Its Not Love, Its Gravitation escrita por Bella P


Capítulo 3
Capítulo 2




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Normalmente a viagem para T-003 levaria quadro dias em dobra dois. No caso da Thunderbird, levariam agonizantes sete dias devido a ordem de aportar na estação 14 para o carregamento de suprimentos que deverão ser levados para a colônia. Ou seja, Tatsuha teria que passar a próxima semana arrumando uma maneira de não ser visto pelos novos habitantes da nave. A começar por agora, quando recebeu o aviso de que a nave que transportava as bandas tinha acabado de entrar no hangar. Obviamente que as regras e a boa educação mandavam que o comandante da espaçonave fosse receber os visitantes. Mas o instinto de auto preservação fez Tatsuha praticamente grudar-se na cadeira de Capitão e lançar um longo olhar de cachorro que caiu da mudança para o seu piloto, Imediato e melhor amigo, Adam Hope. Aquele que também sabia todos os podres, problemas e complicações do passado de Tatsuha.

- Está me devendo uma enorme, pode apostar. - o homem resmungou ao pé do ouvido de Tatsuha ao passar pelo mesmo a caminho do elevador turbo.

- Eu também te amo. - Tatsuha respondeu com um sorriso maroto, o que fez Adam rolar os olhos. Pelas câmeras ele acompanhou a entrada da nave no hangar, a chegada de Adam no mesmo e o momento em que o transportador pousou e as suas portas se abriram. O primeiro a sair foi Tohma, acompanhado de Mika, o que fez Tatsuha retesar os ombros. Ele esperava que Ayaka, que pelo que sabia havia se casado com Hiroshi Nakano há alguns anos, fosse a esposa que estivesse seguindo com as bandas. Logo vieram Shuichi arrastando um Eiri carrancudo, acompanhados de K, Sakano, Noriko, Hiroshi, Suguru e, por fim, praticamente se arremessando para fora da nave como uma bola de energia, veio Ryuichi Sakuma.

- Nossa, ele não mudou nada com os anos. - a oficial chefe de comunicações, Maria Solomon, comentou quando viu a imagem do cantor no vídeo que ela tinha trazido online a pedido do Capitão.

- Dizem os rumores que ele é metade tauriano. - um dos oficiais cientistas estacionados na ponte comentou.

- Quem se importa? Nittle Grasper e Bad Luck estão à bordo e isso é demais! Será que eles vão se importar de baterem uma foto? - veio o comentário que fez Tatsuha erguer-se rapidamente e percorrer os olhos por todos que estavam ali, vendo a curiosidade no rosto de cada um.

- Vamos deixar algo claro aqui: eles são visitas e deverão ser tratados com respeito. Se pedirem por privacidade serão ouvidos e obedecidos. O que temos à bordo da Thunderbird são oficiais da Frota Estelar, não um bando de adolescentes apaixonadas. Ajam de acordo e passem a mensagem adiante. - o coro de “sim senhor” ecoou na ponte e segundos depois todos voltaram a atenção para o trabalho e as conversas foram cessadas. Tatsuha já previa que aquela seria uma longa semana.

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Adam tinha que confessar que depois de uma semana flutuando em uma Zona Neutra com nada mais para fazer além de ficar olhando o Espaço e as estrelas, as novas ordens da Frota trariam alguma emoção a Thunderbird. E chegou a esta conclusão no minuto em que as portas do transportador se abriram e o grupo desceu da nave a caminho dele, com alguns integrantes conversando e gargalhando. Hope não era muito antenado no mundo da música, era mais um homem de movimento, de esportes, de estádio lotado e times se enfrentando, mas isto não o impediu de reconhecer os músicos que compunham o Bad Luck e o Nittler Grasper, pois já havia namorado uma menina que era fã das duas bandas. E, obviamente, reconheceu primeiramente Ryuichi Sakuma por causa das histórias que Tatsuha lhe contou quando se conheceram, ainda cadetes recém alistados e novos companheiros de quarto, na Academia.

Hope também identificou Eiri Yuki e Mika Seguchi. Como não identificar quando a semelhança deles com o seu Capitão era enorme, principalmente pela parte de Eiri, com a diferença de que Tatsuha tinha curtos cabelos negros e olhos de mesma cor. Se não soubesse diria que os irmãos eram gêmeos ao invés dos seis anos que os separavam. Tohma Seguchi também era familiar para Adam, pois era o único membro da família com quem Tatsuha mantinha contato e o único do grupo que pareceu bem aliviado ao ver que era o piloto que estava no hangar para recebê-los. Adam quis sorrir, mas isto estragaria todo o esteriótipo que um civil possuía de um oficial da Frota: dedicado, sério e seguidor cego de ordens.

- Bem vindos ao Thunderbird. - a voz grossa de Adam fez todos pararem de imediato e ficarem em silêncio. Ryuichi e Shuichi arregalaram os olhos ao verem o oficial. Adam Hope era um homem cuja presença era difícil de se ignorar. Com a sua pele cor de canela, cabelo negro raspado, olhos amêndoa, ombros e peito largos marcados pela camisa do uniforme e 1.95 m de altura, realmente não dava para passar por ele sem lhe lançar um segundo olhar. - Eu sou o Comandante Adam Hope e serei o guia de vocês hoje.

- Não deveria ser o Capitão a estar aqui? - Mika arqueou uma sobrancelha na direção do Comandante e Tohma quis arrumar um buraco para se enterrar. Notou no segundo que viu o homem na plataforma que Tatsuha havia sido esperto e evasivo e agora Mika trazia a questão à tona sem saber os pormenores que a envolvia.

- O Capitão está no momento em uma conferência e pede desculpas pela ausência, mas irá compensar a falha com os senhores mais tarde. Agora se quiserem me seguir por favor. - Adam sabia que Tatsuha lhe arrancaria o couro ao ver a brecha que ele colocou em seu discurso, possibilitando assim que os visitantes tivessem uma oportunidade de conhecerem o Capitão, mas lidaria com uma coisa de cada vez.

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- Irei compensar a falha mais tarde? - Tatsuha praticamente rosnou para Adam depois de arrastá-lo para a sua cabine ao final do turno Alfa. - A falta de oxigênio no Espaço está finalmente afetando o seu juízo?

- Ah, qual é! O que de pior pode acontecer? - Adam perguntou com divertimento no tom de voz enquanto Tatsuha o mirava como se ele tivesse enlouquecido.

- Esqueceu de todas as histórias que te contei sobre a minha família?

- Há dez anos, Tatsuha. Há dez anos você era um adolescente sem eira nem beira pregando o lema “rebelde sem causa”. Hoje você é um homem, um Capitão da Frota Estelar, e possui uma causa.

- Certo, e que tal o fato de que eu fui embora sem dar adeus a ninguém...

- Você deu adeus ao seu cunhado.

- Uesugi são famosos por guardarem rancor tipo... para sempre.

- Você não parece rancoroso com a sua família, apenas hesitante em reencontrá-la.

- Eu evolui. Ensinamentos budistas, sabe como é. - Adam rolou os olhos.

- Ensinamentos budistas uma ova. Certo, você está com medo de um confronto, mas o que pode acontecer? Sua irmã gritar com você, seu irmão te olhar atravessado? Veja pelo lado bom, se eles apelarem para a agressão física você pode jogá-los na prisão por desacato a autoridade.

- É, vendo por este ângulo.

- Ou você está com medo porque tem a chance de finalmente se aproximar do seu adorado Ryuichi Sakuma? - Adam gracejou e Tatsuha se segurou para não arremessar um PADD na cabeça dele. A piada sobre a paixonite que ele teve na adolescência por Ryuichi Sakuma já tinha perdido a graça há anos. Como todo adolescente, Tatsuha cresceu e deixou paixões de infância para trás. Não tinha medo de conhecer Ryuichi Sakuma, na verdade não tinha nem mais curiosidade em conhecê-lo. O Nittle Grasper, por mais irritante que fosse admitir e ter que concordar com o seu pai e irmãos, foi uma fase. Uma fase que deixou lembranças boas de sua infância mas que passou.

- Eu odeio você.

- Odeia nada. Se não fosse por mim você não teria sobrevivido a Academia. - Tatsuha rolou os olhos diante da arrogância de Adam. Detestava quando ele tinha razão. Não na parte da sobrevivência, mas da ausência de sentimentos negativos em relação ao Comandante. Eram bons amigos, melhores amigos, irmãos praticamente, e isto nem ele mesmo poderia negar. - E só para você ficar sabendo: o Nittle Grasper e o Bad Luck gostariam de jantar com o Capitão para agradecê-lo pelo trabalho que ele está tendo em transportá-los até T-003.

- Adam...

- Eu disse que você iria adorar fazer companhia a eles no jantar. Então eles te esperam as 19:00 horas no refeitório dos oficiais para este encontro. - sete horas? Tatsuha olhou o cronometro sobre a sua mesa de trabalho que mostrava ser 18:45 horas, horário terrestre.

- Agora eu realmente te odeio! - rosnou, arrancando as pressas a camisa por sobre a cabeça e logo em seguida tirando botas e calças, recolhendo a primeira toalha limpa que encontrou e correndo para o banheiro. Se iria jantar com lendas da música, ao menos queria estar apresentável.

oOo

O refeitório dos oficiais normalmente ficava às moscas visto que o Capitão e cia. preferiam fazer as suas refeições no refeitório da tripulação, mas para aquela noite havia sido aberto e arrumado de acordo com as necessidades daqueles que iriam usá-lo. Ryuichi arregalou os olhos a pisar na sala e ver que a mesma possuía uma grande janela de observação em uma de suas paredes, por onde o Espaço passava a alta velocidade de maneira impressionante, como um borrão de paisagem quando você acelerava o carro em uma estrada vazia. Tohma olhou a sua volta, apreensivo, agradecendo o tripulante que os tinha levado até ali com um aceno positivo de cabeça, e viu que eles foram os primeiros a chegarem. Shuichi rapidamente correu para a mesa de aperitivos, arrastando Eiri com ele enquanto Noriko, Suguru e Hiroshi conversavam quietamente a um canto. K e Sakano trocavam ideias sobre a turnê à mesa onde seria servido o jantar e Mika, ao ver o marido quieto e pálido, aproximou-se dele e tocou o seu ombro, lhe chamando a atenção.

- Você está estranho. - Tohma arqueou as sobrancelhas douradas para a esposa. - Desde que soube que K tinha conseguido carona em uma nave da Frota, você está estranho. - errado, Seguchi estava estranho desde que soube qual era o nome da nave na qual iriam viajar. Se fosse outra nave qualquer ele não estaria com os nervos a flor da pele como estava agora. Uma coisa era encarar empresários, tubarões do mundo dos negócios, outra era enfrentar a ira de Mika Seguchi, esta era sem precedentes. Talvez se ele colocasse tudo em pratos limpos agora o choque seria menor, assim como a fúria da mulher mais contida.

- Mika. - Tohma pousou sua mão sobre a da esposa, entrelaçando os dedos e virando para encará-la. - Precisamos conversar. - disse em um tom que Mika sabia ser sério e importante. O mesmo tom que ele usou anos atrás quando contou à ela sobre Eiri e Kitazawa. A mulher prontamente sentiu um arrepio de medo lhe descer a espinha.

- Sobre? - Tohma inspirou profundamente.

- Tatsuha. - a reação diante do nome foi imediata. Mika soltou a mão dele como se tivesse levado um choque e deu as costas para o homem.

A partida de Tatsuha havia afetado Mika mais do que os outros integrantes da família Uesugi. Tetsuya apenas se conformou em saber que o seu destino era ver os filhos lhe dando as costas, abandonando tudo aquilo que ele construiu sem nenhuma consideração. Por isso que quando Tatsuha foi embora o homem não ficou surpreso, apenas irritado por um tempo e depois retornou a sua apatia usual. Quanto a Eiri, a reação dele de desprezo diante da situação foi mais do que esperada e Tohma tinha que confessar que parte era sua culpa. Havia mimado demais o escritor a ponto dele pensar que os seus problemas eram e sempre seriam maiores do que os dos outros. E por um tempo Seguchi concordou com ele até que percebeu que Eiri apenas usava isto como desculpa para simplesmente não se importar. Ao descobrir isto Tohma ganhou um novo respeito por Shuichi ao ver que apesar de todos os complexos e traumas ele ainda persistia, ainda lutava para trazer de volta à tona um Eiri que existiu no passado e que ele nem sequer conheceu.

Mika no entanto foi a que mais ficou abalada com a partida de Tatsuha. Ela que lutou com unhas e dentes para manter a família unida, que tomou para si a responsabilidade de mãe quando a mãe deles morreu. Que achou que estava fazendo um bom trabalho educando o caçula e ficou chocada ao perceber que tinha errado feio com ele. Quando Tatsuha foi embora sem dizer adeus, Mika gritou, esbravejou, xingou, usou de todos os meios e mais um pouco para encontrá-lo, sem saber que Tohma era a causa das pistas terminarem em um beco sem saída. Tatsuha havia lhe explicado o motivo da partida e Tohma o compreendeu. Compreendeu que a única maneira do jovem deixar de ser o garoto irresponsável que Mika e Eiri o acusavam de ser era indo embora. E Seguchi o apoiou em sua decisão e guardou o seu segredo e abraçou Mika quando finalmente as lágrimas vieram quando ela percebeu, após um ano, que não teria chances de encontrar o irmão. Talvez ela tivesse persistido, mas as falsas mensagens que Tohma encaminhava à ela, edições das originais que recebia de Tatsuha, acalmaram um pouco a mulher e a fizeram seguir com a sua vida, mas não esquecer o que tinha acontecido.

Mas agora ela estava prestes a descobrir a verdade, assim como descobrir que o próprio marido sempre soube do paradeiro do caçula dos Uesugi durante todo este tempo e nada disse. Até o momento.

- Eu não quero saber. - Tohma suspirou. Desde que se conformou de que não encontraria o irmão Mika agia como se o mesmo não existisse, o que Seguchi sabia ser uma mentira.

- Você quer saber sim, nos últimos dez anos a única coisa que você quer é saber. - a mulher virou para mirar o marido, com os olhos estreitos de raiva. - E esta é a verdade. - Tohma inspirou longamente para tomar coragem, coragem esta que fugiu no momento em que as portas automáticas da sala se abriram e uma figura familiar adentrou o local.

- Mas o que significa isto? - a voz confusa e chocada de Eiri chegou ao casal e Mika girou sobre os saltos e arregalou os olhos ao reconhecer o recém-chegado. Porque lá, sob o beiral da porta, parado com as costas ereta, os braços cruzados na base da coluna e trajando um uniforme dourado da Frota estava...

- Tatsuha... - foi a única coisa que a Sra. Seguchi disse antes de desmaiar.


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