Mai: O que vamos fazer? – perguntou com a voz monótona.

Any: Não sei, a cidade ta vazia. – observou.

Mai: Acho que não. As aulas começam em dois dias, o povo já deve ter voltado. Vamos dar uma volta? – ela já pegava a bolsa.

Any: Ta. Seus pais deixaram o carro? 

Mai: Deixaram. – e as duas saíram juntas pela cidade.

- O que desejam senhoritas? – perguntou um jovem rapaz, de no máximo vinte anos, enquanto as duas entravam na sorveteria.

Any: Chocolate com menta, por favor. – ela sorriu.

Mai: Morango e baunilha. – os olhos dela estavam fixos do lado de fora.

Any: O que aconteceu Mai? – ela perguntou assim que o rapaz se afastou.

Mai: Olha pra trás. – ela disse, desviando seu olhar em seguida.

Any discretamente virou um pouco a cabeça, e ficou surpresa, assim como Mai. Christian, JP, Rafael, Belinda, Melissa, Lara e Taylor, os mais populares do colégio, todos ali, juntos, rindo, se divertindo...

Mai: Parece que voltaram. – ela tentou não dar importância.

Any: O Chris ainda não voltou do intercâmbio? – ela perguntou, fazendo mentalmente a conta, de quantos meses ele já estava longe.

Mai: Não sei. Acho que ele ia ficar seis meses só, mas, vai saber... – o rapaz apareceu ali novamente, entregando o sorvete para as duas, e elas sorriram.

----------------------------------------------------------------------

Poncho: Dulce? – ele bateu na porta – Dulce, ta pronta? – perguntou impaciente. 

Dul: Agora to. – ela abriu a porta, saindo já com a mochila na mão.

Poncho: Então vamos, se não você chega atrasada. – ele sorriu, e a ajudou com a mochila. – Nervosa pro primeiro dia? – eles desciam as escadas.

Dul: Um pouco. Principalmente porque é o primeiro dia só pra mim, todo mundo já ta no meio do ano e tal... – ela deu de ombros.

Poncho: Vai dar tudo certo. Se não der, quando o Chris voltar, ele dá um jeitinho... – ele sorriu, os dois saíram de casa, e entraram no carro.

Dul: Você não precisa me levar pro colégio todos os dias, posso muito bem ir de ônibus, sempre fiz isso em Nova York. – informou.

Poncho: Quando os transportes públicos daqui se tornarem algo viável, quem sabe. – ele riu.

Dul: Aqui não tem ônibus? – ela escancarou a boca.

Poncho: No centro até tem, talvez passe um a cada duas horas. – ele ainda ria.

Dul: Nossa! – e foi só o que ela conseguiu dizer.

Poncho: Você já tem dezesseis anos, né? – ela assentiu com a cabeça – Já pode dirigir, o carro do Chris ta na garagem desde que ele viajou... 

Dul: Eu? Dirigindo? Até lá a cidade já ganhou um metrô... – ela sorriu, meio sem graça, e foi analisando a paisagem, no caminho até o colégio.

Completamente diferente do seu antigo colégio, esse, trazia um toque meio rústico, muito verde, um estacionamento lotado de carros e bicicletas... Tudo muito diferente!

Dulce seguiu uma placa que dizia Secretaria e quando chegou lá, todos pareciam ser íntimos dela.

- Dulce Maria minha querida, bem vinda ao Elite. – uma mulher meio rechonchuda disse, sorrindo e entregando milhões de papéis para a aluna nova – Essas são as suas aulas, se tiver dúvida para achar algum dos campus, é só me procurar. – ela piscou.

Dul: Ta, valeu. – ela sorriu, e saiu dali rapidamente. – Biologia no primeiro tempo? Isso só pode ser tortura... – ela falava consigo mesmo, enquanto tentava achar uma placa que indicasse onde era a sua sala.

- Precisa de ajuda? – uma voz masculina perguntou próxima ao seu ouvido, Dulce se virou. – Você deve ser Dulce Maria... – deduziu.

Dul: Dulce. – corrigiu – Completamente perdida. – ela admitiu.

- Bom, e qual é a sua primeira aula? – perguntou se aproximando dela.

Dul: Biologia. – fez uma cara de nojo.

- A minha também. Acho que podemos ir juntos então... – ele sorriu, e ela apenas assentiu. – Ah, muito prazer, Christian Chávez. – ele sorriu malicioso, e beijou uma das mãos de Dulce, enquanto ela ria meio constrangida.

Dul: Como é longe... – analisou quando já entravam na sala.

Christian: Senhor Hernandez, desculpe-nos o atraso. Encontrei uma aluna nova perdida no caminho. – ele sorriu, e logo foi para o seu lugar.

Sr. Hernadez: Você deve ser Dulce Maria... – ela assentiu e ele a cumprimentou – Seja bem vinda. Você pode se sentar ali... – ele apontou para a mesa de Christian – Já que o Christopher parece não voltar nunca.

Dul: Obrigada. – e então, ela foi se sentar.

Dulce quase dormia em sua aula. Toda aquela matéria já havia sido vista por ela. Christian soltava piadinhas vez ou outra, mas Dulce parecia nem se importar. Ela começou a analisar todas as pessoas a sua volta, e percebeu uma divisão clara.

Na primeira fileira, aqueles que pareciam não ser muito entrosados com os outros. Nas três fileiras do meio, os mais falantes, alegres, bobos... Nas últimas duas fileiras, os ditos meio termo. 

O sinal bateu, e ela rapidamente pulou da cadeira. Christian riu, e logo começou a falar...

Christian: Qual é a sua próxima aula? – perguntou.

Dul: Hmm... – ela abriu os vários papéis mais uma vez – Espanhol.

Christian: Creo que pasaremos todo el dia juntos nenita. – ele sorriu, e os dois seguiram para a próxima aula.

------------------------------

Mai: Você viu? – ela abriu a boca – A garota mau chegou e o Christian já ta caindo em cima... – disse inconformada.

Any: Ele é galinha. – ela deu de ombros – Mas ela não parece fazer o tipo dele...

Mai: Ela é completamente diferente das meninas que ele sai. Ela é toda básica, calça jeans, casaco, tênis... Completamente diferente da Taylor. – ela falava, ainda inconformada.

Any: Mas ela é bonita. Mesmo sendo meio sem graça. – admitiu – Espero que o Christian não arraste ela pro grupinho dele, porque mais uma, ninguém merece...

Belinda: Vocês viram a garota de Nova York? – ela passou por Any e Mai, com toda a patotinha atrás. – Ela é bem bonita, só precisa de uma ajudinha nossa. – ela sorria.

Taylor: O Christian já tá todo assanhadinho com ela. – fez bico.

Lara: Ah Taylor, ainda ele? O lance de vocês já passou... Desencana. – ela abraçou a amiga.

JP: E aí meninas? – ele chegou abraçando Belinda por trás – Como é a garota nova? – perguntou curioso.

Rafael: Tão dizendo que o Christian já ta investindo nela... – ele sorriu malicioso – Tomara que o Chris não se importe.

Melissa: Eles não são irmãos. E o Chris nunca se importa com nada... – ela disse sem dar importância.

JP: Bom, vou pra aula de espanhol, finalmente conhecer a sensação do colégio. – todos riram, e se despediram dele.

 Tenemos una nueva alumna... – disse a professore de espanhol, apontando para Dulce. – Por favor, preséntate.

Dul: Hola! – ela se levantou, e corou rapidamente – Me llamo Dulce, soy nueva en la ciudad, antes vivía en Nueva York... Y bueno, creo que eso es todo. 

- Gracias Dulce. Bienvenida. – ela disse antes de dar início á aula.

O colégio inteiro só sabia falar da aluna nova. De como ela era bonita, de como era tímida, de como se vestia de maneira diferente, de como parecia ser inteligente, do fato de ser meia irmã do garoto mais popular do colégio, do fato de que Christian já estava investindo nela.... E tudo, era apenas o começo.

Christian: Se quiser sentar na nossa mesa... – ele sorriu, e foi se afastando dela, rumo ao refeitório. Dulce apenas sorriu.

Any: Olá! – ela disse, enquanto andava ao lado de Maite, rumando também para o refeitório. – Sou Anahí, prazer. – ela estendeu a mão, toda sorridente.

Dul: Oi. – ela sorriu igualmente – Dul. 

Mai: Eu sou a Mai. – ela deu um tchauzinho para a ruiva, que retribuiu – Ta gostando do colégio?

Dul: Acho que sim. Só não to acostumada a ser a novidade... – ela sorriu sem graça.

Any: E põe novidade nisso. O colégio inteiro ta falando de você. – ela confessou.

Mai: Há muito tempo que não aparece aluno novo por aqui, ainda mais, no meio do semestre. – as três entraram no refeitório, rapidamente tendo os olhares voltados para si. – Você e o Christian já se conheciam? – perguntou enquanto pegava uma bandeja.

Dul: Não. Ele só me ajudou a me localizar um pouco...

Any: Ele ta afim de você. – ela entregou.

Dul: Não, não! Ele só foi simpático. – ela escolhia o almoço.

Mai: Você não conhece o Christian. – ela fez uma careta, e as três riram.

Any: Se quiser, pode almoçar com a gente. – ela deu uma piscadela, e Dulce concordou.

Belinda: Só falta a ruivinha se juntar ao grupo das sem graçonas. – ela disse na mesa ao lado, em um tom normal, fazendo com que todos na sua mesa, caíssem na gargalhada. Dulce se virou, com cara de pouco amigos.

Dul: Acho bom você guardar suas opiniões para si própria, antes que eu resolva quebrar o seu joelho. – ela sorriu irônica ao final, Belinda engoliu a seco.

Any: Nossa... – ela ria – Isso foi... – tentou procurar as palavras....

Mai: Incrível. – ela completou.

------------------------------------------------

Any Tchau Dul! – ela acenou.

Dul: Tchau meninas, até amanhã. – ela sorriu, e correu para o carro, onde Poncho estava a sua espera.

Poncho: E então, como foi seu primeiro dia? – perguntou.

Dul: Legal. – ela mexeu no rádio, procurando uma música a seu gosto.

Poncho: Abusada. – ele riu. Dulce encostou a cabeça no banco, fechou os olhos, e só os abriu quando chegou em casa – Pula pra fora. – ele saiu do carro, e ela em seguida fez o mesmo.

Dul: Que silêncio. – percebeu enquanto entrava em casa. 

Poncho: Meu pai sempre chega muito tarde, e a sua mãe, praticamente não tem horários. 

Dul: Verdade. Acho que por isso me acostumei a ser meio sozinha...

Poncho: Pois pode ir tratando de desacostumar. Que tal uma partida de Guitar Hero? – ele tirou o tênis, deixando-o no meio da sala, e se tacou no sofá.

Dul: Ok. Mas... – ela se jogou ao lado dele – Prepare-se para perder. – disse confiante.

Depois de muita risada, muita besteira jogada pelo tapete da sala, Dulce acabou se rendendo, e admitindo que mal conseguia sair do nível mais fácil.

Poncho: Você é uma negação... – ele ria.

Dul: Claro que não. Você que é viciado nisso, deve ficar jogando essa porcaria o dia inteiro... – ela sentou no tapete.

Poncho: Você precisa treinar... – ele se sentou ao lado dela.

Pela primeira vez, Dulce reparou em Poncho como homem, e não, como seu meio irmão mais velho. Descalço, com as pernas puxadas para o tronco, sentado no tapete, com uma blusa de manga comprida branca, enrolada até metade do braço, uma calça jeans escura, ele parecia bastante bonito.

Dul: Sabe... – ela disse pensando consigo mesma – Você até que é bonito. 

Poncho: Nossa!!! – ele riu – Obrigado pelo até que é bonito. – rindo, ele a imitou.

Dul: De nada. – ela piscou e riu também.

Poncho: Sabe, você até que é bonita também. Já vi que vai me dar trabalho... – ele disse a puxando para um abraço.

Dul: Até parece. – ela riu, e retribuiu o abraço, ainda que estranhasse tudo aquilo.

-----------------------------------------------------------------

Any: Amiga, vamos no Point? – perguntou ao telefone.

Mai: Preciso terminar os exercícios de biologia. Pode ser á noite?

Any: Fechado. Podíamos chamar a Dul... – sugeriu.

Mai: Pode ser. Tenta falar com ela, ela te deu o telefone...? – perguntou.

Any: Deu sim. Vou ligar pra ela, nos vemos no Point, às sete. Beijinhos. 

Mai: Xoxo! – as duas desligaram.

Any: Por favor a Dulce. – disse depois de discar o número da ruiva.

Poncho: Quem deseja? – perguntou, com uma voz que fez Any se arrepiar da cabeça aos pés.

Any: Anahí, do colégio dela... – disse nervosa.

Poncho: Vou chamar. – a voz se afastou um pouco – Para a senhorita. – ele entregou o telefone para Dulce.

Dul: Alô. – parecia surpresa.

Any: Oi Dul, é a Any. 

Dul: Ah, e aí? 

Any: Escuta, eu e a Mai vamos no Point hoje a noite, às sete horas. Ta afim?

Dul: Não sei. – ela pareceu pensar, não estava acostumada a receber convites, ainda mais, dia de semana – Poncho – ela se dirigiu a ele – a Any ta me chamando para ir no Point, será que você pode me dar uma carona?

Poncho: Claro. Fiquei de encontrar com uma amiga lá, eu te levo. – ele sorriu, e entrou na cozinha.

Dul: O Poncho vai me levar, te vejo lá então.

Any: Poncho é o irmão mais velho do Chris? – perguntou curiosa.

Dul: Urrum. 

Any: Vamos ver se a beleza é coisa de família. – ela soltou um risinho, e Dulce nada entendeu – Nos vemos mais tarde, beijinhos. – ela desligou antes de ouvir uma resposta.

----------------------------------------------

Any e Mai não eram as únicas estudantes do colégio Elite presentes no Point. Na verdade, o primeiro e o segundo ano inteiros pareciam estar ali. O Point nada mais era, que uma rua de paralelepípedo sem saída, com uma sorveteria, um restaurante, dois barezinhos, uma loja de doces, um pequeno cinema, e uma fonte no final da rua.

Any e Mai estavam sentadas na sorveteria á espera de Dulce, observando os ditos “populares” do primeiro ano, que riam e conversavam animadamente ao lado da fonte. Quando Dulce apareceu acompanhada de Poncho, logo no início da rua, mais uma vez todos os olhares se voltaram á ela.

Poncho: Você não me disse que estava fazendo tanto sucesso. – ele riu, e colocou o braço no ombro dela, enquanto iam juntos para a sorveteria.

Christian: Poncho... – ele chamou, indo atrás dele, antes que ele e Dul chegassem á sorveteria – E aí cara? – perguntou, estendendo a mão, e dando-lhe um meio abraço.

Poncho: Fala Christian. – ele também estendeu a mão – Tudo certo?

Christian: Tudo, tudo na boa. E o Chris? Resolveu não voltar? – ele sorriu.

Poncho: Nada! Semana que vem ele deve ta chegando já. – ele sorriu, e fez menção para apresentar Dulce, mas essa já havia sorrido educadamente, e saído do lugar. – Ué, cadê a Dul?

Christian: Foi pra sorveteria. – ele apontou para ela, que agora estava sentando-se na mesa onde já estavam Mai e Any – Vocês tão se dando bem, né? – puxou assunto. Poncho nada respondeu. – Poncho? – ele mantinha o olhar distante – Ei cara, você ta legal? – perguntou sacudindo-o pelo ombro.

Poncho: Que? – perguntou por fim, saindo de seus pensamentos. 

Christian: Que foi? Parece que viu um fantasma... – ele riu.

Poncho: Não, é só que... – balançou a cabeça, confuso – Quem são as amigas da Dul? – curioso.

Christian: A morena é a Maite, e a loira é Anahí. – deu de ombros – São as nerds da sala. 

Poncho: E muito bonitas também... – disse babando. 

Christian: Você acha? – surpreso.

Poncho: Com certeza. – seguro – Você nunca reparou nelas?

Christian: Não muito. – ele virou para fita-las – Mas sabe... Até que você tem razão. Nunca tinha reparado nas pernas... – ele sorriu malicioso.

Poncho: Se eu tivesse a sua idade, repararia. – ele piscou – Bom, já vou indo. A Gabi ta me esperando. 

Christian: Valeu cara, até mais. – ele saiu, voltando para o seu grupinho, e Poncho foi até o restaurante, na busca de Gabi.

.....