A noite no subúrbio de Canberra estava agradável. A lua ainda não aparecia, mas havia muitas estrelas e poucas nuvens. Pelo menos isso era o que uma mulher via e sentia enquanto olhava pela janela da casa onde mora. De braços cruzados, ela olhava para o céu com bastante atenção, como se estivesse esperando alguém, além do seu marido que estava para voltar. Parecia esperar que as estrelas dissessem o que lhe faltava na vida.

De repente a porta da sala se abre e entra o marido dela. Parecia estar bastante ansioso e havia corrido um pouco. No entanto, ela não notou que o homem chegara e ele quase não reparou que a mulher estava na sala.

— Querida... Mônica? – chamava o homem, enquanto chegava mais próximo a ela.

Como acordando de um transe, ela se virou para o marido e o abraçou como se houvessem vários dias que não se viam.

— Querido, que bom que chegou...

— Ei... Está tudo bem? – perguntou ele em tom de brincadeira.

— Está sim. Só estou com umas coisas na cabeça.

— Querida, não vai começar de novo.

— Não, Wendell. Outra vez não. Sabe que não é loucura minha...

— Eu sei, eu sei querida. Só não acho que você precise se preocupar, pelo menos por agora. Afinal, o que falta na nossa vida?

— Não sei... explicar. Só acho que falta alguma coisa.

O homem suspirou, transparecendo que haviam tido aquela conversa várias vezes, e então tentou mudar o assunto.

— Vamos fazer uma coisa. Deixemos isso para depois. Hoje nós vamos jantar fora. O que acha? Vamos comemorar.

— Comemorar? O quê? – perguntou a mulher, franzindo o cenho, tentando entender o que o marido queria dizer.

— No restaurante eu lhe digo.

— Tudo bem. Quer dizer... Acho que não vai fazer mal comer alguma coisa diferente – dizia ela, tentando esboçar um sorriso.

— Esse é o espírito – alegrou-se o marido, deixando o abraço da mulher e se dirigindo ao banheiro – Vou tomar meu banho.

— E eu vou preparar nossas roupas – disse ela, tentando mostrar animação.

Quando fechou a porta do banheiro, o homem se encostou na mesma e, sozinho, começou a sentir uma estranha tristeza. Entendia perfeitamente o que a esposa estava sentindo porque ele também sentia o mesmo. Mas como saber? Haviam se mudado há cerca de um ano para lá e viviam muito felizes. Sabiam que era o que sempre queriam. Como saberia o que faltava na vida deles? Como ajudar a esposa, se ele nem mesmo podia ajudar a si mesmo? Com a cabeça baixa, procurava respostas. Só foi interrompido com uma batida na porta. Era a mulher, perguntando sobre qual camisa ele queria usar com o terno.

— Aquela azul com botões perolados, querida – gritou para fora, respondendo a ela. E de repente, se lembrou porque estava no banheiro. Logo, providenciou o próprio banho.

Havia uma garota sentada no jardim de uma modesta casa torta. Olhava as estrelas daquela noite enquanto pensamentos nostálgicos passavam pela cabeça dela. Pode-se dizer que Hermione Granger estava feliz. Seu melhor amigo, Harry Potter, derrotou Lord Voldemort e estava bem, apesar de todos os ferimentos e das movimentações das pessoas em torno dele. Também podia dizer que finalmente estava namorando a pessoa que mais queria na vida, Rony Weasley, apesar de ter demorado a admitir isso para si própria. É certo que ela não se esqueceu dos amigos que perdeu naquele processo, mas, mesmo assim, se sentia bem. Muitos Comensais da Morte e bruxos ligados às ideias de Voldemort foram presos e aos poucos seriam julgados. Mesmo combalido, o mundo da magia estava livre novamente e ela sabia que havia contribuído para isso. Mas ainda faltava terminar um plano na vida dela. Prometera reencontrar os pais logo depois de terminarem a “caça às Horcuxes” e retirar o feitiço que os faziam acreditar que não eram os pais dela. E isso, ela estava mais que disposta a fazer.

Rony, depois de ter notado a falta de Hermione na pequena festa que os Weasley davam naquela noite, apareceu no jardim e encontrou a amada sentada em um tronco caído. Sem dizer uma palavra, se sentou ao lado dela e a abraçou carinhosamente, sendo retribuído por Hermione. Os dois sentiam a paz do momento; Sabiam que não precisariam de palavras. Ficaram abraçados por um bom tempo olhando as estrelas de uma noite que parecia única, parecia mágica. Demorou um pouco até que Hermione quebrasse o silêncio naquele lugar.

— Eu preciso ir atrás deles, Rony – disse ela tristemente, quando se virou para o garoto.

— Seus pais? – ele perguntou e recebeu como resposta apenas um aceno de cabeça.

— Eu vou com você. Quero te acompanhar nesta “missão” – disse ele sorrindo, em tom de brincadeira, que fez com que a garota sorrisse de volta, agradecida pela boa vontade do namorado. Hermione encostou a cabeça nos ombros do garoto e os dois se abraçaram mais forte ainda para voltar a contemplar a noite de belas estrelas no céu.