Oferenda De Flores escrita por Reira chan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/233500/chapter/1

E se ela, de fato, conseguisse Tsukune Aono para si?

Essa era a dúvida que, diariamente, se repetia incessantemente, insistentemente, agarrando-se com todas às suas forças à mente de Mizore para que não morresse. Mas o “ela” a quem ele se referia não era a Abominável Mulher Das Neves a que o pensamento pertencia. Não, a “ela” de sua mente, a “ela” que ela jamais havia conseguido, de fato, esquecer, era a súcubo Kurumu Kurono. Sua maior rival no amor, e ao mesmo tempo seu maior amor.

Suspirou, observando as gotículas geladas que saíam de sua boca vaporizarem-se com o calor lá fora; dava um efeito bonito, apesar de obscurecer sua visão. Às vezes, pensava ela, era melhor não ver certas coisas.

Jamais negaria que, realmente, havia se atraído por Tsukune um dia. O garoto era sorridente, simpático, profundo, bonito. De certa forma, inalcançável devido à enorme concorrência. E isso a atraía, ela queria ter a capacidade de ser tão carismática. Mas todos os seus sentimentos pareciam sempre congelar quando queriam emergir, o mundo exterior era frio demais pra eles.

Quão irônico.

Apesar disso, o moreno nunca realmente entendeu os sentimentos de Mizore, e quanto a isso ela não se referia, obviamente, ao fato de ela amá-lo, pois era o único sentimento que ela jamais conseguiu extravasar, o único que jamais congelou e deu meia volta no meio do caminho.

A prova de que não era, de fato, um sentimento.

Não, o fato é que Tsukune jamais entendera sua frieza, jamais fora capaz de ver qualquer coisa do que tinha por trás dela. Jamais fora capaz de entender todo o esforço que ela fazia, ou o quanto realmente gostava de seus amigos. Os sentimentos que ela tinha pelo moreno eram tão superficiais quanto o sorriso do mesmo. Simplesmente atração, mas ela demorou algum tempo para perceber quem realmente a via por trás daquele pirulito que tornava o interior gelado, apesar de não demonstrar, quem corria para salvá-la no final das contas. Quem era, tanto quanto Aono, o maior oposto que Mizore jamais poderia encontrar.

A sua anterior rival, justamente aquela com quem mais lutava: Kurumu Kurono.

O destino era cruelmente gélido com a garota, mas era isso evitável?

Um pequeno sorriso cruzou seus lábios. Ela lembrava-se de todo o tempo em que as duas treinaram juntas, com o objetivo de derrotar a alter-moka. Se lembrava das inúmeras vezes em que as duas, juntas, de alguma forma inevitável, se ajudaram para derrotar o inimigo. Seus poderes se completavam facilmente, tanto quanto o calor de uma e a frieza de outra o faziam.

Ora, mas por que raios de motivo ela estava sorrindo? Balançou a cabeça, olhando ao redor. Estava na terra do gelo, cercada por milhares de lanças congeladas, brilhando de forma irônica e apontando em todas as direções, prendendo-a ali.

Ela mesma tinha invocado aquelas lanças.

Ela precisava daquilo, precisava daquilo para não quebrar.

Silenciosamente, ela ouvia as mensagens que o seu boneco de gelo passava para Kurumu, Tsukune... E os outros, com lágrimas escorrendo pelos olhos.

Não lhe importava que, no fim, aquele homem terrível e desconhecido não tivesse seguido com seu plano. Não lhe importava, porque ela tinha perdido. Ela tinha sido escolhida para se casar com ele, e por isso, não tinha mais o direito de amar. Ela não era mais pura, porque não tinha mais liberdade. Ela não podia e não devia. Mesmo que ela tentasse escapar, só traria mais problemas aos seus amigos.

Ela não podia... Não podia cometer tal crime contra eles, não podia se manter naquela posição.

De que adiantaria, afinal?

Para voltar a fingir amar o que não o fazia, e competir por ele com o que não tinha?

Outra lágrima se formou em seus olhos e, assim como ela quebrava por dentro, o seu boneco de gelo quebrou, no meio da escadaria, em uma grande explosão de facetas coloridas, do brilho gélido e indiferente do gelo e do som musical de sua queda na escada, sem ritmo ou sentido, uma melodia surrealista.

Um tempo sozinha, ela pensou, indo em direção à janela, sentando-se sobre ela. A vila onde ela tinha nascido. Grandes e imponentes arranha-céus de gelo, que soltavam facetas de arco-íris. Era uma bela visão para seu leito de morte. Mas parece que o tempo que perdeu olhando pela janela foi demais, e quando voltou a olhar, viu ali Tsukune, com o olhar mais culpado que ela jamais vira. E viu também Kurumu, com algumas lágrimas escorrendo pelos olhos, a perfeita reprodução de como Mizore também estava no rosto da súcubo.

 - Eu disse para não virem... Seus idiotas – ela falou, lentamente pendendo para trás, ouvindo algumas palavras doces de consolo, alguns conselhos, frases de que tudo ia ficar bem e pedidos para que voltasse. Mas nada realmente passou pelos seus ouvidos, ou ela teria voltado. Ela simplesmente terminou de perder seu equilíbrio, e caiu para trás, vendo ao seu redor a neve que parecia subir ao invés de descer, tamanha sua velocidade. O gelo a fascinava, por mais que estivesse acostumada com ele, por mais que o tempo que passara na academia Yokai, longe da neve, tivesse sido o melhor da sua vida. Era simplesmente lindo, mas ela não queria olhar. Fechou os olhos e sentiu o vento torturando seu rosto, repreendendo-a por ser tão idiota, por ter arriscado-se a ficar com Tsukune sem amá-lo apenas para fugir, por ter conseguido o ódio daquela que amava, tudo para não ter que se casar, e ter perdido tudo... O próprio vento a torturava por sua imbecilidade.

Até que, de repente, o vento se tornou quente, algo que ela jamais poderia esperar no meio daquelas terras. Mais do que isso, ela se sentiu flutuar. Abriu os olhos, esperando ver qualquer coisa, qualquer coisa, menos aquele rosto conhecido, distorcido e enfeitado com lágrimas brilhantes.

Brilhantes, frias, que lhe lembravam o gelo.

E, pela primeira vez, ela odiou o gelo.

 - Pare... Não venha me salvar... Já se esqueceu de que eu traí vocês? – mais do que isso, ela traíra a si mesma. E Kurumu realmente acreditava que Mizore a havia usado. Isso fazia a mulher gelada sentir-se tão culpada, que realmente acreditava que preferia que a maga a soltasse de vez para cair de seus braços, como todas as vezes fizera, metaforicamente – aquele homem me roubou um beijo. E quase fui violentada. Não tenho mais coragem de olhar para a cara de ninguém...

Aqueles não eram seus reais motivos, mas a última frase era sincera.

 - Mizore – a outra chamou, e ela foi forçada pela sua voz a virar-se e olhá-la.

Mas não teve muito tempo para reparar em seu rosto, pois, assim que ela virou-se, Kurumu tomou seus lábios, de forma que ela sempre sonhara e nunca esperara. Surpresa, arregalou os olhos, apenas para perceber que a outra monstra mantinha-os fechados. Involuntariamente, seguiu o exemplo, permitindo que a língua dela lhe invadisse e irresistivelmente dançando com ela, movendo-se sem ritmo exato, naquela mesma melodia surrealista, bela e musical que ela antes formara com seus cacos. Não conseguiu evitar corresponder, acompanhando-a pelo tour em sua boca e seguindo na da mesma. E, pela primeira vez, a maga do gelo deixou o calor envolve-la completamente, sentindo o rubor crescer cada vez mais em sua bochecha, sentindo o seu corpo ficar quente em uma mistura de coisas que ela jamais sentira, e gostou disso. Gostou da forma como seu coração gelado ganhava vida e acelerava, gostou da forma passivamente bela com que ela a beijava.

Misteriosamente, as duas se separaram, e a primeira reação de Mizore foi a óbvia.

 - O que está fazendo, sua louca? E... Onde aprendeu a usar a língua desse jeito... – involuntariamente completou, em um sussurro.

 - Viu só? Não tem nada de mais em um beijo...  – a outra a ignorou completamente, com o rosto coberto de lágrimas peroladas e brilhantes, abraçando-a.

Não era verdade.

O beijo anterior mexera com ela.

E aquele também.

E, pela primeira vez, um sentimento dela, um sentimento real, conseguiu emergir, bem ali, em seus braços, e loucamente, ela chorou. Chorou como um pequeno bebê, desabafou tudo, seu medo, sua insegurança, seu arrependimento. E a outra, sem palavras bonitas ou utópicas, simplesmente a ouviu e abraçou, com um “eu sei” pronunciado com tanta leveza que a levou a perceber que, bem no fundo, Kurumu a entendia, e sempre entenderia.

E era por isso que ela a amava, por mais que ela achasse que aquilo fosse impossível.

Sem saber que, por dentro, a súcubo suspirava aliviada.

Essa idiota... Realmente acha que eu a beijei só para provar algo... ela pensou, com um sorriso interior.

Porque, no fundo, ela também gostava de poder ver o outro lado da outra, se entregando em seus braços.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

DEIXEM SUAS CRÍTICAS. POR FAVOR.