Numa Manhã Qualquer escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 1
Numa Manhã Qualquer I


Notas iniciais do capítulo

Dedicado a Isa Angelus, que é fã do casal. Obrigada por recomendar "Change of Heart"! ♥



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Parte I

Mu terminou de trançar os cabelos longos e fez um muxoxo, olhando para o alto. Esticou o braço direito o máximo que podia para cima; os músculos das panturrilhas tensos ao se equilibrar nas pontas dos pés.

Ainda não era o bastante. Seus dedos mal tocavam a borda do armário e o que ele queria estava lá em cima: o pote de açúcar.

E por que o pote estava lá? Porque Aiolia, o namorado inconveniente, era alguns centímetros maior do que Mu e achava engraçado deixar as coisas em cima do armário, no fundo, para atazaná-lo.

Por esse atrevimento, Aiolia não merecia que Mu cozinhasse. Por outro lado, ele tinha feito uma massagem tão eficiente, na noite anterior…

Certo, era justo retribuir, pensou, parando de se esticar. Flexionou uma perna, a seguir a outra e bufou de leve, afastando uma mecha de cabelo de cima dos olhos. Sua atenção caiu em uma cadeira. Seria muita apelação?

Num instante, um suposto futuro próximo se desenhou em sua imaginação: bem quando tivesse subido na cadeira, Aiolia apareceria para zombar de sua cara – embora fosse sábado de manhã e ele tivesse o hábito de dormir como uma pedra, até tarde, nesses dias. Se não tivesse nenhum treino programado, claro.

Puxa, eram uns míseros cinco centímetros que o impediam de alcançar o que queria. Utilizar uma cadeira seria um exagero. Como podia perder para um reles armário? Era uma pessoa alta! Resolveu tentar alcançar seu objetivo, outra vez, esticando-se.

Esticando, esticando… A outra mão apoiada no armário para conseguir impulso… Mais um pouquinho e… Prendeu a respiração sem perceber… As pontas dos dedos tocaram o pote…

— Mu! – Aiolia o abraçou pelas costas com força.

Wah! – Mu soltou a respiração num arquejo alto, o coração disparando a toda velocidade.

A risada rouca e sonolenta de Aiolia ressoou em seus ouvidos. Mu pôde sentir as mãos dele em seus ombros, deslizando ao longo de seus braços, de forma lenta e insinuante, até segurarem suas mãos. O corpo todo de Aiolia colava-se ao seu. Ele estava sem camisa e ambos usavam calças de pijama.

Mu abriu a boca para falar alguma coisa e desistiu. Uma das mãos de Aiolia soltou a sua e foi além, alcançando o pote com facilidade.

— Obrigado, querido…

Aiolia o soltou depressa. Sinal que já tinha aprendido que o termo querido indicava o início de uma reprimenda.

— Seria demais pedir para você não esconder as coisas? – Mu o fitou de cima a baixo. Apesar de descabelado, Aiolia tinha lavado o rosto e cheirava a pasta de dente. – Caiu da cama? Ainda são oito horas.

— Mais ou menos… – Aiolia bocejou, coçando a nuca e piorando o estado dos cabelos nesse processo. – Não perderia você cozinhando por nada. Por que não está usando o avental que te dei?

— Hmm, porque ele é lilás, tem um carneiro estampado e…

— É a sua cara! E combina com essas suas pantufas de carneiros.

Com destreza, Aiolia tirou sua camisa. Pegou o tal avental de cima de uma cadeira e o colocou em Mu, amarrando as tiras atrás, sem demonstrar atenção aos protestos que se seguiram sobre os presentes relacionados a carneiros que sempre apareciam.

— Precisava me deixar seminu?

— Por mim, suas calças sairiam também. Eu preferiria que você usasse apenas isso… – Fez Mu se virar e deu-lhe um selinho antes de encarar a figura estampada no tecido com nítida satisfação.

— E eu preferiria que você não aprontasse na cozinha. Ah, vou começar a te dar coisas de leões, para combinar com essas suas pantufas aí também.

Aiolia exibiu um sorriso e cruzou os braços. Mu fingiu não notá-lo assistindo aos seus movimentos pela cozinha, usando aquele avental.

— Quer ajuda? – sussurrou Aiolia, colocando as mãos em sua cintura.

— Se considerarmos que você mal sabe fritar um ovo, acho melhor não.

As pontas dos dedos de Aiolia traçaram círculos em suas costas nuas.

 — Hey! Alguém está tentando cozinhar aqui, sabia?

Um resmungo sem sentido e um beijo no pescoço foram a resposta. Mu tentou não suspirar, mexendo a colher dentro da tigela sem a menor coordenação.

— Estou falando sério… – Sua voz soou fraca, nada convincente até para si mesmo. – Não se atreva a reclamar se isso aqui não prestar.

— Ué, você não diz que se deve cozinhar com amor? – Aiolia deslizou as mãos pelas laterais de seu corpo, puxando-lhe os quadris para trás, de encontro aos dele.

Ah! Ehrm… – Mu deixou a tigela com a colher sobre a mesa e virou-se, espalmando as mãos no tórax de Aiolia para mantê-lo longe. – Olha… Deixe-me terminar aqui. Você não queria que eu fizesse bolo hoje?

Aiolia segurou seus punhos e o beijou na bochecha.

— Lógico que quero, mas não precisa ser neste instante, né?

— Agora eu já comecei. Por que você não volta a dormir enquanto eu termino aqui?

— Já disse, quero te ver cozinhar. Além disso, perdi o sono… – Aiolia esfregou o rosto e deixou escapar um longo bocejo.

Mu riu baixinho e sugeriu que, então, ele o observasse sentado e quieto.

Aiolia balançou a cabeça, voltando a abraçá-lo pelas costas, apoiando o queixo em seu ombro.

— Prefiro ver daqui mesmo.

— Assim eu não consi- Ah! Pare de me morder! – Mu abafou um novo riso, empurrando Aiolia até forçá-lo a se sentar em uma cadeira. – Permaneça calminho aí.

— Esse negócio de calma é com você… – Aiolia apoiou os cotovelos na mesa e o rosto nas mãos, observando Mu entre piscadelas lânguidas. Vinte segundos depois, levantou-se fazendo beicinho. – Desse jeito, eu vou acabar dormindo aqui. Ainda é supercedo.

— Entendo. Vamos conversar para manter você acordado. O que pretende fazer hoje?

Aiolia soltou uma risada carregada de más intenções. Mu não precisou olhar para saber que ele fitava suas costas de um modo predatório.

— Ehrm… Além disso, eu quis diz- Céus! – Mu deu um pulo ao ser abraçado, de novo, com o dobro de empolgação. – Nem vem. Na última vez que… ahn… ficamos na cozinha, a comida queimou.

— Valeu a pena! – Aiolia enganchou os polegares no elástico da sua calça. – Caramba, você está muito tenso pra alguém que recebeu uma massagem relaxante algumas horas atrás.

— Por que será? Ah! Não!

Tarde demais. Suas calças foram puxadas para baixo. Mu desvencilhou-se da roupa embolada em suas pantufas, mas se esquivou de Aiolia para que ele não pudesse tirar sua roupa íntima também. Em seguida, deu um peteleco na testa dele.

— Ouch!

Fazendo cara de filhote inocente, Aiolia pestanejou várias vezes. Mu conhecia bem aquele truque. Apontou para ele e, depois, para uma cadeira, numa ordem clara.

Aiolia levantou as mãos e se afastou – não sem lançar um olhar atravessado para a tigela, que Mu voltara a segurar, como se ela o tivesse ofendido até a alma.

Os próximos cinco minutos se passaram em um silêncio tão grande que Mu achou que ele tivesse dormido ali mesmo.

Não tinha. Aiolia estava sentado sobre a mesa, com a franja despenteada para o lado, perdido em devaneios e comendo alguns pedaços de chocolate que estavam em um prato.

Com toda a paciência que lhe era característica, Mu cruzou os braços e disse:

Não é para você comer os ingredientes agora, menino.

Aiolia o encarou de viés, com os olhos de um tom azul-esverdeado faiscando, e lambeu os dedos melados com chocolate de uma forma que só poderia ser chamada de obscena. Começou a rir quando Mu arregalou os olhos e engasgou com a própria saliva.

— Pronto, pronto. – Afastou a trança comprida de Mu para o lado, com a mão limpa, e deu-lhe tapinhas nas costas para aliviar a tosse… com a mão melada.

— Você acabou de… lambuzar… minhas costas… com chocolate?

— Opa! Foi sem querer… Pode deixar que eu já limpo.

Sentindo suas costas serem lambidas devagar, Mu estremeceu e se contorceu; apertando os lábios para reprimir um suspiro. A língua de Aiolia subiu por sua coluna, circulou suas escápulas, deslizou pelo seu ombro e alcançou seu pescoço, mesmo que não tivesse chocolate algum ali. Suas faces enrubesceram e sua respiração se tornou ofegante. As mãos de Aiolia apertaram suas coxas e ele pressionou-se contra o seu traseiro com uma animação enorme.

— Espera! – Mu remexeu-se para escapar. Porém, o que conseguiu foi que ele se pressionasse em seu corpo com um vigor ainda maior, mordendo um ponto próximo à sua orelha com tanta vontade que com certeza deixaria uma marca indiscreta. – Está bem! Você venceu. Deixa eu desligar isso aqui.

Nesse ínterim, Aiolia se distanciou o suficiente para tirar a roupa íntima de Mu.

— Belo traseiro.

Fingindo que não ouviu, Mu respirou fundo, olhando para baixo e corando ao perceber como a frente do traje despontava.

Daí em diante, seguiu-se uma sequência de fatos em uma velocidade tão vertiginosa que, de repente, Mu se viu sentado em cima da mesa, com as pernas espaçadas pelas mãos de Aiolia em seus joelhos, usando só o bendito avental para cobrir sua nudez.

*

Com uma tranquilidade que não condizia com seus movimentos anteriores, Aiolia desfez a trança de Mu, contemplando os cabelos longos cascatearem ao redor dele.

Whoa! Mu estava perfeito daquele jeito, com os cabelos soltos, as faces coradas e os olhos esverdeados cintilando. Sem falar no avental com estampa de carneiro, óbvio! Ele também estava de pantufas, mas Aiolia não se deu ao trabalho de arrancá-las, visto que elas não atrapalhariam o andamento do que importava.

Com suavidade, Aiolia subiu as mãos pelas coxas macias de Mu, adentrando o tecido lilás sem a menor hesitação. Seus olhos estavam fixos no rosto dele, acompanhando as mudanças na expressão serena. Assim que seus dedos alcançaram a virilha quente dele, Aiolia mordeu o lábio inferior ao vê-lo semicerrar os olhos e entreabrir a boca, para soltar um ofego.

Mu fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás, expondo o pescoço pálido. Já dava para ver a marca da primeira mordida que havia deixado ali e Aiolia tratou de adicionar outra perto dessa. Isso antes que Mu puxasse o elástico de suas calças, balbuciando um protesto:

— Estão sobrando… 

Aiolia curvou-se sobre ele, contornando aquela boca rosada com a língua ansiosa. Permitiu-se ser liberto da roupa com uma puxada tímida, mas eficiente, para baixo. Carícias suaves percorrerem seu abdômen definido e Aiolia envolveu a nuca de Mu com uma das mãos, tomando-lhe a boca com tanta fome que dava para se pensar que não beijava há anos.

Empurrou Mu até deitá-lo na mesa. Ele envolveu sua cintura com as pernas e retribuiu todos os beijos com gosto de chocolate e as carícias ousadas. Com exceção de seus próprios corpos ardentes, comida nenhuma seria queimada daquela vez.

*

Algumas coisas haviam caído da mesa, conforme ela sacudira, e se quebraram. Por sorte, a mesma coisa não aconteceu com a própria mesa, que aguentou, firme e forte, toda a movimentação.

Mu estava tentando controlar a respiração descompassada e o coração acelerado. Por sua vez, Aiolia tentava se levantar, sem sucesso.

— Mu?

— Hmm?

— Estou com sono de novo…

— Eu também…

Aiolia arqueou as sobrancelhas e ergueu-se nos cotovelos.

— E o meu bolo? Você prometeu que ia fazer.

— …

Mu agarrou a primeira coisa que sua mão encontrou e a apontou para Aiolia.

— O que você vai fazer com essa colher? Ouch! – Aiolia esfregou o topo da cabeça e tratou de se levantar, parecendo prever que seria atingido de novo. – Já entendi, estou indo tomar banho.

Ele saiu da cozinha em passos rápidos. Mu observou o talher como se não soubesse o que era e o soltou. Olhou ao redor, para a bagunça que haviam feito – o que não estava quebrado, tinha sujado o chão. Teria muito a limpar e organizar. Bom, primeiro, iria atrás de Aiolia. Afinal, também precisava de um banho…

Além disso, ele não havia oferecido ajuda? Pois bem! Que ajudasse limpando a cozinha, pensou, livrando-se do avental amarrotado. Voltou a fitar a infame estampa de carneiro e não pôde evitar um sorriso.

Aiolia tinha cada ideia!


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Notas finais do capítulo

Isa Angelus, espero que tenha gostado! :D

Como me saí? Reviews? :3

P.S.: Leia mais sobre a vida deles morando juntinhos em "Numa Tarde Qualquer". E se quiser saber como eles começaram a namorar, e ainda não leu "Change of Heart", dê uma olhadinha ^^