Bom então deu vários chutes em meu corpo. Sangue espirrava para todo lado. Mesmo criando armas de gelo, ele as destruía como se elas fossem de papel.

– Não adianta! Você perdeu! ♥– riu Bom.

Ele tinha razão. Eu estava perdendo. Eu não podia me defender, nem atacar. Eu ia perder? Não, não posso! Eu fiz uma promessa para a Midori sete anos atrás!

024 - Promise: The tears of the Snow

Desde pequena, sempre fui uma rejeitada da vida. Antes de vir para a Hanko, eu estudava em um colégio comum.

Eu não gostava de sair em público... Isso porque, quando eu estava perto, nevava. Tanto que, na escola, sempre caía neve. Por minha causa.

– É a bruxa! – gritavam os moleques da escola. – A bruxa chegou!

Todos me maltratavam na escola. Sempre, sempre, eu era agredido por eles. Eles devem ter percebido que a neve que caía na escola. Sempre me torturavam. Sempre me maltratavam... Eu sofria bullying.

Eu odiava ser uma yuki-onna. Odiava mesmo.

Naquele dia, um dos garotos jogou uma lagartixa viva no meu prato.

– Coma! – disse ele. – Minha irmã falou que bruxas comem lagartixas vivas. Se você é uma bruxa, então, coma!

– Eu não como coisas assim. – falei. Mal terminei de falar isso, e os garotos começaram a me segurar, tentando me fazer comer a lagartixa... E eu comi. Umas vozes falavam ao meu redor.

– Eca! Ela comeu de verdade!!

– Ela colocou na boca!

– Credo, é uma bruxa!

‘’Cale-se!’’ pensei. ‘’Se sou mesmo uma bruxa, então você é o que, afinal? Acha que tem direito de fazer isso com os outros? Você deveria morrer! Morra!!!’’

Naquele dia, após um incidente, uma nevasca forte atingiu a cidade. E o menino que eu desejei que morresse... Ele morreu congelado na rua!

–Ele morreu porque eu desejei. – falei para minha irmã. – Eu cometi um homicídio. Quando a polícia virá me prender.

– Minha irmã. – disse Mio, minha irmã. – Não a provas de que foi você quem o matou. Ele apenas morreu congelado... Apesar de a nevasca ter sido causada por você. Mas, ser uma yuki-onna não é nada fácil.

– Eu o matei. Não quero mais matar ninguém. Eu... Estou com medo.

Depois do que aconteceu, minha família decidiu se mudar. Eu tinha oito anos na época. Um mês depois do incidente. Porém, os problemas ainda me seguiam. Quando saí daquela cidade, a neve parou de cair sobre ela. Mas em compensação, na cidade para onde me mudei, logo que cheguei começou a nevar.

Na nova escola, ninguém sabia da história do garoto, ou dos meus poderes. Mesmo assim, eu os evitava para que eles não descobrissem, e assim não me maltratassem. Assim, eu não iria matar ninguém.

E foi no primeiro dia de aula que eu a conheci.

Eu estava sentada sozinha, em um banco, debaixo de uma árvore, na hora do recreio. Quando, ela surgiu.

– Vai ficar sentada aí, sozinha? – perguntou uma voz.

A garota estava sentada em um dos galhos da árvore. Ela era ruiva de olhos castanhos, e tinha um bronzeado intenso. Ela sorriu para mim e desceu da árvore.

– Meu nome é Midori Nasegawa. Muito prazer. – ela estendeu a mão para mim.

– Prazer. Yuki. – falei, apertando a mão dela.

– Yuki? Só isso? Você não tem um sobrenome? – perguntou, me olhando com seus grandes olhos castanhos.

– Não. – respondi. Eu não podia revelar meu sobrenome. Se soubessem quem eu sou, ela saberia que eu sou a ‘’garota que provocou uma nevasca que matou um garoto’’. E se ela soubesse disso, ela poderia me maltratar.

– Deve ser chato não ter um sobrenome. – disse Midori. – Existem várias Yukis no mundo. Assim, não tem como saber qual Yuki você é.

Desde aquele dia, Midori sempre vinha falar comigo. Nós duas estávamos sempre juntas. Ela sempre estava sorrindo. Tentei me afastar dela diversas vezes. Mas, era ao lado dela que eu sempre estava. Eu era feliz junto dela.

...

– Foi uma amiga que me contou. – disse uma garota. – A Yuki matou um garoto. Um garoto da classe dela.

– Sério? – perguntou uma garota.

– É. Ela criou uma nevasca tão forte que...

A nevasca lá fora aumentou. Ela estava mais violenta.

– Essa nevasca... Foi você quem provocou ela, Yuki? – perguntou a garota.

Saí correndo da sala de aula.

– Yuki-chan, espera! – disse Midori, que veio correndo atrás de mim.

– Não se aproxime! – falei. – Não se aproxime de mim... Peço desculpas por não ter te contado antes...

– Yuki-chan...

– Eu sou uma yuki-onna. Sabe? Uma mulher das neves. Eu posso fazer nevar, e provocar nevascas e tempestades de neve. – eu me afastava cada vez mais dela. – Eu já matei uma pessoa, e não quero matar mais ninguém!

Eu tinha de me afastar. Eu não quero mais ferir ninguém. Eu só mereço ser punida pelo o que eu fiz.

– Yuki. – disse Midori. Nesse momento, duas coisas surgiram atrás dela. Pareciam asas de morcego... Não, espera. Eram asas de morcego! – Saiba que você não é a única com poderes aqui.

Ela se aproximou. Percebi que as asas estavam presas nas suas costas. Vi que ela tinha na frente dois dentes pontudos, um de cada lado.

– Midori... – falei espantada. – O que... Você é?

Midori sorriu para mim.

– Eu sou uma vampira!

Uma vampira? Midori era uma vampira? Não podia acreditar nisso. Mas, se bem que já que existem yuki-onnas, por que não pode existir vampiros também? Midori então, me abraçou.

– Sempre fui uma vampira. Tinha medo de que as pessoas descobrissem meu segredo. Mas, você sabe dele agora. Não tem medo de mim?

– Não. – respondi. – E você... Vai me maltratar? Rejeitar-me?

– Não. – ela respondeu. – Eu sou sua amiga. Sempre serei.

Uma lágrima desceu do meu rosto.

– Veja! A neve parou de cair. – disse Midori.

Eu olhei para fora. Realmente, agora estava fazendo sol! Durante anos, para onde eu ia sempre nevava. Mas... Agora... Parou de nevar.

– Midori... Eu posso ficar com você? – perguntei.

Midori sorriu e respondeu:

– Sim!

– Então... Eu prometo que estarei sempre ao seu lado! – falei.

– Tá prometido! – ela disse.

Não demorou muito para eu aprender a controlar meus poderes. Logo, eu e Midori viramos melhores amigas. Quando tinha mos dez anos, fomos estudar no colégio Hanko. Lá, conhecemos Aki e Ritsu, que logo viraram nossos amigos (apesar da Ritsu e da Midori estarem sempre brigando). Hoje, na nossa ‘’família’’ temos um novo membro: Tetsuya.

Sou grata a Midori por ter se tornado minha amiga. Prometi a ela que estaria sempre ao seu lado. Sempre...

...

– Por esse motivo, não posso morrer aqui! – falei.

– Hã? O que você está resmungando aí, sua moribunda? ♥–perguntou Bom.

Me levantei. Mesmo ensanguentada, e muito ferida, me levantei.

– Eu não posso morrer aqui. Eu tenho de estar junto da Midori não só por causa da minha promessa, como também porque eu amo ela... – falei.

– Ah, que amizade bonita você parece ter com essa tal de Midori. ♥ – disse Bom.

– Eu amo ela... Mas não a vejo só como uma amiga. – falei. – Eu gosto dela como amiga, mas também de outra forma... Já que eu sou lésbica.

– Opa! Revelação! ♥ – disse Bom. – Me diga, quem é você.

– Meu nome é Yuki. – falei. – Yuki Kakizaki. E é por causa dessa promessa e desse amor... Que eu vou te derrotar!

CONTINUA
NO CAPÍTULO 025