, não importa o quão mal eu me sinta você sempre vai me deixar feliz. – eu disse. Ele sorriu.

- Isso é porque eu te amo e não quero ver você triste. – ele deu um beijo na minha testa. Eu sorri. – Vamos dormir? Já to com sono.

- É, eu também.

- Boa noite mô, te amo muito. – ele disse.

- Boa noite meu anjo, também te amo muito. – eu respondi e dei um selinho nele.

Ninguém poderia imaginar o quanto eu o amava, e ele correspondia com a mesma intensidade. Sendo assim, me aconcheguei em seus braços quentes, encostando minha cabeça em seu peito, adormecendo lentamente enquanto ouvia as suaves batidas de seu coração.