Before The Hypocrisy escrita por BiaHoTomato


Capítulo 1
Happy


Notas iniciais do capítulo

Somente Bianca Nightame é um personagem meu. Volto a frisar de que ela não é Bianca DiÂngelo e nem um plágio da mesma.
Boa Leitura.



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Bem, não sei direito como contar minha história, mas aí vai.

Eu era só mais uma pessoa no mundo.

Morei no Brooklin durante quase toda a minha infância, mas, ao chegar a tempos difíceis, meu pai, Thomas, resolveu se mudar para New York. Tentei ser aceita em todas as escolas para as quais me mandava, mas sempre acabava sendo a "esquisita", "branquela", "dos coturnos", "aquela-menina-que-parece-autista" e uma vez até "branca de neve".

Passo grande parte das aulas ouvindo música, não paro nem no almoço (a bateria do meu Ipod sofre). Meus profesores pararam de ligar para a minha falta de atenção, já que, sendo disléxica, mesmo quando confiscavam meus aparelhos eletrônicos não conseguia entender os escritos no quadro.

Já tentei me enturmar diversas vezes, mas as pessoas sempre acabam olhando feio pra mim, ou então dizendo "oi", sem graça, e se afastando. Minhas músicas são minhas únicas amigas, assim por dizer. Tenho um Ipod muito velho e um celular somente ligações emergenciais. Papai me disse que foram presentes de minha mãe, juntamente com os jeans surrados que eu adoro e, mesmo estando alguns números acima do meu, é a calça que mais uso.

As íris de meus olhos são muito grandes, chegando a ser assustadoras, com sua cor castanha, bastante avermelhada, que na escola eram associados a olhos de demônio. Meu pai diz que isso é uma característica linda em mim, e que eu deveria valorizar, porém a única coisa que via quando me olhava no espelho era uma pessoa com uma cor e tamanho de olhos completamente anormal.

Eu tinha sonhos. Sonhos de menina. Menina boba e ingênua. Sonhava em crescer e me casar com alguém perfeito, que me aceitasse pelo o que eu era. Mas, no fundo, sabia que nada daquilo poderia acontecer com a estranha, branquela, que usava coturnos. Então eu passei muito de meu tempo apenas ouvindo músicas com histórias de pessoas perfeitas, lendo livros sobre contos de fadas, vendo filmes de final feliz, sabendo que eu nunca teria uma vida assim, sequer comparável às vidas de todas as histórias que conhecia.

Nos intervalos e almoços, sento-me à mesa mais afastada da porta, sozinha, já que ninguém se juntou a mim, nem mesmo aqueles que eu chamei, em todos os meses que estive nessa escola.

– Bia. - Ouvi uma voz ao longe em meio a meus devaneios. Ignorei e continuei de cabeça abaixada, sob o meu capuz e imersa na música. Eu ouvia Bubbly, de Colbie Caillat.

– Bia. – A pessoa insistia. Ignorei novamente.

– Bia! - O ser humano pegou em meus ombros e me sacudiu, me fazendo derrubar uma caixa vazia de suco da minha bandeja.

– Que é? - Respondi irritada, levantando a cabeça, fazendo meu capuz escuro cair e revelar meu cabelo mais escuro que a peça de roupa. Em minha frente vi um menino nos seus aproximados 15 anos, cabelos loiro-escuros desgrenhados como se não fossem penteados há anos, olhos azuis penetrantes, sobrancelhas arqueadas e boca repuxada num sorriso de canto, com uma expressão divertida. Aquele era o novo aluno.

– Ach... ...e do...a – Ouvi sua voz abafada ao longe. E então me toquei de que ainda mantinha os fones. Retirei um deles.

– O que disse? – Perguntei curiosa, aquele era o cara mais bonito que já tinha visto.

– Eu disse que achei que dormia. Você parecia estar dormindo. – O menino explicou casualmente como se me conhecesse há muito tempo. Ele sentou ao meu lado e roubou uma maçã de minha bandeja. Pude perceber alguns olhares incrédulos e exclamações de pessoas nas outras mesas. Afinal, o que aquela pessoa fazia na minha mesa?

– Com licença, eu te conheço? – Levantei uma sobrancelha interrogativamente e o menino deu uma mordida na maçã, deixando escorrer pelo canto da boca uma gota do suco da mesma.

– Acho que não. – Comentou ele. – Sou Stoll, Travis Stoll. – Ele completou me estendendo a mão direita, que não segurava a maçã. Eu olhei para seu rosto, sua mão e depois para seu rosto novamente.

– Bianca. – Falei e voltei a colocar meus fones, ignorando a presença do menino e abaixando a cabeça.

Senti um puxão no meu casaco e escorreguei do banco, caindo no chão. Por pura sorte, alguém havia deixado sua mochila exatamente onde a minha cabeça colidiria com o chão, provavelmente me desacordando, mas havia alguns cadernos nada macios nela, o que provavelmente me deixaria com um galo depois. Olhei para cima e descobri que quem me puxara teria sido Milla.

Sabe quando em filmes de colegial há a “valentona” loira de olhos azuis, que é uma patricinha, e destrói a sua vida social? Pois é. Só que ela não precisava destruir a minha vida social, então tinha certa preferência em danificar minha integridade física.

Ela é Milla Kennedy, uma patricinha mimada e exatamente o contrário de mim.

Vinda de família rica, descendente de um homem que fora presidente assim como a mesma adorava se gabar, Milla era a típica metida americana. Sempre indo ao shopping, às festas dos “populares” e andando com seu grupinho de falsas loiras, que se autodenominavam “L.L.E.I.” (Sigla que eu nunca descobri, ou tentei decifrar), ela vivia vestida de cores claras que chamavam atenção para seu bronzeado magnífico, que era mantido graças às suas viagens mensais à Califórnia.

Seus olhos, apesar de estreitos, e de estar sempre repletos de maquiagem, têm um tom de azul muito bonito, muito claro, e seu olho direito tem uma mancha branca devido a um acidente na infância que, mesmo sendo um defeito, não tirava a graça de seu olhar.

Seus cabelos loiro-claros naturais eram cacheados, porém ela os alisava todos os dias, por não gostar do aspecto de seus cachos perfeitos. Só sei que não são naturalmente lisos por que eles voltam a enrolar-se quando ela sai do banho no vestiário escolar e os seca com o secador, não com prancha de alisamento, após as atividades físicas. Seu nariz fino, assim como a boca, a deixavam com um ar esnobe, que ela revelava ser verdadeiro ao falar comigo.

Levantei-me, vendo a diferença extrema de altura entre mim e ela - ser muito baixa, mais uma para a minha lista de anormalidades – virei-me, pegando o meu Ipod, e checando se ele estava funcionando enquanto andava.

– Aonde vai, Black Nightmare?

– Para longe de você. – Respondi simplesmente, sem olhar para trás. Senti algo gelado atingir minhas costas. Ela havia jogado suco em mim. Avaliei rapidamente se deveria encará-la ou chamar algum professor, mas decidi não fazê-lo, e corri em direção ao banheiro, enquanto sentia o líquido descer quase até o cós de minha calça, então tentei secar o melhor possível com a barra seca da blusa, já que eu tinha somente uma blusa extra, a calça ficaria grudenta, se molhasse, pelo resto do dia.

O menino que falara comigo mais cedo, Travis, apareceu do meu lado.

– Você está bem? – Ele perguntou me examinando com um olhar preocupado.

– Estou sim. – Tirei a blusa extra, que sempre trazia, da mochila. – Prevenida.

– Isso é suco de uva? – Comentou, mais uma retórica que uma pergunta propriamente dita.

Entrei no banheiro e tirei o casaco e a blusa suja, limpando os resquícios de suco do meu sutiã e das minhas costas com um papel-toalha molhado, e logo após com um seco. Mas não importando o quanto eu esfregasse o líquido lilás, ele não saía de minha blusa.

– Que droga, não quer sair... – Falei frustrada estendendo a blusa em frente à parede vazia na qual estava presa a pia.

– Quer ajuda? – Falou Travis.

– O que faz aqui?! – Gritei ficando vermelha.

– Ah, lá fora estava chato, então...

– Então você entrou no banheiro feminino pra me ajudar a tirar o suco de uva da blusa? Você é retardado ou algo assim? – Franzi o cenho enquanto me cobria com a blusa, tentando não encostar o suco em mim.

– Eh, não pensei nisso. – Ele concluiu com a mão no queixo.

– Ah. Que dia lindo que eu estou tendo. – Eu disse e por fim me virei, secando o máximo possível de mim com papel-toalha e vestindo a blusa limpa. Virei e Travis ainda me encarava. Coloquei a blusa dentro da pia e liguei a torneira.

– Não vai sair? – Perguntei, cruzando os braços.

– Não. Gostei daqui. É bem mais limpo que o masculino. Sem contar que não temos pufes como esses por lá. E que cheiro é esse? Isso é lavanda? Vocês cagam perfume ou o quê? - Com este comentário eu, que já estava vermelha, fiquei quase roxa de vergonha, enquanto ele se jogava descontraidamente no pufe roxo gigantesco e continuava a me seguir com os olhos.

Ignorando a presença dele, peguei minha blusa suja de suco de uva e comecei a lavar na pia usando o sabão estranho que não fazia espuma do colégio. Não ficou perfeitamente limpa, mas pelo menos já dava para guardar sem deixar meu armário todo grudento. Torci-a para tirar o máximo de água possível e coloquei-a sobre o braço esquerdo. Joguei a mochila de qualquer jeito sobre o ombro direito, para em seguida pegar o meu IPod com a mão esquerda e saí do banheiro, sendo seguida de perto por Travis.

– Por que está me seguindo? - Levantei uma sobrancelha, mesmo sabendo que ele não veria.

– Não sei. Nada pra fazer. Tem alguma ideia? – Perguntou.

– Não. E você? – Ele apressou o passo, ficando ao meu lado.

– Bem... Eu tenho umas ideias, mas eu preciso que você aprove antes de eu fazer. – Deu um sorriso debochado, exibindo suas covinhas.

– Seu tarado! – Respondi e ri, enquanto dava um tapa em seu ombro com as costas da mão desocupada.

Acho que era a primeira vez em cerca de seis anos que eu dava uma risada tão sincera. O menino entrosão de banheiros contagiou-se por minha risada e acabou por alargar o sorriso e rir também. Parecíamos amigos. Velhos amigos que reencontravam após vários anos.

Travis me acompanhou até a sala em que teríamos aula e sentou-se ao meu lado. Coloquei a blusa molhada em um saco plástico que achei na mochila – teria levado meu lanche dentro daquilo mais cedo - coloquei a blusa dentro e aloquei o saco logo acima de meus livros, para que não me esquecesse de colocar a roupa suja na máquina de lavar quando abrisse a bolsa em casa.

Olhei para o loiro ao meu lado, absorto em fazer um desenho no seu caderno. Eu não sabia o porquê de aquele menino ter tanto interesse em fazer amizade comigo, mas estava gostando de alguma companhia, mesmo que de forma tão estranha.

Ele sorriu pra mim enquanto a professora escrevia algo que não era reconhecido por mim no quadro. Abaixei meus olhos e comecei a batucar de leve na mesa. Além de estranha, olhos de demônio, provavelmente anêmica, baixinha e disléxica eu sou, também, hiperativa.

Travis me passou um papel por baixo da mesa. Abri e vi que ele havia desenhado a professora com chifres vermelhos e um rabo, tão mal desenhada que era somente reconhecível pelos seus característicos óculos grossos e quadrados. Contive o meu riso, colocando a mão na frente da boca.

Então é assim que é ter amigos?


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Devo continuar?
Respondam nos reviews ou em MPs, se puderem!
Beijos~



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