Snow escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 8
Forca


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, me esforcei para que saísse algo que preste nesse capítulo. Tenho ideias lindas para os próximos, me aguardem.



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Suspirei ouvindo a falação da minha família dentro de casa. Era incrível como aqui, passasse o tempo que passasse, continuaria sempre barulhento com todos juntos, e eu continuaria ficando com dor de cabeça por isso. E ainda havia meu pai que agia como um adolescente por eu ter “roubado seu amigo” dele. Na verdade ele e Lucius continuavam conversando e se encontrando na mesma frequência que antes e ele não ligava de Lucius arrumar novos amigos, mas pelo caso de ser eu, ele ficou incomodado.

Eu estava na sala, assistindo a um programa de TV qualquer simplesmente para passar o tempo e me distrair. Não queria pensar em Rose agora, ou em Klarissa, ou mesmo em Lucius. Queria pensar em qualquer coisa diferente, e no momento, era o jogo de perguntas e respostas que passava ali.

Mas de repente a programação mudou. O símbolo da Capital apareceu na tela e o hino tocou. Todos em casa pararam e olharam para a televisão, apreensivos, curiosos. E então imagens começaram a aparecer de pessoas com cartazes, placas, ameaçando um levante, mas nada realmente violento. E então chegaram os Pacificadores e todos foram presos. Enquanto isso se podia ouvir a voz do presidente, Misha Whitehorse.

— Nossa gloriosa Capital vem sido alvo de levantes de rebeldes sem causa. Rebeldes da própria Capital, que sempre tiveram tudo o que precisaram, sem nada lhes faltando. Mas como podem ver, tudo está sob controle e ninguém inocente será prejudicado por isso.

As imagens mudaram, mostrando então as pessoas capturadas diante de forcas, tudo em praça pública. Alguns da população apenas estavam lá, uma boa quantidade, mas nada comparado ao real número de pessoas que moram aqui. Aos poucos, uma a uma foram enforcadas. As que tinham filhos tiveram estes obrigados a assistirem a morte dos pais. Prestei atenção em um pequeno menino que gritava pela mãe, esta de olhos fechados com a corda sendo colocada no pescoço, esforçando-se para não chorar. Depois que ela foi pendurada, o foco foi para um rapaz que deveria ter dezenove anos, um pouco parecido com o menino. Estava óbvio que era o irmão dele, este também com o rosto duro para que não passasse medo demais para o garoto.

Neste momento senti algo me tocando. Olhei e pude ver Klaus segurando minha mão, os olhos arregalados para o que via na televisão. Ele nunca vira nada daquele tipo, exceto quando passavam os Jogos Vorazes, mas nada assim, com pessoas daqui, em praça pública, com seus filhos e irmãos vendo. Klaus estava apavorado, ainda mais com a cena do menino e seu irmão mais velho. Eu sabia em quem ele havia pensado: em mim. Segurei então sua mão com força, tentando deixá-lo mais calmo. Eu estava ali, eu não era rebelde, não tínhamos nada a ver com eles, não seríamos punidos. Ele entenderia isso, agora ou depois se precisasse, eu falaria com ele.

— Os responsáveis foram punidos do modo que deviam. — Dizia o presidente. E então sua imagem apareceu na tela interrompendo todas as cenas de morte. Ele era um homem alto, bem encorpado, cabelos grisalhos mas com várias faixas roxas percorrendo os fios. Os olhos possuíam uma cor violeta, que apesar de todas as modas da Capital, eram naturais e raros. — Os menores de idade envolvidos, os filhos dos rebeldes, ficarão sobre a custódia de nosso governo pelo tempo que for necessário. Todas as residências, vizinhos, contatos e parentes dos acusados serão interrogados e investigados para que se encontre a raiz de todos os levantes.

E então tudo acabou. O silêncio predominou por um bom tempo entre nós. Ninguém se olhava, ninguém falava nada. Todos estavam chocados com as cenas que haviam presenciado. Até que então, cortando o silêncio, meu pai soltou um suspiro longo, parecendo aliviado ou então pensativo. Todos o olhamos esperando para o que viria a falar.

— Eles mereceram.

E fora isso. Só isso. Mas não houve resposta alguma, pelo menos não de mim e de meus irmãos. Já minha mãe, com certeza tentando reanimar tudo ou o fazendo por inconsciência do ato, começou a falar animada ou consigo mesma, andando para lá e para cá no apartamento. Aos poucos meus irmãos foram se levantando, até que ficamos ali somente eu, meu pai e Klaus ainda agarrado à mim. Eu o encarava e ele a mim. Meu pai sabia o que havia dito, sabia que me atingiria.

— Mortes necessárias. — Disse depois de um bom tempo em silêncio.

Desviei o olhar e ainda segurando a mão de Klaus, levantei-me e fui em direção ao quarto dele, onde o deixei na cama. Não sabia bem o que pensar, pois de certo modo, as mortes eram necessárias sim, mas...

— Snow... — A voz de meu irmão me chamou de volta à realidade. Estava com um tom choroso e desesperado. — Snow, eu...

— Olha aqui, fica calmo, tá? — Falei, de repente e minha voz saiu até mesmo dura e pude perceber pela expressão assustada que tomou sua face e como os soluços cessaram quase que de imediato. Fechei os olhos e respirei fundo. Eu tinha que acalmar o garoto, não assustá-lo mais. Passei a mão pelos cabelos e me agachei na frente dele, olhando em seus olhos. — Olha... — Comecei tentando deixar a voz em um tom calmo. — Relaxa, tá? Aquilo...

Klaus começou a fungar, e podia ver que ele tentava não deixar as lágrimas saírem ou qualquer indício de choro com dificuldade.

— Mataram o irmão dele, Snow.

— Eu sei, eu sei. Mas... Não vai chegar nada na gente...

— Não é disso que estou com medo.

Engoli em seco e olhei em outras direções. Agora não sabia bem o que fazer para deixá-lo calmo e realmente fora pego com isso. Klaus abaixou a cabeça e tentou se acalmar sozinho e não demorou muito para conseguir. Vendo isso me lembrei do menino que vivia choramingando e não parava até que alguém tomasse atitude. Agora ele mesmo se acalmava e sem muito esforço.

— Eu já tenho onze anos, sei me cuidar sozinho. — Ele falou como se lesse meus pensamentos.

Dei uma risada que chamou sua atenção. Olhei-o por um tempo antes de dizer:

— Você já tem onze anos, e uma das coisas que menos sabe é se cuidar sozinho.

Klaus ficou me olhando e percebi uma irritação em seu olhar. Mesmo assim continuei rindo, ainda mais pelo fato de ele estar incomodado agora. Ele queria ficar irritado comigo, mas não conseguiria enquanto continuasse me vendo rir. Ao invés de uma expressão dura ou irritada, ele tentava conter um sorriso, isso apenas me fez rir ainda mais.

— Vá se danar, Snow! — Falou virando para o lado para que não o visse assim.

Arregalei os olhos um pouco.

— Olha só, o garotinho já está querendo xingar. Pelo visto você realmente está se tornando “um cara maduro que sabe se cuidar sozinho”.

— Vá à merda!

Olhei-o, agora em silêncio. Ficamos nos olhando por um tempo até que comecei a balançar a cabeça.

— Estamos realmente subindo de nível, hein.

Então Klaus começou a rir e consequentemente eu também. Ficamos ali um pouco e acabei me sentando no chão mesmo quando as pernas começaram a doer. O silêncio entre nós agora não era algo que incomodava, mas era até confortável.

Um pensamento percorreu minha mente. Lembrei-me de mim levando Klaus ao apartamento de Rose para que passasse um tempo com Jocelyn. Houve um dia calmo assim, pouco antes de toda a confusão começar. E então, de repente, depois de uns momentos mais sério, levantei-me e fui em direção à porta do quarto.

— Aonde vai? — Perguntou meu irmão.

Olhei-o.

— Resolver algumas coisas que vêm sido largadas pra trás.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Deixem um review *-*